quarta-feira, 29 de junho de 2016

O horror! O horror!

Londres destruída por um filme ruim
Se eu tivesse que fazer um ranking de filmes que me deixaram mais constrangidos no cinema recentemente ele teria "Warcraft", "Cinquenta tons de cinza" e, óbvio, "Batman vs Superman". Mas nenhuma destas obras, digamos assim, únicas, seria capaz de superar a ruindade de "Independence Day: o ressurgimento"

O novo filme de Roland Emmerich é uma coletânea de erros e situações patéticas, mas a medalha de ouro vai para o quinteto de roteiristas (Emmerich entre eles). Porque é preciso muito esforço para que cinco cabeças juntas pensem em tantas situações clichês, bizarras ou piegas para fazer um filme que nem os efeitos especiais ajudam. 

É um tal de filho vendo os pais em situação difícil e nada podendo fazer, crianças aparecendo para trazer a mensagem de esperança, vibração de uma humanidade reunida em busca de um ideal (muita vibração. Parecia o Galvão comemorando gol do Brasil), rivais do passado que viram amigos e rapidamente resolvem picuinhas. Tudo com atuações SOFRÍVEIS. 

O novo filme se passa vinte anos depois dos eventos do primeiro "Independence Day". Como faltou verba para contratar um ator famoso, Will Smith, um dos heróis do primeiro filme, não passa de um retrato na parede da Casa Branca. Melhor assim. Nem deu para sentir vergonha alheia.

Os Estados Unidos e o mundo vivem em paz e harmonia. Nunca houve Brexit no mundo paralelo de Emmerich. Todos trabalham juntos num grande crowdfunding internacional e até interplanetário, visto que a Lua virou uma segunda casa. Sua estação espacial é chefiado por um chinês, tem americanos, europeus trabalhando em harmonia e no planeta não há racismo, machismo nem homofobia. Queria muito viver nesse mundo encantado de "Independence Day"!

O único problema é que neste mundo encantado, os efeitos especiais deixam a desejar. De uma coisa boba como um discurso da presidente americana diante de uma multidão que parece uma gravação de um comício nos anos 70 aos discutíveis efeitos da invasão alienígena sinto que faltou bom gosto neste departamento. 

Mas se esse fosse o único problema tudo bem. A questão é que o conjunto da obra deixa a desejar. Os protagonistas Dylan Hiller (Jessie T. Usher) e Jake Morrinson (Liam Hemsworth) parecem jovens estreando em "Malhação". Enquanto Jeff Goldblum, que volta a viver o pesquisador David Levinson parece um professor da escola de "Malhação". 

Diante disso tudo, eu me questiono: por que amigos? Por que Charlotte Gainsbourg foi se meter nessa roubada?

Bom, mas nessa história sem pé nem cabeça, os alienígenas voltam para se vingar da surra que levaram no primeiro filme. Aparentemente eles têm uma conexão com o ex-presidente americano vivido por Bill Pullman e outros personagens. Um deles, inclusive, baixa um santo e sai escrevendo equações matemáticas no quarto do hospital como se fosse o Russell Crowe em "Uma mente brilhante". 

Ok, ok, "The winter is coming", mas como o filme faz questão de repetir insistentemente a cada 20 minutos: É 4 de julho, vamos chutar uns traseiros gordos porque nós somos americanos e somos bons demais. 

A partir daí, "Independence Day" vira "Space Invaders". Com a triste diferença de que você não pode jogar. 

Contudo sempre pode piorar! Mais para frente, descobrimos que na verdade os aliens não estavam querendo se vingar da surra que tomaram há vinte anos. Estavam só de passagem pela Terra para reabastecer a nave. Tipo, a Terra era só o Posto Ypiranga  deles. Eles estavam mesmo metidos numa guerra intergaláctica de proporções inimagináveis que agora os humanos, outrora bois de piranha, são convocados para liderarem o exército aliado contra os aliens maus. Sim, parece que existem os aliens bonzinhos. Sim, os humanos foram promovidos de raça primitiva a raça top do Universo só porque demonstraram garra, perseverança, união, amor e compaixão. 

