sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Best of 2010 - Cinema

Finalizando os posts retrospectivos, chegou a hora de abordar os melhores do cinema em 2010, o momento mais esperado pelos meus cinco leitores. Como sempre, não foi fácil montar as listas em 20 diferentes categorias criadas por Memórias da Alcova. Das mais tradicionais às alternativas como melhores cenas de sexo e de briga. Algo que, na minha modesta opinião, o Oscar deveria adotar também. Daria o maior ibope.

Me debrucei em 58 dos 279 trabalhos lançados neste ano e foi a partir disso que montei minhas listas do bem e do mal. Se faltou algo, pode ser que eu não tenha visto ou simplesmente tenha esquecido. Então, é só complementar na caixa de comentários abaixo. Comecemos logo pelo momento mais esperado, o top 10 da Alcova.

Difícil chegar nestes dez mais de 2010. Comecei com uma lista de 17, mas um primeiro corte tirou da disputa os bons filmes “Um sonho possível”, “Tudo pode dar certo”, “Wall Street – o dinheiro nunca dorme”, “Film Socialisme”, “O mundo imaginário do Dr. Parnassus” e “À prova da morte”. Faltando um para cortar, fiquei na dúvida entre três filmes e acabei tirando “A rede social”, o que pode ser polêmico. Embora o filme de David Fincher seja muito bom, gostei mais de outros e além disso, acho que o diretor tem pelo menos outros dois trabalhos melhores: “Clube da Luta” e “Seven”. Assim sendo, vamos aos dez mais.

10º lugar – “Vício Frenético” – Um excelente trabalho de Werner Herzog sobre um policial viciado (Nicolas Cage, em sua melhor atuação em anos) que se envolve em uma série de problemas. Cage faz um grande anti-herói numa caótica Nova Orleans.

9º lugar – “Um homem misterioso” – Filmaço de Anton Corbijn que ficou pouco tempo em cartaz no Brasil. Versa sobre um assassino vivido por George Clooney que está cansando, quer se aposentar e busca um redenção que se provará improvável. Ótima atuação de Clooney.

8º lugar – “A fita branca” – A gênese do mal num vilarejo do interior da Alemanha descrita pelo austríaco Michael Haneke. Um ensaio sobre a origem do nazismo a partir de um microcosmo de pura maldade e sadismo.

7º lugar – “O escritor fantasma” – Se em 2010, Roman Polanski apareceu mais nos jornais por sua prisão ainda por causa daquele velho caso de estupro nos Estados Unidos, houve tempo para ele lançar um ótimo trabalho estrelado por Ewan McGreggor sobre um ghost writter que tem que escrever uma biografia de um senador vivido por Pierce Brosnan de passado suspeito e ligações profundas com órgãos do governo nada republicanos.

6º lugar – “Tetro” – A volta de Francis Ford Coppola numa saga de conflitos familiares envolvendo dois irmãos, um maestro famoso e surpreendentes revelações no seu desfecho.

5º lugar - “Ilha do medo” – Foi um ano em que grandes diretores reapareceram no meu top 10. Este trabalho é de Martin Scorsese e mostra uma dupla de investigadores vivida por Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo tentando descobrir o autor de um assassinato na tal ilha onde funciona um manicômio. Mas o resultado desse trabalho será mais surpreendente do que o espectador imagina.

4º lugar - “Tropa de Elite 2” – A continuação da saga do Bope comandada por José Padilha mostra um Capitão Nascimento mais experiente, ainda com os velhos ideais, mas se arrependendo de alguns “tiros” do passado. Agora o inimigo são as milícias e o trabalho do diretor mostra que o Rio ainda está muito longe da paz.

3º lugar – “Um homem sério” – O divertidíssimo filme dos irmãos Coen mostra o professor Lawrence “Larry” Gopnick (Michael Stuhlberg) não vivendo, digamos, um bom momento na vida. Roteiro bem-humorado e um excelente trabalho de direção.

2º lugar – “A origem” – Leonardo Di Caprio, que parece só fazer filme bom, está de volta aqui neste trabalho de Christopher Nolan num thriller de tintas freudianas sobre um grupo que invade os sonhos alheios para descobrir segredos ou plantar ideias, o grande desafio da equipe comandada por ele. É um Matrix elevado a quarta potência.

1º lugar – “O segredo dos seus olhos” – Desde que eu comecei com esta brincadeira, “O segredo dos seus olhos” é o primeiro filme que não é falado em inglês a figurar no primeiro lugar do meu top 10 (2006 – “Os Infiltrados”, 2007 – “Diamante de Sangue”, 2008 – “Sangue Negro” e 2009 – “Bastardos Inglórios”). Já seria merecido só pela passagem em que Juan José Campanella filma o estádio do Racing em um jogo, mas o segredo desse filme argentino está nas excelentes atuações, no ótimo roteiro e em um desfecho (e eu confesso ter predileção por esse tipo de filme) que é de te jogar da cadeira. Por isso que “O segredo dos seus olhos” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro superando justamente o favorito “A fita branca” e foi eleito o melhor de 2010 por Memórias da Alcova.

Piores Filmes – Abaixo, a lista das cinco bombas de 2010.

5º lugar – “Preciosa – uma história de esperança” – Ganhou um Oscar, foi muito elogiado, mas a mim não me convenceu. Historiazinha chata, cheia de clichês e de um apelo sentimental quase histriônico. Não deu. Não engoli e não dá para ver Mariah Carey como atriz.

4º lugar – “Atração Perigosa” – Outro filme bastante elogiado pela crítica, mas que também não me convenceu. De bom, apenas as boas atuações de Rebecca Hall e Jeremy Renner. Mas Ben Affleck em dose tripla (na frente e atrás das câmeras e escrevendo o roteiro) não foi nada convincente. E ainda tem outra cantora aqui tentando dar uma de atriz. Desculpe Fergie, mas também foi difícil encontrar razões para vê-la no filme.

3º lugar – “Encontro Explosivo” - Falando em clichês, este filme estrelado por Tom Cruise e Cameron Diaz é uma coleção deles. Tudo bem que a ideia era exatamente brincar com isso, mas os dois estão muito canastrões e o filme não funciona.

2º lugar – “Salt” – Eu amo Angelina Jolie, mas ao contrário do que acha Roberto Carlos, o amor tem limites e o meu é “Salt”. Filme ruinzinho, com uma história sem pé nem cabeça, roteiros cheios de avenidas soltas (pontas é pouco). Tenta na próxima Angelina. Mas você continua sendo minha musa eterna.

1º lugar – “Fúria de Titãs” – Definitivamente o filme mais constrangedor do ano. O trabalho de Louis Leterrier é todo ruim. Do protagonista Perseus (Sam Worthington) ao momento para ser esquecido de Liam Neeson vivendo Zeus. Definitivamente, os americanos não sabem fazer filmes sobre mitologias e histórias gregas em geral, vide “Tróia”.

Decepções – “Atração Perigosa” e “Minhas mães e meu pai” – O primeiro pelos motivos já expostos acima na lista dos piores. No caso do segundo, faltou a história ser mais convicente. Se era para valorizar o casal de lésbicas vivido por Annette Benning e Julianne Moore deviam ter combinado com Mark Ruffalo, que roubou a cena e é o que o filme tem de melhor.

O herói do ano – Foi muito difícil escolher o herói do ano. Robin Hood (Russel Crowe) e o novo Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) eram boas escolhas, mas tinha ainda um Nelson Mandela (Morgan Freeman) em “Invictus” e toda a bela história dirigida por Clint Eastwood. Mas no final fiquei entre dois nomes. Um óbvio, o Capitão Nascimento (Wagner Moura) e outro nem tanto. Nascimento realmente amadureceu e virou um grande herói, mas eu gosto dos heróis militares americanos também e Liam Neeson dá um show no papel do coronel John Hanibal Smith em “Esquadrão Classe A”. Como Memórias da Alcova não fica em cima do muro, Hannibal Smith é o herói do ano.

O vilão do ano – Ivan Vanko (Mickey Rourke) atrapalhou bastante Tony Stark (Robert Downey Jr.) em “Homem de Ferro 2” e Mary (Mo’Nique) é o cão chupando manga em “Preciosa”, mas Stuntman Mike (Kurt Russel) também tem seu valor. Só que neste quesito ninguém superou o gênio da maldade Lorde Blackwood (Mark Strong), o vilão que Sherlock Holmes teve que se desdobrar para mandar para a vala de Londres. Sorry, pelo palavreado emprestado Capitão Nascimento.

A frase do ano – Convenhamos que Vera Farmiga virar para George Clooney e dizer “Me imagine como se fosse você com vagina” em “Amor sem escalas” tem impacto, mas não dá para fugir de “Tropa de Elite 2” para dizer que “você tem que me ajudar a te ajudar”, a frase do ano dita pelo Sargento Rocha (Sandro Rocha).

