segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Uma delicada história de amor

Não tenho a cultura dos filmes antigos de Zhang Yimou. Infelizmente ainda não vi trabalhos como “Sorgo Vermelho” (1987), “Amor e sedução” (1990) ou “Lanternas Vermelhas” (1991). Aprendi a gostar do diretor chinês com três filmes que foram lançados neste século: “Herói” (2002), “O clã das adagas voadoras” (2004) e “A maldição da flor dourada” (2006).

Estes trabalhos mostram uma temática única falando sempre da China do tempo dos imperadores, disputas marciais envolvendo honra, coragem e glória, além de traição, amor e vingança. Eram filmes também que abusavam de cores vibrantes, instrumentos que remetiam a estados de espírito e situações-limite de seus personagens.

“A árvore do amor” não tem nada disso. Mas se eu pudesse traçar um paralelo entre o novo filme de Yimou e estes trabalhos anteriores do diretor é a delicadeza com que o chinês conta as suas histórias. O diretor sempre faz com que sua câmera capte uma expressão ou um cenário que diga muito sem precisar de uma única palavra.

Duas cenas ilustram muito bem o que estou querendo dizer. Em uma delas, Sun (Shawn Dou) está deitando no ombro de Jing (Dongvu Zhou). Atrás de uma carroça que ele improvisou de vestiário para ela para que pudesse vestir um maiô e nadar com ele no rio, ele tem uma expressão terna, mas seu rosto é marcado pelo cansaço de quem trabalha horas a fio e tem raros momentos para descansar. Ao seu lado, Jing o conforta enquanto os raios do por do sol os iluminam.

Minutos depois, Yimou nos presenteia com outra cena magnífica. Sentindo que veria Jing pela última vez na sua vida, ele pede à mãe da moça por um último ato antes de desaparecer: trocar o curativo nos pés queimados dela pelo trabalho na quadra da escola. O que vem a seguir é uma obra-prima. Num quarto pequeno que é praticamente a casa da família dela, Sun se ajoelha, coloca um dos pés da moça em cima da sua perna e começa a enfaixá-lo. No ar, apenas o som de uma marreta usada pela mãe trabalhando sentada em cima da cama. Enquanto segue lentamente o seu ritual, você sente a expressão de Sun mudar e o reflexo disso são as lágrimas escorrendo no seu rosto. Yimou então foca no rosto de Jing que também começa a chorar.

“A árvore do amor” é uma belíssima, tocante e emocionante história de amor baseada numa história real que aconteceu na China da Revolução Cultural de Mao Tsé Tung em meados da década de 60. Naquela época de repressão do governo chinês para neutralizar a oposição, jovens eram mandados para o interior para viver com camponeses e o ensino superior foi praticamente desativado, pois os intelectuais eram potenciais inimigos do governo local.

Foi nesse contexto que o geólogo Sun conheceu Jing, jovem que sonha em ser professora, mas é de uma família vigiada pela “revolução”, pois o pai é de direita e está preso na cadeia. Qualquer erro cometido por Jing pode acabar de vez com a vida de sua mãe e de seus dois pequenos irmãos.

Jing e Sun se conhecem numa viagem que ela faz ao campo. As horas de conversa se transformam numa admiração mútua e no fim de uma tarde fria, o geólogo não consegue mais esconder que está apaixonado por ela. Há uma barreira, no entanto: “Minha mãe não vai me deixar namorar antes dos 25 anos”, ela diz. “Eu espero”, ele responde. “E se ela continuar proibindo?”, ela questiona. “Eu espero a vida toda por você”, ele insiste.

As palavras de Sun são o alicerce que dá base ao amor que vai nascendo entre os dois. É o que os faz driblar as dificuldades e a repressão nos piores momentos para conseguir viver pequenos momentos de felicidade em um país marcado pela sisudez de um regime repressor e onde sorrir é quase uma afronta ao "grande líder". É também o que vai segurar a distância forçada que eles são obrigados a manter pelo bem dela.

