sexta-feira, 30 de junho de 2017

Vamos a la playa

Todo mundo correndo em câmera lenta
Pouca gente lembra, mas Zack Snyder é um grande plagiador. Se alguém achava um big deal aquelas cenas em câmera lenta em todos os filmes de heróis da DC, fiquem sabendo que os precursores disso tudo eram os diretores de "Baywatch"

E agora que a série virou um filme novinho em folha, que saudade daqueles tempo em que eu chegava da escola almoçava, fazia os deveres de casa embalado pela dupla "Cinema em casa", do SBT, e "Sessão da Tarde", da Globo, e, quando dava aquele horário de 16h45m, era a vez de ver "Baywatch". Ou melhor, "S.O.S. Malibu", como era chamado em português, na "Sessão Aventura". Uma vez por semana era assim. 

Sim, crianças, parece um tempo distante, mas não existia "Malhação" lá atrás. A gente via enlatado americano naquele horário. Cada dia uma série diferente. Tinha "Profissão Perigo", tinha "Thunder - Missão no mar", tinha "La Femme Nikita", "Esquadrão Classe A", "Operação Acapulco", "The Flash" e muitos outros. E durante um bom tempo tinha "Baywatch" com suas maravilhosas salva-vidas Pamela Anderson, Carmen Electra, Erika Eleniak, Nicole Eggert, Gena Lee Nolin e Kelly Packard. Todas correndo em câmera lenta com maiôs vermelhos entrando na bunda. Naqueles tempos eu queria muito ser um dos salva-vidas comandados pelo David Hasselhoff. Viver na praia, salvando pessoas, andando em câmera lenta carregando uma bóia vermelha.... parecia uma boa coisa a se fazer no futuro para quem não pensava muito em salários e contas a pagar. 

Então, movido por esse sentimento nostálgico, desloquei-me até o cinema mais próximo para ver a versão cinematográfica de "Baywatch". Agora com novos atores. Dwayne Johnson é o novo Mitch Buchanan, Zac Efron é o novo Matt Brody, Alexandra Daddario é a nova Summer, e, mais importante, Kelly Rohrbach é a nova C.J.Parker. E ela enverga com maestria o maiô vermelho enquanto corre em câmera lenta. 

O filme? Bem, com coisa de 30 minutos eu já estava pensando: "Não sei como Deus me colocou aqui". Afinal, quase tudo ali é uma porcaria. O que não é nenhuma surpresa. Desde quando o que a gente consome sob o domínio dos hormônios da adolescência pode ser bom?

Alguns elementos de "Baywatch" original foram mantidos. História com a profundidade de um pires, atuações sofríveis, diálogos pavorosos e corpos sarados salvando vidas no mar da Califórnia. A isso, foram acrescentadas piadas envolvendo paus, peitos, bundas e fluidos corporais em geral. A série não tinha isso. Era família! 

"Baywatch" começa com Mitch achando um pacotinho de droga chamada "flakka" na praia dele. Ele pensa: "Isso cheira a Breaking Bad. Vou investigar". O problema é que o tenente está selecionando novos trainees para virarem salva-vidas na praia. Prioridades. 

É quando surge Brody. Brody é um ex-nadador dono de duas medalhas olímpicas de ouro, mas que é egocêntrico, maluco, porra-louca e fez muitas loucuras nos Jogos do Rio de Janeiro. Entre elas, vomitar na piscina. Será que é por isso que durante os Jogos uma das piscinas no Rio ficou verde? De qualquer maneira, qualquer semelhança com Ryan Lochte não pode ser mera coincidência. 

Mitch tem que engolir Brody porque ele é uma celebridade que pode ajudar a fazer a praia voltar ser popular e, assim, fazer os políticos investirem novamente na segurança dos banhistas. A Câmara mais uma vez cortou a verba do time Baywatch, o que força Mitch a dizer uma frase que é um recado para o Brasil. 

- A Câmara não sabe o que é melhor para o povo. 

Gente, até Baywatch dá lição de moral no Brasil. 

(Pausa para vermos a C.J. correndo em câmera lenta)

O novo Mitch é um cara legal. Mas tem uns hábitos estranhos. Ele usa tênis para andar na praia e vai a festinhas na night de chinelo. Mas é um cara competente. Ou não seria escolhido pelo velho Mitch para o posto 1, o principal da praia. Sim, o David Hasselhoff faz uma participação para lá de especial. 

