domingo, 28 de fevereiro de 2016

Os pré-comentários do Oscar 2016

Pré-comentários da festinha de hoje do careca dourado para animar esse domingo. Afinal, corneta é vida. 

1- "O Regresso", "O quarto de Jack", "A grande aposta" ou "Mad Max". Se qualquer um desses vencer o prêmio de melhor filme está muito bem dado. O resto seria aberração tipo "Titanic" ganhar melhor filme de "Los Angeles - Cidade Proibida" e "Gênio Indomável" em 1998. Ou "Crash: No Limite" ganhar de "Boa Noite, e boa sorte" em 2006. 

2- Ainda acho que na hora de aparecerem os candidatos a melhor filme "Brooklyn" não estará lá e vão justificar que sua inclusão foi um erro do estagiário. 

3- Aconteça o que acontecer com "Spotlight" hoje (e dizem que é favorito ao prêmio de roteiro) não quero a minha timeline invadida por frases ufano-corporativas como "O jornalismo venceu um Oscar" ou "O Oscar é a prova de que o jornalismo não morreu". Comportem-se. É só um (bom) filme. Uma obra de ficção. 

4- "O filho de Saul" é favoritaço como filme estrangeiro. Além de ser um bom filme fala do Holocausto/Segunda Guerra, um tema sempre premiado no Oscar (Spielberg que o diga). Mas se eu votasse nessa bagaça daria o meu humilde voto para "O abraço da serpente". Além de ser ótimo, seria divertido/engraçado ver a Colômbia ter um Oscar e o Brasil não. 

5- Vou deixar protocolada já uma reclamação prévia de que a cerimônia é longa demais e passou da hora de cortarem os números musicais. 

6- Leonardo DiCaprio merece ganhar pelo conjunto da obra, merecia já ter uns dois ou três carecas dourados na sua sala de troféus, mas na LETRA FRIA DA LEI eu daria o meu voto NESTE ano para o Michael Fassbender ou para o Bryan Cranston. 

7- Brie Larson é tão favorita, mas tão favorita como atriz que é como se o Barcelona estivesse num duelo contra o Bonsucesso ou o XV de Piracicaba hoje. Claro que se ela perder, meus 15 leitores vão me cobrar. Mas a corneta fala de mérito, não de política e lobby.

8- Com exceção de Tom McCarthy ("Spotlight"), qualquer outro diretor que vencer nesta categoria está um prêmio muito bem dado: George Miller ("Mad Max"), Adam McKay ("A Grande aposta"), Alejandro Gonzalez Iñarritu ("O Regresso") ou Lenny Abrahamson ("O quarto de Jack"). 

9- Temos cinco trabalhos excelentes como ator coadjuvante. É quase um pecado quatro cidadãos ficarem de mãos abanando. Mas vou ficar na torcida pelo Stallone ("Creed"). Seria um dos momentos mais emocionantes de uma festa que certamente será soporífera. 

10- "Ex Machina" merecia demais o prêmio de roteiro (e merecia estar na lista dos melhores filmes). É uma pena que vá perder, ao que tudo indica, para "Spotlight". 

11- Eddie Redmayne ganhou ontem o Framboesa de Ouro de pior ator coadjuvante por "O destino de Júpiter". Já imaginaram que fim de semana de contrastes seria para ele se vencesse o Oscar hoje?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O ranking do Oscar 2016

'Ex-Machina", o filme mais bem avaliado do Oscar-2016
Ninguém me perguntou, não interessa a uma única pessoa do planeta, mas já que eu me dei ao trabalho de ver TODOS os filmes de 75% das categorias do Oscar (não trabalhamos com animações, documentários e curtas e para avaliar canção original tem que ouvir a música, e não ver o filme), eu resolvi fazer o ranking corneta do Oscar. 

Do melhor ao pior a partir das notas de cada filme, aqueles que foram aprovados com louvor e os que merecem ir para o limbo da história. 

Nota 9,5 - Ex Machina. 