A musa do ano – Minha categoria favorita. Tivemos em 2010 Scarlett Johansson ruiva vivendo a Viúva Negra em “Homem de Ferro 2”, Rose McGowan fazendo a dança da cadeira para Kurt Russell em “À prova da morte” e Eva Mendes, a linda Eva Mendes, que quase fatura o bicampeonato só por aparecer em “Vício Frenético” como a namorada de Nicolas Cage. Tivemos ainda Soledad Villamil a musa de Ricardo Darín em “O segredo dos seus olhos”. Mas fiquei entre duas candidatas. A linda Anna Mouglalis vivendo a personagem título de “Coco Chanel e Igor Stravinsky” e Vera Farmiga, aquela mesma da frase da vagina acima. Decisão difícil, mas eu tenho um fraco por morenas, eu tenho um fraco por francesas. Não tinha como o prêmio não ficar como Anna Mouglalis, 32 anos, a musa de 2010.

A melhor cena de sexo – Anna, aliás, estrelou belas cenas de sexo com Mads Mikkelsen em “Coco Chanel e Igor Stravinsky”, mas se tem algum coisa que presta em “Um quarto em Roma” são exatamente as cenas calientes entre Elena Anaya (Alba) e Natasha Yarovenko (Natasha). Como o filme de Julio Medém é basicamente sexo entremeado por bate-papo, ficamos assim: Tudo o que acontece naquele quarto de Roma é o pacote da melhor cena de sexo de 2010.

A melhor cena de briga – Estava pronto para cravar o Sherlock Holmes brigando com um grandalhão numa engraçada parte de “Sherlock Holmes”. “Machete” também tem boas disputas, mas a briga de 2010 é a estrelada por Joseph Gordon-Levitt (Arthur) contra um segurança dentro de um sonho em “A Origem” com direito a desafios a gravidade.

O retorno do ano – Não é nenhum personagem, mas um diretor. Francis Ford Coppola com o seu “Tetro” foi um retorno em grande estilo aos cinemas.

O francês do ano – Outro que andava meio sumido é o responsável pelo meu filme francês do ano. Jean-Luc Godard reapareceu nos cinemas com “Film Socialisme” para mostrar que continua sendo um gigante.

O brasileiro do ano – Se entrou no meu top 10, não poderia deixar de figurar como o grande destaque do cinema nacional em 2010. “Tropa de Elite 2” é o filme brasileiro do ano.

Melhores roteiros – Dos filmes que ficaram de fora do meu top 10 inicial, vale ressaltar os trabalhos de Anthony Peckham em “Invictus”, Woody Allen em “Tudo pode dar certo”, Terry Gilliam e Charles McKeown em “O mundo imaginário do Dr. Parnassus” e Chris Greenhalgh em “Coco Chanel e Igor Stravinsky”. Michael Haneke (“A fita branca”), Robert Harris (“O escritor fantasma”), Rowan Joffe (“Um homem misterioso”) e Francis Ford Coppola (“Tetro”) também fizeram ótimos trabalhos.

Mas meu top 3 fica com Bráulio Mantovani por “Tropa de Elite 2”, Juan Jose Campanella por “O segredo dos seus olhos” e, o melhor de todos, Christopher Nolan por “A Origem”.

Os piores roteiros – O mais constrangedor de todos foi sem dúvida o de “Fúria de Titãs” escrito por Travis Beacham e Matt Manfredi. Mas teve muita coisa ruim em “Nine” (Michael Tolkin e Anthony Minghella), “Entre Irmãos” (David Benioff), “Encontro Explosivo” (Patrick O’Neill), “Lula, o filho do Brasil” (Fernando Bonassi, Denise Paraná e Daniel Tendler) e “Preciosa” (Geoffrey Fletcher).

Melhores diretores - Paul Greengrass fez um belo trabalho em “Zona Verde”, assim como Woody Allen em “Tudo pode dar certo”, Terry Gilliam em “O mundo imaginário do Dr. Parnassus”, Roman Polanski em “O escritor fantasma” e Quentin Tarantino em “À prova da morte”. Gosto muito do trabalho de José Padilha em “Tropa de Elite 2” e de Jan Kounen em “Coco Chanel e Igor Stravinsky”. Os irmãos Coen ficam com um honroso quarto lugar por “Um homem sério” enquanto o lugar mais baixo do pódio fica com Christopher Nolan por “A Origem”. Os dois melhores? Fico com Juan Jose Campanella por “O segredo dos seus olhos” e o campeão de todos, Francis Ford Coppola por “Tetro”.

Piores diretores – Vamos combinar que é o ano de “Fúria de Titãs”. Num filme em que tudo é ruim, o framboesa do horror na direção só podia ir para Louis Leterrier. Concorrendo com ele e fazendo força para ganhar estiveram James Mangold (“Encontro Explosivo”), Philip Noyce (“Salt”) e Jim Sheridan (“Entre Irmãos”).

Melhores atuações masculinas – Leonardo di Caprio entraria aqui duas vezes por “A Origem” e “Ilha do Medo”. Robert Downey Jr. também está muito bem em “Sherlock Holmes”, assim como Jesse Eisenberg (“A rede social”), Javier Bardem (“Comer, Rezar, Amar”) e George Clooney (“Um homem misterioso”). Wagner Moura (“Tropa de Elite 2”) fica com o meu quarto lugar enquanto Nicolas Cage entra no pódio por “Vício Frenético”. O segundo melhor trabalho de 2010 fica com o vencedor do Oscar Jeff Bridges por “Coração Louco” e o melhor só poderia ir para Ricardo Darín por “O segredo dos seus olhos”.

Piores atuações masculinas – Adivinha quem está no topo? Sam Worthington, o Perseus de “Fúria de Titãs”. Muito perto dele estiveram Ben Affleck por “Atração Perigosa” e Shia LaBeouf, a figura destoante de “Wall Street – o dinheiro nunca dorme”. Correndo por fora e desejando um lugar neste pódio, Mark Whalberg dois tons acima em “Um olhar do paraíso”, Tom Cruise e seu espião esquisito de “Encontro Explosivo” e Jake Gyllenhaal por “Entre Irmãos”.

Melhores atuações femininas – A única coisa que salva “Lula, o filho do Brasil” é Glória Pires no papel de Dona Lindu, a mãe do Lula. Ele é a razão do filme não ser um dos piores do ano. Vera Farmiga também está excelente em “Amor sem escalas” assim como a minha musa de 2010 Anna Mouglalis no papel de Coco Chanel em “Coco Chanel e Igor Stravinsky”. Vale destacar o bom trabalho de Kristin Scott-Thomas como a tia de John Lennon em “O garoto de Liverpool”, de Emily Blunt como a rainha Vitória em “A jovem rainha Vitória” e de Naomi Watts em “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”. Mas o ano – e eu nunca pensei que um dia eu diria isso – foi de Sandra Bullock e sua atuação em “Um sonho possível”. Seu trabalho no papel de Leigh Anne Tuohy foi o vencedor do Oscar de 2010 com merecimento.

Piores atuações femininas – A dupla Elena Anaya e Natasha Yarovenko encabeça fácil essa lista por “Um quarto em Roma”. Lista que tem ainda Cameron Diaz por “Encontro Explosivo” e Elizabeth Banks, que não me convenceu nem um pouco em “72 horas”.


E assim termina o Best Of 2010. Ano que vem é claro que eu continuarei cornetando tudo. Até a próxima e um feliz Ano Novo. Como diria uma antiga professora de inglês “See you later alligator, see in a while crocodile”.

Best of 2010 – Música

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que aqui em Memórias da Alcova não tem esse negócio de ficar exaltando shows para meia dúzia com artistas que ficam duas horas dedilhando o violão num “silêncio ensurdecedor”. Gostamos dos mares revoltos do rock’n’roll.

E antes de fazer a minha tradicional lista dos melhores e piores shows do ano, cabe apenas um comentário sobre um disco. Não sou de falar de discos porque raramente escuto lançamentos, pois raramente há bons lançamentos, mas o disco novo do Iron Maiden, “The Final Frontier”, é para guardar num canto especial da sua CDteca. Se você ainda compra CDs, evidentemente. Não posso dizer que é o álbum do ano porque não ouvi o tudo que deveria para isso, mas é coisa para ficar entre os dez mais.

Dito isto, vamos à minha lista de melhores shows do ano. Em ordem decrescente, lá vão as pedradas que sacudiram 2010.

5º lugar – Guns N’RosesAxl Rose e sua nova banda desembarcaram no Brasil em abril para a turnê do disco “Chinese Democracy”. O show na realidade estava marcado para o final de março, mas um dilúvio de proporções bíblicas no Rio de Janeiro fez cair um pedaço do palco e cancelar a apresentação. Com tudo seco, os fãs ainda tiveram que esperar duas horas para que Axl finalmente subisse ao palco já na madrugada de uma segunda-feira para tocar. A espera foi compensada com um excelente e surpreendente show para quem esperava que Axl estivesse morto. O cara mandou bem, tocou velhos clássicos e mostrou que está acompanhado de uma ótima banda. Mas dá próxima vez, Axl, vê se não atrasa tanto.