Basicamente, a história de "Baywatch" gira em torno de uma traficante que quer privatizar a praia comprando todos os empreendimentos imobiliários da orla. Os nossos salva-vidas favoritos tentam impedir isso ao mesmo tempo em que Mitch tenta incutir em Brody a importância do trabalho em equipe. Enquanto isso, Brody é xingado de todos os tipos de boy bands possíveis. De New Kids on The Block a Jonas Brothers e Justin Bieber. O roteiro do filme faz um inventário de tudo de ruim que já surgiu na música pop. 

Ah, o tem o típico personagem nerd, o Ronnie (Jon Bass). Ele é gordinho e um péssimo salva-vidas, mas todo ano faz o prova do estágio só para tentar se aproximar de C.J. Eu não o culpo. Eu mergulharia com tubarões pela C.J. A sua aprovação no teste, porém, revela que o processo seletivo é tão sério quando indicações de políticos para estatais. 

(Pausa para vermos a C.J. correndo em câmera lenta)

O grande mérito do diretor Seth Gordon no novo "Baywatch" é não levar essa história a sério. Por isso que ele pegou vários elementos da série original e começou a fazer troça deles. Em especial a corrida em câmera lenta, a grande marca do seriado. Esse é o ponto positivo. 

Mas o filme é tão padrão teletubbies de inteligência que ficou difícil defender em quase todos os aspectos. Contudo, a julgar pelo clima nos bastidores da gravação mostrado nos créditos, os atores se divertiram muito. Certamente mais do que os espectadores. Diante de tudo isso, a Corneta sai dessa praia com aquela sensação de quem se queimou sem passar filtro solar. "Baywatch" ganhará uma nota 3.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Uma outra múmia


Tom Cruise está num triângulo amoroso milenar
Eu tenho inveja de Tom Cruise. Não é qualquer um que, aos 54 anos, pode ser jogado de um lado para o outro dentro de um avião em queda livre e correr, correr, correr (como ele corre nos seus filmes) e nunca perder o fôlego. Não é qualquer um que rola dentro de um ônibus desgovernado, apanha de entidades maléficas de trinta mil séculos atrás e consegue ficar tipo quatro minutos sem respirar e nadando freneticamente para fugir de zumbis nadadores. Eu tenho inveja de Tom Cruise. 

Mas a prova de que Tom Cruise é humano é que ele comete erros. Tipo fazer um filme como "A Múmia". 

Estava pensando se "A Múmia" é o pior filme que Tom Cruise já fez na vida. E olha, eu sou um especialista nele, pois sempre vejo os seus filmes. Aí fui no LinkedIn do ator. Vamos lá, ele fez "Oblivion" (2013), que é bem ruim. "Guerra dos mundos" (2005), decepcionante. "No limite do amanhã" (2014) também é bem fraco. Mas realmente, nada é tão constrangedor quanto "A Múmia". 

Mas antes disso poderíamos questionar: Por que outra múmia? Não bastava a trilogia estrelada por Brendan Fraser entre o fim do século passado e o início deste? Por que arrumar outra múmia para inventar uma história de deuses irritados despertando uma profecia e blá-blá-blá. Só pode ser lobby da indústria de lápis de olho e da tatuagem de henna. 

Vejam, eu amo o Egito antigo. Mas é preciso um bom motivo para abrir esse sarcófago. Os apresentados pelo diretor Alex Kurtzman fizeram-me ficar envergonhado. 

"A Múmia" começa com um clichê de filmes de lendas. Aquele momento que rola um ritual na Idade Média sobre uma parada enterrada junto com um padre esquisito num evento com gente estranha. Mas logo voltamos para os dias atuais, quando nos deparamos com o Iraque (Mesopotâmia nos tempos românticos) em guerra. É lá que encontramos Nick Morton (Tom Cruise) e seu parça Chris Vail (Jake Johnson). 

Então eles correm. E trocam tiros. E tem explosões. Isso é normal. Isso acontece em 22 dos 34 filmes que eu vi do Tom Cruise (sim, eu contei). A propósito, ele tem 42 filmes. 

Para encurtar a história, eles descobrem uma tumba egípcia. A arqueóloga que está com ele, com quem ele teve um trê-lê-lê na noite anterior, aliás, diz: "Gente, isso não é normal. Estamos na Mesopotâmia. Muito longe do Egito. Tem caroço nesse angu". 

