sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O melhor retrato do atoleiro no Iraque

Corri atrás neste Natal de “Guerra ao Terror”, o famoso filme que aqui no Brasil chegou direito em DVD, está concorrendo a três Globos de Ouro - melhor filme de drama, melhor diretor e melhor roteiro – e é exaltado em diversas premiações menores lá fora. O trabalho realmente é muito bom. Dos filmes que eu vi é o que melhor retrata o buraco em que os Estados Unidos se meteram entre o Afeganistão e o Iraque neste início de século XXI.

Tenso o tempo inteiro, ele acompanha a saga da companhia Bravo, que está a 38 dias de deixar o Iraque, um lugar onde qualquer passo em falso significa a morte e não se deve confiar em ninguém, principalmente se você é americano e, por isso, carrega nas costas o peso das cagadas do governo Bush.

A diretora Katrhyn Bigelow se concentra no trio de especialistas de uma espécie de esquadrão anti-bomba formado pelos sargentos JT Sanborn (Anthony Mackie), Owen Eldridge (Brian Geraghty) e William James (Jeremy Renner), este um outsider porra-louca que aparece nos últimos 32 dias em substituição ao sargento Matt Thompson (Guy Pearce), morto numa tentativa de desarmar uma bomba. Menos uma vida, mais um número na contabilidade do atoleiro do Oriente Médio.

Embora seja um filme de guerra, não espere ver muitas explosões ou confrontos no front. “Guerra ao Terror” é mais sobre a expectativa do que pode vir a acontecer, sobre a morte que está ali à espreita do que sobre heroísmos ou a bandeira americana içada em nome da glória e da vitória. É menos “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), mais “Além da Linha Vermelha” (1998), ou algo entre dupla de Clint Eastwood “A Conquista da Honra” (2006) e “Cartas de Iwo Jima” (2006).

Só que “Guerra ao Terror” é mais seco como o deserto iraquiana ali mostrado e sua tensão claustrofóbica é fantasticamente retratada pela câmera de Kathryn, cujo único trabalho anterior que eu conhecia era o ótimo e divertido “Caçadores de Emoções” (1991).

Seu personagem central é James, um cara atormentado que está tão ligado à adrenalina e à guerra que não consegue mais viver no “mundo real” com suas trivialidades. A passagem pela sua casa, o encontro com sua mulher e filho, é apenas um ínterim entre a última e a próxima batalha, que é só o que lhe interessa.

Na guerra, ele ainda demonstra alguns traços de humanidade, mas é diante do desafio de desarmar as bombas e na tensão daquele momento que ele se sente bem. É um filho daquela guerra que aguarda apenas o momento em que serão mais espertos que ele para que morra numa explosão de uma viela qualquer.

Um cara que tem uma família, mas não consegue mais se envolver com ela enquanto seus colegas contam os dias para sair daquele lugar. Alguns até com planos de constituir família.


No entanto, para William James só o que interessa é a próxima bomba a desarmar. O uniforme militar é a sua roupa e a guerra é a sua casa. Tudo sem heroísmos. Ele é apenas um cara atormentado que também não vê como sair daquela guerra. É um símbolo do resultado da política equivocada que enfiou o exército americano naquele buraco. E anda difícil sair dele.

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