Enquanto faz a sua crítica à Revolução de Mao, Yimou mostra um amor sem um único beijo e uma relação tão intensa que vai perdurar para sempre, mesmo após uma tragédia. A China começaria a mudar politicamente, algum progresso viria, e somente uma coisa jamais mudaria: o amor entre Jing e Sun. E no fim, ele acabaria cumprindo a sua promessa.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sir Eric em ação

Clapton fez um belo show na Arena/Reprodução
Eu tenho uma amiga que se tivesse a oportunidade de ter assistido ao show do Eric Clapton viraria para mim e diria: “Ele é um homem phyno" (fino, de classe, para os não íntimos ao neologismo). Gostaria de dizer que isso é propriedade de todos os cidadãos ingleses condecorados com o título de sir, mas não vou me arriscar. Neste diálogo que não aconteceu, no entanto, eu certamente concordaria com ela. Clapton, o guitarrista que teve o nome pichado nos muros ingleses com o hiperbólico apelido de Deus aliado ao seu nome, é um artista phyno.

E um artista phyno se impõe pela sua música. Clapton não chega no palco e diz “I love you Brazil”. Não ensaia palavras em português, não ergue bandeira nem faz qualquer tipo de manifestação brasileirinha. Ele é o que construiu em 48 anos de carreira. Ele é a sua música e os mestres que ele homenageia como Robert Johnson e Willie Dixon, aqueles que o influenciaram e o levaram a se tornar um mestre na arte de tocar guitarra e de compor clássicos.

Após duas semanas de muita papagaiada, muito “tira o pé do chão” e alguma música no circo do Rock in Rio, Clapton nos traz a arte pura. É o contraste mínimo no mundo de excessos do showbizz. Seu “Thank you” aliado a um leve sorriso é o mesmo de dez anos atrás, quando ele lotou uma Praça da Apoteose para fazer um show de despedida de suas turnês internacionais. Show marcado por sucessos, clássicos, e alguma coisa que Clapton gostava, mas que dividiu opiniões, pois “Reptile” (2001), o disco que ele então lançara e justificava a turnê não era dos mais elogiados.

Se o disco não foi agraciado por público e crítica, o show também não receberia os mesmos elogios. Para mim, no entanto, estar ali já era algo mágico. Afinal, se os muros de Londres estivessem certos, não é todo dia que você se encontra com Deus.

Dez anos se passaram e a promessa de Clapton obviamente não se cumpriu (Ainda bem). O guitarrista voltou com uma banda diferente daqueles tempos – Chris Stainton (piano), Tim Carmon (órgão), Michelle John e Sharon White (backing vocals), Steve Gadd (bateria) e Willie Weeks (baixo) –, para lançar um disco melhor do que o “Reptile", "Clapton" (2010), e fazer um show mais intimista, porém, arrebatador.

Aos 66 anos, Clapton trocou o agrado ao público para um show que ele faz para agradar a si próprio como numas férias prolongadas e espera, claro, que o público o acompanhe nessa jornada. Clássicos que fizeram a sua fama, obviamente, estão presentes. Leia-se as baladas “Wonderful Tonight” e “Ode to Love” e os rocks “Layla” e “Cocaine”. “Layla”, no entanto, ganha um arranjo diferente, menos “acústico MTV”, mas também no meio do caminho de sua versão original. O resultado é uma canção mais lenta, com a participação ativa das backing vocals por vezes fazendo a primeira voz, e em outras oportunidades acompanhando Clapton enquanto a bateria de Gadd ganha um trecho quase militar. E Clapton, sentado no banquinho, sola com a sua guitarra Fender Stratocaster azul de uma forma que leva o público ao delírio.

Além de seus clássicos, o guitarrista homenageia outros mestres. Os já citados Johnson e Dixon e até Bob Marley numa versão de “I shot the Sheriff” considerada por muita gente boa melhor do que a original. São 16 músicas do seu repertório de quase cinco décadas de rock and roll. Dezesseis joias para serem apreciadas pelo público sentado em cadeiras (o único ponto negativo), mas que não consegue ficar parado quando o mestre usa a sua guitarra e o seu violão.

Estas joias são estendidas até onde ele acha que elas devem ir. Há solos de teclado, solos de Clapton. Ele está se divertindo no palco, curtindo o momento com a guitarra, que é quase uma extensão dele mesmo. Às vezes a postura pode ser meio blasé, mas Clapton está experimentando e deixando a música o levar.