Jenny (Annabelle Wallis) é o nome dela. E ela estava certa. O que é uma pena. Se estivesse errada o filme acabaria com 15 minutos e poderíamos ir para casa. 

Bom, aí acontece o óbvio. Eles despertam a múmia Ahmanet (Sofia Boutella), que acorda sedenta para beijar muuuuuuito. Lembremos, são milênios trancafiada sem pegar ninguém. Seu poder de atração é tão fatal (literalmente) que até o galã Tom Cruise dá uma balançada. 

Acompanhem. Temos uma milenar múmia egípcia vivida por uma atriz argelina, um militar americano picareta, uma arqueóloga inglesa... e eis que surge... o Russell Crowe! 

Aqui o meu cérebro deu curto circuito porque o Russell Crowe vive um médico que coordena uma espécie de centro de combate à maldade (tem trabalho para vocês em Brasília!). Eu não entendi muito bem qual é a deles, mas no laboratório tinha até crânio de vampiro. 

O que me chamou mais atenção, porém, era o seu nome: doutor Henry Jekyll. Não pode ser. Era uma homenagem a Robert Louis Stevenson, claro. Até que Jekyll se transforma num cara fortão e descontrolado chamado...Hyde. 

Eu estou chocado. O que vai aparecer agora nesse filme? O Van Helsing? O Drácula? A Mulher-Maravilha? O Didi Mocó? O Toni Platão?

Enquanto eu coloco a mão no rosto não acreditando no que eu estava vendo, a múmia passava o rodo em Londres, jogando areia para todo lado e matando quem atravessasse o seu caminho. Tudo para cumprir a profecia de libertar Seth, o deus da morte egípcio. E sempre contando com a ajuda dos zumbis de "Walking Dead", em participação especial. Tudo é possível nesse filme. 

Mas o Tom Cruise correu, pulou, lutou, atirou e... ganhou superpoderes! Sim, gente, o Tom Cruise agora é um X-Men. Que homem! 

Tudo isso é culpa de um tal Dark Universe, uma espécie de versão emo dos heróis dos quadrinhos. A ideia é recuperar esse filão que era um sucesso no tempo em que se amarrava cachorro com linguiça e bater de frente com a Marvel e a DC. Então, segura que ainda vem por aí "A noiva de Frankenstein", "O homem invisível", "O Lobisomem", "Drácula" (aposto que esse vai me irritar), "O fantasma da ópera", "o corcunda de Notre Dame" e "O monstro da lagoa negra". E tudo promete ser interligado. 

Portanto, o pior não é saber que "A Múmia" é pavorosamente ruim. É saber que colocaram uma deixa no final do filme para uma eventual sequência e para uma expansão do universo. Esperamos que pelo menos os próximos sejam mais interessantes. "A Múmia" ganhará da Corneta uma nota 2,5.

O mesmo filme. Nove vezes!

É muita parceria. Na alegria e na tristeza
Sob o argumento indelével da amizade, fui levado para uma sala escura com a desculpa de ver um filme. O que lá encontrei foi um pesadelo. Uma lavagem cerebral de fazer o protagonista de "Laranja Mecânica" fritar o cérebro. Amigos, eu tive que ver num mesmo local e em quase dias horas, o mesmo filme NOVE VEZES. Nine fucking times!

Basicamente esse é o argumento de "Antes que eu vá", uma praga que está espalhada nos cinemas feito malware no computador. 

"Antes que eu vá" é uma espécie de "A cabana" teen e um cruzamento de "13 reasons why" com livros de Lair Ribeiro. Ela conta a história de um dia na vida de quatro migas do high school americano no famoso "Dia do cupido". 

Pelo que o filme explica, o "Dia do cupido" é o dia em que meninas ganham rosas de meninos com declarações de amor e ficam competindo entre si sobre quem tem mais rosas. Muito legal, né? Como se a escola já não fosse escrota o suficiente, ainda rola uma competição que joga os losers ainda mais para baixo. 

Nesse dia especial, as migas estão ansiosas. Tudo porque uma delas vai perder a virgindade com o namorado mané e alcoólatra que dá vexame em festinha, mas que elas acham LIIIIINDOOO, incrível e popular.

Só que ao fim do dia rola um acidente de carro e as quatro migas seguram na mão de Deus e se despedem desse plano rumo ao desconhecido. 

