quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Best Of 2009 – Cinema

Finalizando os posts retrospectivos e com listas de melhores abordarei o cinema em 2009. Um ano interessante que teve menos lançamentos (294 contra 302 de 2008) e eu conseguir ver um filme a mais em relação ao ano passado (50 contra 49). Mais uma vez, obviamente, não consegui ver todos os filmes que gostaria, mas é desta lista bastante razoável de 50 que tiro as minhas impressões sobre o cinema em 2009. E começo logo pelo top 10.

Como sempre, claro que foi difícil montar a lista dos 10 mais, pois tivemos muitos bons filmes em 2009. Num primeiro momento selecionei 20 trabalhos que me agradaram muito. Em um novo corte, “Appaloosa” e “Star Trek” dançaram até facilmente e fiquei com 18.

O mais doloroso foi cortar os últimos oito filmes. Mas tiveram que ficar de fora do top 10 “Foi apenas um sonho”, “O Leitor”, “O Lutador”, “Guerra ao Terror”, “Os Falsários”, “Intrigas de Estado”, “Inimigos Públicos” e “Anticristo”. Todos, contudo, altamente recomendáveis.

Foi quando percebi que na lista final só havia um filme que esteve concorrendo no Oscar deste ano. E o que ganhou como melhor filme, “Quem quer ser um milionário?”, sequer foi cogitado para entrar na lista. Um sinal de algo que eu já indicava em fevereiro e março que neste ano não havia nenhum filme espetacular na disputa pelas estatuetas como em anos anteriores. Dito isto, vamos ao top 10 da Alcova.

10º lugar – Katyn – Excelente filme polonês sobre o cruel massacre impetrado por Stálin na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial e a propaganda comunista que negava toda a verdade e colocava a culpa nos alemães. As imagens são fortes, mas o trabalho de Andrzej Wajda é um importante documento histórico.

9º lugar - Desejo, Perigo – Um excelente trabalho de Ang Lee sobre alguns jovens que organizam uma tentativa de vingança numa China ocupada pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial.

8º lugar – Deixa Ela Entrar – O ano foi de filmes de vampiros com nome de turnê do Elymar Santos como outro dia li no twitter (“Crepúsculo”, “Lua Nova”, etc...), mas filme de vampiro bom mesmo foi este sueco dirigido por Tomas Alfredson sobre uma jovem vampira que mais do que de sangue, se alimenta da alma de jovens solitários. É verdadeiramente assustador.

7º lugar – Amantes – Joaquin Phoenix é um porra-louca que resolveu abandonar uma carreira de ator que estava se consolidando para virar rapper. Mas ainda deu tempo de deixar mais um excelente trabalho. De um pessimismo ácido, “Amantes” é feito de uma série de encontros e desencontros, mas a melhor definição eu li em um blog na época do lançamento que lamentavelmente não me lembro agora o nome nem a pessoa que escreveu. Mas ela disse, no que eu concordo muito bem, que é um filme sobre gente de verdade fazendo merda. Ou algo parecido. É um filmaço.

6º lugar – À procura de Eric – Uma homenagem de Ken Loach a um ídolo, ao futebol e ao amor a este esporte. “À procura de Eric” é um excelente filme sobre um loser torcedor do Manchester United que começa a pegar conselhos com seu ídolo maior, o ex-craque Eric Cantona. Imperdível mesmo para quem não aprecia o bom e velho esporte bretão.

5º lugar – Gran Torino – Depois de um ano longe da minha lista, o diretor Clint Eastwood reaparece com este excelente filme em que ele também atua. Na pele de Walter Kowalsky, um preconceituoso veterano da guerra da Coreia, Eastwood tem que aprender a conviver com diferenças culturais enquanto o bairro em que vive vai se transformando num antro de gangues. É quase uma redenção de Dirty Harry, seu mais famoso personagem que não era muito conhecido por ser politicamente correto.

4º lugar – Frost/Nixon – O duelo entre o jornalista David Frost (Michael Sheen) e o ex-presidente Richard Nixon (Frank Langella) é retratado neste excelente filme dirigido por Ron Howard. Destaque para o tom documental, o ótimo trabalho de Langella, que merecia um Oscar, e para as tensas cenas da entrevista.