Eric Clapton é único, faz um show único e leva pouco mais de dez mil pessoas ao delírio. Foi um grande espetáculo no HSBC Arena. E nada mais precisa ser dito. Apenas apreciado nos vídeos abaixo. Uma degustação para phynos.

Set list – “Key to the Highway”, “Going down slow”, “Hoochie coochie man”, “I shot the Sheriff”, “Old Love”, Driftin’Blues”, “Nobody knows you when you’re down and out”, “Lay down Sally”, “When somebody thinks you’re wonderful”, “Layla”, “Badge”, “Wonderful Tonight”, “Before you accuse me”, “Little queen of spades”, “Cocaine” e “Crossroads”.

"Layla"

"Cocaine"


"Old Love"


"Hoochie Coochie Man"

sábado, 8 de outubro de 2011

E lá se foi o festival, bebê

O vocalista do System of a Down
Quem acompanhou este blogueiro pelo Twitter e por aqui sabe o quanto eu fui extremamente crítico com o Rock in Rio. Afinal, o festival que se encerrou no domingo passado ficará para a história como o que teve as atrações com o pior nível em relação às outras três edições.

Se alguns shows foram para serem lamentados, o festival, porém, teve os seus pontos positivos. Entre elas a oferta de locais para comer muito maiores do que em 2001, por exemplo, e os brinquedos que podem parecer um tanto infantil na visão de alguns, mas ajudaram a distrair o povo que chegava lá na Cidade do Rock cedo e evitava a concentração da galera num determinado ponto.

Outros dois pontos altos foram a Rock Street, espaço inspirado em New Orleans que sempre contou com bons shows, e o Palco Sunset com suas misturas de artistas de diversos estilos. Alguns shows ali foram tão bons que para muitos deveriam estar no palco mundo. Caso da cantora Joss Stone e do Sepultura. Estes dois realmente mereciam um palco maior.

Com o fim dos sete dias de festival, é chegada a hora de fazer aquele balanço dos melhores e piores shows. É claro que não consegui ver todos eles. Estive in loco em três dias e procurei ver o maior número possível de apresentações pela internet nos outros dias.

Se você sentir falta nessa lista, portanto, de nomes como Red Hot Chilli Peppers, Rihanna, Shakira, Capital Inicial ou Snow Patrol, saiba que eles não estão nem na lista dos melhores nem na lista dos piores porque simplesmente foram shows que eu não vi. Das 35 apresentações no Palco Mundo, eu consegui assistir 25. Será a partir daí e de alguns shows no Palco Sunset que escrevo o meu top 5 do bem e do mal nas próximas linhas. Então, parafraseando a atriz Christiane Torloni, vamos às críticas, bebê.

Os melhores shows:

O Metallica fez o segundo melhor show
Quando terminou o primeiro fim de semana do Rock in Rio, parecia impossível tirar o título de melhor show do Rock in Rio do Metallica. A banda tinha feito uma apresentação espetacular na Cidade do Rock, tocando muitos dos seus clássicos e mostrando que os anos passam, mas James Hetfield (voz e guitarra), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammett (guitarra) e Robert Trujillo (baixo) continuam mandando muito bem ali em cima do palco. Só que no último dia tinha o aguardado show do System of a Down. Um sonho antigo finalmente realizado.

Resultado? Daron Malakian (guitarra e vocal), Serj Tankian (vocal), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria) fizeram um show inesquecível. A apresentação estava dentro da turnê de volta do grupo, que fez um show de duas horas calcado nas músicas dos cinco discos lançados entre 1998 e 2005. A banda americana-armênia-libanesa correspondeu à todas as expectativas dos fãs e brilhou no palco da Cidade do Rock. Foi daqueles espetáculos inesquecíveis. De deixar o cidadão horas, dias, inebriado.

Os mascarados do Slipknot se divertiram muito
Assim, a medalha de prata ficou com o Metallica. O bronze? Este foi para o Slipknot. Os americanos fizeram, digamos, o show mais pirotécnico do Rock in Rio com imagens impressionantes que vão ficar para sempre marcadas no festival como a bateria que quase virou de cabeça para baixo e o mosh duplo de um dos integrantes dos mascarados da banda. Ah, e ainda teve a música que enlouqueceu o público. Eles passaram a impressão também de que foram os caras que mais se divertiram no festival. Estavam totalmente à vontade no palco.