Nota 9 - Mad Max, O quarto de Jack, O Regresso e Sicário. 

(Os filmes acima estão classificados para a Libertadores)

Nota 8,5 - A grande aposta, Steve Jobs, O abraço da serpente. 

Nota 8 - Perdido em Marte, O lobo do deserto, Star Wars: o despertar da Força, Os oito odiados, O filho de Saul, A garota dinamarquesa e 45 anos. 

(Os filmes acima estão classificados para a Copa Sul-Americana)

Nota 7,5 - Creed, Spotlight, Cinco Graças e Trumbo. 

Nota 6,5 - Ponte dos espiões, Divertida Mente, Carol e Straight Outta Compton: a história do N.W.A.

(Os filmes abaixo foram rebaixados para a Série B, o Festival de Tribeca)

Nota 6 - A War e Joy. 

Nota 5,5 - Cinderela. 

Nota 5 - Brooklyn.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Rolling Stones no Maracanã

Mick Jagger e Keith Richards/Marcelo Alves
Seres humanos que cornetam não criam limo. Embora poucas coisas sejam mais MALEMOLENTES que Mick Jagger, não poderíamos deixar de tecer alguns comentários sobre o show dos Rolling Stones no Maracanã. 

1- Eu não sei quantas vezes os Stones tocaram "Satisfaction" na vida. Mas a banda já fez mais de 2 mil shows desde a sua criação. Logo, não é exagero dizer que eles podem ter tocado a música que tem o riff mais famoso do rock pelo menos 1,5 mil vezes. E a galera sempre vai pedir mais. Sempre estará mega empolgada, pois é um clássico. Nada mal para quem dizia que preferia estar morto a cantar "Satisfaction" com 45 anos, hein Mick? (E ele já tem 72). 

2- Não, gente, não é verdade que se juntássemos as idades do quarteto (72 de Mick e Keith, 74 de Charlie e 68 de Ronnie) e voltássemos no tempo em um número equivalente de anos encontraríamos Jesus Cristo. Mas como voltaríamos para 1.730 daria tempo de sobra para se preparar para ver a Revolução Francesa de camarote (ela rolou em 1.789). Também daria para brincar com o jovem Immanuel Kant (seis anos), discutir com o adolescente rebelde Jean Jacques Rousseau (18 anos) e bater um papo com Benjamin Franklin (25 anos) e Voltaire (36 anos). Além de ver o nascimento do fofo bebê George Washington, que aconteceria dois anos depois, e acompanhar, em 1762, a incrível e midiática turnê europeia do menino Mozart, de seis anos, o Justin Bieber do século XVIII. 

3- O palco dos Stones é todo colorido em tons carnavalescos como se fosse uma alegoria de uma escola de samba. Ainda bem que o som que veio de lá é infinitamente melhor. 

4- Doctor Pheabs tocou para público de Campeonato Carioca. Ou seja, praticamente ninguém. Eles se esforçaram com um som pesado, mas chamaram mais atenção pelo vocalista ter dito que uma música chamada "Godzilla" tinha relações com ter mulheres com TPM em casa. Ninguém riu. Como ninguém riu das anedotas subsequentes sempre envolvendo a vida sexual da banda. 

5- Ultraje a rigor apostou nos sucessos em um show BANHADO por um temporal. O Ultraje, aliás, foi a única banda que tocou debaixo de chuva. Claramente é culpa do PT, Roger. No início, o vocalista foi chamado de coxinha, mas respondeu que não dava para ouvir direito do palco dos Rolling Stones. Depois emendou: "Coxinha é sua mãe". Teve "Ciúme", "Pelado", "Nós vamos invadir sua praia", enfim, o repertório que o Ultraje tem e não dá para mudar. 

História no Maracanã/Marcelo Alves
6- Entre as frustrações da minha vida está a de não saber fazer dancinhas como a do Mick Jagger, de longe o melhor dançarino desde a morte de Michael Jackson (cujo moonwalk era outra frustração particular). 

7- O prêmio Flashdance de melhor dancinha, aliás, é a de "Out of Control". 