4º lugar – Stone Temple Pilots – Não fosse o convite de uma amiga eu não teria visto um dos melhores shows de 2010. Foi isto que me levou ao Circo Voador no último dia 11 para perceber que Scott Weiland continua sendo um bom frontman. Colocou a galera no bolso seja com os vários hits da banda ou com as músicas novas. E eu só tenho a agradecer por ter aceitado aquele convite.

3º lugar – Franz Ferdinand – Em 2006, o Franz Ferdinand já tinha entrado no meu top 3 com o show que fez na Fundição Progresso. Nesse ano, a banda escocesa voltou ao Brasil em março para novamente sacudir a mesma Fundição. Como descrevi na época, a banda está cada vez melhor e já merece um espaço maior para tocar quando voltar a Pindorama. Alex Kapranos e cia vieram para lançar o bom disco novo, “Tonight: Franz Ferdinand”, e se divertiram muito com a platéia. Teve até mosh do Kapranos.

2º lugar – Rush – Em outubro, os canadenses do Rush vieram a Apoteose para o show da turnê “Time Machine”. O resultado foi uma apresentação quase perfeita de Geddy Lee, Alex Lifeson e Neal Peart. O Rush fez um show 100% bom, o que é raro de encontrar hoje em dia, e não apenas musicalmente excelente como divertido e bem humorado. Só não foi o melhor do ano porque havia um Sir no meio do caminho.

O melhor do ano – Paul McCartney – Foi por muito pouco mesmo que o Rush não ganhou o prêmio Memórias da Alcova de show do ano. Mas aí eu resolvi pegar a estrada e ir para São Paulo para conferir uma das últimas chances de ver Paul McCartney ao vivo. O cara está com 68 anos e sabe-se lá quando vai voltar ao Brasil e se vai voltar. O resultado foi um show memorável de Sir Paul, daqueles para ficarem gravados décadas na cabeça de quem esteve presente no Morumbi. Teve Beatles, teve Wings, teve Paul carreira solo, tudo misturado em quase três horas em que Paul cantou, tocou baixo, guitarra, piano e o que mais aparecesse na sua frente e mostrou que era um showman de primeira. Ganhou (por pontos, mas ganhou) o meu voto para o espetáculo de 2010.

O pior show – Seria fácil puxar da minha listagem o Fresno, que abriu para o Bon Jovi no dia 8 de outubro e fez uma apresentação muito ruim. Mas o próprio Bon Jovi não disse a que veio e merecia figurar aqui pelo menos com uma medalha de prata entre os piores. Deixou muito a desejar na sua passagem na Apoteose pela turnê do “The Circle”. Não apenas pelo que vi, mas também pelo que me contaram os fãs que estiveram em São Paulo, onde o show, eles dizem, foi maior (três horas ao contrário das pouco mais de duas horas no Rio) e melhor (set list paulista foi mais interessante).

Mas a minha escolha vai para uma outra banda que esperava ainda mais. O Coldplay desembarcou na mesma Apoteose em fevereiro para a turnê do “Viva La Vida” cercado de bastante expectativa e fez o chamado voo de galinha. Começou muito bem, mas por volta de uma hora e pouco de espetáculo eu já estava olhando o relógio para ver quando ia acabar aquilo tudo. Faltou pegada, faltou repertório, faltou um set list melhor distribuído, faltou garra, faltou muita coisa ao Coldplay, o pior show de 2010. Quem sabe no Rock in Rio eles não voltam mais inspirados?

No próximo post, os melhores e os piores do ano no cinema

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Best of 2010 – Esportes

Já virou tradição aqui no blog. Para justificar a minha condição de jornalista exposta ali no canto direito, faço todo fim de ano as minhas listas de melhores, piores, micos, etc, que é sempre ironicamente chamada de Best Of, pois normalmente era com esse nome que as bandas costumavam lançar seus CDs de coletâneas no tempo em que se lançava CDs. Isso está ultrapassado. Comprar disco e coisa de velhos e românticos. Me incluo apenas (e por enquanto) na segunda categoria.

Então vamos começar a brincadeira para alimentar as discussões no bar neste resto de 2010.

Dez jogos marcantes de 2010 – Em ordem cronológica, dez partidas que entraram para os anais do esporte.

Jogo maluco na Copa Africana de Nações – O que você faria se o seu time estivesse aos 34 minutos do segundo tempo vencendo uma partida por 4 a 0? Claro que você estaria feliz da vida, comemorando e ainda dando uma sacaneada no rival. Era quase isso que os torcedores de Angola estavam fazendo na abertura da Copa Africana de Nações no dia 10 de janeiro. Quatro a zero, gols de Flavio (2), Manucho e Gilberto e vitória e bicho garantido, certo? Errado. Mali buscou uma reação que parecia impossível e com Keita aos 34, Kanouté aos 43, Yatabaré aos 47 e novamente Keita, pasmem, aos 49 do segundo tempo, chegou ao empate! No final ficou só a imagem de um jogador de Angola dando um soco na cobertura do banco de reservas. Que tristeza para os angolanos, mas que jogão.

A santa vitória de New Orleans – No dia 7 de fevereiro, os deuses do esporte aprontaram mais uma vez. De um lado, no Super Bowl disputado no Sun Life Stadium, em Miami, estava o favoritíssimo Indianápolis Colts de Payton Manning. Do outro, o surpreendente New Orleans Saints do quarterback Drew Brees, que por causa de uma lesão no ombro quase encerrou a carreira. Mas o mundo parecia torcer por New Orleans, que cinco anos depois ainda se reerguia da trágica passagem do furacão Katrina pela cidade. E quando Tracy Porter interceptou Manning e correu sozinho para marcar o touchdown que deu a vitória ao Saints por 31 a 17 uma das histórias mais bonitas do esporte americano foi escrita. Foi o primeiro título da história de New Orleans, cujo time foi fundado em 1967. E tem quem diga que futebol americano não é emocionante.


Um brilhareco de Ronaldinho – Dois mil e dez foi o ano em que eu torci muito pelo Ronaldinho, mas ele não me ajudou. Torci por sua convocação para a Copa (mas o Dunga não gosta de futebol), torci para que ele voltasse a ser o jogador genial do Barcelona, mas só quebrei a cara e vibrei com alguns brilharecos como no Milan 2 x 3 Manchester United pelas oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa no dia 18 de fevereiro. Ronaldinho fez uma boa partida, marcou um gol, de um passe para um golaço de letra de Seedorf, mas deixou o campo derrotado após Wayne Rooney, então o melhor atacante do mundo, marcar dois gols. No final, o Milan acabaria sendo eliminado da Liga dos Campeões e eu desisti de Ronaldinho. Não tenho mais esperanças nele em 2011.

Futebol-arte no Emirates Stadium – Arsenal e Barcelona fizeram no dia 31 de março um dos duelos mais aguardados da Liga dos Campeões. No primeiro jogo em Londres, o Barcelona pressionou muito, deu um show de bola e abriu 2 a 0 com dois gols de Ibrahimovic. Mas o Arsenal não se entregou e Walcott e Fábregas empataram a partida. No jogo de volta, Messi deu um show e o Barcelona avançou, mas nesta partida os Gunners jogaram como gigantes.

A casa caiu no Engenhão – Parece mentira de 1º de abril, mas isso realmente aconteceu no Engenhão. Segunda fase da Copa do Brasil, o Botafogo jogava em casa e precisava apenas de um empate para se classificar. Só que o Santa Cruz, da Série D do Brasileiro, está vencendo por 2 a 1. O Botafogo reage e com Herrera empata a partida aos 40 minutos do segundo tempo. Festa da torcida alvinegra que já comemorara o pênalti defendido pelo goleiro Jefferson. Mas aos 45, o Santa Cruz faz o terceiro gol de uma incrível derrota do Botafogo. Um jogaço.

O brilho de Arjen Robben – Seis dias depois, outra torcida sai decepcionada de sua casa. Os torcedores do Manchester United lotam o Old Trafford para ver o seu time se classificar em casa para as semifinais da Liga dos Campeões. Só que eles não contavam com um golaço de Robben no segundo tempo que colocou o Bayern de Munique lá, mesmo com a derrota de 3 a 2.


Neymar e Ganso – No primeiro semestre, o Santos voltou a encantar o Brasil com uma nova versão dos Meninos da Vila comandada pelo atacante Neymar e pelo meia Paulo Henrique Ganso. No dia 2 de maio, eles disputaram uma emocionante decisão do Campeonato Paulista em que acabaram campeões mesmo com a derrota de 3 a 2 para o Santo André, pois haviam vencido a primeira partida pelo mesmo placar. Mas teve bola na trave do Santo André, gol perdido que não se pode perder. O Santo André não foi campeão por milagre e também pela personalidade daquele time personificada na decisão de Ganso de contrariar o técnico Dorival Júnior e se recusar a ser substituído. Deu certo e ele comandou o Santos na conquista como um verdadeiro veterano.