 Mas isso só acontecerá no terceiro filme. Peraí, depois dessa tragédia haverá terceiro filme? Esperamos que não. Não há alternativa. Nada, absolutamente nada se salva. "Independence Day: o ressurgimento" ganhará uma nota 0.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O inverno chegou

Danny vai botar para quebrar em 2017
Obrigado, "Game of Thrones", simplesmente por existir. Agora que acabou a temporada, vamos aos comentários MALEMOLENTES sobre os estertores dela, o passado e o futuro em forma de textão. Chega logo, 2017.
ATENÇÃO, FULL OF SPOILERS!
LEIA BEM O AVISO ACIMA: FULL OF SPOILERS!
FUI BEM CLARO? FULL OF SPOILERS!
1. Que episódio classudo, que trilha sonora maravilhosa. Depois daquele heavy metal da batalha dos bastardos, a série me termina com um cruzamento de Beethoven com Vivaldi. 
2. Jon Snow foi ingrato com quem o ressuscitou. A conta vai vir no futuro. Nunca se deve questionar o Lord of Light. 
3. Os Starks são foda. Eu sempre acreditei neles mesmo quando estavam na zona de rebaixamento. Teria ganhado uma grana no mercado de apostas. 
4. Certa vez, Tyrion Lannister disse que "vocês Starks são muito difíceis de matar". Taí comprovado. Os Starks são os X-Men de "Game of Thrones". Tem Jon, o ressuscitado e agora KING IN THE NORTH, Uncle Benjen, o morto-vivo, Arya mil faces, Sansa tough girl e Brann corvo de três olhos Professor Xavier. E vem mais gente por aí!
5. Aliás, o Game 4-D do Brann me trouxe aquela revelação IMPRESSIONANTE. Jon, você é filho de Lyanna Stark com quem? Do Espírito Santo que não é. Será que você gosta de um fogo com gelo?
6. Quero saber como essas árvores genealógicas de Starks e Targaryen vão dar no Tony Stark. 
7. Parabéns, Jon. Parabéns, Tyrion. Depois de tantos anos se dedicando foram promovidos. Será que rolou aumento? Muito sucesso em suas novas funções. 
8. Cersei maravilhosa mandando a bancada religiosa para o espaço enquanto tomava um vinhozinho de boa e assistia tudo de camarote. 
9. Aliás, essa sequência inicial que começou com o julgamento do Cavaleiro das Flores e terminou com o Rei Tommen dando cabo da própria vida de forma seca foi PRIMOROSA. 
10. Mindinho confirmando seu status de PMDB com a declaração para Sansa: "Me vejo no trono de ferro com você ao meu lado". Está louco para dar um golpe, mas precisa da base aliada, do baixo clero do Norte. 
11. Duelos de mata-mata da próxima temporada que queremos ver: Daenerys X Cersei, com Danny jogando fora de casa. Povos do Norte X White Walkers em campo neutro. Finalistas disputam o trono de ferro na oitava temporada. 
12. The Winter finalmente chegou. Não apenas para eles, mas para a gente também. Não para de fazer frio no Hell de Janeiro. Espero que o nosso não seja tão longo quanto os que Ned Stark falava. 
13. Danny está sentindo o gostinho do grande jogo. Foi fria com o amante porque só quer saber do poder. Tenho um medo de uma personagem tão querida como ela virar uma ditadorazinha. 
14. Aliás, Danny navegando poderosa, ALTIVA, com sua armada e seus dragões para conquistar o Oeste foi de arrepiar. Aquele momento que você pensa: vai dar merda ano que vem. 
15. Queria para mim aquela biblioteca do Sam. Tudo bem que jamais conseguiria ler todos aqueles livros, mas eu queria. 
16. Parece que Dorne vai entrar no jogo na próxima temporada. Com aquelas mulheres sinistras tudo. Temos Dorne, Tyrell, Targaryen e Greyjoy contra os Lannisters já. Como os Starks também os odeiam, os lourinhos estão ficando mais isolados que a Dilma antes do impeachment. Haja Montanha para lidar com isso.
17. Mas parece que os Lannisters estão perto do seu Westerexit. 
18. Nunca queira contrariar Lady Mormont em nada. De decisões políticas a hora do café. 
19. O passaralho de ontem foi sinistro. Número incalculável de mortes. De qualquer forma, RIP, Margaery. Tinha uma quedinha por você. 
20. E no meio disso tudo, o Messi anuncia que está abandonando a seleção da Argentina. Que tristeza. Levanta a cabeça, meu caro. Veja como Jon Snow ressuscitou para a glória. You are The KING OF THE FOOTBALL!
E concluindo tudo: Melhor temporada né?