8- Eu quero chegar aos 72 anos tocando guitarra de forma blasé igual ao Keith Richards. Mas continuo achando que não dá para ele cantar. 

9- Keith e Ronnie Wood, por sinal, dominam a arte de tocar guitarra e segurar o cigarro ao mesmo tempo. Não tentem isso em casa, crianças. 

10- Belo Horizonte estava em peso no Maracanã. O estádio não via algo assim desde a invasão corintiana na década de 70. Rolou até hino do Galo no caminho do metrô. 

11- "Gimme Shelter" = puro amor. Uma vida inteira esperando para ver essa música ao vivo. 

Mick com Sasha no palco/Marcelo Alves
12- Sasha = puro amor️. Não é a Lisa Fischer, mas deu conta do recado. 

13- Patricia Pillar respirou por dois segundos no mesmo metro quadrado que eu. E agora, Veríssimo?

14- Eu acho que Charlie Watts e Keith Richards estão começando a ficar velhos. Rolam claros sinais de calvície em ambos. 

15- Desde que teve um filho brasileiro Mick Jagger deu um improvement no português. Está falando melhor que o Eddie Vedder. 

16- Dezenove canções em 2h20min de show. Quatro músicas do "Let it bleed" (1969). Outras duas vieram do "Some Girls" (1978). Foram os álbuns mais tocados de um total de 13 contemplados. 

Keith e Mick/Marcelo Alves
17- Do "Exile on main street" só veio uma. Merecia mais hein. Merecia o disco na íntegra. Mas em uma banda com meio século de carreira sempre vai faltar música. 

18- "Doom and Gloom" foi a mais nova música do show. Lançada em 2012, ela é ótima ao vivo.

19- "Start me up", "Tumbling Dice", "Paint it Black", "Midnight Rambler", "Brown Sugar", "Sympathy for the devil" e "Jumpin' Jack Flash". Puro amor. 

20- Queria ver mais uns três shows, queria ir para São Paulo, queria ir para onde eles fossem tocar, mas como os próprios Stones cantam: "you can't always get what you want"...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O que faz Brooklyn no Oscar?

É muito mi-mi-mi
Se eu tivesse que definir "Brooklyn" em um tweet o chamaria de "O Downton Abbey mal feito da imigração". E poderia parar por aí, dar a nota e voltar pra casa: Mas o que é a corneta sem textão? 

Primeiro é preciso dizer que "Brooklyn" não é tão legal quando "Downton Abbey". E quando eu vi Ellis (carregue no X para falar com irlandeses) desembarcando em Nova York naquela fila de imigração respirando para não tossir para não parecer que ela está levando tuberculose para a América temi que estivesse diante de um novo (e pavoroso) "Era uma vez em Nova York" (2013).

Ainda bem que Saoirse Ronan teve mais sorte que Marion Cotillard. A vida das duas imigrantes seguiu rumos opostos neste desembarque em massa de irlandeses na terra prometida. 

E aqui temos um problema. Com exceção da natural "home sick" nada de conflituoso e problemático acontece na vida de Eillisxxxx. Ela vai muito bem na loja em que trabalha, está estudando para melhorar de vida, é correta e amada pela dona da pensão, e arruma um encanador italiano para namorar que espera MESES em paciência zen-budista para dar um beijinho. Um ÚNICO beijinho que não sai nem quando ele já está de quatro e diz que a ama. 

E aí você se pergunta: por que você vai pagar para ver uma história de alguém perfeitinha? Gente perfeita não dá história. Por favor, Nick Hornby. Você já fez coisas melhores. "Livre" (2014) obviamente não está entre elas. 

É quando acontece a necessária virada no roteiro, aquela que a gente espera quando está de olho no relógio e já passou quase uma hora de filme. A virada que obriga Eillisxxxx a voltar para a Irlanda e viver dilemas. 

Mas.... Os dilemas são rapidamente resolvidos com um papinho com a dona de uma padaria local, espécie de bruxa do 71 da pequena comunidade irlandesa cheia de verde e paz, mas que também tem suas víboras. 