3º lugar – Distrito 9 – Uma alegoria sobre o preconceito e a intolerância a partir de uma relação entre terráqueos e alienígenas que são obrigados a viver num gueto (quase um campo de concentração) da África do Sul. Neill Blomkamp conseguiu fazer o que parecia impossível: um filme de ficção científica diferente de tudo o que já foi feito. Um filmaço que merece a medalha de bronze de Memórias da Alcova.

2º lugar – Watchmen – Os filmes sobre quadrinhos atingiram um outro status a partir de “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008) e “Watchmen” representa um passo a mais nessa evolução. Uma obra-prima dirigida por Zack Snyder e que tem como destaque a atuação de Jackie Earle Haley como Rorschach. Um filme simplesmente imperdível para quem ama o cinema de muito boa qualidade.

1º lugar – Bastardos Inglórios – Falando em obra-prima, o campeão de 2009 é simplesmente o melhor filme do diretor Quentin Tarantino. Com sua história de vingança dos judeus contra os nazistas, o americano chega ao clímax do seu trabalho e nos premia com personagens que já entraram para a sua história de grandes criações como o tenente Aldo “The Apache” Raine (Brad Pitt) e o coronel Hans Landa (Christoph Waltz). Não é à toa que “Bastardos Inglórios” pode levar Tarantino de volta ao Oscar 15 anos depois de ele ter faturado o prêmio de roteiro por “Pulp Fiction” (1994), seu outro trabalho memorável. “Bastardos Inglórios” é realmente um daqueles filmes para se aplaudir de pé.

Piores filmes – Dei tanto azar neste ano, que consegui até organizar um top 5 das tranqueiras que assisti nos cinemas do Rio de Janeiro. Portanto, passe longe dos seguintes filmes:

5º lugar – Anjos e Demônios – “O Código Da Vinci” (2006) já tinha sido bem meia-boca, mas eu insisti e fui ver “Anjos e Demônios”. Filme no máximo palatável, mas definitivamente é um trabalho de Tom Hanks do qual não precisamos nos lembrar.

4º lugar – A Fronteira da Alvorada – A presença de Louis Garrel em cena e de Philippe Garrel na direção pareciam garantia de qualidade para mim. E eu gosto de filmes franceses. Contudo, “A Fronteira da Alvorada” conseguiu me fazer dormir no cinema.

3º lugar – Matadores de Vampiras Lésbicas – Reconheço que não gosto muito de comédias, mas esta tinha vampiras, tinha lésbicas e tinha...muita ruindade. Quase campeão dos piores, com piadas sem graça e nem tem nada de mais para ver. Péssimo. Passe longe.

2º lugar – G.I. Joe – A Origem do Cobra – Era muito mais divertido e criativo brincar com os bonecos dos Comandos em Ação. Este filme de Stephen Sommers é absolutamente dispensável. Apenas material de propaganda do exército americano.

1º lugar – Austrália – Constrangedoramente ruim e com atuações tenebrosas de Nicole Kidman e Hugh Jackman, o épico romance de Baz Luhrmann foi imbatível em 2009. Tanto é que ninguém lembra mais dele. Assistir à “Austrália” equivale a sofrer o mais duro interrogatório de Jack Bauer.

Decepção – Avatar – Revolucionário, vai mudar a história do cinema, é James Cameron rompendo barreiras. E um filme ruim, muito ruim. Não tanto a ponto de entrar no top 5 dos terríveis, mas “Avatar” é a grande decepção de 2009. Reconheço que o filme é muito bonito e tal, mas como trabalho cinematográfico é clichê, óbvio e sem sal. Bola fora para Cameron.

O herói do ano – Rorschach (Jake Earle Haley) tem seu lugar na galeria de heróis de 2009, assim como dois anti-heróis, John Dillinger (Johnny Depp) e Walter Kowalsky (Clint Eastwood), mas o cara mesmo foi Brad Pitt e seu Aldo “The Apache” Raine. O tenente que comandou a tropa de caçadores de nazistas em “Bastardos Inglórios” é uma das ótimas criações de Tarantino.

