sexta-feira, 5 de julho de 2019

Os novos desafios do Homem-Aranha

Parker passeando por prédios europeus
Grandes poderes trazem grandes responsabilidades. O lema que acompanha o Homem-Aranha desde a sua origem foi ampliado como nunca antes nesta segunda aventura do herói dentro do Universo Cinematográfico da Marvel. E “Homem-Aranha: longe de casa” (Spider-man: Far from home, no original), que encerra a fase 3 e dá pistas sobre os próximos rumos da Marvel em seus futuros lançamentos, mostra um Peter Parker (Tom Holland, ainda mais à vontade no papel e comprovando sua escolha certeira após a controversa fase Andrew Garfield) sendo obrigado a lidar com todo um turbilhão de emoções nas duas vidas que leva enquanto se depara com novos desafios após os eventos vistos em “Vingadores: Ultimato” (2019)

O filme de Jon Watts gira em torno de três ideias: ilusão, luto e amadurecimento. Ideias estas que são desenvolvidas numa aventura leve, divertida e que tem a cara do Homem-Aranha praticamente desde a sua criação nos quadrinhos. 

O luto era uma condição natural, uma vez que ainda estaria naturalmente muito presente neste filme a morte do Homem de Ferro. Tony Stark era uma figura paterna para Peter Parker - ideia esta que eu nunca engoli muito bem, mas foi a forma que a Marvel encontrou para inserir o herói no seu universo e acabou funcionando - e era natural que Parker tivesse que lidar com esse buraco, essa ausência daquela figura que sempre apostou muito nele e teve uma presença muito forte em sua vida. 

Com o luto veio ainda a responsabilidade. A Marvel deixa claro no filme que, pelo menos neste momento, Parker e o Homem-Aranha são o novo Homem de Ferro. Se não na liderança, que acredito que venha a ser tomada por nomes como Pantera Negra e Capitã Marvel, ao menos no carisma e na obsessão pelo conhecimento científico-tecnológico Parker está ali para ocupar o vazio deixado por Tony Stark. E são muitas as cenas em que ele demonstra desenvoltura e encanto ao lidar com as tecnologias e o orçamento generoso deixado por Tony para Peter como herança. Pelo visto, dificilmente veremos aquele Parker dos quadrinhos pobre e contando moedinhas de dólar vendendo as próprias fotos para o Clarín Diário para se manter. 

Mas lidar com essa responsabilidade e o luto ainda é muito doloroso para o personagem, que não se vê preparado para o desafio. Nem o quer. Mas acaba sendo cobrado por isso num mundo onde não existem mais os Vingadores. 

É onde entra o segundo tema do filme, o amadurecimento. Se desde o princípio, quando se vê diante dos seus poderes, Parker quer mostrar que é capaz de grandes feitos, a ressaca pós-batalha contra Thanos mostra um garoto que, neste momento, quer apenas ser um... garoto normal. Parker quer viajar pela Europa com seus amigos, tentar conquistar a garota que ele ama e viver as experiências que ele não teve a chance de viver por causa de suas habilidades. 

O problema é que ser o Homem-Aranha é um trabalho full time e nunca se sabe quando os problemas podem surgir. Ainda mais quando se tem o Nick Fury (Samuel L. Jackson) no seu pé o tempo todo. 

Parker sabe que tem um dom e descobre da pior forma que nunca poderá ser um garoto normal. De certa forma, o lema do Tio Ben está implicitamente presente neste amadurecimento do herói. Ele tem um grande poder, proporcional à sua responsabilidade. 

Entender isso, corrigir os erros e aprender com eles é tudo o que Parker faz ao longo do filme. E assim ele cresce, amadurece e o personagem vai moldando o seu caráter enquanto busca viver as experiências de um garoto que tem um crush pela Mary Jane (Zendaya). Parênteses: não vou mais implicar com a Zendaya porque ela não se parece com a Mary Jane porque ela se mostrou ótima neste filme e entendo que ela ainda passará por muitas transformações. 

Parker deu muita trela para o Mysterio
E onde entra a ilusão nisso tudo? A ilusão é o elemento de ação do filme. É onde há o entretenimento mais explícito, afinal não podemos esquecer que é um filme de super-heróis e um blockbuster. 

Um dos desafios do filme era inserir o Mysterio (Jake Gyllenhall), conhecidíssimo personagem dos fãs dos quadrinhos, de uma forma que pudesse surpreender também quem sabe de suas origens e poderes. Para evitar spoilers, podemos dizer que os truques usados foram perfeitos. E de quebra a Marvel fez todo um jogo de ilusões que perpassam o filme que vão para além da presença do Myaterio e culminam com uma cena extra absolutamente surpreendente. 

Mysterio, aliás, é uma das questões sobre as quais Peter tem de lidar. Com o personagem, Peter aprende que nem todos são como Tony Stark. Nem todos os adultos poderosos lhe serão uma figura paterna e ele precisa entender que tem que deixar a inocência de lado para sobreviver e cuidar da segurança dos seus amigos. 

Donde vem a questão sobre o futuro do MCU. O filme dá pistas sobre os próximos passos, embora elas não pareçam ser muito conclusivas. A tão comentada teoria do multiverso é falada, mas ainda não sabemos se ela é ou não verdadeira. Ok, nos quadrinhos o multiverso existe, mas isso não esta claro ainda no cinema. Se o multiverso está finalmente inserido e se o estalo de Thanos provocou estragos provavelmente são coisas que ficarão para outros filmes do universo. 

Mas a cena extra do final revela uma expansão ambiciosa da Marvel e ainda nos deixa com aquela cara de quem foi pego de surpresa por um truque do Mysterio. 

Como ponto positivo extra gostei muito da presença de J.K.Simmons mantido como J.J. Jameson, personagem que ele faz desde o primeiro “Homem-Aranha” (2002). Me pareceu uma boa medida para conectar está nova fase do herói aos filmes do Sam Raimi. Filmes estes - e falo apenas dos dois primeiros, pois o terceiro é muito ruim - que se aliam a “Longe de Casa” e à animação “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2017) como os melhores filmes do Homem-Aranha. 

RANKING: 

Se eu tivesse que fazer hoje o meu spider-ranking, ele assim ficaria: 

1.      “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2018)
2.      “Homem-Aranha: Longe de casa” (2019)
3.      “Homem-Aranha 2” (2004)
4.      “Homem-Aranha” (2002)
5.      “O espetacular Homem-Aranha 2: a ameaça de Electro” (2014)
6.      “O espetacular Homem-Aranha” (2012)
7.      “Homem-Aranha: de volta ao lar” (2017)
8.      “Homem-Aranha 3” (2007)


Cotação da Corneta: nota 8.