segunda-feira, 27 de abril de 2009

Superando limites de chatice

É muito difícil um filme me fazer dormir no cinema. É muito difícil uma obra praticamente me expulsar, pois quase sempre eu sou receptivo e tento entrar em todas as histórias. Mas “A Fronteira da Alvorada” conseguiu superar todas as expectativas negativas. Há muito tempo eu não dormia dentro de uma sala. Tá certo, eu não cheguei a cochilar completamente, mas fechei os olhos incontáveis vezes e isso só não se transformou em sono de fato porque eu sou brasileiro e não desisto nunca.

Outro retrato de que a película é de uma chatice atroz é a quantidade de vezes em que eu olhei para o relógio de olho no tempo, contando os segundos que se arrastavam para me libertar daquela tortura.

Por que o novo trabalho do diretor Philippe Garrel, o mesmo do ótimo “Amantes Constantes” (2005) é tão insosso? São vários os motivos. Em primeiro lugar o filme é arrastado, mas não positivamente arrastado. A história não se desenvolve. E o pior, é entrecortada por saltos temporais na história de François (Louis Garrel, o filho do diretor) e Carole (Laura Smet) que você tem que refletir alguns segundos para deduzir o que aconteceu naquele hiato entre a cena anterior e esta nova.

Tudo bem, cinema é reflexão, é incômodo. Concordo. Mas estamos falando de uma história de amor. Uma simples, mera, história de amor. “A Fronteira da Alvorada” não é um filme filosófico, não é um, sei lá, “Ponto de Mutação” (1990). É apenas uma história de amor trágica entre François e Carole. É (ou deveria ser) Shakespeare passado na França atual, mas em preto e branco.

Mas ao contrário das histórias do bardo inglês, o roteiro de Marc Cholodenko e Arlette Langmann é fraco. Tudo bem que ele reflete a história conduzida por Philippe Garrel, cheia de silêncios, imagens paradas e com diálogos marcados por um incômodo “monossilabismo”. E este é o segundo problema do filme.

Estas duas questões refletem na interpretação dos protagonistas. Louis Garrel nem de longe lembra o outro François que interpretou em “Amantes Constantes”. Laura Smet não convence nem como mulher apaixonada, nem como suicida (pronto, falei, mas você pretendia ver o filme?). E sua aparição como fantasma, bem, acho que nessa parte eu já devia estar babando na cadeira.

O grande problema da história é que não há história e sim fragmentos, passagens sem um ponto mesmo que ínfimo de ligação para que possamos fazer um link. E os diálogos reduzidos ao mínimo fazem parecer que o filme foi feito num certo tom de improvisação em que os atores apenas sabiam duas coisas: vocês estão apaixonados e devem seguir mais ou menos esta linha do roteiro. Só que o resultado nem de perto lembra trabalhos excelentes e ricos em improvisação como os de Gus Van Sant, que alimenta a liberdade, mas dentro da linha central do seu roteiro.

Shakespearianamente ainda há espaço para um certo tom sobrenatural na história que supostamente era para ser de amor. Mas o resultado é esquisito. Há quem pense até que houve uma ressurreição. Uma catástrofe.

“A Fronteira da Alvorada” é, portanto, uma bola fora de Garrel. Está mais para crepúsculo do abismo cinematográfico do que para qualquer tipo de alvorecer. Passe longe. A menos que sofra problemas de insônia.

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