Três dias de tênis – No dia 24 de junho, durante a Copa do Mundo, o americano John Isner e o francês Nicolas Mahut chamaram a atenção do planeta ao estabelecerem um novo recorde: o de partida mais longa da história do tênis. Na realidade, dia 24 foi quando se encerrou um jogo iniciado no dia 22 e interrompido duas vezes por falta de luz natural! Após 11 horas e seis minutos e um último set com 138 games, o americano levou a melhor ao vencer por 3 sets a 2, parciais de 6/4, 3/6, 6/7, 7/6 e incríveis 70/68. Talvez por estar muito cansado pela batalha de Wimbledon, Isner acabaria sendo eliminado na rodada seguinte.


O jogo da Copa – A Copa do Mundo foi sem graça, com partidas fracas igual as últimas duas edições. Mas um jogo foi de deixar o coração sair pela boca. Foi o Uruguai 1 x 1 Gana, pelas quartas de final no dia 2 de julho. O ganeses abriram o placar com Muntari ainda no primeiro tempo, mas na etapa final Diego Forlán deixou tudo igual. A partida foi para a prorrogação e no final do segundo tempo Luís Suarez colocou a mão na bola dentro da área para evitar um gol de Gana. Pênalti e expulsão do atacante do Ajax que deixa o gramado chorando, mas volta sorrindo e vibrando muito depois que Asamoah Gyan desperdiça a cobrança. O jogo vai para os pênaltis e o Uruguai vence por 4 a 2 com a cobrança decisiva sendo de Loco Abreu com uma cavadinha! No dia seguinte, Abreu ainda tirou onda e disse: “Ainda bem que o Campeonato Carioca não passa em Gana”.


Manita catalã – Mais um ano se passa e mais uma vez o Barcelona aplica um chocolate no Real Madrid. Dessa vez, os madridistas estava na maior esperança de dar o troco no Camp Nou. Estavam agora (e finalmente) com um bom time, com um dos melhores técnicos do mundo (o português José Mourinho) e vinham jogando muito bem. Mas o Real foi engolido pelo time de Guardiola, pelo toque de bola de Xavi, Iniesta, Messi e cia e os 5 a 0 ficaram até baratos. Chocolate catalão é uma delícia.



O craque do ano – Diego Milito fez os gols dos três títulos da Inter de Milão da temporada (Liga dos Campeões, Copa da Itália e Campeonato Italiano). Xavi e Iniesta jogaram muito e levaram a Espanha até o título mundial. Sneijder também e ganhou os mesmos títulos de Milito e ainda foi artilheiro e vice-campeão da Copa com a Holanda. E o que dizer de Diego Forlán, que levou o Atlético de Madrid ao título da Liga Europa e o Uruguai ao quarto lugar da Copa, e Dario Conca, que conduziu incansavelmente o Fluminense ao título brasileiro? Mas às favas com os resultados. Lionel Messi ganhou apenas o Campeonato Espanhol neste ano, mas jogou muito, encantou o planeta e é isso que importa para Memórias da Alcova. Messi, pelo segundo ano consecutivo, o craque do ano. E também o autor do golaço do ano. Esse aqui contra o Zaragoza que você pode ver no vídeo abaixo.


O time do ano – Poderia ser a Inter de Milão pela tríplice coroa e pelo título mundial, mas, convenhamos, aqui é para exaltar o futebol-arte. Poderia ser a Espanha, mas não existe arte no 1 a 0 frequente. Então, só me resta votar na Espanha reforçada pelo Messi que atende pelo nome de Barcelona. O time mais fantástico do planeta. O resto, é resto.

O herói - Seu nome é Dario Leonardo Conca e ele veio ao mundo para liderar o exército tricolor rumo à gloria 26 anos depois. Seu comportamento de herói incansável, que jogou todas as 38 partidas do Campeonato Brasileiro foi digno dos grandes nomes da história. Conca foi praticamente o general Maximus tricolor. Com a vantagem que não morreu no final. Ainda bem para a torcida que esperava há quase três décadas para gritar tricampeão.

O vilão – Tenho pena de De Jong. Jogar na Holanda, pais onde mais importante do que ganhar é jogar bem (eu diria revolucionar), deve ser um peso para o rapaz. Mas o volante ficou muito mal na fita ao dar aquela voadora criminosa em Xabi Alonso na decisão da Copa do Mundo. O pior é que aquilo foi o emblema de um time holandês de Bert Van Marwijk que vestia o uniforme, falava a língua, tinha “van” nos nomes, mas não tinha cara de Holanda. Apesar da minha tristeza com a derrota, ter sido campeão teria sido quase um crime para as três gerações que fizeram a Holanda ser conhecida pelo toque refinado. Ficou para 2014. Mas sem De Jong, por favor.

O mico do ano – Mais do que do ano, foi da década, do século, da história do futebol. O Internacional campeão da Libertadores chegar no Mundial de Clubes e não disputar a final é um micaço daqueles estratosféricos. Perder de 2 a 0 para o TP Mazembe com direito ao goleiro Kidiaba fazendo aquela dancinha ridícula é muito mico, é King Kong de ouro.

O figuraça do ano – E exatamente por causa de sua comemoração “cachorro com verme” que Kidiaba ganha o título de figuraça de 2010. A dancinha do “vem quicando” era ridícula, mas fez sucesso.

O tabu quebrado do ano – Você pensou nos 26 anos que levou para o Fluminense ser campeão brasileiro? Isso é pouco perto dos 45 anos que a Inter de Milão levou para voltar a ser campeã européia. Por isso que José Mourinho virou deus em Milão. E você acharia o contrário se torcesse para o clube?

No próximo post, os melhores shows do ano.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Isolado entre milhões

Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) tem 2,3 milhões de pessoas que o "curtem" no Facebook. A propaganda e o pôster de “A rede social” vende o filme com a frase “Você não tem 500 milhões de amigos sem ter alguns inimigos”. Uma referência ao número de usuários da rede social mais usada e famosa do mundo. O pequeno gênio de 26 anos que construiu um império de US$ 6,9 bilhões de dólares é, portanto, um homem de superlativos.

Foi sobre o jovem eleito personalidade do ano pela revista “Time” que o diretor David Fincher - de “Seven” (1995) “Clube da Luta” (1999) e “O curioso caso de Benjamin Button” (2008) - e o roteirista Aaron Sorkin – de “Jogos de Poder” (2007) – resolveram se debruçar para contar uma história controversa, de hipérboles judiciais, com inveja, acusações de roubo de ideias e traição. Não poderia certamente dar num filme ruim.

Ainda que Zuckerberg tenha se calado quando Bem Mezrich escreveu o livro “Os bilionários acidentais”, que deu origem ao filme, e que a única coisa que se sabe que o jovem tenha comentado sobre a película foi de que não concorda com a tese de que criou o Facebook como uma forma de combater a rejeição feminina que sofria, é possível retirar de “A rede social” algumas conclusões.

Mesmo que uma parte do livro/filme não seja verdadeira como Zuckerberg acredita, são bastante plausíveis as acusações de traição do brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), jogado para escanteio quando o Facebook começou a crescer e Zuckerberg passou a dar mais ouvidos para Sean Parker (Justin Timberlake), outro geniozinho da computação que já tinha causado terremotos de proporções bíblicas e marcas indeléveis nas gravadoras ao criar o Napster.

A maneira como a pessoa que financiou o início do site foi descartado é coisa de profissional da política de Brasília. O brasileiro hoje é um homem também com os seus bilhões (US$ 2,3 para ser mais exato) e a reparação judicial feita ao ter na rede social o seu nome associado à expressão “co-fundador”, mas jamais falou sobre os problemas ou deu entrevistas para falar sobre o caso. Não se sabe se isso faz parte do acordo ou ele simplesmente ainda se sente um amigo de Zuckerberg. Embora traído.

Aliás, diante de um jovem com tantos números de seis dígitos, Saverin lembra numa das melhores passagens do filme de Fincher que ele “era o seu único amigo”. Pausa para reflexão até mesmo sobre a maneira como usamos o Facebook com nossos 400, 500, incontáveis amigos. Quantos não passam de figurinhas em álbuns sociais eternamente incompletos e sempre crescendo numa frenética acumulação sem sentido? Ou como outro dia disse a Pitty no Twitter: “Quem muito segue, nada lê”.

Saverin era o único amigo de um desajustado freak que se atropelava com as palavras por ter um raciocínio mais rápido do que a velocidade da própria língua e um cérebro multifacetado que tornava quase impossível acompanhá-lo. Que por ser tudo o que um nerd normalmente é, se esforçava para parecer babaca, nas palavras de sua então namorada Erica Albright (Rooney Mara), talvez para entrar nas famosas e inúteis comunidades de Harvard, com seus trotes que vão do ridículo ao absurdo. Nunca conseguiu isso, ao contrário de Saverin, o que provocou um declarado ciúme em Zuckerberg.