quarta-feira, 22 de junho de 2016

O terrorismo no taxímetro

Já era madrugada quando o operário das palavras chegava de mais uma longa jornada de trabalho. A ausência de ônibus o forçava a novamente se aventurar no sempre imprevisível mundo dos táxis. E o motorista já se mostrava promissor.
- Boa noite, amigo. Quer ir pra onde? Nova York ou Londres? - disse ele, já cheio de graça e malemolência.
O operário das palavras riu. E foi sincero.
- Olha, se eu pudesse escolher seria Londres, mas eu vou para o Condado de Saint Rose mesmo. 
- Mas por que Londres? O que Londres tem de melhor do que aqui? - questionou o motorista com aquela fala de malandro da Lapa e protótipo de Evandro Mesquita. 
- Por que? Porque é uma cidade que funciona melhor, o metrô é melhor, tem menos violência. Não tem tiroteio com frequência. E mais do que isso, é uma cultura com a qual eu me identifico mais. 
- Ah, agora sim você me explicou. Porque eu outro dia peguei uma passageira e ela me disse que preferia ficar aqui. Eu não entendi. Eu pego um monte de passageiros e 99,9% deles dizem que preferem ir para Londres. 
- Nada contra quem prefira o Brasil - rebateu o operário das palavras. - Muitos se sentem em casa por aqui. É isso que importa. Onde você se sente bem.
Ao saber da experiência olímpica do operário das palavras na capital inglesa, o papo inegavelmente caiu sobre os Jogos do Rio. "O trânsito será um inferno", reclamou o taxista. "Outro dia levei um cliente até a Barra e levei três horas e meia para voltar. Um inferno".
Mas nada superou a preocupação que o taxista ainda revelaria naquela surpreendente corrida.
- Olha, vou te dizer. O que eu mais tenho medo é de terrorismo. 
- Ah, mas acho que não vai acontecer nada disso não. Assalto vai ser direto, mas ataque não acredito. 
- Vou te contar uma coisa - disse ele, com aquele olhar de quem está fazendo uma denúncia. - Eu já peguei gente do mundo inteiro aqui no táxi. Mas ultimamente eu tenho andado com uns clientes de lugares diferentes. Outro dia eu peguei uns caras do Paquistão. Eles eram muito esquisitos. Levei eles lá para aquele hotel de Icarai, onde eles estavam hospedados.
E ele continuou falando sobre aquele momento único.
- Eles eram muito esquisitos. E vou te dizer. Quando os outros hóspedes souberam deles, foi todo mundo embora! Com medo, é claro!
Com dificuldade para acreditar numa debandada de um hotel, mas curioso com os tais "paquistaneses", o operário tentou arrancar mais informações, já se sentindo o Fox Mulder tupiniquim.
- Mas como você sabia que eles eram do Paquistão? Eles se identificarem como paquistaneses? 
- Sim, sim! Se identificaram. Eles tinham cara de paquistaneses. Você sabe, eu vejo muito filme de guerra. Então identifico na hora - disse o aprendiz de Rubens Ewald Filho. 
- E eles nem falavam inglês. Aí eu perguntei: "Pakistan? Pakistan?". E eles disseram: "si, si, Pakistan". Esses paquistaneses estão tudo espalhados nesses hotéis de Niterói - completou o taxista, praticamente revelando uma célula terrorista papa-goiaba.
O destino é cruel. Quando o lead chegou, aquele encontro também se aproximava do fim. Após pagar a corrida, o operário das palavras nada pode fazer a não ser torcer para que as Olimpíadas comecem e terminem bem.
- Bom, só espero que não aconteça nada porque eu estarei lá. 
- Eu também. Afinal, com toda essa crise não posso me dar ao luxo de perder clientes - respondeu o taxista, mostrando toda a sua solidariedade.
E assim o nosso personagem se despediu na madrugada gelada de Niterói's Kingdom.

