quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um terrível massacre

Logo no início de “Katyn”, o diretor Andrzej Wajda mostra dois grupos de refugiados se cruzando numa ponte. De um lado, o grupo onde fazia parte Anna (Maja Ostaszewska), mulher do oficial Andrzej (Artur Zmijewski), fugindo do cerco alemão em plena Segunda Guerra Mundial. Do outro lado, aqueles que fogem da invasão soviética.

Estamos em 1939 e a Polônia acaba de ser duplamente invadida. De um lado, os nazistas de Hitler querendo expandir o domínio da raça ariana. Do outro, os soviéticos também querendo ampliar o domínio comunista sobre o planeta. Na conversa entre Andrzej e Jerzy (Andrzej Chyra), há uma dúvida do que poderia ser pior. A única certeza é que a Polônia está sitiada.

Os crimes alemães naquela guerra já são mais do que conhecidos e “Katyn” apenas passa por alguns deles como a morte de intelectuais levados para campos de concentração. O propósito do filme, portanto, não é tratar dos crimes cometidos por Hitler, mas pelo massacre impetrado por Stálin na floresta de Katyn em abril de 1940, onde mais de 20 mil poloneses entre militares, intelectuais e meros civis foram cruelmente assassinados e jogados em valas comuns.

Tão pior quanto o genocídio, foi a cruel ditadura soviética impetrada no país reforçada por uma revoltante máquina de propaganda e censura que divulgava uma mentira: de que o massacre foi cometido pelos alemães. O objetivo é fazer com que os poloneses acreditem que os soviéticos são amigos e aceitem seu domínio.

Desnecessário dizer que a mentira não conseguia se disseminar facilmente como desejavam os acólitos de Stálin. Nada que o Exército não pudesse resolver com mais seqüestros, torturas e até mortes. O importante era manter a farsa.

Ao se propor a contar esta história, Wajda não trata apenas do massacre, mas também da maneira como a ditadura soviética deixou suas marcas no povo polonês. As cicatrizes estão no próprio diretor de 83 anos, cujo pai foi uma das vítimas do império soviético em Katyn. Assim como Anna, ele e sua mãe esperaram por anos pelo retorno do pai que nunca aconteceu.

Enquanto a névoa do massacre pesa sobre aquela Polônia, acompanhamos a angústia de um país que não tem voz, onde pessoas vivem acuadas e deve-se tomar cuidado com tudo o que se diz, para quem se fala e com as atitudes tomadas. A atmosfera criada por Wajda é claustrofóbica, pesada como uma cortina de ferro. As terríveis marcas da saudade, da desesperança, da falta de informação podem ser vistas nos rostos cansados, desolados e/ou cínicos de uma população que aparentemente não tem escolha e até acredita que a Polônia jamais vai se reerguer novamente.

Esse retrato é o que faz de “Katyn” um grande filme. As cenas do massacre são apenas o clímax do horror. O início, o meio e o fim da tragédia causada pelos soviéticos. E ainda há quem considere Stálin um exemplo a ser seguido. Lamentável.

2 comentários:

fábio balassiano disse...

porra, em que cinema passou esse filmaço que eu não soube?
abraços.

Marcelo Alves disse...

Cara, ainda está no Estação Botafogo, às 17h15m e no Laura Alvim às 14h30m. Até quinta pelo menos. Vale a pena. Muito bom filme.
abs,
marcelo