quinta-feira, 7 de março de 2024

Comentários e o ranking do Oscar - 2024

Bem amigos das redes antissociais. Chegou o grande momento do ano. O tradicional dia de falar do Oscar! E é com grande prazer que reconheço que em todos estes anos vivendo de forma amadora e sem receber um tostão desta indústria vital este é um dos melhores anos da história recente da Academia. Entre os indicados há muitos bons filmes, alguns excelentes (é claro que eu não estou falando de você, “Maestro”) e pouquíssimas bombas.

Como costuma acontecer anualmente, o Oscar tinha tudo para ser uma ZONA DE INTERESSE(s). Sabe como é, o povo da Academia por vezes gosta de agir como ASSASSINOS DA RUA DAS FLORES cinematográficas criando uma FICÇÃO AMERICANA sobre VIDAS PASSADAS que muito facilmente poderia configurar uma ANATOMIA DE UMA QUEDA de qualidade. Mas aparentemente o MAESTRO do destino este ano nos pregou uma peça. Praticamente não há POBRES CRIATURAS entre os concorrentes aos principais prêmios. É claro que sempre lamentamos que alguns são REJEITADOS como se fossem uma BARBIE velha e quebrada (Leonardo di Caprio, Celine Song, Greta Gerwig…) Mas nem tudo é perfeito. Eu mesmo não consegui inserir OPPENHEIMER neste parágrafo trocadalho dos indicados a melhor filme.

Por falar na categoria principal, ela é o maior exemplo da qualidade da seleção deste ano. De acordo com o CornetaStats, a nota média dos indicados a melhor filme em 2024 ficou em 8,55, a maior da série histórica, superando os 8,12 de 2021 e muito acima dos 7,75 do ano passado. Não há um único filme ruim na categoria principal, mas como alguém tem que ficar com o índice “Spotlight” de “esse filme não pode ganhar”, o “Maestro” ficará com essa batuta. E ele não merece ganhar mesmo. É o mais fraquinho de todos. Sorry Bradley Cooper. Sorry Carey Mulligan, eu adoro você, mas não dá.

Bom, mas vamos aos comentários mais detalhados por categoria e os meus favoritos (que sempre perdem) de 2024.

FILME – O apoio incondicional da Corneta neste ano vai para “Anatomia de uma queda”, o único filme a receber nota máxima do pool de críticos composto por mim mesmo e meus amigos imaginários. Porém, sabemos que é mais fácil estadunidense aprender a votar direito do que premiar um filme não falado em inglês. no Oscar. Sendo assim, não ficaríamos tristes se “Assassinos da lua das flores” levasse porque é um filme que certamente está no top-10 do Martin Scorsese. Também seria incrível, mas por diferentes motivos que “Vidas Passadas”, “Ficção Americana” ou “Zona de Interesse” ganhassem o prêmio. Acharia bom e ousado que “Barbie” ou “Pobres Criaturas” levassem também. Dizem que o favoritaço é “Oppenheimer”. É outro grande filme, mas não muito diferente de filmes que já ganharam no passado. Aquele gênero cinebiografia de mentes atormentadas capitaneadas por diretores excelentes. Por fim, não rejeitaria “Os Rejeitados”, mas rejeito bastante o “Maestro”, que parece estar aí mais pelo seu personagem retratado do que pelo filme em si.

ATOR – Jeffrey Wright (“Ficção Americana”) e Paul Giamatti (“Os Rejeitados”) estão muito bem e acho que seriam prêmios muito bem dados. Também gosto do Colman Domingo em “Rustin”, mas o meu favorito ainda é o Cillian Murphy por “Oppenheimer”. Já o Bradley Cooper pode aproveitar a festa e os comes e bebes.

ATRIZ – Essa categoria está fortíssima. A única que parece abaixo do nível é a Annette Benning (“Nyad”), mas gosto de Carey Mulligan (“Maestro”), acho que a Emma Stone está brilhante em “Pobres Criaturas” e é um trabalho que vem crescendo muito na minha cabeça quanto mais eu penso nele. Sandra Hüller também está espetacular em “Anatomia de uma queda” (e também muito bem em “Zona de Interesse”). Contudo, minha favorita ainda é a Lily Gladstone (“Assassinos da lua das flores”). Ela transmite muito sobre a sua personagem só com o olhar e pequenos gestos. É um trabalho realmente excelente.