Completam a minha lista dos cinco melhores o Motörhead e o Sepultura, que fez um shomzaço infelizmente em um palco menor, o Sunset.

Os piores shows:

Faltaram bons shows, mas sobrou cada bomba neste Rock in Rio que só comprovou a ideia que foi o pior line up da história do festival. Partindo do pressuposto de que Claudia Leitte e Ivete Sangalo são hors-concours porque nem deveriam ter sido convidadas para a festa, vamos à minha lista.

O pior de todos os shows foi o do Glória. A banda de metal conseguiu ser uma das poucas atrações do palco mundo vaiada e ainda perdeu público para o Sepultura que tocou no mesmo horário no palco Sunset por conta de um atraso na programação.

Ali muito pertinho do Glória, o segundo lugar vai para a Ke$ha, Eu não precisei de mais do que cinco minutos para ver o quanto a cantora que tem um cifrão no nome é fraca. Ainda assim, aguentei mais um pouco, tempo suficiente para fazer com que ela entre no top 5 das bizarrices do festival carioca.

O Jamiroquai irritou
O bronze muito bem dado vai para a banda que veio para o Rock in Rio tocar uma única música, mas ninguém percebeu. Com todo o respeito aos fãs do Jamiroquai, mas a sensação que eu tive foi que a música dele é sempre a mesma. E pior do que isso, é chata. Muitos concordaram comigo, porque o que eu vi de gente sentada esperando mesmo é pelo Stevie Wonder enquanto Jay K ficavam com o seu cocar de índio andando de um lado para o outro no palco não foi pouca coisa.

O quarto pior show foi o do Evanescence. Gosto (ou gostava?) da Amy Lee como cantora. Quando eles tocaram aqui em 2007, porém, parte do encanto foi embora. Tudo bem, Amy Lee cantava muito bem, mas a banda, que já não era a mesma dos dois primeiros discos que a levaram ao sucesso, “Fallen” (2003) e “The Open Door” (2006), mostrava pouca coisa no palco. Parecia um grupo desentrosado fazendo escada para a Amy Lee. No Rock in Rio, no entanto, foi ainda pior. Amy Lee fez um show constrangedor. Até ela estava mal. Por isso o quarto lugar na lista do mal.

Fechando o top 5 do horror, não podia deixar de faltar o Guns N’Roses. É triste dizer isso, principalmente porque eu sou um fã de carteirinha da banda, mas Axl Rose pagou um dos maiores micos da sua carreira neste festival. Errou letras, não teve fôlego para cantar outras, e desafinou até no assobio de “Patience”! (Mais detalhes no post abaixo). Realmente foi uma apresentação de chorar que me fez desejar que Axl se aposente mais cedo ou tente cantar outra coisa que não rock. Quem sabe ele não emplaca uma parceria com João Gilberto ou Chico Buarque?

Ah, e vale uma menção honrosa aqui ao Maroon5. Vai fazer show ruim assim lá em Los Angeles.

As decepções:

Aqui não tem como fugir de dois caras que são considerados lendas, mas fizeram shows muito mornos no Rock in Rio. O primeiro é Elton John. Estrela do primeiro dia do festival, o inglês fez um show para lá de sonolento e ainda não cantou “Your Song”, música aguardadíssima pelo público e que estava no set list.

O segundo é Stevie Wonder. Não me incluo entre os que acharam o show do americano espetacular. Achei para lá de meia boca e ainda teve aquela apelação desnecessária dele cantar “Garota de Ipanema” e “Você Abusou”. Numa boa, se eu quisesse ouvir “Garota de Ipanema” pegava um DVD do Tom Jobim ou aquela famosa gravação do Tom Jobim com o Frank Sinatra.

Pelo fim do cover e de manifestações brasileirinhas:

Isso me leva, aliás, a um problema do festival. Acho que tirando o System of a Down quase todas as bandas fizeram algum cover. Para o próximo Rock in Rio espero mais originalidade e menos cópia de músicas alheias, mesmo que seja na roupagem de uma homenagem.

