segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O melhor de Tarantino

“Well, Utivich. I think I made my masterpiece”. Quando o figuraça tenente Aldo “The Apache” Raine, espetacularmente interpretado por Brad Pitt, diz estas palavras com o seu sotaque de caipira do Tennessee parece o próprio Quentin Tarantino pensando consigo mesmo diante da mesa de edição. Eu não ficaria surpreso se após finalizar “Bastardos Inglórios”, Tarantino virasse para o espelho e dissesse, “bem, acho que fiz a minha obra-prima”. Pois foi isso que ele criou.

“Bastardos Inglórios” é o melhor filme de Tarantino. Ou o mais maduro como alguns já disseram. E quando sabemos que o diretor é o responsável por obras como “Cães de Aluguel” (1992), “Pulp Fiction” (1994) e os dois volumes de Kill Bill (2003 e 2004), tem-se a noção do peso destas palavras.

Responsável por criar alguns dos personagens mais interessantes do cinema como o Mr. Blonde (Michael Madsen) e o Mr. White (Harvey Keitel) de “Cães de Aluguel”, Vicent Vega (John Travolta), de “Pulp Fiction”, ou a Noiva (Uma Thurman) e Elle Dryver (Daryl Hanna), de “Kill Bill”, Tarantino junta a este time e outros não citados personagens que já estão entre os mais clássicos de sua curta, mas para lá de interessante cinematografia.

Além do já citado Aldo Raine, o diretor nos presenteia com o coronel Hans Landa, caçador de judeus em nome dos nazistas vivido pelo até então desconhecido ator austríaco Christoph Waltz. O papel lhe rendeu um prêmio de melhor ator no Festival de Cannes deste ano e deu novo impulso em sua carreira que estava muito focada em trabalhos de TV. Atualmente, Waltz, de 53 anos, filma “The Green Hornet”, novo trabalho de Michel Gondry, e vem recebendo outros convites.

“Bastardos Inglórios” é o que de melhor Tarantino já fez na roupagem que já conhecemos do diretor: sua eterna inspiração em Sérgio Leone, o liquidificador de citações pop e cinematográficas (e dessa vez ele está citando até ele mesmo), a violência usada de forma kitsch, seu fetiche pelos pés (aqui sai a Uma Thurman de “Kill Bill” e entra a lindíssima Diane Kruger, que vive a agente-dupla Bridget von Hammersmark) e os diálogos concisos do seu texto.

Como pano de fundo para a sua nova criação, Tarantino usa a França ocupada pelos nazistas durante a II Guerra Mundial. Nela, Landa é um eficientíssimo caçador de judeus a quem compara a ratos numa tensa cena inicial quebrada apenas por momentos bizarros como o desfrutar de um copo de leite pelo oficial alemão. Seu único objetivo é seguir o ideal de Adolf Hitler (Martin Wuttke): matá-los. E, citando o Wolverine, ele é o melhor no que faz dentro do Partido Nazista.

Seu contraponto é Raine, soldado judeu do exército americano que lidera uma tropa secreta, os Bastardos, toda formada por judeus cujo único objetivo é matar os nazistas com requintes de crueldade. Afinal, como Raine deixa claro, todo soldado sob o seu comando tem uma dívida com ele. É preciso matar pelo menos 100 nazistas e lhes trazer os seus escalpos. “And I want my scalps”, frisa o tenente.

Essa disputa entre Landa e Raine, que só vão realmente ficar frente a frente na parte final do filme, é entremeada por uma trama paralela de Shosanna (Mélanie Laurent), francesa dona de um cinema e filha de judeus que viu a família ser fuzilada por Landa e seus soldados e só foi poupada por um momento de clemência de Landa que não achou que seria divertido mata-la à distância enquanto corria. Afinal, o coronel se delicia com o sofrimento judeu.

Shosanna planeja sua vingança para o dia da grande festa nazista, a estreia do mais novo filme patrocinado pelo Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels (Sylvester Groth) que contaria com a presença do próprio Hitler. Uma chance de ouro de ataque para os Bastardos que poderia naquela altura significar o fim da guerra. E a infiltração deles no cinema rende uma cena das mais hilárias.

O desfecho não poderia ser mais "tarantinico" e até surpreende quem esperava algo na linha "batalha final". Com “Bastardos Inglórios”, o diretor atinge o seu ponto mais alto. O filme é a sua joia mais bem lapidada e é um prazer admirá-la dentro do cinema.

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