sábado, 18 de junho de 2016

Um cânone particular

William Shakespeare
Certa vez, uma amiga me fez um desses desafios que volta e meia surgem no Facebook para apontar bandas favoritas, comidas favoritas, livros favoritos, etc... Dessa vez era para apontar os autores que eu mais apreciava. Gostei de fazer, pois apontou uma tendência variando entre os clássicos e textos de espionagem/suspense. Além da eterna paixão, os quadrinhos.

Dentro dessa reflexão sobre quem faria parte do meu cânone particular hoje, coube algumas surpresas e outras figuras que sempre estiveram rondando minhas leituras. Talvez daqui a um tempo outros nomes entrem no lugar desse top-20. Alguns saiam. Mas acho que hoje esta seria a coletânea de autores que eu levaria para uma ilha deserta para não me sentir tão isolado.

1. William Shakespeare - porque é Deus, porque suas tragédias são incríveis e o solilóquio de "Hamlet" está entre as coisas mais maravilhosas que já li na vida. 
2. Friedrich Nietzsche - Porque ele é pura pulsão de vida, experimentação, entrega e intensidade. 
3. Jean-Paul Sartre - porque só Sartre arranca a alma do seu corpo e te deixa vagando moribundo pelas ruas. 
4. Fiódor Dostoiévski - porque ninguém sofre e carrega uma cruz como esse russo.
5. Franz Kafka - porque a vida é um absurdo. 
6. Platão/Sócrates - O Chico Xavier que psicografou a vida e a obra deste que é um dos maiores homens da história humana: Sócrates. 
7. Francis Scott Fitzgerald - "O Grande Gatsby" foi o primeiro livro que "roubei" da biblioteca do meu pai. Depois veio "Suave é a noite" e não parei mais de mergulhar na escrita fascinante desse americano. 
8. Umberto Eco - porque "Apocalípticos e Integrados" e "A obra aberta" me deixaram pirado. E porque ele me explicou o motivo pelo qual o Superman não casa com Louis Lane. E não é porque a sogra é megera! 
9. Ian Fleming - porque James Bond é sagrado. E profano. 
10. George R.R.Martin - porque "Game of Thrones" foi um divisor de águas na minha vida e agora estou encantado pelo livro. 
11. John Le Carré - nunca te li, sempre te amei... nos filmes e nas séries. Mas eu vou corrigir essa falha. 
12. Frank Miller - O Papa, o Midas dos quadrinhos.
13. Truman Capote - Porque o new journalism é uma paixão infelizmente pouco exercida por mim. 
14. Arthur Conan Doyle - porque Sherlock Holmes é um personagem extremamente querido desde a infância. 
15. Leon Tolstói - porque eu tenho uma tara por mulheres adúlteras (só na ficção)
16. Gustav Flaubert - porque eu realmente tenho uma tara por mulheres adúlteras (vale ressaltar, só na ficção).
17. Pablo Neruda - meu representante da poesia e do amor. 
18. Oscar Wilde - porque é preciso respeitar quem tem um túmulo todo beijado e com marcas de batom. 
19. Haruki Murakami - Sua escrita me pegou de jeito e anseio pela leitura dos outros dois volumes de "1Q84".
20. Virgínia Woolf - por todo o seu lirismo. E ai de você se vier com papo de que é escritora de mulherzinha.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Os orcs vão te pegar...