"Brooklyn" é uma história de amor de imigração em que Eillisxxxx tem que se decidir entre dois mundos, duas realidades diferentes. De um lado, a paisagem bucólica irlandesa com mamãe sedenta para ter a filhinha embaixo da asa e um garotão jogador de rugby. Do outro, uma Nova York pulsante e já cosmopolita onde o seu Suoer Mario Bros a está esperando para morar numa casinha em Long Island. E no meio disso, olhares perdidos, cineminha. restaurantes, conversinhas com o padre patrocinador aquela música sonolentaaaazzzzzz. 

Roteirista do filme, Nick Hornby é um fanático torcedor do Arsenal. Ele tem até um livro sobre essa paixão, o "Febre de Bola". Parece que ao adaptar o livro de Colm Tóibin ele resolveu se inspirar no boring Arsenal, o time do 1 a 0 dos anos 70 e 80. Bom, mas nem tudo é culpa dele. Afinal, quem escreveu o livro não foi Hornby. 

"Brooklyn" é bonitinho, tem seus bons momentos, mas lhe falta ser um pouco ordinário. É de longe o mais fraco dos candidatos ao careca dourado. Não chega a ser um desastre completo, mas receberá da corneta uma nota 5

Indicações ao careca dourado: melhor filme, atriz (Saoirse Ronan) e roteiro adaptado.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Brilho de um ator mirim

Trambley é um dos destaques do filme
É lamentável essa postura do Oscar deste ano de selecionar filmes tão bons para concorrer ao prêmio de melhor do ano. Isso obriga a corneta a distribuir notas boas, a desmoralizando quase por completo. Eu ando tão bonzinho que daqui a pouco vou ser convidado para ser jurado de carnaval da Liesa. Só apareço aqui exaltando qualidades. Mas vamos lá. O lema desta critica malemolente é: "Só falo verdades". 

São oito os candidatos ao prêmio principal deste ano. Já vi sete. Nenhum deles é ruim. Nenhum deles é abaixo de 8. Se "Brooklyn" for bom, teremos 100% de aproveitamento. O que não acontece há muito tempo.

O trabalho totalmente excelente desta semana chama-se "O quarto de Jack". Uma amiga me disse que uma conhecida dela ficou transtornada vendo o filme. Isso é ótimo. Uma das qualidades de um grande cinema é provocar, transtornar, causar reflexão, mexer com os instintos mais primitivos.

"O quarto de Jack" não é fácil. É angustiante. Ele conta uma história muito dura e cruel de uma mulher que ficou sete anos num cativeiro depois de ser sequestrada quando ainda era adolescente. Ali ela sofreu todo tipo de violência, mas nada disso é mostrado. Você apenas sabe. 

Toda essa história é contada  sob a perspectiva de uma criança. Jack (Jacob Tremblay, numa atuação tocante é que merecia uma indicação) nasceu naquele buraco que Joy (Brie Larsson) tenta transformar no mundo inteiro do menino para que ele tenha um mínimo de conforto e se sinta pleno em meio ao horror. 

Jack não conhece o mundo lá fora. Vive há cinco anos no mesmo cubículo achando que aquilo é o mundo todo. Quando a mãe dele resolve revelar que o mundo é muito maior e outras pessoas existem, ele entra em parafuso, se rebela, é informação demais para uma criança que achava que o pouco que ganhava vinha de mágica. 

Não são poucas as passagens do filme que causam desconforto. O trauma psicológico pelo qual mãe e filho passam deixa feridas difíceis de curar. E as cicatrizes ficarão para sempre na alma daquele garoto que descobriu que o mundo era muito maior ao mesmo tempo em que não teve tempo de se acostumar a ele. 

É latente o desconforto de Jack. E compreensivo o seu desejo de voltar para o quarto que para sua mãe representa o horror. O mundo para além daquele cubículo parece assustador para aquele menino que só conhecia a mãe, só achava que existiam apenas a mãe, ele é o grande Nick, o algoz daquelas almas. 

