quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um desastre completo

A ácida crítica de Isabela Boscov na Veja era um fortíssimo sinal. O reconhecimento da própria Nicole Kidman que havia atuado pessimamente no filme, reforçava que a película era uma verdadeira bomba. Mas sabe como é, este blog é leitor voraz, mas não é influenciável. Por isso eu fui conferir pessoalmente e tirar minhas próprias conclusões sobre “Australia”, novo trabalho de Baz Luhrmann ora em cartaz.

O que dizer? O filme não é ruim. É constrangedoramente ruim. Há muito tempo não lamentava ter gasto tanto dinheiro (R$ 11) com um filme no cinema. Acho que a última vez foi com “Titanic” (1997). Naquela época eu pagava meia e, se não me engano, meu ingresso foi (R$ 4). Ainda sim, eu lamentei profundamente ter desperdiçado tanto tempo e dinheiro naquela coisa horrorosa.

O sentimento com "Austrália" é praticamente o mesmo. Responsável por dar uma revitalizada e até ressuscitada nos musicais com o bom “Moulin Rouge” (2001), Luhrmann quis dessa vez retomar o épico romântico bem ao estilo “E o vento levou...” (1939) ou “Casablanca” (1942). Mas ao contrário dos filmes estrelados, respectivamente, por Thomas Mitchell e Vivien Leigh e Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, este filme só tem uma coisa em comum e apenas com “E o vento levou...”: o longo tempo de duração, 2h45m de tortura.

Na salada de Luhrmann você encontra um épico sobre a Austrália no início do século XX, ataques chinfrins da II Guerra Mundial bem ao estilo de outra bomba do cinema, “Pearl Harbour” (2001), de Michael Bay. Tem ainda uma história paralela sobre o preconceito, a luta dos aborígines para manterem sua cultura. E os clichês mulher frágil e petulante vs vaqueiro másculo que sofreu no passado e agora não quer mais se envolver seriamente com as mulheres.

Some isso a um vilão caricato e leve para casa um filme para ser esquecido. Ou melhor, não leve para casa. Não vá ao cinema. Vá jogar truco, sueca, andar na praia, dar milho aos pombos, qualquer coisa. Ou escolha outro filme. Porque “Austrália” só não é pior que comida estragada do Outback.

Resumindo, a história é mais ou menos assim. Lady Sarah Ashley (uma irreconhecível e abobalhada Nicole Kidman) é uma inglesa que acha que o marido anda pulando a cerca na Oceania com aborígines e negros e resolve ir até o país para vender logo sua fazenda e voltar para a Inglaterra.

Lá encontra o marido morto e uma fazenda cujo gado é constantemente roubado por Carney (Bryan Brown), seu concorrente nos negócios, e um funcionário infiltrado, Neil Fletcher (David Wenham). Depois de demitir Fletcher, Sarah vai precisar de ajuda para levar 1.500 cabeças de gado até o porto e vendê-las por um preço melhor do que Carney. É quando entra em cena o Capataz (Hugh Jackman, em uma atuação que só pode ser classificada como ridícula), que conta com a ajuda dos amigos Magarri (David Ngoombujarra) e Goolaj (Angus Pilakui), além de uns agregados para fazer a travessia. No meio disso tudo e de muita tensão sexual, o casal principal (dãaa) vai se apaixonar. Bastante original não?

Além disso tudo, há a saga do pequeno Nullah (Brandon Walters), um mestiço, cujo avô, King George (David Gulpilil), lhe ensinou tudo sobre a cultura aborígine. Das cantorias a mágica que o faz, humm, parar uma manada de bois em meio a um desfiladeiro. É mais ou menos por ai.

Só que apesar de tudo, a música que o garoto mais gosta mesmo é “Somewhere over the rainbow”, que Sarah canta para ele e que ele batiza de música do arco-íris. Nada mais é do que a trilha do “Mágico de Oz” (1939), filme estrelado por Judy Garland que até aparece em alguns trechos quando o menino vai ao cinema. Bom, alguma coisa em “Austrália” tinha que ser boa, mesmo que isso não seja originalmente do filme, mas de outro trabalho bem mais qualificado feito por Victor Fleming, também diretor de “E o vento levou...”.

Infelizmente, desta vez Baz Luhrmann errou na mão. “Austrália” é devastadoramente ruim como as terras daquele país na época da estiagem. E a prova disso é o fato de o diretor sair em defesa do filme em entrevistas. Quando isso é preciso, desconfie. É sinal de bomba.

Indicação ao Oscar: Melhor figurino para Catherine Martin.

4 comentários:

Lion disse...

nunca comi comida estragada no outback...

Anônimo disse...

mas você pode imaginar o quão terrível deve ser

Lion disse...

ahhh bão... deve ser algo apocalíptico... como engolir um coala radioativo

Anônimo disse...

Por ai. Ou comer uma sopa de bolsa de canguru. Qualquer coisa do gênero