DIRETOR– A lista dos diretores é impecável. Senti falta de Celine Song (“Vidas Passadas”), mas não sei quem eu poderia tirar entre tantos bons nomes. O meu favorito é o Martin Scorsese (“Assassinos da lua das flores”), mas vencendo a Justine Triet (“Anatomia de uma queda”) no photochart.

ATRIZ COADJUVANTE – Apesar de todo o meu amor pela Jodie Foster (“Nyad”), aqui eu tenho apenas duas favoritas: Emily Blunt (“Oppenheimer”) e quem eu acho que merecia mais o prêmio, “Da’Vine Joy Randolph (“Os Rejeitados”).

ATOR COADJUVANTE – Esta é uma categoria com cinco trabalhos muito bons. Dizem que o favorito é o Robert Downey Jr (“Oppenheimer”), mas não seria nada mal o Ryan Gosling (“Barbie”) ou Sterling K. Brown (“Ficção Americana”) ganharem. Só que o meu favorito é o Robert De Niro por “Assassinos da lua das flores”.

ROTEIRO ADAPTADO – Para mim, o roteiro mais interessante de todos os cinco indicados é o de “Ficção Americana”. É para ele que eu entregaria o careca dourado desta categoria.

ROTEIRO ORIGINAL – Adoro “Vidas Passadas” e “Segredos de um escândalo”. O prêmio estaria bem dado para ambos. Só que o meu favorito aqui é “Anatomia de uma queda”.

FILME INTERNACIONAL – Mais um ano em que os cinco filmes são bons. Meu favorito é “Dias Perfeitos”, o representante do Japão. “Zona de Interesse” e “Eu, Capitão” ocupam os lugares seguintes no pódio.

ANIMAÇÃO – Infelizmente não consegui ver “O menino e a garça” do Hayao Miyazaki. Dos filmes restantes, “Homem-Aranha: através do Aranhaverso” é disparado o melhor.

DOCUMENTÁRIO – Aqui eu também fiquei devendo um filme. O indiano “To Kill a Tiger”. Os quatro restantes são muito bons, mas meu favorito é “20 days in Mariupol”, que documents os horrores da invasão russa na Ucrânia. Logo em seguida eu colocaria “Bobi Wine: The People’s President” que também é bem impressionante ao colocar a luta de um músico de Uganda pela defesa da democracia no seu país.

FOTOGRAFIA – Eu sou muito fã de um preto e branco vintage. Por isso, o meu voto vai para “El Conde”. Mas os prêmios estariam bem dados para “Assassinos da lua das flores” ou “Oppenheimer”.

MONTAGEM – Impossível não dar o meu voto para Thelma Schoonmaker por “Assassinos da lua das flores”.

TRILHA SONORA – Meu pódio aqui fica assim: “Oppenheimer”, “Assassinos da lua das flores” e “Pobres Criaturas”.

FIGURINO – Se “Pobres Criaturas” não existisse eu até concordaria com “Barbie”, mas gosto muito do trabalho de Holly Washington no filme do Yorgos Lanthimos.

DIREÇÃO DE ARTE – Mais uma vez aqui o melhor e mais original e curioso para mim é “Pobres Criaturas”

CANÇÃO ORIGINAL – De todas as músicas, a que realmente faz diferença, causa impacto e move a história de um filme é “I’m just Ken”, de Barbie. Portanto, a minha favorita.

EFEITOS VISUAIS – Que os blockbusters americanas me perdoem, mas aqui eu estou 100% com “Godzilla Minus One”.

MAQUIAGEM E CABELO – Entre os narizes postiços de “Golda” e “Maestro” eu prefiro uma terceira e muito merecida via: “Pobres Criaturas”.

SOM – Entre todos os indicados não têm um único em que o trabalho de som não seja tão incrível e importante para a história quanto o de “Zona de Interesse”.

Dito isso, assim ficaram distribuídos os carecas dourados da Corneta:

4 carecas – “Assassinos da lua das flores”.

3 carecas – “Pobres criaturas”.

2 carecas – “Anatomia de uma queda” e “ Oppenheimer”.

1 careca – “Os Rejeitados”, “Dias Perfeitos”, “Ficção Americana”, “Homem-Aranha através do Aranhaverso”, “20 Days in Mariupol”, “El Conde”, “Barbie”, “Godzilla Minus One” e “Zona de Interesse”.