"O quarto de Jack" é quase impecável em sua proposta. E vai ganhar da corneta uma nota 9.

Indicações ao careca dourado: melhor filme, diretor (Lenny Abrahamson), atriz (Brie Larson) e roteiro adaptado. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O super-herói engraçadinho

Deadpool gosta de uma graça
Tudo o que eu mais desejo neste momento é que o DVD de "Deadpool" seja lançado com vídeos extras mostrando como os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick, os "verdadeiros heróis" nas palavras deles, escreveram o roteiro do filme. Pois eles não estavam nem um pouco puros para fazer o que fizeram. 

"Deadpool" é o filme baseado em quadrinhos mais escrachado da história. Nem "Guardiões da Galáxia" ou o primeiro filme dos "Vingadores" apostou tanto no humor quanto neste trabalho sobre este anti-herói que não tem papas na língua e se precisar matar, esquartejar ou arrancar cabeças fará isso de boa e sem remorso. 

Sim, o filme é engraçado é tem várias referências e citações que podem ser a outros filmes ou a personalidades reais. Isso inclui até o Ryan Reynolds, astro de uma fracassada versão do Lanterna Verde que é lembrada em dois momentos do filme. Fique também até o fim para ver Deadpool (Ryan Reynolds) numa impagável cena que lembra "Curtindo a vida adoidado" (1986). Por falar em Reynolds, aliás, ele incorporou muito bem o espírito do Deadpool. 

Por outro lado, são tantas piadas que sua maior qualidade também é seu defeito. Por vezes, "Deadpool" parece um conjunto de piadas com um fiapo de história no meio. Quando poderia haver mais equilíbrio entre o humor e a história. São piadas em escala industrial de fazer inveja aos Trapalhões. 

Mas é impossível não se divertir com o filme que desde já é candidato a ser o mais pop de 2016. Principalmente se você viu os outros filmes de quadrinhos (principalmente os dos X-Men e do Wolverine). Pois o personagem principal faz uma série de referências, sacaneia geral e pega o Colossus para Cristo. 

O gigante russo, aliás, está maravilhosamente mala como sempre foi com seu discurso de heroísmo, honra que Deadpool trata como blá-blá-blá e punhetação. 

"Deadpool" é um filme de origem. Conta como Wade Wilson, um ex-militar que agora é uma espécie de mercenário se transformou naquilo após um experimento com genes mutantes. Vaidoso que só ele, o herói resolve se vingar de Francis, o vilãozão que não sente dor por tê-lo deixado com uma aparência, digamos, que não lembra muito o Hugh Jackman. 

É claro que para isso, ele vai ter que matar muitos bad guys e ouvir os discursos do Colossus. Pobre Deadpool.

Além disso, ele precisará reconquistar a Morena Baccarin. Ou melhor, a prostituta Vanessa, que ele abandonou quando recebeu o diagnóstico de câncer terminal e saiu de casa para um tratamento experimental sinistro com uma gente estranha e esquisita. Pelo menos ele ficou imortal e ainda se regenera como uma lagartixa. 


"Deadpool" é uma diversão despretensiosa. Compre a pipoca, o refrigerante e sente diante da teia do cinema para dar risadas. É claro que o personagem merece um segundo filme. Principalmente porque ele disse que o Cable vai aparecer. Enquanto a parte 2 não vem, a corneta vai dar um sorridente 6,5 para "Deadpool".

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Agora vai, DiCaprio?

Que friaca!
Leonardo DiCaprio já fez um magnata meio maluco e não ganhou um Oscar. Já refletiu sobre o contrabando de diamantes e morreu diante de um belo pôr do sol na África e não ganhou o Oscar. Já fez um ensandecido lobo de Wall Street e não ganhou o Oscar. Já pegou a Gisele Bündchen e não ganhou o Oscar. Se não for dessa vez, amigo, esquece. Vai vender côco na praia. O destino não quer que vocês se unam. 