Enquanto acompanhamos uma ideia que vai se transformar numa empresa lucrativa, Fincher expõe os argumentos controversos nas duas ações judiciais movidas por Saverin e pelos irmãos Winklevoss, que acusaram Zuckerberg de ter-lhes roubado a ideia da rede social. Se quase com 100% de certeza pode-se concluir que Saverin foi traído pelo seu então amigo, os argumentos dos irmãos atletas de remo de Harvard, por outro lado, gerariam no mínimo um debate.

Sim, eles tinham um projeto de criar uma rede social interna para que estudantes pudessem fazer comentários etc, mas esse insight foi o estopim para algo muito maior pensado por Zuckerberg também a partir do seu infeliz projeto Facemash de comparar as alunas de Harvard num joguinho machista. Ele juntou A com B, mas incluiu todo um alfabeto jamais pensado pelos Winklevoss para criar o seu Facebook. Pelo menos esta é a minha opinião.

Fincher e Sorkin conseguiram fazer com que três histórias caminhassem paralelas ao mesmo tempo em que sempre se cruzam sem que o espectador se perca em nenhum momento, criando um filme que é o melhor do diretor desde “Clube da Luta”. Embora nos últimos 11 anos Fincher tenha feito boas obras como “O quarto do pânico” (2002) e “Zodíaco” (2007). Não é à toa que “A rede social” está cotado para o Oscar não apenas pela qualidade da película como pelas boas atuações de Eisenberg, Garfield e Timberlake. O filme também recebeu seis indicações ao Globo de Ouro de 2011, apenas uma a menos do que o recordista “O discurso do Rei”, que ainda não estreou no Brasil. O que prova que "A rede social" é não apenas um sucesso de público, mas de crítica também.

Com a poeira tendo baixado e depois das ações judiciais, é curioso perceber que mesmo com tantos problemas particulares com o criador do Facebook tanto Saverin quanto Erica têm perfis na rede social. Saverin tem 142 amigos. Erica, 39. Zuckerberg não está entre os amigos de ambos.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Woody Allen de novo

Os cinco leitores que acompanham este blog há algum tempo (será que tenho isso tudo?), sabem que entre os meus defeitos como cinéfilo - alguns diriam maníaco - era não gostar de Woody Allen e Pedro Almodóvar. Até que num desses carnavais que eu me isolo do mundo para não ter que aturar todo o samba, blocos e essa chatice anual, eu aluguei uns cinco filmes do Almodóvar, assisti com atenção e vi que o cara era bom mesmo.

Com Woody Allen, porém, o processo foi mais lento e sempre nas salas de cinema. Começou com “Match Point” (2005), que não me convenceu. Veio “Scoop” (2006) e posteriormente “O Sonho de Cassandra” (2007) e já comecei a gostar mais. Quando vi “Vicky Cristina Barcelona” (2008), aí me rendi de vez. E na época de “Tudo pode dar certo” (2009) já estava até começando a ver uns filmes antigos para conhecer mais da sua produtiva obra com média de um filme por ano.

Hoje eu me pergunto por que eu não gostava de Allen, um cineasta que faz filmes tão simples, mas que com esta simplicidade consegue dizer ou retratar por vezes coisas tão complexas. E sempre com uma verve cômica a dar bossa nos seus roteiros.

“Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” é mais um desses filmes interessantes de Allen. Neste trabalho, um bando de desajustados tenta buscar a sonhada felicidade de diferentes formas, mas a única que consegue a paz de espírito na vida é a que vive de fazer consultas com uma cartomante que previamente sabemos ser uma charlatã. Ou será que ela não é tão charlatã assim?

Se Helena (Gemma Jones) vive a tranquilidade de quem confia que o futuro está escrito e a ela está sendo revelado através dos confortáveis conselhos de Cristal (Pauline Collins), o casal Sally (Naomi Watts) e Roy (Josh Brolin) anseia pelos sonhos que não são realizados ao mesmo tempo em que Alfie (Anthony Hopkins) é um frustrado que mesmo fazendo tudo para parecer um garoto a despeito de seus quase 70 anos não consegue a jovem mulher idealizada por ele. A menos que pague por ela, o que acaba acontecendo ao escolher a insípida e luxuriante Charmaine (Lucy Punch).

Sally é frustrada por não constituir família enquanto suas amigas começam a ter filhos e acha que seu futuro pode não ser com Roy, mas com o seu chefe Greg (Antonio Banderas). Roy, por sua vez, é um médico formado que deixa a vida hospitalar para se tornar um escritor de um único sucesso e incontáveis frustrações. Talvez Dia (Freida Pinto), a dama de vermelho do prédio em frente possa ser a inspiração, embora esta inspiração na realidade só venha com um golpe nada responsável e honesto.

E assim as vidas vão seguindo os seus ciclos, suas idas e vindas, seus muitos fracassos e algumas vitórias enquanto Helena, que acaba norteando a película passa de senhora frustrada pela separação com Alfie a uma mulher sempre com a esperança renovada pelas mensagens agridoces de Cristal.


É uma clara mensagem de que a ignorância acaba fazendo as pessoas mais felizes do que o conhecimento ou o reconhecimento da dura realidade da vida. Nesse ponto, “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”, cuja mensagem do título mesmo em inglês (“You will meet a tall dark stranger”) também tem um quê de mistério e uma certa ironia, parece um filme pessimista de Allen. Apesar do seu humor fino. E a sensação que se tem ao fim é que mesmo quando estes desajustados parecem se acertar, a impressão é de que o ciclo de som, dor e fúria vai começar novamente. Assim parece ser a humanidade.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O jingle hell de Pitty

Horas antes de entrar no palco do Circo Voador no sábado, a cantora Pitty avisara pelo Twitter que o show daquela noite não seria para iniciantes. De olho numa espécie de reinvenção e buscando diferentes ângulos que justificassem um novo DVD, não teria sentido para ela – o que é correto, apesar da ânsia dos fãs – repetir o que já despejara na gravação de “(Des)concerto” (2007), seu primeiro disco e DVD ao vivo.

Assim, músicas como “Anacrônico”, “Memórias”, “Na Sua Estante”, “Equalize”, “Admirável Chip Novo”, “Teto de Vidro” e “Semana que vem”, freqüentes nos seus últimos shows na Lapa ficaram em casa para que a roqueira baiana pudesse explorar outras vertentes do seu repertório, ou “mexer no baú da véia”, como descreveu a cantora de apenas 33 anos de forma bem humorada.

Com isso, “O Lobo” (“Vocês lembram dessa? Fazia tempo que a gente não tocava e a gente ensaiou a beça para tocar”), do primeiro disco da cantora, “Admirável Chip Novo” (2003), e “Todos estão mudos”, do mais recente álbum, “Chiaroscuro” (2009), foram incluídas junto com covers de Roberto Carlos (“Se você pensa”) e canções como “Sob o sol” e “Senhor das moscas”, cantadas junto com Fábio Cascadura, “Água contida”, com participação especial de Híque Gómez, do grupo Tangos e Tragédias, tocando violino, e a nova “Comum de dois” para gravar um DVD que ficou quase como um lado B do de três anos atrás. Um lado B vip, claro, porque em nenhum momento o show perdeu em qualidade em comparação com suas outras apresentações.

As mudanças radicais foram bem aceitas apesar dos pedidos da galera no final do show por “Equalize” e “Admirável Chip Novo”. Depois de refazer três canções (coisas de quem está gravando um DVD), Pitty até aceitou “sair do roteiro” e mandou a segunda e mais “Máscara” para deixar os fãs que tão apaixonadamente transformaram o Circo Voador numa ode à cantora baiana ainda mais felizes.

Foi uma postura legal dela. O amor entre Pitty e seus fãs é recíproco e incondicional. Quando um engraçadinho tentou abusar e subir no palco para dar um mosh contrariando as regras de segurança para a gravação do show para proteger os equipamentos que estavam no meio do povo, Pitty deu um olhar de reprovação, balançou o dedinho negativamente e o cidadão, sem camisa e mostrando toda a sua obesidade, levantou os braços como que pedindo desculpas e caiu candidamente e cheio de dedos no meio da galera. Se fosse outra cantora ou banda, não estaria nem aí e louco para aparecer.

Quando outra fã ensandecida e também já sem camisa – aliás, como as fãs da Pitty gostam de tirar a camisa. Faltaram apenas os sutiãs para completar a festa de quem assistia – tentou o mesmo foi impedida imediatamente por outros que a puxaram pelo short.