O vilão do ano – Se “Avatar” tem alguma coisa de bom é o vilão. O coronel Miles Quaritch (Stephen Lang) ainda deu alguma graça ao filme. Só que aqui não poderei fugir novamente de “Bastardos Inglórios” para dizer que o grande vilão mesmo foi outro coronel, o nazista Hans Landa, vivido por Christoph Waltz. Com suas tiradas impagáveis e crueldade é um insano a ser temido. Ou era, pois Aldo Raine tratou de dar um jeito nele.

A frase do ano - “I am not a man, I am Cantona”, dita pelo próprio durante o filme "À procura de Eric", de Ken Loach. Tem frase melhor para representar a personalidade do craque francês?

A musa – Expectativa. Quem seria a sucessora de Penélope Cruz no reinado? A própria atriz espanhola apareceu na minha prévia por “Abraços Partidos”. Seria o primeiro caso de bicampeonato? Não desta vez. Também estiveram perto a bela Cate Blanchett (“O curioso caso de Benjamin Button”) e Gwyneth Paltrow (“Amantes”). Marisa Tomei (“O Lutador”) fez strip-tease e Giovanna Antonelli (“Budapeste”) também se esforçou. Wei Tang (“Desejo, Perigo”) deu tudo de si e Diane Kruger (“Bastardos Inglórios”) quase foi eleita porque eu tenho um certo fraco por alemãs. Mas o prêmio de musa de 2009 não será dado desta vez a uma mulher gostosona. E sim para uma mulher linda e talentosa que brilhou em dois filmes: “Foi apenas um sonho” e “O Leitor”. Kate Winslet é a minha musa inspiradora do ano. Além disso, eu também tenho um certo fraco por inglesas.

A melhor cena de sexo – Pode parecer meio sádico, mas que ficou bonita a cena de Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg transando ao som de Händel e com a filmagem em preto e branco de Lars Von Trier ficou. O problema é que durante o ato, o filho dos dois no filme “Anticristo” morre ao cair do parapeito da janela. Mas se não tivesse algo assim não seria um filme de Von Trier.

A melhor cena de briga – Desde que o homem virou bípede e passou a usar o polegar opositor que sexo e violência fazem parte da nossa história. Natural que neste ano, portanto, eu inclua nas categorias especiais de Memórias da Alcova o prêmio para melhor cena de briga. E o campeão de 2009 é o duelo entre Ozymandias e o Comediante ao som de “Unforgettable” de Nat King Cole. Lindo, lírico e trágico.

Os melhores roteiros – De fora da minha lista de melhores filmes, é preciso ressaltar aqui os bons trabalhos de David Hare (“O Leitor”), Justin Haythe (“Foi apenas um sonho”) e Matthew Michael Carnahan e Tony Gilroy (“Intrigas de Estado”). Também é elogiável a adaptação que David Hayter e Alex Tse fizeram para a Graphic Novel de Alan Moore e Dave Gibbons em “Watchmen” e os trabalhos de Peter Morgan por “Frost/Nixon”, Nick Schenck por “Gran Torino” e James Schamus e Hui-Ling Wang por “Desejo, Perigo”. Já Paul Laverty (“À procura de Eric”) e Quentin Tarantino (“Bastardos Inglórios”) foram absolutamente originais e divertidos em seus filmes.

Mas o melhor roteiro para mim foi de Neill Blomkamp e Terri Tachell por “Distrito 9”. Um filme que renovou a ficção científica depois de muitos trabalhos parecidos ao longo das duas últimas décadas.

Os piores roteiros – “Anjos e Demônios” (David Koepp e Akiva Goldsman) e “Matadores de Vampiras Lésbicas” (Paul Hupfield e Stewart Williams) são sofríveis. Stuart Beattie aparece duas vezes na minha lista. Primeiro ao lado de David Eliott e Paul Lovett pela propaganda do exército americano – aquilo não é um roteiro – de “G.I. Joe” e em seguida ao lado de Baz Luhrmann, Ronald Harwood e Richard Flanagan pelo horroroso “Australia”. Mas ele não conseguiu superar Cameron, James Cameron pelo seu roteirinho óbvio, clichê e sem conteúdo de “Avatar”, o abacaxi de 2009.

O francês do ano – Já foi muito comentado aqui o meu gosto por filmes franceses. E a indicação de 2009 vai para o simpático “Horas de Verão” sobre três irmãos que têm que decidir o que fazer com a herança da mãe após a sua morte. Tocante, interessante. E ainda tem a presença de Juliette Binoche.