Para finalizar, vamos ao ranking do Oscar:

1- “Anatomia de uma queda”

2- “Assassinos da lua das flores”

3- “Vidas Passadas”

4- “Dias perfeitos”

(Os filmes acima estão classificados para a Libertadores)

5- “Zona de Interesse”

6- “Oppenheimer”

7- “Ficção Americana”

8- “Eu, Capitão”

9- “Barbie”

10- “20 Days in Mariupol”

11- “Bobi Wine: The People´s presidente”

12- “Pobres Criaturas”

(Os filmes acima estão classificados para a Copa Sul-Americana)

13- “Os rejeitados”

14- “Godzilla Minus One”

15- “Guardiões da Galáxia vol. 3”

16- “Homem-Aranha através do Aranhaverso”

17- “El Conde”

18- “Missão Impossível: Acerto de contas – parte um”

19- “Segredos de um escândalo”

20- “A Sala dos professores”

21- “As 4 filhas de Olfa”

22- “Sociedade da neve”

23- “Rustin”

24- “Jon Batiste – American Symphony”

25- “Maestro”

26- “Indiana Jones e a relíquia do destino”

27- “A memória infinita”

28- “Nyad”

29- “Flamin´Hot”

30- “Meu amigo robô”

31- “Elementos”

32- “Napoleão”

(Os filmes abaixo foram rebaixados para a Série B)

33- “Nimona”

34- “A cor púrpura”

35- “Golda”

36- “Resistência”

segunda-feira, 4 de março de 2024

Filmes e séries: destaques e decepções de fevereiro

Destaques:

🎞 “Anatomia de uma queda” (Anatomie d´une chute – FRA – 2023) – Filmaço, um belo debate sobre a noção do que é verdade e a forma de trabalho do judiciário baseado em declarações e não em provas irrefutáveis. Que filmaço de tribunal. O trabalho da diretora Justine Triet e da atriz Sandra Hüller são notáveis. Ambas foram merecidamente indicadas ao Oscar.

🎞 “Dias Perfeitos” (Perfect Days – JAP, ALE – 2023) – Dirigido por Wim Wnders, o indicado do Japão ao Oscar de filme internacional é um dos trabalhos mais bonitos do diretor. Super contemplativo e focado nos detalhes e nas pequenas ações do seu protagonista.

🎞 “Ficção Americana” (American Fiction – EUA – 2023) – O filme de Cord Jefferson me lembrou muito os roteiros de Charlie Kauffman, especialmente em “Adaptação” (2002), mas também com toda a crítica social por trás. É uma bela dramédia com ótimas interpretações de Jeffrey Wright e Sterling K. Brown.

🎞 “Eu Capitão” (Io Capitano – ITA, BEL, FRA – 2023) – Filme bem intenso e pesado sobre dois jovens que deixam o Senegal em busca do sonho europeu. A imigração é o tema desta jornada difícil dos protagonistas no filme dirigido pelo italiano Matteo Garrone.

🎞 “As 4 filhas de Olfa” (Les filles d´Olfa – FRA, TUN, ALE, ARS, CYP – 2023) – Documentário escrito e dirigido por Kaouther Ben Hania sobre o desaparecimento de duas filhas de Olfa Hamrouni, que foram recrutadas pelo Estado Islâmico e hoje estão presas na Líbia. Uma tremenda porrada.

🎞🍁 “Bob Marley: One Love” (Bob Marley: One Love – EUA – 2024) – Dirigido por Reinaldo Marcus Green, não é uma cinebiografia perfeita, mas gostei do recorte dela. Pegou um momento definidor da vida do artista e contou a história a partir daí e de tudo o que se gerou ao redor até o seu fim. As músicas são bem colocadas na história e não são uma mera playlist do cantor enquanto o filme acontece.

📺 “True Detective” (EUA, HBO) – Pode-se até dizer que a quarta temporada teve altos e baixos, mas a história criada por Issa López me pegou do início ao fim. E como é bom ver a Jodie Foster trabalhando.

Decepções:

📺 “Expatriadas” (Expats – EUA, Prime Vídeo) – Nicole Kidman sempre teve crédito comigo, mas ela está abusando. Esta já é a terceira série seguida que é uma decepção. Antes foi “The Undoing” (2020) e “Nove Desconhecidos” (2021). Mais uma vez interpretando uma mulher rica que vive uma tragédia, a atriz não consegue se salvar numa história de expatriados em que mesmo Hong Kong parece não ter a menor importância.

🎞 “A cor púrpura” (The Color Purple – EUA – 2023) – Imagina um musical que não tem uma única canção indicada ao Oscar. Foi o que aconteceu com “A cor púrpura”. O filme é chatinho. Prefiro mil vezes a versão do Steven Spielberg de 1985.