Mas como eu dizia, fã é fã e o número de iniciantes no Circo Voador parecia bem inferior aos seguidores fiéis da cantora. O que fez o show ficar com aquela energia impressionante que todo artista gosta de ter na hora de fazer um registro ao vivo. Foi assim da primeira música, “8 ou 80”, a última, “Me Adora”, uma das que o público mais gosta dentro do repertório da cantora.

Com uma sintonia tão grande e cantora e público absolutamente possuídos, acho que Pitty, Martin (guitarra), Joe (baixo) e Duda (bateria) conseguiram atingir o objetivo de fazer a sua festa jingle hell no Circo Voador. A felicidade da cantora foi resumida em quatro twittes pós-show: “Velho, não sei nem o que dizer...”, “Aliás, sei sim: CATARSE COLETIVA. Brigada”. “Fiquei de cara com o público, que galera genial, man. Vocês representaram demais da conta, as surpresas, o coro, a quentura, a alma, foda” e “tô aqui acabada fisicamente e sem conseguir parar de pensar o quanto ontem foi surreal”.

Agora é esperar o DVD para os que estiveram lá relembrarem e os que não puderam ir conferirem o quanto o show foi, parafraseando a própria Pitty, foda.

Abaixo, o set list e alguns momentos do show no Circo colhidos no bom e velho YouTube.

8 ou 80
Fracasso
Desconstruindo Amélia
Água contida
Trapézio
Rato na roda
Só agora
Medo
Comum de dois
Pra onde ir
Sob o sol
Senhor das moscas
O lobo
Se você pensa
Todos estão mudos
Me adora
Admirável chip novo

Máscara

"8 ou 80"

"Fracasso"

"Desconstruindo Amélia"

"Água contida"

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um sobrevivente

Scott Weiland é daqueles cantores de rock que foram até o fundo do poço e voltaram algumas vezes. É certamente um sobrevivente dada a quantidade de drogas que ingeriu nos seus 43 anos de vida. No início deste século, ele resolveu tentar dar um jeito na vida e largar as drogas, embora por vezes tivesse recaídas. Mas foi um Weiland aparentemente limpo que aportou no Citibank Hall há três anos para um show como vocalista do Velvet Revolver dos ex-Guns 'N’Roses Slash, Duff e Matt Sorum.

De 2007 para cá, porém, Weiland perdeu um irmão por overdose, se separou da mulher e ainda foi diagnosticado com transtorno bipolar. Com tanta crise praticamente junto, era natural que desabasse mais uma vez. Há três meses o Stone Temple Pilots anunciou que estava reagendando alguns shows nos Estados Unidos e que a banda faria uma breve pausa. Isso aconteceu poucos dias depois de Weiland declarar que tinha voltado a beber.

“Eu comecei a beber de novo. Meu irmão morreu, eu me divorciei da minha mulher e todo o meu mundo basicamente girava em torno disso. Então quer saber? Vou tomar conta de mim porque é o que eu preciso fazer. Ao invés de fazer uns poucos shows, eu quero fazer toda a turnê com todos os shows”, disse na época.

Sabendo disso, fica fácil entender porque após as quase duas horas de uma comedida performance do cantor (embora, por mais paradoxal que seja, a apresentação da banda como um todo foi incendiária), agora novamente de volta ao Stone Temple Pilots, no sábado, no Circo Voador, ele fez o sinal da cruz e apontou para cima como um ferrenho devoto de Cristo.

Não, Weiland não virou um cristão, mas aquilo foi quase um desabafo. Um “eu consegui!” para si mesmo numa batalha interna que o cara vem tendo há alguns anos e que já o fizeram colher algumas derrotas. Dizem que ele foi expulso do Velvet por ter voltado a usar drogas. Embora outros boatos digam que os outros integrantes é que voltaram a usar drogas.

Fofoca ou não, fato é que Weiland voltou a se reunir com os irmãos Robert DeLeo (baixo) e Dean DeLeo (guitarra) e o baterista Eric Kretz para relembrar os velhos tempos e, claro, lançar um disco novo. “Stone Temple Pilots”, o álbum, é o motivo que fez a banda aportar na América do Sul neste mês e pela primeira vez no Brasil para um show daqueles incríveis que o Rio sempre precisa.

Aparentando estar um pouco mais gordo do que em 2007 e certamente menos performático do que o usual, Weiland ainda assim é um frontman de respeito e que magnetiza a platéia. Quando ele pega o megafone para anunciar que o bonde do STP está no palco com “Crackerman”, a galera está junta dele e não sairá mais nas próximas duas horas em que a banda atacou de clássicos como “Interstate Love Song”, “Sex Type Thing”, “Dead & Bloated”, “Trippin’ on a hole in a paper heart”, e, acima de todas, “Plush” e mostrou canções do disco novo, caso das boas “Between the lines”, “Cinnamon” e “Huckleberry Crumb”.

Teve espaço até para um festejado cover do Led Zeppelin (“Dancing Days”), influência da banda que pode ser vista até, como bem observou uma amiga minha que também acompanhava o show, nos trejeitos de Dean, guitarrista que bebia direto na fonte de Jimmy Page.

No palco, Weiland e banda não fazem muita questão de falar português (foi apenas um único obrigado no show), mas fazem o jogo de cena de nove entre dez grupos ao estender uma bandeira do Brasil e conquistam a galera quando o baixista resolve, ao violão, antes do bis, tocar “Garota de Ipanema” para uma platéia que responde cantando a letra imediatamente. Uma atitude simpática, mas nesse momento todos já estavam no bolso do STP.

Ficou apenas a sensação de que o Circo Voador, embora um bom lugar para shows, era pequeno para a platéia ávida por ouvir o Stone Temple Pilots pela primeira vez. Com a mesma fé que Weiland demonstrou ao apontar para o céu quase duas da manhã, os fãs só rezam para que não demore tanto para eles retornarem ao Rio.

Abaixo o set list e alguns bons momentos do show de sábado.

Crackerman
Wicked Garden
Vasoline
Heaven and hot Rods
Between the lines
Hickory Dichotomy
Still Remains
Cinnamon
Big Empty
Dancing Days (cover do Led Zeppelin)
Silvergun Superman
Plush
Interstate Love Song
Hucleberry Crumble
Down
Sex Type Thing
Dead & Bloated

Trippin’ on a hole in a paper heart

Crackerman

Plush

Sex Type Thing

Interstate Love Song

Trippin' on a hole in a paper heart

Wicked Garden

domingo, 12 de dezembro de 2010

Um assassino em crise

Melhores são aqueles filmes que você vai ver despretensiosamente e de repente deixa o cinema muito satisfeito. Recentemente vi uma dessas películas pelas quais não dava nada, que estava aí passando em um cinema meio poeira perto de você e, what a surprise!, que belo filme.

Segunda aventura cinematográfica de Anton Corbijn - a primeira foi “Control”, de 2007, sobre a vida do vocalista do Joy Divison, Ian Curtis, trabalho que ainda preciso ver – “Um homem misterioso”, título em português horroroso para “The American”, conta a história do assassino solitário Jack (George Clooney) que basicamente deseja mudar de vida.

Quer largar essa coisa de matar pessoas e intermediar venda de armas para construir uma família, quem saber ter filhos, essas coisas de gente normal. Refletindo agora, ele é quase um “Comer, Rezar, Amar” para machos alfa. Tá, desconsiderem a afirmação, pois vão acabar sentindo rejeição pela película sem nem vê-la.

Mas é mais ou menos isso o que acontece. Desolado e com a vida sem sentido e em busca de um amor verdadeiro, o já velho e quase ultrapassado Jack se vê perto desse eldorado particular numa casinha isolada no meio do nada e envolta em muita neve. Lá dentro a lareira e o amor a aquecer o seu gélido e romper o seu rochoso coração. Só que ele não contava com uma máfia sueca que o fez revelar sua real identidade e posteriormente o forçou a matar a moça.

Com o patrão cobrando a entrega de uma encomenda e os suecos na cola, ele parte para a Itália onde encontra no interior, no meio de montanhas, uma cidadezinha que tem a sua cara. Um vilarejo com tanta culpa quanto a necessidade de redenção que ele e todos ali desejam e onde não há santos. Nem o padre Benedetto (Paolo Bonacelli) que serve de amigo e confidente informal.

Jack sente-se em casa e se permite até a dar uma nova chance a si mesmo com a prostituta Clara (a maravilhosa Violante Placido), outra desajustada carente que anseia pela oportunidade de mudar de vida. Jack, Clara e o vilarejo se completam num quase conto de fadas do purgatório.

Mas no meio de tudo isso havia o chefão Pavel (Johan Leysen), a assassina contratada Ingrid (Irina Bjorklund) e suas dificuldades serão maiores ao passo que a felicidade fica muito distante para pecadores como ele.