O brasileiro – No ano passado vi oito filmes nacionais e neste ano apenas um. Pouco, muito pouco. Mas acho que a produção nacional não fez nada demais que me fizesse pagar o ingresso dos seus filmes. Teve o elogiado “Simonal”, mas confesso que não gosto muito de documentários e não gosto da música de Wilson Simonal, o que me afastou do cinema. Mas o único filme que vi, “Budapeste”, vale a pena. Muito boa adaptação do livro de Chico Buarque com uma ótima interpretação de Leonardo Medeiros no papel principal.

O retorno – Não sou um trekkie, mas não posso deixar de comentar a volta de Leonard Nimoy ao papel de Spock no novo filme sobre Star Trek. É o retorno do ano, sem dúvida.

Melhores diretores – Sam Mendes (“Foi apenas um sonho”), Darren Aronofsky (“O Lutador”), Zack Snyder (“Watchmen”) e Ang Lee (“Desejo, Perigo”) fizeram excelentes trabalhos. Steven Soderbergh lançou muitos filmes em 2009, o melhor deles é “Confissões de uma garota de programa”. O trabalho de Tarantino é brilhante em “Bastardos Inglórios”. O mesmo pode se dizer de Neill Blomkamp em “Distrito 9”. Contudo, os três trabalhos que mais gostei foram o de Katrhyn Bigelow em “Guerra ao Terror”, Lars von Trier em “Anticristo” e Clit Eastwood por “Gran Torino”, para mim o melhor de 2009.

Piores diretores – Ron Howard (“Anjos e Demônios”) e Phil Claydon (“Matadores de Vampiras Lésbicas”) se esforçaram, mas ninguém supera Baz Luhrmann e seu “Australia”. Um trabalho hours concours no quesito ruindade.

Melhores atuações masculinas – Aqui é preciso destacar os trabalhos de John Malkovich (“A Troca”), Leonardo DiCaprio (“Foi apenas um sonho”), Tony Leung (“Desejo, Perigo”), Russel Crowe (“Intrigas de Estado”) e Johnny Depp (“Inimigos Públicos”). Clint Eastwood (“Gran Torino”) e Joaquin Phoenix (“Amantes”) também estão ótimos nos seus filmes. Mas o ano foi de três atores: Jackie Earle Haley, fantástico como Rorschach em “Watchmen”, Mickey Rourke, espetacular como Randy “The Ram” Robinson em “O Lutador” e, para mim o melhor de todos, Frank Langella na pele do presidente Richard Nixon em “Frost/Nixon”. Um injustiçado no Oscar devidamente homenageado por Memórias da Alcova.

Piores atuações masculinas – Billy Crudup foi o ponto de desequilíbrio em “Watchmen” e Ewan McGreggor esteve irreconhecível em “Anjos e Demônios”. Sam Worthington (“Avatar”) e Hugh Jackman (“Australia”) estiveram constrangedores. Mas darei o prêmio lixão do ano para todo o elenco masculino de “G.I. Joe – A Origem do Cobra”, um filme só comparável a pérolas como “Tropas Estelares” (1997).

Melhores atuações femininas – Helen Mirren (“Intrigas de Estado”) é uma atriz admirável. Assim como Meryl Streep que brilhou em “Dúvida” no início do ano e em “Julie & Julia” no final dele. O trabalho da jovem Lina Leandersson (“Deixa Ela Entrar”) também é surpreendente. No entanto, como melhor atuação feminina do ano não vou fugir da indicação do Oscar. Kate Winslet merece encabeçar a minha lista não apenas por “O Leitor”, que lhe valeu a estatueta, mas também por “Foi apenas um sonho”.

Piores atuações femininas – Nicole Kidman (“Australia”) se esforçou, mas na reta final do ano foi atrapalhada por dois elencos femininos que eu “premio” indiscriminadamente: o de “G.I. Joe – A Origem do Cobra” e, disparadamente o pior de todos, o de “Matadores de Vampiras Lésbicas”. Um horror!


E assim termina o Best Of 2009. Em 2010 eu continuarei dando pitacos em tudo como sempre. Até a próxima e um Feliz Ano Novo aos meus nobres leitores.

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