Em "O Regresso", DiCaprio se esforça demais para finalmente levar o careca dourado. Ele vivencia todas as provações e sofrimentos possíveis que um postulante ao Oscar deve passar para faturar uma estatueta. 

DiCaprio sofre, grita de dor, fica meio desfigurado, manca, se arrasta, tem uma batalha ÉPICA com um urso feroz, passa frio, come comida crua como se estivesse sofrendo num restaurante japonês, é enterrado vivo, nada em lagos gelados, dorme pelado dentro da carcaça de um cavalo... Tudo numa jornada de vingança contra a Academia. Ah, é uma jornada de vingança na história do filme também. Realmente seria muito insensível não lhe dar o careca dourado. 

Ok, por mais que DiCaprio tenha atuações melhores na carreira, ele merece o seu carequinha dourado pelo conjunto da obra. Afinal, o Oscar nem sempre foi um prêmio do momento, mas por vezes o vencedor vem de uma justiça histórica, um conceito ou um lobby mesmo. 

Mas o ator não é o único indivíduo que brilha no filme. Antes de mais nada é preciso dizer que "O Regresso" é mais um filmaço de Alejandro Gonzalez Iñárritu, aquele mesmo mexicano que nos presenteou no ano passado com "Birdman". 

Iñárritu aproveitou as ideias de plano-sequência fake do filme passado e fez outra tomada primorosa nos primeiros dez minutos de filme. Aquela que começa com Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) matando um alce e termina com uma batalha massacrante entre caçadores e índios no meio da floresta no Missouri, com direito a caçadores fugindo enquanto flechas voam por suas cabeças. Coisa linda demais. Coisa de craque. Só isso aí já pagou o ingresso. 

Estamos no século XIX. Tempos em que existia Forte Apache (quem que nasceu dos anos 80 para trás e nunca brincou disso?). Um grupo de caçadores está na floresta atrás de peles para vender (não tinha aquela galera de defesa dos direitos dos animais naquela época). Só que eles são surpreendidos por  índios que querem lhes roubar as peles para vender para os franceses em troca de cavalos e armas. 

Na fuga, poucos homens sobrevivem. E Glass, o homem que conhece aquelas terras como ninguém, pois tem um pé nos dois mundos (ele teve um relacionamento com uma Índia e tem um filho índio) traça uma rota para eles escaparem. O problema é que John Fitzgerald (Tom Hardy em atuação primorosa) não está muito a fim de seguir as ordens de Glass. Desconfia daquele cara de coração meio indígena que tem a fama de ter atirado num oficial do exército e ainda fala aquela língua indígena do capeta que parece alguém fazendo uma maldição. 

Temos um conflito aí. E quando Glass é ESTROPIADO por um urso que em nada parece com o Zé Colmeia, Fitzgerald vê surgir a janela de oportunidade: "Vou fazer esse cara se encontrar com Deus e picar a mula". 

Péssima ideia amigo. DiCaprio volta dos mortos com sede de vingança. Só descansará quando encontrar Fitzgerald e resolver esse karma. 

Depois do ataque do urso acompanhamos toda a sua jornada de dor e belas paisagens geladas (para quem não está sentindo frio é lindo). São mais de 60 minutos de DiCaprio gemendo mais que a Maria Sharapova jogando tênis. E quando ele abre a boca é para falar num dialeto do capeta. É muito sofrimento. Você deseja que ele morra logo ou encontre uma saída porque é sofrimento demais para um homem. No fim, bom vai ver o filme que eu não vou contar o fim. 

Iñárritu não fez apenas uma história de vingança pura e simples. Seu filme também tem uma reflexão sobre a forma cruel com que os índios foram tratados na América. O roteiro dele e de Mark L. Smith não dá espaço para dúvidas quando diz que o homem branco tomou tudo dos índios: a terra, as riquezas, a história. E com muita violência. Tanta violência que deixa no ar a reflexão: No fim, somos todos selvagens. 

"O Regresso" é um belíssimo filme e virou o meu favorito para o Oscar. Por isso, da parte da corneta, vai ganhar uma nota 9.