A briga lá embaixo tá boa
Nunca joguei "Warcraft". Nem sei do que se trata o universo em questão. Mas eu também sou um fã de algo. Logo, super entendo a quantidade de aplausos que o filme recebeu ao fim da sessão tomada de nerds que a corneta assistiu. É sempre divertido uma sessão tomada de nerds. De fato, se eu tivesse dedicado minha vida a jogar "Warcraft", talvez tivesse rolado uma conexão. Talvez até uma atração por uma ORQUISA (uma palavra tão estranha quanto presidenta). Mas eu tenho esse desvio de caráter. Nunca joguei "Warcraft". 

O que é difícil de encontrar são qualidades na adaptação de Duncan Jones para os cinemas longe do seu nicho de nerds apaixonados por essa guerra eterna entre orcs e humanos. "Warcraft" parece um videogame que você nem tem a chance de jogar. Sim, amigos, sob pena de ter a vida sugada por um feitiço de Vilania, a corneta é taxativa: "Warcraft" é ruim de doer a alma. E só não é de doer a vista porque se tem uma coisa que o filme tem de bom são as imagens e os efeitos especiais. 

Mas a história do ponto de vista de um roteiro cinematográfico é dura de engolir. Em resumo: um orc Mestre dos Magos/Vingador se alimenta de uma magia negra sinistra e depois de destruir o planeta orc resolve invadir a terra para colonizar o planeta e escravizar os humanos. Só que os homo sapiens não vão deixar isso barato e lutarão até o fim como se estivessem brigando contra o rebaixamento no Brasileirão. Há traições dos dois lados e reflexões de uma tribo orc sobre se o orc mago não estaria doidinho e seduzido pelo seu poder verde. Além de uma série de reflexões existencialistas de fazer Sartre se questionar: foi para isso que eu fiz esses livros?

No meio disso, temos Ragnar Lothbrok, ops, Lothar (Travis Fimmel) liderando a rebelião humana. E querendo dar uns pegas numa orquisa guerreira e mestiça. Sim, meus caros, "Warcraft" tem romance entre espécies. Não configura zoofilia porque orcs tecnicamente não são animais. Eles também têm telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor. E dentes protuberantes. 

Aí você tem humanos bonzinhos, humanos mauzinhos, orcs bonzinhos, orcs mauzinhos, uma disputa de poder celestial entre os magos da luz verde e da luz azul e uma deixa para uma continuação com um bebê orc que será criado entre humanos. Óbvio, né? Esse mito da mãe que deixa o filho embrulhado ir embora num rio é mais velho que andar para frente. 

Aliás, os magos merecem um parêntese. Eles são muito sem graça, pois acabam com toda a ação. Toda vez que um grupo de humanos está na pior. No caso, quase sempre, pois os orcs são maiores e mais fortes, um mago surge, fala uma coisa em aramaico e sânscrito e ganha a luta. Tudo bem, os efeitos são maneiros, mas é igual a um videogame, quando você tem aquela jogada especial que usa contra o mestre no final. Quem nunca usou um Ha-Do Ken antes?

É uma pena que "Warcraft" não tenha ido além de um game com atores reais e efeitos especiais. E manteve uma tradição: nunca um filme baseado em videogame é bom. Não ia ser "Warcraft" que ia contrariar isso. E no fim fica a pergunta: como pode uma sociedade supostamente medieval, que só usa espadas e machados para brigar, de repente ter armas de fogo? Depois disso, o filme vai ganhar uma nota 4.