Só que ao invés de dar bom dia para São Pedro, Sam acorda no dia seguinte exatamente do mesmo jeito que acordara no dia anterior. Sendo que o dia seguinte já é o dia anterior. Tá confuso? A física explica. Quando escova o dente, Sam já sente aquele gostinho de deja vu e pensa: já passei por isso antes. 

E agora? Agora começa o nosso tormento porque vamos rever todo o filme de novo com pequenas diferenças. E, pior, o filme nunca melhora! 

Sam está com uma missão divina. Tem que corrigir as cagadas que ela e as migas fizeram na vida escolar para receber o salvo conduto do paraíso. Do contrário, a vida dela e daqueles que o cercam ficarão para sempre presas naquele "Feitiço do tempo" mequetrefe". 

São muitas missões para Sam. Tem que amadurecer, distribuir amor, ser tolerante, amiga, companheira, espalhar a solidariedade e ajudar as pessoas. É praticamente um manual da santidade que ela tem que decorar e aplicar. 

Enquanto isso, nós sofremos vendo tudo isso. Por que? Por que precisamos passar por isso? Talvez seja um alerta do destino para sermos mais tolerantes com a sociedade e o nosso meio ambiente. Prometo tornar-me uma pessoa melhor. Mas “Antes que eu vá” levará uma nota 2,5.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

E agora, Claire?

Frank e Claire, eternos parças, mas sempre desconfiados um do outro

Fim de jogo em "House of Cards". O que dizer?

(ATENÇÃO, O TEXTÃO ABAIXO CONTÉM SPOILERS FEROZES!!!!!!)

(EU AVISEI)

(DEPOIS NÃO RECLAMA)

(CORNETA É VIDA)

1- Definitivamente essa série nunca mais será tão boa quanto nas duas primeiras temporadas. A premissa está se esgotando, agonizando, quase perdendo o sentido. Está tipo "Homeland". 
2- O mundo anda tão estranho, que os roteiristas estão dando pirueta, fazendo duplo twist carpado e canguru perneta para ver se conseguem surpreender na ficção. Contudo, é difícil competir com a vida real. 
3- Mas ainda assim precisamos de uma sexta temporada. Por que, né, agora é a vez DELA brincar. 
4- E a gente também precisa pelo menos ver o que vai acontecer. Precisamos de um final! Ah, mas "Sense8" acabou sem final. Por favor, ninguém via "Sense8". Até "Marco Polo" tinha mais público. 
5- Embora tenha sido uma temporada hiperbólica e fora do tom, "House of Cards" ainda é uma boa série, pois eu gosto das tramoias, das conversas de bastidor, dos tapetes puxados, da trepada em troca de favores e da eterna conspiração entre os políticos e as corporações em Washington. Para mim, tudo aquilo é real porque a política é suja desde a injusta condenação de Sócrates no tribunal de Atenas em 399 A.C.
6- Inclusive, eu não duvidaria se existisse realmente um encontrinho anual na floresta entre poderosos fantasiados de corvo. 
7- No Brasil deve ser a mesma coisa. Só não deve ter a mesma classe. As negociatas devem acontecer num iate cheio de farofa, pagode, prostitutas e cerveja barata no mar de Jurerê Internacional. 
8- Podem falar que é brega, podem falar que é forçado, mas eu gosto quando o Frank Underwood conversa comigo (tecnicamente falando, quando ele rompe a quarta parede). Todavia, nessa temporada foram exageradas e, muitas vezes, longas as intervenções. Gostava mais quando tinha quase um aspecto natural como se você fizesse parte da cena. Nesse ano, ele parecia um apresentador fazendo passagem em documentário do "History Channel". 
9- Mas a Claire finalmente falou comigo. E eu fiquei emocionado. 
10- Por falar em Claire, e essa palhaçada dela se apaixonar? E ainda mais pelo bebê chorão do Tom Yates. A Claire não podia se apaixonar, gente. Onde já se viu isso? Vai virar Meg Ryan logo agora, no auge da carreira e das vilanias? Claire deve ser má, cruel e com aquele olhar glacial. E quando questionada sobre o amor deve dizer: "Um interessante conceito filosófico sobre o qual não partilho do mesmo entusiasmo do resto da humanidade". 
11- Ainda bem que o problema foi resolvido e não ficou para a próxima temporada. 
12- A Zoe Barnes trepava com o Frank para conseguir matéria. Agora tem outra jornalista que transa com um cara da Casa Branca para ficar de espiã a serviço do "Spotlight" do Hammerschmidt. Donde se conclui que, para "House of Cards", jornalista só consegue desencavar histórias na cama. Mas a imagem dos políticos é sempre pior. 
13- Estou bolado demais com o sistema do serviço secreto. Até coloquei uma fita crepe na câmera do meu laptop. 
14- "House of Cards" precisa de uma sacudida, de um cavalo de pau na história. Esse negócio do Frank cair para cima... tudo bem, já vimos isso muitas vezes na vida real, mas fica parecendo que ele sempre vence. Uma arrogância que lhe custou caro, aliás. 
15- Mark Usher, Jane Davis, Sean Jeffries... tudo leva e traz, tudo PMDB com grife. 
16- E o deputado despacito hipster hein? Não deu nem para o cheiro. Bastou o Frank sussurrar no ouvidinho dele feito um velho babão a palavra "Rochelle" que ele arregou. 
17- O resumo de tudo entre democratas e republicanos é: ao pisar em Washington não confie em ninguém. Até sua sombra pode estar conspirando contra você. 
18- Cotação da Corneta: nota 7.