Diretor mais conhecido por trabalhos musicais com U2, Depeche Mode e Metallica, Corbijn utiliza por mais paradoxal que seja o silêncio como arma estilística do seu trabalho. A praticamente ausente trilha sonora em “Um homem misterioso” mostra muitas coisas. Desde a sensação de deslocamento até a dor de Jack. Denota o suspense de algumas cenas e transpira a culpa e o peso de uma cidade supostamente cercada de fé, mas mergulhada em muitos pecados.

E é claro que o fim cortante desse drama teria que ser do mesmo jeito. O silêncio é arma que amplifica a dor de quem não tem esperança porque é tarde demais para recomeçar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Comentários e a seleção do Brasileiro

O Fluminense construiu uma das histórias mais bonitas que eu já vi no esporte. Lembremos que há um ano e meio, o time estava no fundo do poço, praticamente rebaixado para a segunda divisão e sem qualquer perspectiva, mas com uma arrancada heróica daquelas de cinema conseguiu escapar de mais uma degola, que seria a terceira de sua história. A torcida que sempre empurrou o time e fez festas espetaculares não merecia mesmo isso.

Veio 2010 e de repente o time virou o jogo. Trouxe um técnico competentíssimo e finalmente soube contratar nas posições que o time precisava. Tudo bem que as vindas de Deco e Belletti não deram muito resultado, mas talvez tenha sido um período de adaptação para um 2011 bem melhor. O próprio Dario Conca, hoje considerado por nove entre dez pessoas o craque do campeonato, também teve um início difícil no Vasco. A questão da adaptação (ou readaptação no caso de repatriados) é importante.

E Muricy Ramalho em sete meses fez um time que morrera duas vezes na praia na Libertadores e na Copa Sul-Americana ser campeão brasileiro apesar de todos os problemas (lesões, convite da CBF para a seleção, suspensões, arbitragens estranhas beneficiando o Corinthians). Como negar quando o atacante Emerson disse que “o cara é sacanagem”?

Do inferno a glória se passou um ano. E o Fluminense é o legítimo e justo campeão brasileiro (não há injustiça em campeonatos de pontos corridos). Com roteiro de Hollywood e tudo.

Terminado o campeonato, é chegada a hora de fazer a minha seleção. E ela ficou assim:

Goleiro: Jefferson (Botafogo) – Foi uma grande temporada do goleiro alvinegro. Claro que Fábio também fez grandes defesas e um bom campeonato pelo Cruzeiro, mas Jefferson foi um dos responsáveis pela excelente campanha do Botafogo que terminou em sexto lugar. Fez ótimas partidas e seu desempenho ainda o levou para a seleção brasileira.

Lateral-direito: Mariano (Fluminense) – Símbolo da trajetória de reerguimento do Fluminense, Mariano também foi do inferno ao céu em um ano. De lateral vaiado e xingado pelos torcedores, passou a ser figura fundamental no time. Ninguém mais pensa o Flu sem ele, que graças ao excelente desempenho em campo foi convocado por Mano Menezes para a seleção brasileira. Fez um grande campeonato.

Dupla de zaga: Dedé (Vasco) e Leandro Euzébio (Fluminense) – No início do campeonato se eu pensasse que no fim esta seria a minha dupla de zaga ficaria preocupado com minha saúde mental. Mas não é que Dedé fez um grande Brasileiro e foi uma grata revelação. E Leandro Euzébio? Apesar da pixotada contra o Palmeiras foi um dos pilares da melhor defesa da competição. Acho que não preciso ir para o hospício. Ainda.

Lateral-esquerdo: Roberto Carlos (Corinthians) – Tudo bem. O Carlinhos fez o cruzamento do título e algumas boas partidas, mas não chegou a jogar muito para ser escolhido. O Diego Renan não fez um mau campeonato, mas também não me convenceu plenamente. Roberto Carlos entrou aqui por falta de opção. Não que o lateral do penta tenha ido mal. Foi regular, sempre com boas ou corretas atuações. E nesta posição muito carente no futebol brasileiro, isso bastou.

Dupla de volantes: Elias e Jucilei (Corinthians) – Aqui meio que foi barbada. Se Diogo e Diguinho, ambos do Fluminense, tivessem jogado mais vezes na competição, talvez até pudessem entrar na briga. Como não o fizeram por causa de várias lesões e a dupla corintiana esteve impecável no Brasileiro, é ela que abre o meu meio-campo.

Dupla de meias: Montillo (Cruzeiro) e Conca (Fluminense) – Aqui outra barbada. Ninguém jogou mais do que a dupla de argentinos. Montillo desde que chegou ao Cruzeiro foi o toque de classe que levou a equipe mineira ao merecido vice-campeonato nacional. E Conca, bem, o cara jogou todas as partidas, marcou nove gols, deu 18 assistências. Foi o craque do campeonato indiscutivelmente.

Ataque: Jonas (Grêmio) e Loco Abreu (Botafogo) – O grande ponto de discordância em relação às listas que andei vendo por ai. Sim, Neymar não está na minha seleção. Não acho que a jovem estrela do Santos tenha feito um grande campeonato apesar de seus 17 gols. Acho que ele se envolveu muito mais em confusões do que brilhou dentro de campo, o que verdadeiramente aconteceu até a decisão da Copa do Brasil. Por isso e também porque considero que Loco Abreu fez um belo campeonato e foi importante na boa campanha do Botafogo é que acho que o uruguaio merece ser lembrado. Fez seis gols a menos do que Neymar, mas foi fundamental para o alvinegro.

No caso de Jonas, ele parece ser uma unanimidade. Foi o artilheiro da competição com 23 gols e desde 2004 um jogador não fazia tantos gols. Na ocasião, Washington foi o artilheiro com 34 gols jogando pelo Atlético-PR. Sim, aquele mesmo que está há 15 jogos sem marcar pelo Fluminense.

Técnico: Muricy Ramalho (Fluminense) – A escolha do treinador foi a mais difícil para mim. Tinha quatro excelentes opções e decidi de forma pragmática. Muricy foi o escolhido porque fez em sete meses um trabalho quase milagroso de conduzir um time que estava há 26 anos sem ganhar conquistar o campeonato. Para mim, ele só seria superado por Joel Santana ou Renato Gaúcho se um dos dois tivesse levado Botafogo ou Grêmio, respectivamente, a uma vaga na Libertadores sem depender de ninguém. Hoje o Grêmio depende do Goiás. Mas foram dois grandes trabalhos. E Cuca fez o seu Cruzeiro praticar o melhor futebol na parte final do Brasileiro, mas faltou-lhe o título para ser coroado.

Concluindo - Então a seleção ficou assim: Jefferson (Botafogo), Mariano (Fluminense), Dedé (Vasco), Leandro Euzébio (Fluminense) e Roberto Carlos (Corinthians); Jucilei (Corinthians), Elias (Corinthians), Montillo (Cruzeiro) e Conca (Fluminense); Jonas (Grêmio) e Loco Abreu (Botafogo). Técnico: Muricy Ramalho (Fluminense). Em comparação com o time do ano passado, só um jogador permanece: Conca. É bom demais esse argentino. (Todas as fotos do post são da agência Photocâmera).

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Há vocábulos e vocábulos

Há palavras que são mais fortes em outras línguas do que na nossa e vice-versa. Quando comecei a estudar alemão, logo entendi porque a Alemanha estava sendo tomada por turcos enquanto o governo local fazia de tudo para que os seus "arianos" fossem para a cama (ou a cozinha, o banheiro) e procriassem loucamente. Mas não dá. É um problema lingüístico. Ninguém sentiria tesão ou a mais singela vontadezinha de fazer um filho ao ouvir Ich liebe dich.

Tudo bem que Seni seviyorum, seu similar em turco, não ajuda muito, mas ambas estão muito longe do poder que tem um “Eu te amo”. Principalmente dito na hora certa e com o olhar certo. “I love you” também tem sua força claramente amplificada pelo cinema. E dita com sotaque britânico então, nem se fala. Já “Je t'aime”, o similar francês, faria nove entre dez mulheres desmaiarem diante de você. Principalmente se você souber dizer mais do que essa frase na língua de Rousseau.

Indo ao extremo oposto nessa conversa, sempre defendi que “disgusting” fizesse parte do nosso português. Isso porque disgusting é muito mais nojento e repugnante do que o próprio nojento e repugnante. Nojento pode ser um rato morto, por exemplo, todo ensangüentado no chão da rua. Disgusting é tipo 100 baratas esmagadas no chão da sua casa.

O vocabulário futebolístico argentino tem duas palavras das quais eu sou apaixonado: cancha e enganche. E digo mais. O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), autor de um projeto de lei para a valorização da língua portuguesa comeria meu fígado, mas acho que elas deviam ser adotadas no vocabulário futebolístico daqui de Pindorama.

A cancha é o campo onde o futebol constrói sua história de heróis e vilões. Onde gênios surgem, onde se dá o sangue, o suor e as lágrimas pelo único resultado que interessa: a vitória. É nela que verdadeiras batalhas são disputadas. É pelo que acontece nela que as massas se movimentam, são tomadas pela alegria, pela dor ou pela revolta.