domingo, 5 de junho de 2016

Palavras

Uma amiga me mostrou esta semana uma mensagem verdadeira sobre como é fascinante a palavra "ué". O ué é fenomenal, pois pode ser aplicado em várias situações dependendo do contexto e entonação. Isso me fez colocar no papel (ou melhor, no bloco de notas virtual) umas ideias que eu já desenvolvia há algum tempo sobre algumas palavras que deveriam ser universais e estar em todos os idiomas. Sem que suas respectivas traduções sejam excluídas, é claro, pois o Marcelismo é a pura democracia. Obviamente, o ué estaria nesse grupo.
Meu esperanto particular também teria o "disgusting". A força dessa palavra tem muito mais valor do que o português "nojento", como você pode ler nos exemplos abaixo:
1. O governo é nojento
2. O governo é disgusting
Perceberam? O impacto é muito maior.
Também estariam neste meu grupo particular o grego "kalimera" e o francês "bon jour". Quem escuta um kalimera de bom dia, começa o dia feliz, em êxtase, porque é uma palavra dita com sorriso de orelha a orelha. É provável que ouvir um kalimera te faça sair para trabalhar cantando e dançando como numa cena de "Mamma Mia". Já se você escuta Bon Jour, você começa o dia já apaixonado. Agora, escutar Bom dia é broxante e dá azia. É como acordar cedo na segunda-feira.
Por falar em amor, a expressão "Jet'aime" tem muita imprensa. Não chega perto de um "Eu te amo" ou um "I love you". Agora, se a questão é trepar mesmo, nada supera o espanhol "te quiero". Eu sei que não necessariamente isso tem a ver com sexo, mas vai dizer que você não pensa naquilo quando ouve um "te quiero"?
Mas se o assunto é odiar, "I hate you" tem muita força, porém nada comparável ao alemão "Ich hasse dich".
Da língua de Nietzsche eu também tiraria para o meu esperanto particular o termo "Entschuldigung", porque "com licença" e sua variante "licencinha" não têm condição. Enquanto "excuse me" soa como aquela patricinha metida e sebosa falando. E se alguém espirra, nada melhor do que dizer "Gesundheit". E nada exemplifica melhor o significado de trabalho do que o alemão "arbeit" (entendam como quiserem).
Aliás, o inglês têm uma série de expressões que podem soar mal. Tipo "sorry". O italiano "scusa" é mais bonito. "Pardon" também é uma boa e elegante opção.
Agora, se temos que dizer adeus, não busque a música do Roupa Nova. Bye bye é ruim, mas eu até gosto de farewell, porque é classuda e aparece nas peças de Shakespeare. Contudo, ninguém diz adeus como os russos. Ouvir "Do svidaniya" é o melhor até logo que você pode receber. Quando você escuta Do Svidaniya, parece que acabou de deixar o bar bêbado e feliz. Perto dos russos só o "arrivederci" italiano.
Por falar em bar, aquele momento do tim-tim seria lindo se disséssemos o sueco (e nórdico) skål (fala-se iskool). Ninguém brinda como os nórdicos.
Outra palavra inglesa que não engulo é "Thank you". Soa debochado na boca de alguns. Talvez esteja desgastada, afinal, o inglês é o esperanto que deu certo. "Obrigado" também me incomoda. Se você tira primeira sílaba remete a briga, se tira a última remete a obrigação. E o agradecimento deveria ser um ato de generosidade. No esperanto marcelista falaríamos "Efscharistó" (se fala Efaristô). Quando você usa a expressão grega, está sempre sorrindo. O "merci" francês te traz um meio sorriso enigmático e também está valendo. E o arigatô japonês devia ser usado sempre em ocasiões formais.
Se tem uma expressão que é universal é "Ok". O mundo ocidental inteiro diz ok. Ok, eu peguei implicância. No meu dicionário diríamos mais o espanhol "vale".
- Vamos no cinema amanhã?
- Vale
E para que eu fiz esse textão linguístico afinal de contas? Sei lá. É apenas uma reflexão de domingo enquanto eu espero "Game of Thrones".