Indicações ao careca dourado: Filme, ator (Leonardo DiCaprio), diretor (Alejandro González Iñárritu), ator coadjuvante (Tom Hardy), fotografia, edição, efeitos visuais, edição de som, mixagem de som, figurino e design de produção. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Caçadores de roubada

Se essa onda, se essa onda, fosse minha...
"Caçadores de emoção" (1991) é daqueles filmes que entram no meu top-10 afetivo da "Sessão da Tarde". Aquele mesmo top-10 que é liderado, é claro, por "Curtindo a vida adoidado" (1986). Como não lembrar de Johnny Utah (Keanu Reeves) investigando a quadrilha de surfistas que usam máscaras de presidentes americanos liderado por Bodhi (Patrick Swayze)? 

Aí, duas décadas e meia depois, alguém teve a nada brilhante ideia de refilmar a história, dar uma atualizada e fazer tudo MUITO mais radical. Por que, senhor? Por que? 

A conclusão disso é que "Caçadores de emoção - além do limite" é sensacional como produto do canal Off. Tem imagens bonitas, lugares incríveis, mulheres de biquíni.... Mas como filme... Que coisa dispensável. Que coisa sem pé nem cabeça. Que inutilidade. Que candidato em potencial para o Framboesa de Ouro 2017. 

No novo filme, Utah (agora vivido por Luke Bracey) está sofrendo de um bode pela morte de um amigo motoqueiro e resolve se punir, mudar de vida e entrar para o FBI, uma instituição certinha e que segue regras (ele não deve conhecer nada sobre o trabalho de Mulder e Scully nos Arquivos X). Só que na sua primeira investigação, ele se depara com um grupo de caras que está tocando o terror no que supostamente é uma versão pós-moderna-ecológica de Robin Hood. É o grupo comandado por Bodhi (Edgar Ramirez).

Bodhi está numa vibe “precisamos devolver ao mundo parte do que tiramos dele”. Aí tem um discurso meio natureza, meio vamos acabar com o capitalismo, meio vamos buscar o caminho da luz experimentando os limites do corpo. No meio disso, ele quer cumprir as oito tarefas de Ozaki, um japonês ecoterrorista que inventou um conjunto de desafios a serem vencidos no mundo inteiro para atingir o nirvana (a evolução espiritual, não a banda do Kurt Cobain). Parece que as missões são tão sinistras quanto os 12 trabalhos de Hércules. Mas para o quinteto do barulho, “impossible is nothing”. 

Então, Bodhi está nesta jornada crimino-espiritual emaconhada quando Utah se infiltra no grupo a partir de umas sobras de gravações do "Clube da luta" (1999). 

E o que vemos daí por diante? Bem, imagens sensacionais no mar, no ar, no gelo e onde mais for possível entrar uma câmera, mulheres de biquíni e festinhas regadas a muito álcool e música eletrônica (que péssimo gosto) bancadas por um bilionário árabe que patrocina o grupo. Atingir o nirvana assim é mole, brother. 

Mas o filme não tem conteúdo. É um conjunto de imagens bonitas entremeadas por diálogos com “uhuuu!”, “show!”, “brother!”, “choque de monstro!”, "yeah, yeah!", “qualé play!”, "glu glu!" e outras exclamações semelhantes. Existe um fiapo de história sem pé nem cabeça (ah, o tal desafio de Ozaki é fake) que serve apenas para o diretor Ericson Core usar a verba do estúdio para fazer um monte de viagens maneiras pelo mundo e gravar em cenários bonitos. E os protagonistas são tão fracos e tão sem sal, mas tão sem sal, que o filme poderia ser receitado para hipertensos. 


É uma pena, amigos. Tive que voltar depois para casa e resgatar o antigo "Caçadores de emoção" para lembrar dos bons momentos de Johnny Utah. Essa filme atual pode até ir além do limite, como foi a paciência da corneta. Só resta dar à refilmagem de “Caçadores de emoção” uma nota 3,5