sábado, 3 de junho de 2017

Que maravilha

Belo crepúsculo, Diana
Quem acompanha a Corneta (alguém ainda acompanha isso? Ainda tenho 17 leitores?) sabe que frequentemente eu comparo a rivalidade Marvel x DC como um grande Alemanha x Brasil e aquele épico, fantástico e inesquecível 7 a 1. A DC merece a comparação porque andou nos entregando bombas terríveis de digerir como os recentes "Batman vs Superman" e "Esquadrão Suicida". Pérolas da ruindade dignas do Framboesa de Ouro e dos prêmios de piores do ano do Corneta Awards. Mas em "Batman vs Superman" havia uma mulher que quase roubou o filme, que deu um fiapo de dignidade para aquela coisa que tiveram a coragem de chamar de cinema. Tratava-se da Mulher Maravilha (toca a música-tema: tãrãrãrãaaannn tum tum tu du tum tum tãrãrãrãnnnn...)
Como a DC não pode ficar atrás da Marvel na expansão do seu universo de heróis clássicos, eles trataram de dar à personagem um filme para chamar de seu. Uma decisão acertada. Afinal, é uma personagem sensacional (na minha preferência só perde para o Batman no mundinho da DC) e era uma chance de a DC fazer algo na frente da Marvel: um filme solo minimamente decente com uma super-heroína. Deu mole, Stan Lee. E há anos pedimos um solo da Viúva Negra. Fica o meu protesto.
"Mulher Maravilha" é aquele típico filme de origem. Aquele em que conhecemos como aquele personagem querido tornou-se quem é. Você está de saco cheio disso? Principalmente quando eles são excessivamente longos e cheio de gordura para cortar? Parece que o resto do mundo ainda não.
O filme começa com um enorme desperdício de verba de Bruce Wayne. Ao invés de enviar por Fedex de Gotham até Paris a foto de Diana (Gal Gadot) com seus amigos na Primeira Guerra Mundial, ele a manda em uma pasta fechada dentro de um carro-forte com seguranças. Típico exibicionismo de gente rica. Se eu não soubesse que Bruce só tem olhos para a Mulher-Gato, eu diria que ele estava querendo pegar a Diana. O que eu questiono é: por que o senhor Wayne não digitalizou e mandou a imagem para o e-mail dela por pdf? Por que não mandar um zap? Só quis aparecer, né.
Enfim, aquela foto maravilhosa acaba despertando os instintos mais primitivos na moça. Uma reminiscência de cem anos atrás, quando ela lutou na guerra com o primeiro homem que viu na vida, o Steve Capitão Kirk (Chris Pine), o chefe apache (Eugene Brave Rock), o galanteador poliglota Sameer (Said Tagmahaoui) e o escocês bêbado Charlie Trainspotting Spud (Ewen Bremner). Não era a Liga da Justiça ideal, mas era Liga da Justiça possível naqueles tempos. Lembrem que em 1918, Bruce Wayne e Barry The Flash Allen ainda não tinham nascido, o Aquaman provavelmente estava curtindo a vida e bebendo todas em Atlântida, o Superman estava na sua Krypton distante e o Lanterna Verde devia estar em outra galáxia.
E onde Diana estava? Na sua ilha grega paradisíaca habitada apenas por amazonas guerreiras prontas para enfrentar Ares, o deus da guerra, assim que ele desse pinta de novo. Lá ela não era nenhuma maravilha. Afinal, num lugar em que todas são especiais, você é só mais uma. Pelo menos é o que mamãe Hipólita (Connie Nielsen) tenta fazê-la acreditar. Mas se você vive no mesmo espaço com Carrie Underwood, quer dizer, Antiope (Robin Wright), sabe que mesmo sendo rainha não vai apitar nada. Titia tinha outros planos para Diana. Ela sabia que a moça era especial. Afinal, ela nasceu de um momento "Ghost, do outro lado da vida", entre Hipólita e Zeus. Ali, naquele barro esculpido, tocando "Unchained Melody" ao fundo, Diana viria ao mundo como alguém diferenciada entre as diferenciadas.