Dela sai o estímulo para o canto e para o protesto. A cancha é a vida que alimenta esse esporte chamado futebol. Tem um tom muito mais dramático que o dócil campo, o monocórdio field inglês ou o até charmoso relvado português. La cancha es la gloria y la derrota del fútbol. E quando “El Diez” (Maradona) jogava em la cancha era como se deus estivesse trabalhando no oitavo dia. Assim, dramático, como um tango argentino.

Falando em 10, é que entramos na minha outra palavra favorita, o enganche. Não temos uma única palavra para definir enganche (usamos expressões como meia de ligação ou “o 1 do Zagallo”), embora tenhamos tido muitos enganches espetaculares. O maior de todos? Pelé.

O enganche é o que no Brasil sempre costumamos chamar simplesmente de o 10. Uma homenagem ao próprio Pelé, pois o 10 nem sempre usa a 10. Zidane por exemplo era um 10 clássico, mas no Real Madrid jogava com a 5.

Hoje em dia é raro no futebol brasileiro ter um 10 dando sopa por aí. Cheguei a achar que Diego se tornaria um deles, mas ainda não. E talvez nunca mais. Paulo Henrique Ganso, também gerado nas canteras (outra palavra espanhola que adoro e que significa divisões de base) da Vila Belmiro, tem potencial e personalidade para sê-lo. Façamos essa pergunta daqui a uns três ou quatro anos.

Quando jogou no meio-campo do Fluminense com Thiago Neves, sempre achei que Dario Conca (foto acima da agência Photocâmera) era um 8, aquele meia-direita clássico e meio motorzinho também que todo time necessita, mas que também anda em falta. Conca me enganou. É um 10 embora jogue com a 11. E também um enganche, afinal, é argentino.

Neste Campeonato Brasileiro em que ele teimou em seguir jogando ininterruptamente do primeiro ao último minuto a despeito de todas as dores que tenha sentido, físicas ou da alma, Conca comanda o time tricolor com a maestria de um meia clássico e a paixão que os argentinos impõem à vida e ao futebol. Conca se doa para o time e o time se eleva, supera dificuldades, desfalques, em torno de e pelo seu capitão (pelo menos até a volta de Fred há dois jogos). O pequeno gigante tricolor mostrou, assim, ter outra qualidade dos enganches: a liderança e o respeito que eles impõem naturalmente por serem abençoados com o talento raro e a visão além do alcance dos mortais.


Não sei se o Fluminense será campeão brasileiro. Falta uma rodada e tudo pode acontecer. Mas se for e com a carga dramática que esse título está se desenhando, o tricolor não será campeão num campo qualquer. Será numa legítima cancha. E com o seu enganche mais do que merecidamente levantando a taça.

domingo, 28 de novembro de 2010

Uma lenda ao vivo

O guitarrista dos Rolling Stones Keith Richards vive dizendo que doará o corpo para a ciência quando morrer para que os cientistas estudem como ele sobreviveu às drogas até a idade em que vier a falecer. Acho que Paul McCartney deveria fazer o mesmo para que o mundo consiga entender como este senhor conseguiu chegar aos 68 anos preservando dentro do possível a sua voz e com uma vitalidade de fazer Mick Jagger bater palmas.

Sim, porque não é fácil tocar 2h20m ininterruptamente (sim, eu marquei) até a primeira parada para a posterior realização do primeiro dos dois bis a que o público do Morumbi, em São Paulo, teve direito numa apresentação que completaria ao início da madrugada de terça-feira passada quase 3h.

Você poderia argumentar que Paul McCartney não canta rock pesado, logo não precisaria ter aquele alcance vocal que, por exemplo, Ian Gillan não tem mais e o faz pagar mico a cada vez que se reúne com o Deep Purple. Também pode dizer que ele não se movimenta no palco como um Mick Jagger. Sim, seus movimentos são mais, digamos, contidos que muitos de seus pares e sua música é mais generosa com as cordas vocais que as do Led Zeppelin - motivo pelo qual Robert Plant não quer nem pensar em reunião com os dois outros integrantes da banda ainda vivos – ou o Iron Maiden, para ficar em duas bandas quase contemporâneas.

Mas a força e a vitalidade de Paul McCartney está na sua própria música. No peso de 53 anos fazendo esse tal de rock and roll desde que ele conheceu um tal de John Lennon e com George Harrison e Pete Best começou a desenhar a banda que viria a se tornar os Beatles já com Ringo Star nas baquetas.

Pode-se dizer que o show do ex-Beatle (ou seria eterno Beatle?) é relativamente óbvio. Você sabe que mais ou menos metade das músicas serão dos Beatles (e foram 20 das 39 tocadas no segundo show e 21 das 37 tocadas em Porto Alegre e no primeiro concerto em São Paulo), que haverá explosões em “Live and let die”, que ele vai chamar um coro com a plateia em “Hey Jude” e em escala menor que ele vai homenagear John (na bonita “Here Today”) e George (na ainda mais bela “Something”).

Mas Paul McCartney é como drible do Garrincha. Você sabe que vai acontecer, é inevitável e você ainda se emociona. E vai se emocionar enquanto ele tiver o fôlego que muitos de seus pares e membros de gerações posteriores dos anos 70 e até 80 não têm. Por que ele não é apenas um ex-Beatle – e como li há duas semanas no Twitter, ¼ dos Beatles é melhor do que muita banda inteira por aí – e sim porque ele é uma lenda viva. Porque a sua música tem a força de emocionar e embalar gerações e gerações de pessoas. E muitos ainda serão influenciados e se emocionarão por esta mesma música mesmo quando ele se juntar a John e George.

Quando falei sobre a previsibilidade de sua apresentação, não estava necessariamente criticando. Até porque, o ex-beatle sabe ser imprevisível quando quer. Multi-instrumentista – no show ele toca o lendário baixo Hofner, além de guitarras Gibson, piano, bandolim e uquelele -, já o vi num especial de TV criar uma música ao vivo e diante de uma atônita plateia. Foi só uma constatação e que não impede o show de ser absolutamente fantástico.

Se há um momento de surpresa no Morumbi, no entanto, é na absurda qualidade de sua banda formada por Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (guitarra e baixo), o figuraça Abe Laborial Jr (bateria) e Paul Wickens (teclado, guitarra, harmônica).

Rusty e Brian passeiam facilmente da pegada mais blueseira (“Letting Go”) a rocks como “Live and let die”, “Paperback Writer” e “Get Back” até chegar no peso de canções como “Back in the U.S.S.R” e o quase heavy metal “Helter Skelter”, uma das minhas favoritas, aliás. Jogam em todas com a maestria de um camisa 10.

Já Abe é um show à parte. O baterista, por sinal, muito melhor do que Ringo jamais foi, é o grande nome do show. Depois de Sir Paul, evidentemente. Gordinho, bota todo o peso das suas mãos nas baquetas e agride a bateria com um prazer orgástico. Além de fazer backing vocal em quase todas as canções, Abe também mostra um lado "sensível" ensaiando uma dancinha em “Dance Tonight” com direito a passos de macarena, ula-ula e John Travolta em “Os embalos de sábado à noite” que divertiram e levaram a plateia a dar boas risadas.

Em entrevista à “Rolling Stone” desse mês, Paul McCartney disse que já está há tanto tempo com essa banda que eles realmente viraram uma banda. E nota-se isso pelo entrosamento do quinteto. O crédito do show pode chamar por Paul, mas além de gênio por trás de cada uma das canções, ele é meio que o vocalista desse grupo que se apresenta ali na sua frente. Outro grande grupo depois dos Beatles e dos Wings.

É uma pena que como todo show uma hora ele tem que acabar, embora o desejo dos mais de 60 mil presentes seja o mesmo de um trecho da letra de “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”, que encerra os trabalhos no estádio: “I don’t really want to stop the show”.

Veja abaixo o set list e alguns dos bons momentos do espetáculo:

Magical Mystery Tour
Jet
All My Loving
Letting Go
Got to Get You into My Life
Highway
Let Me Roll It / Foxy Lady
The Long and Winding Road
Nineteen Hundred and Eighty-Five
Let 'Em In
My Love
I'm Looking Through You
Two of Us
Blackbird
Here Today
Bluebird
Dance Tonight
Mrs. Vandebilt
Eleanor Rigby
Something
Sing The Changes
Band On The Run
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Back in the U.S.S.R.
I've Got a Feeling
Paperback Writer
A Day In The Life/Give Peace A Chance
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude
Day Tripper
Lady Madonna
Get Back
Yesterday
Helter Skelter
Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band/The End
XXXXXXXXXXXX
Magical Mistery Tour/Jet

All my loving

Something

Band on the run

Eleonor Rigby

Long and widing road

Live and let die

Back in the USSR

Paperback Writer

Get Bac

Helter Skelter

Sgt. Peppers e The End