Também gostaria que as bandas e cantores estrangeiros se concentrassem na sua música. Esse negócio de levantar bandeira, vestir camisa da seleção brasileira, dizer palavras em português, cantar música em português ou escrever “Rio” com coraçãozinho é uma grande palhaçada. Duvido que quando eles chegam na França cantem Piaf, gritem “Viva la France” ou entoem versos da Marselhesa. A gente gosta destes caras exatamente por causa da música deles. Não queremos sambinha nem “Rio, eu te amo”. Por isso, tudo o respeito ao System of a Down, que não ensaiou nem um obrigado. Sua música falou por si para fazer o melhor show do festival. No final, só ergueram uma bandeira jogada no palco pelo público, mas em respeito ao fã ali do gargarejo. Assim, em 2013, menos papagaiada e mais música.

Os brasileiros:

O Skank fez um show animado
Não vi o Capital Inicial que sempre faz um show animado. Assim, o que para mim foi o destaque do Brasil (além do Sepultura, que é parte gringo), foi o Skank. Não gosto do Skank, não gosto de suas músicas, mas é preciso admitir que os caras fizeram um belo show. Melhor até do que o da atração principal no seu dia, o Coldplay e seu show sem graça. No palco Sunset, é preciso destacar o showzaço do Matanza com o BNegão. Inesquecível. Assim como o Angra, que ainda tocou junto com a fantástica cantora finlandesa Tarja Turunen.

E a Pitty, me perguntariam alguns? Pitty não entra aqui pela minha total incapacidade de avaliá-la com isenção, embora eu já tenha feito isso aqui em outros posts. Para mim, ela está sempre ótima e fim de papo. E não ouse discordar! Por isso, ela é hors-concours. Mas de qualquer maneira, o show dela foi muito bom e certamente estaria entre os cinco melhores entre os brasileiros.

Entre os brasileiros não gostei do Frejat e da Orquestra Sinfônica reunida com os ex-membros da Legião Urbana. O primeiro porque usou pouco o próprio repertório. E alguém que tem uma história tão rica na música nacional não precisava ser tão tímido. No caso do segundo, a intenção da homenagem foi boa, mas não deu certo. Quase ninguém foi bem interpretando as músicas da Legião Urbana. A galera se empolgou? Claro, eram as músicas de Renato Russo. Mas na análise fria dos fatos, não deu certo, apesar das boas intenções.

É isso. Que em 2013 o Medina escale um elenco mais bem qualificado para o seu festival. Esse ano, o Rock in Rio deixou um pouco a desejar, apesar de alguns bons shows.

Abaixo, os shows completos de System of a Down, Metallica, Slipknot e Motörhead:




sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As rosas murcharam

Axl estava irreconhecível no palco
Sentado com um olhar atônito e vazio diante do céu que já começava a clarear na Cidade do Rock, um amigo fã do Guns N’Roses me sussurra uma pergunta buscando um bálsamo que contrarie o que seus olhos acabaram de presenciar: “Foi ruim?”. Minha resposta foi com a sutileza de um javali: “Foi uma merda”.

Eu demorei a escrever sobre o show do Guns N’Roses. Aliás, eu nem iria fazer um post específico sobre um show. Pretendia apenas falar sobre o Rock in Rio como um todo (o que virá no próximo texto). Mas eu demorei porque ainda tentava entender o que eu vira na madrugada de segunda-feira, durante o encerramento do festival. O que aconteceu com Axl Rose? Como pode um cara como ele errar o assobio de “Patience”? Não ter fôlego para cantar “You could be mine” ou “Paradise City”? Como pode a banda errar tudo em “November Rain”?

Resolvi voltar no tempo. Mais precisamente até abril do ano passado, onde assinei um post aqui no blog com o título “A ressureição de Axl Rose”. Nele eu falava sobre o show do Guns N’Roses que fora realizado dias depois de um adiamento por causa da queda de parte do palco em uma chuva torrencial no Rio de Janeiro.

Ao reler o texto, recordo passagens como frases que eu colhi naquela noite em que Axl, claro, se atrasou muito (o show só começou 1h30m). Ali eu lembrava a frase de um fã que resumiu a essência daquele Guns N’Roses que renascia com os guitarristas DJ Asbha, Ron Bumblefoot e Richard Fortus, o baixista Tommy Stinson, o baterista Frank Ferrer e o velho parceiro que sobrava do velho Guns ao lado de Axl, o tecladista Dizzy Reed. Um fã perto de mim dizia: “Ele está cantando como nos discos. Parece que estou ouvindo os discos do Guns”.