🎞 “Garra de Ferro” (Iron Clow – EUA, ING – 2023) – Tirando o fato de que eu nunca entendi o apelo do wrestling, o filme do Sean Durkin é aquela cinebiografia bem básica. Família tóxica, uma tragédia aqui e acolá, uma sucessão de eventos e tudo meio raso até o fim.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Filmes, séries e música: destaques e decepções de janeiro

Destaques:

“Vidas Passadas” (Past Lives — EUA, COR — 2023) — Estreia de Celine Song como diretora. É um dos filmes mais bonitos que eu já vi. Se na estreia a diretora já faz isso, quero ver desde já os seus próximos trabalho. “Vidas passadas” fala sobre relacionamentos, escolhas, como as vidas são transformadas por decisões importantes que tomamos e sobre reencontros. Como pano de fundo, o tema da imigração, que é algo bastante recorrente entre diretores que de alguma forma são filhos ou parentes de imigrantes.

É um filme interessantíssimo e lamento que Song não tenha sido indicado ao Oscar de melhor diretora, pois o seu trabalho em “Vidas Passadas” é muito sofisticado na forma como ela conta a sua história e conduz a sua câmera.

“Zona de Interesse” (The Zone of Interest — EUA, ING, POL — 2023) — Dirigido por Jonathan Glazer, o filme foi uma bela surpresa para mim. Conta a história de uma vida quase idílica de uma família que é vizinha do campo de concentração de Auschwitz. Família essa cujo patriarca é o diretor do campo de concentração mais conhecido e um dos mais traiçoeiros e terríveis do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

É terrível e muito incômodo o estado de normalidade em que eles vivem em meio aos tiros e a fumaça do campo imediatamente ao lado daquela casa construída para ser um cenário perfeito para a família que ali vive.

“Os rejeitados” (The Holdovers — EUA — 2023) — Filme delicioso de Alexander Payne e com um trabalho maravilhoso de Paul Giamatti. Conta a história de um professor e de alguns alunos que permanecem na escola durante o recesso das aulas ao fim do ano, para a passagem do Natal e do Ano Novo. Durante aquele convívio, os personagens vão aprender um pouco sobre os outros e criar laços de amizade que ajudarão a transformar as suas vidas.

“20 days in Mariupol” (20 Days in Mariupol — UCR — 2023) — Documentário pesadíssimo e muito gráfico sobre a invasão russa na cidade ucraniana de Mariupol. Um enorme trabalho de um jornalista da AP exibindo os horrores e os crimes de guerra do governo russo.

“Fargo (EUA, FX)” — A quinta temporada talvez seja a melhor de toda uma serie cheia de ótimas temporadas. Juno Temple está bem demais no papel de uma vítima de violência doméstica que precisa fugir de um relacionamento abusivo do personagem vivido por Jon Hamm.

Dead Poetry Society — “Fission” — Segundo álbum do quarteto de Boston. Bom disco. Nada espetacular, mas bem agradável.

Frank Carter and The Rattlesnakes — “Dark Rainbow” — Acho que foi o primeiro lançamento do mês que ouvi e gostei muito. Pelo menos metade do disco foi direto para a playlist 2024. É o quinto álbum dos ingleses de Hertfordshire.

Decepções:

Green Day — “Saviors” — Não é que seja um álbum ruim. Até tem algumas canções interessantes, mas no geral é um disco bem mediano e longe dos melhores trabalhos da banda, como “Dookie” (1994) e “American Idiot” (2004).

“Echo” (EUA — Disney Plus) — Tudo bem que a Marvel está uma bagunça e a série sofreu com regravações e cortes, mas havia um potencial ali especialmente depois do primeiro episódio. Talvez eu tenha ficado muito impactado pela temática envolvendo uma personagem com uma ancestralidade indígena e pelo duelo com o Demolidor. Depois disso, no entanto, a série foi derretendo até um final preguiçoso e até lamentável envolvendo o Rei do Crime.

“Ferrari” (Ferrari — EUA, ING, ITA, CHI — 2023) — O filme do Michael Mann foi uma grande decepção para mim. Focado na traição do Enzo Ferrari (Adam Driver) e sua obsessão por transformar a empresa na marca que é hoje, ele não vai além da superfície e tem atuações no piloto automático. Penso que filmes como “Ford vs Ferrari” (2019) e “Rush — No limite da emoção” (2013) fazem mais pela história do automobilismo e até da Ferrari do que este trabalho.