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Precisamos falar sobre Julia

Clooney e Julia: dupla de estrelas
Filmes sobre crise econômica, fraude bancária e negociatas em geral estão ficando tão comuns quatro os filmes de super-heróis. Quem se aventurou nesta empreitada agora foi a diretora e Jodie Foster.  Atriz consagrada, vencedora de dois Oscar por "Acusados" (1989) e  "O silêncio dos inocentes" (1992), Jodie ainda está engatinhando e buscando um estilo próprio. "Jogo do dinheiro" é o seu quarto filme e mostra alguém em busca de uma mensagem que seja entendida pelas massas. 

Pelo menos essa é a interpretação que eu faço quando ela usa atores consagrados no elenco (George Clooney e Julia Roberts), ambos vencedores de Oscar e chamarizes de bilheterias e telespectadores.

Mas Jodie parece ainda precisar lapidar um talento por trás das câmeras. Em "Jogo do dinheiro" ela peça pelo excesso de mensagens que quer passar. Aponta o dedo em várias feridas e não aprofunda nenhuma delas. O filme tem: 

1. Críticas à imprensa e à espetacularização da tragédia
2. Uma postura combativa contra os tubarões de Wall Street
3. Tenta fazer uma análise sobre como pessoas comuns são afetadas por manipulações bancárias escusas e coisas como a quebra de bancos e fundos de investimento (sim, já vimos esse filme)
4. As denúncias de fraude no mercado financeiro.

Talvez se pegasse dois itens e o explorasse bem, Jodie tivesse mais sucesso. Em meio ao show que um sequestro do apresentador de TV Lee Gates (George Clooney sendo George Clooney como sempre) protagoniza, sobressai-se a forte crítica aos programas de TV que exploram a boa vontade do espectador comum garantindo o paraíso dele e de sua família. Afinal, como diz a produtora Patty Fenn (Julia Roberts), "nem jornalismo nós fazemos". Uma frase dura escrita pelos roteiristas que bate fundo no coração dos jornalistas que por ventura possam se sentir afetados. Eu não vou vestir a carapuça.

E aqui precisamos de uma pausa para falar de Julia Roberts. Quando ganhou um Oscar por "Erin Brockovich" em 2001, Julia era uma atriz de comédias românticas que tinha feito um trabalho certeiro para faturar o seu careca dourado depois de anos como uma das queridinhas de Hollywood. 

Os anos se passaram e a atriz continuou fazendo aqui ou ali um filme do gênero água com açúcar e de pouca sustança - "Comer, Rezar, Amar" (2010) e "Larry Crowne - o amor está de volta" (2011), para ficar em dois exemplos -, mas agora ela os alterna com produções dramáticas em que exibe um talento que faz com que "Erin Brockovich" não seja apenas um tiro certeiro e aleatório, mas o pontapé inicial de alguns trabalhos interessantes. 

Falo de "Álbum de Família", filme pelo qual ela recebeu uma indicação ao Oscar como atriz coadjuvante, em 2014, e até "Olhos da Justiça" (2015), um trabalho prejudicado pela ruindade generalizada desta versão pífia de "O segredo dos seus olhos" (2006). 

Não é que ela tenha virado uma diva, uma dama do teatro como Fernanda Montenegro. Mas hoje, aos 48 anos, Julia é uma atriz melhor e que me faria pagar um ingresso para vê-la (desde que não seja em filmes como "O maior amor do mundo"). 

Em "Jogo de poder", Julia é quem brilha como a diretora do programa que tem que manter o show no ar enquanto um maluco está tentando atacar o apresentador e o sistema financeiro americano por tabela. 

Em meio a todas as denúncias de Jodie Foster, é a atriz quem encarna com equilíbrio o exemplo discutível de jornalismo praticado pela emissora e até o bom jornalismo que investiga que houve algo de errado e fraudulento com o fundo de investimento citado na película. É pouco para "Jogo de poder" ser um grande filme. Mas como diversão despretensiosa de um sábado à tarde, ele pode satisfazer. "Jogo de poder", portanto, ganhará uma nota 6.