Em outros trechos eu lembrava que o enterro artístico de Axl estava muito longe de acontecer e que o cantor apresentara uma surpreendente forma física e vocal, embora continuasse gordo. E uma banda afinada. E lembrava da tragédia do Rock in Rio de 2001, quando Axl errou tudo e mais um pouco. Assim como no Rock in Rio de 2011. Será que o problema está no festival capitaneado por Roberto Medina?

Eu considerei aquele show do Guns um dos melhores do ano passado da mesma forma que o que eu vi na segunda-feira pode ser descrito como uma das coisas mais constrangedoras em 15 anos de shows e mais alguns ouvindo esse tal de rock and roll.

Axl estava devagar, começou mal com “Chinese Democracy”, não se acertou com “Welcome to the jungle”. Cometeu bobagens em “Nightrain” e esteve apático em praticamente todo o set list previamente anunciado com 39 músicas, mas que mal passou de 20.

Tudo bem que ele estivesse receoso de tomar um tombo no palco molhado pela chuva que caía e por isso não dava aqueles conhecidos piques ali em cima. Mas a chuva não podia tê-lo impedido de cantar de uma forma minimamente decente. Isso não tem desculpa.

Axl já tinha começado o dia mal após a história de que perdeu o voo. Já no Brasil, não passou o som com a banda. Grupo este que embarcou na mediocridade de Axl para se mostrar irreconhecível em relação ao show de 2010. Como convencer os meus amigos que não estiveram na Apoteose em abril do ano passado, que DJ Ashba é um bom guitarrista e não uma caricatura do Slash? Impossível. A apatia tomou conta de todos.

Não vi as apresentações do Guns no Rock in Rio de 1991, quando a banda estava no auge e com sua formação mais clássica com Slash (guitarra), Duff McKeagan (baixo), Matt Sorum (bateria) e Gilby Clark (guitarra). Só tenho na mente três shows, justamente estes três últimos. Dois ruins e um bom. O que me faz pensar que o que eu vi no ano passado, na realidade, foi mais um canto do cisne do que uma ressureição.

Aos 49 anos, Axl parece ter acabado cedo para a música. Se for para ser desse jeito, Axl, é melhor você ir para casa e deixar apenas o seu legado de pelo menos três álbuns inesquecíveis: “Appetite for destruction” (1987), “Use your Illusion I” e “Use your Illusion II” (1991). As pistolas parecem não ter mais munição. Enquanto isso, as rosas murcharam.

Abaixo, cenas de uma tragédia no Rock in Rio em cinco capítulos:




domingo, 2 de outubro de 2011

Dois sessentões no palco

David Coverdale em ação
Diz a lenda que antes de morrer Kurt Cobain não via muito futuro para o tipo de música que fazia em dez anos porque neste período sua garganta já não seria mais a mesma e ele não poderia soltar seus berros guturais que eram uma das marcas do Nirvana. O palco do Citibank Hall viu recentemente dois exemplos de como o tempo pode ou não ser cruel com um vocalista de hard rock e heavy metal quando a idade começa a chegar.

Seis anos depois da última turnê que fizeram juntos e passou pelo Brasil no mesmo local no Rio de Janeiro, Whitesnake e Judas Priest voltaram a se encontrar em terras cariocas para dois shows em que o tempo foi o protagonista em tudo que ele tem de bom e de ruim, mas que também foi marcado por momentos de muita emoção em 3h35m de muito rock and roll (1h20 de Whitesnake e 2h15m de Judas Priest).

Em seis anos, deu para notar o quanto o tempo foi pesado para David Coverdale. Se ele ainda está longe dos micos que Ian Gillan paga a cada turnê do Deep Purple, é possível notar que o velho David, 60 anos, hoje já joga mais para a galera do que naquela época. Muito mais do que há três anos, quando a sua banda esteve aqui em turnê do disco “Good to be bad”.