Mas que não sabe nada da vida. Afinal, ela vivia numa bolha grega. Numa timeline de Facebook cuidadosamente higienizada por mamãe para que ela veja só a beleza do mundo. O que não é difícil quando se está na Grécia.
Mas um dia essa bolha precisa romper para ela cair na vida. E ela rompe com a queda do avião de Steve. Diana fica curiosa quando vê o primeiro homem da sua vida. E não fica muito espantada diante dos, digamos, países baixos do rapaz. Steve é um espião. Caiu ali por acaso através de uma falha no escudo protetor da ilha de Lost de Themyscira. Mas tem uma missão. Salvar o mundo e tentar acabar com a guerra. Diana sente que essa é sua missão também. Ela precisa sair pelo mundo e defender os fracos e oprimidos. Precisa destruir Ares, esse deus inconveniente. Então ela pega o escudo, a espada, o laço dourado e os braceletes maneiros e vai para a luta. Parênteses para dizer que as cenas com o laço são realmente MUITO legais.
Durante todo o filme haverá esse choque da moça tentando entender aquele mundo louco em que homens se matam e escravizam sem qualquer razão ao mesmo tempo em que ela precisa protegê-los e correr atrás de Ares, a quem julga ser o grande responsável por essa tragédia. Quem a ouve pensa que ela é maluca. Afinal, os alemães são os reais inimigos. Mas como ela vale por um exército a deixam delirar. Tolinhos.
E aqui entramos na importância de Gal Gadot para o filme. Porque essa atriz israelense é magnética e tem todo o carisma necessário para ser a Mulher Maravilha. Ela já ofuscava o Ben Affleck (o que não é difícil até para uma porta) e o Henry Cavill em "Batman vs Superman". E se você assistir ao trailer da "Liga da Justiça", cuja estreia está prevista para novembro, ela rouba a cena toda vez que aparece. Algo me diz que Gal estará futuramente para a Mulher Maravilha como Christian Bale, Hugh Jackman e Robert Downey Jr. estão para o Batman, Wolverine e Homem de Ferro, respectivamente.
O que Gal Gadot não precisava era do ventilador da Beyoncé na cara dela toda vez que parte para uma cena "grandiosa" e que supostamente deve ser um divisor de águas na sua biografia e no seu amadurecimento. É assim nas trincheiras da guerra, é assim e com muito abuso no seu duelo final. Por que gente? É necessário mesmo tantos cabelos esvoaçantes? Cabelo esvoaçante com mulher lutando é a pochete do cinema.
Ela também não precisava do discurso brega/auto-ajuda do roteiro de que o amor vence tudo e purifica as almas impuras. Pior do que isso, só se ela cantasse Maiara e Maraísa.
Realmente, o roteiro dá umas escorregadas que aliada à tendência natural da DC ao kitsch em suas cenas de ação fazem a gente dar umas reviradas no estômago e bufar de tédio. Por exemplo, a cena final é longa demais, exagerada demais, é uma explosão de cores demais, é tudo muito too much. Por isso, que as minhas batalhas preferidas acabaram sendo as do vilarejo e a das trincheiras.
Em geral, os principais heróis da DC são poderosos demais. Muito mais do que os da Marvel, que são mais humanos. Pois eles são semideuses que fazem coisas incríveis ou humanos que ganharam poderes grandiosos. As exceções são o Batman e o Arqueiro Verde. Mas ambos são bilionários. O que não deixa de ser um superpoder e tanto. E na hora de ir para o cinema está sendo difícil lidar com isso.
Mas a DC parece estar aprendendo. E assim ‪"Mulher Maravilha" está aprovado, mas com ressalvas. Ganhará da Corneta uma nota 7.