Coverdale já não conserva mais a voz de outrora e está visivelmente acabado, mas tem carisma e uma penca de canções que levantam a galera. E é isso que emociona e faz o povo vibrar com ele, os guitarristas Doug Aldrich e Reb Beach, o baterista Brian Tichy, o baixista Michael Devin e o tecladista Brian Ruedy.

Para o Whitesnake, a receita “Espero morrer antes de ficar velho” cantada por Roger Daltrey em “My Generation” como prólogo do show é uma alusão dos velhos e felizes tempos que começa com “Best Years”: “Você veio como um sol na noite/Tirou-me das trevas para a luz/Agora esses são os melhores anos/Verdadeiramente os melhores anos da minha vida”.

Para retomar os tais melhores anos, o Whitesnake exibe três canções do novo disco. Boas músicas com a marca do Whitesnake: “Steal your heart away”, “Love will set you free”, com refrão grudento para pegar e cantar junto, e “Forevermore”, baladinha estilo Coverdale para cantar com a mão no coração e que o cantor diz que foi feita para homenagear os fãs que apoiam a Cobra Branca desde a sua fundação em 1978.

Mas é nos clássicos de outrora, nas eternas músicas com “love” no título que o Whitesnake ganha a galera. “Give me all your love” esquenta para a explosão da sequência com “Love ain’t no stranger” e “Is this love”.

Dois solos de guitarra e de bateria (este um show a parte de Brian Tichy jogando suas baquetas para o alto) depois, que revelam pausas estratégicas para Coverdale respirar, e a banda ataca de “Here I Go Again”. Com “Still of the night”, Coverdale acaba com o que lhe restava na garganta. O fim apoteótico com “Burn” é com o refrão levado pelo guitarrista Reb Beach e o público cantando “Buuuuuurnnnn”.
O Judas Priest mandou bem

O tempo foi mais generoso com Rob Halford, 60 anos. O cantor do Judas Priest mostrou que não perdeu muito da forma apresentada em 2005 e fez uma apresentação de clássicos da banda que é uma das mais importantes do heavy metal.

Inicialmente a turnê “Epitaph” era para marcar a despedida do Judas Priest. Depois virou a despedida da banda de grandes turnês e, por fim, um tchauzinho com promessa de novo disco em breve e, quem sabe, mais alguns shows. O que explica esse recuo estratégico do Judas, dizem, é a entrada do novo guitarrista Richie Faulkner. O músico de 31 anos (portanto o mais novo do quinteto) entrou na banda porque K.K. Downing pediu o boné antes do início da turnê e deu novo gás ao grupo.

Faulkner está à vontade no Judas. Entrou como se fosse membro desde sempre e deu novo gás ao time. É dele muitos dos bons momentos do show marcados por clássicos da banda.

Rob Halford canta tudo o que os fãs querem ouvir e segue a cartilha Judas Priest. Ou seja, entra no palco com aquela roupa de couro preta pesada, andando como um paquiderme que carrega o peso da história do metal nas costas. No bis, não falta o número da moto Harley-Davidson no palco.

Perto de David Coverdale, a voz de Halford ainda dá para o gasto e ele manda bem mesmo nas músicas do Judas que o exigem um pouco mais. Mas em “Break the law” deixa tudo a cargo da galera, apenas regendo do palco.

Aliás, a parte final do show é a que concentra as melhores músicas do Judas. Tem “Painkiller”, “Hellbent”, “Live after midnight”, que fecha os trabalhos, “Blood red skies” e “Sentinel”. Petardos que valem o ingresso de uma noite emocionante protagonizada por dois sessentões do rock.

Set list do Whitesnake: Best Years, Give me all your love, Love ain’t no stranger, Is this love, Steal your heart away, Forevermore, Love will set you free, Here I go again, Still of the night, Soldier of fortune, Burn/Stormbringer.

Set list do Judas Priest: Rapid Fire, Metal Gods, Heading fot the highway, Judas Rising, Starbreaker, Victim, Never Satisfied, Diamonds and rust, Prophecy, Nightcrawler, Turbolover, Beyond the realms, Sentinel, Blood Red Skies, Green Manalish, Breaking the law, Painkiler, Hellion/Eletric Eye, Hellbent, Another Thing, Living after midnight.

Abaixo, alguns bons momentos dos dois shows: