quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Best Of 2015 - Cinema

'Sicário', o melhor filme de 2015
Sim, leitores de Memórias da Alcova, chegamos ao último dia do ano e, junto com ele, temos que listar os melhores e, claro, os piores filmes de 2015. É o momento da famosa premiação “Corneta Awards”. A regra aqui é clara: Todo e qualquer filme que estreou no Brasil entre 1º de janeiro e 30 de dezembro, também conhecido como ontem, está apto a entrar na lista. Os que passaram no crivo vão para o top-10. Os que fracassaram na cotação da corneta, vão para o top-5 do mal. Além disso, temos as premiações individuais com categorias marotas, salientes e malemolentes.

Sem mais delongas, comecemos pelos melhores e piores filmes de 2015. Sempre numa ordem de ranking porque listas e rankings são polêmicas e alimentam discussões de bar e de ceias de réveillon.

OS MELHORES FILMES

Como todo ano, chegar ao top-10 foi um trabalho árduo. Vinte e dois filmes ficaram na pré-lista da corneta. Logo, 12 deles precisaram ser cortados. Ficaram de fora, bons trabalhos como “Acima das nuvens”, “O jogo da imitação”, “Perdido em Marte” ou “Para sempre Alice”. Além de outros muito divertidos como “Kingsman: Serviço secreto”. Também foi com dor no coração que eu cortei da lista final “45 anos”, “Labirinto de mentiras”, o novo do Ken Loach, “Jimmy’s Hall”, e a estreia de Mélanie Laurent na direção com “Respire”, todos excelentes trabalhos. Sem contar “Aliança do crime”, um ótimo filme como Johnny Depp não fazia há muito tempo, o chileno “O clube” e o espanhol “Pecados antigos, longas sombras”. Todos ganham a menção honrosa.

Feitas estas ressalvas, vamos ao top-10 da corneta.

10º lugar – “O cidadão do ano” – Na ausência de um Tarantino neste ano, o diretor Hans Petter Moland fez a sua história particular de vingança estrelada por Stellan Skarsgard. Apesar do sangue jorrando pela tela, o filme norueguês é divertidíssimo, no melhor estilo do diretor americano que volta aos cinemas na semana que vem com “Os oito odiados”.

O drama turco 'Winter Sleep' entrou na lista
9º lugar – “Winter Sleep” – Sim é um filme turco. Sim, é um filme turco de três horas de duração. Mas é um excelente filme que aborda questões éticas, filosóficas e morais dentro de uma comunidade turca na Anatólia. Dê uma chance. A corneta “agarante”.

8º lugar – “O julgamento de Viviane Amsalem” – O “Corneta Awards” este ano está bem eclético. Este filme é israelense e dirigido por Ronit e Sholomi Elkabetz. É a história de uma mulher que deseja se separar do marido, mas sofre por anos para conseguir isso, pois ele não quer dar o divórcio, ao mesmo tempo em que têm o apoio de uma cultura machista e um rabino que privilegia a visão do homem na questão. Aos poucos, os diretores vão revelando as camadas da complexidade de um casamento falido, ao mesmo tempo em que expõe tudo com muita delicadeza. Ronit também é a atriz que faz Viviane e tem uma atuação excelente.

'Timbuktu: da Mauritânia para o top-10
7º lugar – “Timbuktu” – O filme dirigido por Abderrahmane Sissako foi o indicado da Mauritânia ao Oscar de filme estrangeiro. É um excelente trabalho sobre a atuação de jihadistas em uma comunidade no Mali impondo regras e o terror à população usando a lei islâmica como pretexto.

6º lugar – “Adeus à linguagem” – Ter um Jean-Luc Godard no top-10 é um luxo. E aos 85 anos, o diretor franco-suíço ainda consegue ser completamente diferente e inovador ao filmar pela primeira vez em 3D. Godard não está nesta lista apenas por ser um nome genial da história do cinema. Seu “Adeus à linguagem” é uma experiência sensorial única dentro de uma história filmada ao seu estilo sobre um casal em crise. Godard conseguiu fazer um 3D que vale a pena de ser visto, ao contrário de muita picaretagem que vemos por aí.

É muito amor á bateria
5º lugar – “Whiplash – em busca da perfeição” – Isto é uma obra única, amigos. O trabalho de Damien Chazelle vencedor de três Oscar é um filmaço sobre um rapaz que deseja obsessivamente ser o melhor baterista de jazz dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que lida com um professor que o faz ultrapassar todos os limites possíveis. Grande filme e um excelente trabalho da dupla principal, Miles Teller e J.K. Simmons. Este último merecidamente ganhou um Oscar de ator coadjuvante.

4º lugar – “Birdman” – Em meio a tantos filmes de super-heróis, Alejandro González Iñarritu nos deu um filmaço sobre um ator fracassado que tenta ser levado a sério no teatro anos depois de ficar famoso vivendo um herói dos quadrinhos no cinema. “Birdman” talvez seja a melhor atuação de Michael Keaton na carreira. Além disso, tem uma trilha sonora fantástica só com solos de bateria e um esquema de plano-sequências extremamente interessante. O trabalho venceu quatro Oscar, entre eles os de melhor roteiro, direção e filme.

Max esteve numa enrascada
3º lugar – “Mad Max – Estrada da Fúria” – Num ano de tantos retornos de velhas franquias do passado (Missão Impossível, James Bond, Star Wars, etc...), George Miller voltou quebrando tudo com o seu “Mad Max”. Com Tom Hardy no papel que outrora foi de Mel Gibson, o trabalho de Miller se destaca pelas excelentes cenas de perseguição e pela presença HIPNÓTICA de Charlize Theron no papel de Furiosa, a grande heróina do filme que fala sobre um futuro apocalíptico onde as pessoas brigam por um bem preciosíssimo: água. “Mad Max –Estrada da Fúria” é um filme-pipoca da mais alta qualidade. Tanto que andou vencendo prêmios nos EUA onde filmes de ação não costuma aparecer.

'O ano mais violento': filmaço
2º lugar – “O ano mais violento” – Com apenas 42 anos, o diretor J.C. Chandor já tem bons serviços prestados ao cinema. Fez o excelente “Margin Call”, décimo lugar no Best Of de 2011, e o bom “Até o fim”, sobre um navegador vivido por Robert Redford que têm que sobreviver sozinho às intempéries do Oceano Pacífico. “O ano mais violento” é uma história estrelada por Oscar Isaac e Jessica Chastain. O filme se passa em Nova York na década de 80 e conta a saga de um imigrante vivido por Isaac e sua esposa, que tentam prosperar nos negócios, mas não conseguem escapar da corrupção, decadência e brutalidade que dominam a região em que vivem.

Emily comeu o pão que o diabo amassou
1º lugar – “Sicário – terra de ninguém” – Excelente trabalho de Denis Villeneuve, diretor de “Incêndios”. Estrelado por Benicio Del Toro, Josh Brolin e Emily Blunt, o filme fala sobre a caçada americana para tentar destruir o violento cartel de drogas mexicano, que exporta quilos e mais quilos de cocaína e outras drogas para os Estados Unidos anualmente. É uma história violenta, dura, pessimista, mas cruelmente real ao retratar a brutalidade do cartel mexicano que vive na fronteira e as medidas nada ortodoxas dos americanos para lidar com os bandidos. É daqueles filmes sem mocinhos ou bandidos. Todos têm alguma culpa no cartório. Ótimo filme que merecidamente ganha o prêmio de melhor do ano da Corneta.

PIORES FILMES:

Depois das flores, a hora dos espinhos. Vamos para as cinco maiores bombas de 2015.

5º lugar – “Caminhos da Floresta” – Junte todos os contos de fada, dê uma chacoalhada e transforme num musical. Isso é “Caminhos da Floresta”, um dos filmes mais PAVOROSOS de 2015. Talvez só Anna Kendrick e Meryl Streep se salvam dessa tragédia.

'Quarteto fantástico': vergonha alheia
4º lugar - “Quarteto Fantástico” – Existe uma caveira de burro enterrada nos sets de filmagem de todo filme do Quarteto Fantástico, uma história em quadrinhos tão legal que só gera filme ruim. Esta é a terceira bomba já feita sobre o grupo. Realmente Hollywood não consegue acertar quando se trata de Red Richards, Sue e Johnny Storm e Ben Grimm.

3º lugar – “Cinquenta tons de cinza” – Esta é uma das grandes vergonhas de 2015. Como se não bastasse o roteiro ruim, a história pífia e as atuações constrangedoras, este “Sabrina” com raio gourmetizador ainda iludiu o mundo naquilo que prometia mais. Sim amigos, Dakota Johnson usou um dublê de corpo.

2º lugar – “Olhos da Justiça” – “O secreto dos seus olhos”, o filme argentino de Juan José Campanella, foi eleito pelo “Corneta Awards” o melhor filme de 2010. Era um filmaço. Esta versão americana é PÍFIA e um desperdício absoluto de talentos (Julia Roberts, Nicole Kidman, Chiwetel Ejiofor, etc...). Fica a pergunta: Por que refilmar uma história que já era excelente? Só para ter alguém falando em inglês? Patético.

Defina constrangimento
1º lugar – “Sexo, amor e terapia” – Uma verdadeira afronta ao tradicional cinema francês, “Sexo, amor e terapia” quebrou todos os paradigmas de ruindade em 2015. Uma história horrorosa, personagens toscos, roteiro patético e um desperdício de talentos como Sophie Marceu e Patrick Bruel. O filme é um strike de coisas horríveis. Passe longe. Não veja na TV, não faça download. É o primeiro filme nota zero da história da corneta. Esqueça dele e terás uma vida próspera.

MAIS PRÊMIOS DA CORNETA:

Troféu decepção de 2015 – Era grande a expectativa pelo final de “Jogos Vorazes”, mas a segunda parte do tomo “A esperança” revelou-se um fracasso. No fim, o cinema mudou coisas fundamentais do livro e o transformou num grande conto de fadas. Faltou ousadia e alegria para fazer um verdadeiro clássico.

O herói do ano – Harry Hart (Colin Firth), o herói de “Kingsman” teve seus momentos incríveis, enquanto Ethan  Hunt (Tom Cruise em “Missão Impossível: Nação Secreta”) é sempre um candidato, mas o ano, amigos, é de Bond, James Bond. Num dos melhores filmes da série, “Spectre”, 007 voltou na pele de Daniel Craig para salvar o mundo, tomar martinis e transar com Bond Girls como manda o figurino. Tudo sem amarrotar o terno. É novamente um herói de classe como os fãs gostam.

Blofeld, o arqui-inimigo de Bond
O vilão do ano – Também de “Spectre” sai o vilão de 2015. Ernst Stavro Blofeld (Christoph Waltz) voltou para atazanar a vida de Bond e para a alegria dos fãs da série. Waltz ainda promete aprontar muito na série.

O retorno do ano – Num ano de muitos retornos de séries clássicas (007, Missão Impossível, Mad Max), acho que nada foi mais esperado do que a volta de “Star Wars”. E o novo filme, “O despertar da força” não decepcionou. J.J. Abrams nos entregou um filme de fã para fã e que abre uma série de possibilidades para o futuro. Defintivamente, “Star Wars” ganha o troféu “Comeback of the year”.

No filme não vale nada, mas gostamos de você
A musa de 2015 – Esta é das categorias mais importantes do “Corneta Awards”. E pela primeira vez na história teremos uma bicampeã. Vencedora do troféu em 2012, Jessica Chastain leva novamente o prêmio pelo conjunto da obra em dois filmes de 2015: “O ano mais violento”, quando fez uma trambiqueira, maior 171, mas que amamos, e “Perdido em Marte”, quando ela era uma nobre capitã da espaçonave que resgata Matt Damon do planeta vermelho. Impossível resistir a essa ruiva, que agora carrega o seu segundo troféu de musa para casa. E relembrando todas as campeãs até aqui: Sharon Stone (2006), Eva Mendes (2007), Penélope Cruz (2008), Kate Winslet (2009), Anna Mouglalis (2010), Cecile de France (2011), Jessica Chastain (2012), Melanie Laurent (2013) e Eva Green (2014).

A melhor cena de sexo – “Love” é um filme muito ruim, bem ruim, mas o trabalho de Gaspar Noé ficou famosinho por duas coisas: muito sexo e tudo isso feito em 3D. Fiquemos então com um ménage clássico entre os três personagens principais para que este filme não saia de mãos abanando de 2015.

A melhor cena de briga – Nada, absolutamente NADA, supera a cena da igreja protagonizada por Colin Firth em “Kingsman: Serviço Secreto”. Coisa de obra-prima. (VEJA AQUI)

O filme Sessão da Tarde do ano – Divertido como um velho filme de espião dos anos 60, “O agente da U.N.C.L.E” é daqueles filmes tão leves e legais que merecia ter um segundo. De preferência com uma participação maior de Hugh Grant, que esteve impagável no pouco tempo que apareceu.

A cena mais absurda – Bem que Liam Neeson tentou levar esse prêmio ao parar um avião que estava decolando jogando um Porsche contra o trem de pouso da aeronave em “Busca Implacável 3”, mas nada supera a picaretagem de um carro atravessando DE UM PRÉDIO GIGANTESCO PARA O OUTRO em Dubai de “Velozes & Furiosos 7”. É a cena mais absurda de um filme cheio de loucuras. Uma divertida obra picareta. (VEJA AQUI)

Os melhores roteiros – Top-5 de 2015: “Whiplash – em busca da perfeição”, “Birdman”, “O ano mais violento”, “O Clube” e “Sicário”.

Os piores roteiros - O top-5 do mal: “Sexo, amor e terapia”, “Love”, “Quarteto Fantástico”, “Cinquenta tons de cinza” e “Chappie”.

'Adeus à linguagem', filmaço de Godard
O filme francês do ano – “Samba” merece uma menção honrosa, mas pelos motivos expostos no top-10, “Adeus à linguagem” é o filme francês de 2015.

O filme argentino do ano – Pablo Trapero nos deu o bom “O Clã”, que conta a história de uma família que ganhava a vida fazendo sequestros durante a ditadura argentina. Tem um plano-sequência em uma cena do jantar que é maravilhoso.

O filme brasileiro do ano – Talvez seja a grande injustiça do “Corneta Awards – 2015”. Como não consegui ver “Que horas ela volta?”, o filme não poderá ser votado. Mas acho que o documentário “Chico Buarque: artista brasileiro” está bem representando aqui.

O filme de quadrinhos do ano – Nem Marvel, nem DC. O prêmio deste ano ficará com “Kingsman: Serviço secreto”, filme baseado nos quadrinhos de Mark Millar. Foi um dos mais divertidos de 2015.

O filme-pipoca do ano – Perdão “Star Wars”, perdão 007, perdão “Missão Impossível”, mas o grande filme-pipoca de 2015 é “Mad Max – Estrada da Fúria”.

O melhor filme ruim – Você ainda não viu “O sétimo filho”? Não sabes o que está perdendo. Tem Jeff Bridges canastrão, tem Julianne Moore fazendo uma bruxa e tem uma história de amor estilo Romeu e Julieta, com a diferença que os protagonistas não morrem. É tosco, mas é divertido.

Os melhores diretores – Damien Chazelle (“Whiplash – em busca da perfeição”), Alejandro Gonzalez Iñarritu (“Birdman”), Jean-Luc Godard (“Adeus à linguagem”), Denis Villeneuve (“Sicário”) e, claro, George Miller (“Mad Max – Estrada da Fúria”).

Os piores diretores – Billy Ray (“Olhos da Justiça”), Gaspar Noé (“Love”), Sam Taylor-Johnson (“Cinquenta tons de cinza”), Neil Blomkamp (“Chappie”) e Tonie Marshall (“Sexo, amor e terapia”).

Melhores atuações masculinas – Johnny Depp (“Aliança do crime”), J.K. Simmons (“Whiplash”), Eddie Redmayne (“A teoria de tudo”), Oscar Isaac (“O ano mais violento”) e Mark Rylance (“Ponte dos Espiões”).

Piores atuações masculinas – Patrick Bruel (“Sexo, amor e terapia”), Hugh Jackman (“Chappie”), Collin Farrel (“Miss Julie”), Chris Pratt (“Jurassic World”) e Miles Teller (“Quarteto Fantástico”).

Marion Cotillard no filme dos Dardenne
Melhores atuações femininas – Charlotte Rampling (“45 anos”), Emily Blunt (“Sicário”), Helen Mirren (“A dama dourada”), Amy Adams (“Grandes Olhos”) e Marion Cotillard (“Dois dias, uma noite”).

Piores atuações femininas – Dakota Johnson (“Cinquenta tons de cinza”), Bryce Dallas Howard (“Jurassic World”), Sophie Marceu (“Sexo, amor e terapia”), Kate Mara (“Quarteto Fantástico”) e Aomi Muyock (“Love”).

E assim termina o Best Of 2015. É claro que ano que vem continuarei cornetando tudo e todos. Um feliz ano novo para todos os que me aturaram neste ano. Em 2016 tem mais. 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Best Of 2015 - Música

Eddie Vedder no Maracanã/Site do PJ
Fim de ano e é chegada a hora de fazer a tradicional lista dos melhores e dos piores nas diversas categorias de música e cinema aqui em Memórias da Alcova. Hoje elegerei os cinco melhores shows do ano e a bomba atômica de 2015.

Foi um ano de recordes. Graças a dois festivais acompanhados in loco e a uma sequência matadora de espetáculos, presenciei um total de 45 shows. Por isso, foi ainda mais difícil encontrar o top-5. Isso fez com que grandes apresentações ficassem de fora da lista. Casos do Rival Sons, que brilhou no Monsters of Rock junto com o Ozzy Osbourne, e de destaques do Rock in Rio como Queen + Adam Lambert, Metallica, Mastodon e Queens of the Stone Age.

Mas a regra é clara. Só cabem cinco shows e estes foram os melhores de 2015.

5º lugar – Caetano Veloso e Gilberto Gil – Junte dois banquinhos, dois violões, um cenário simples e duas lendas da música brasileira. Esta é a receita do sucesso da turnê “Dois amigos,um século de música” que a dupla de septuagenários levou para o Circo Voador no dia 5 de dezembro. Os cariocas vibraram com o show na Lapa e um repertório que cobriu toda a carreira dos mestres do Tropicalismo. Fica como o grande show nacional de 2015. Um ano que teve ainda como menção honrosa o Raimundos, que abriu para o Foo Fighters em janeiro.

O Royal Blood, boa surpresa do RIR
4º lugar – Royal Blood – A banda de Brighton, na Inglaterra, se apresentou no segundo dia do Rock in Rio, em setembro, e foi uma das gratas surpresas do festival em um dia em que o Metallica era a atração principal. A dupla formada pelo baixista e vocalista Mike Kerr e pelo baterista Ben Tatcher tem apenas um disco lançado, não trabalha com guitarras e mesmo assim fez um show FEROZ. Kerr e seu baixo envenenado ganharam o respeito da galera e ganharam deste blogueiro o troféu “Não conhecia e amei”. Menções honrosas nesta categoria para o Mastodon, o Halestorm e o Rival Sons, que também brilharam no Rock in Rio (os dois primeiros) e no Monsters of Rock, respectivamente.

3º lugar – Robert Plant – A eterna voz do Led Zeppelin veio ao Brasil em abril para a turnê do seu novo álbum, “Lullabyand... The ceaseless roar”, lançado no ano passado. Plant mostrou estar mais à vontade na nova fase da carreira, mas sem negar o legado de sua banda original. Alternou novas canções, com músicas do Led e, aliado a uma excelente banda, fez um show inesquecível no Citibank Hall (que depois voltaria a se chamar Metropolitan. Deus, como esse lugar muda de nome).

O System of a Down fez um show hipnótico
2º lugar – System of a Down – A banda dos americanos/armênios já tinha feito um excelente show em 2011, quando foram incluídos no Best Of daquele ano também na segunda posição. Quatro anos depois, eles voltaram ao Rock in Rio para fazerem simplesmente o MELHOR show do festival. Não teve para ninguém, foi o show mais insano, mais intenso, mais hipnotizante. E, por isso, novamente Serj Tankian e sua banda figuram em um top-5 de Memórias da Alcova.

O melhor do ano – Pearl Jam – Já podemos dizer que configura uma rivalidade. Mais uma vez quem desbancou o System of a Down foi a banda de Seattle que lotou o Maracanã em novembro para mais uma vez fazer um show incrível no Rio de Janeiro. Quem viu em 2005 e viu em 2011 não se arrependeu de voltar em 2015 para ver um Pearl Jam brilhar no estádio no show da turnê do novo disco “Lightning Bolt”, lançado em 2013. De “Oceans”, música que abriu os trabalhos, até “Yellow Ledbetter” foi uma apresentação impecável, fazendo com que a banda americana ganhasse merecidamente o troféu de melhor show de 2015.

O pior show do ano – Nem tudo são flores na vida deste blogueiro. Do mesmo jeito que eu vi grandes concertos, também fui obrigado a aturar algumas bombas. No Rock in Rio tivemos várias. Só em um único dia, teve One Republic e The Script, bandas que não deixaram saudades. Em outro, o Mötley Crüe espalhou tanta farofa no palco que mais parecia um despacho do que um show. Mas é do Monsters of Rock que vem a grande furada de 2015. O Black Veil Brides parecia um Mötley Crüe piorado, foi vaiado e seu vocalista ainda foi irônico com a plateia, visto que vinha sendo alvo de ataques. O show foi ruim, houve animosidade de ambas as partes, enfim, não funcionou. Assim, o troféu abacaxi de 2015 vai para o Black Veil Brides.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Que a Corneta esteja com você

Rey e Finn correm do perigo
J.J. Abrams criou "Lost". "Lost" era aquela série que deixou todo mundo boladão na frente do computador (você não viu na TV que eu sei) e acabou daquela forma pífia. Pela decepção de "Lost", J.J. Abrams foi informalmente condenado pelos deuses da nerdice a um programa de reabilitação que consistia em fazer filmes divertidos de velhas franquias do passado. 

Assim ele fez o seu trabalho. Pegou Tom Cruise e Phillip Seymour Hoffman e criou um novo Missão Impossível seis anos depois do segundo filme. Em 2009, arriscou-se no pantanoso terreno dos trekkies e fez um reboot/continuação de Star Trek. Não satisfeito, ele fez um segundo Star Trek em 2013. Alguns fãs curtiram. Outros detestaram. Para mim, que não sou fã, ele fez um bom trabalho. 

J.J. Abrams é um nerd master na escala Jedi. Era inevitável que chegasse em suas mãos um novo “Guerra nas Estrelas” se alguém decidisse fazer um novo filme. 

Depois da trilogia que causou calafrios entre 1999 e 2005 (Jar Jar Binks chegou a ser tão odiado pelo povo quanto o Eduardo Cunha), mexer nesse vespeiro era complicado. Mas J.J. Abrams é um nerd pós-moderno. Ele tem...... (Insira aqui aquela expressão de macho bêbado de boteco). 

E assim, a corneta voltou de uma galáxia muito distante para celebrar o despertar de uma nova era. Para se render a J.J. Abrams, virar para ele e dizer: “obrigado, amigo. Star Wars ficou muito legal. Nem a Disney atrapalhou. Posso tirar uma foto sua com o meu boneco do Luke Skywalker?”.

Apesar de todas as viagens intergalácticas na velocidade da luz, batalhas e uma grande mitologia, “Star Wars” sempre foi uma história de uma família bem complicada. É pai que não fala com o filho, parentes que não se bicam. Se dependesse de George Lucas, seria muito difícil ter um Natal harmonioso com todos sorrindo, comendo rabanadas e fazendo snapchats da família. 

Além disso, “Star Wars” sempre foi uma luta simples do bem contra o mal como eram as histórias ali nos anos 70 e 80. No canto direito, o lado negro da força comandado por Darth Vader. No canto esquerdo, a filosofia budista do lado branco e da força do mestre Yoda (e sua gramática particular) e seus Jedis. De um lado, sabres de luz vermelhos (George Lucas sempre achou que vermelho e preto eram a combinação do mal). Do outro sabres azuis para iluminar o caminho contra as trevas. 

O grande mérito de J.J. Abrams foi não mexer no time que estava ganhando nos anos 80. O que leva o "Despertar da Força" a ser tão legal é uma combinação de tradição, nostalgia e uma pitada de ousadia que farão os fãs caírem para trás. Todos os ícones aparecem em algum momento. A Millenium Falcon, os robôs R2D2 e C3PO, a trilha sonora característica, o início do filme com um textão igual aos que eu gosto de publicar no Facebook... Só faltou mesmo quem não podia estar por motivos de morte. Imagina se a Melisandre surge de “Game of Thrones” ressuscitando uma galera que morreu em outros filmes?

Chewbacca e Solo: momento good times
"O despertar da Força" se passa décadas depois dos eventos ocorridos em “O retorno de Jedi” (1983). Todo mundo está com rugas e cabelos brancos. Menos o Chewbacca. Luke Skywalker (Mark Hamill), nosso grande herói, está desaparecido. E todos estão atrás dele como quem procura o Santo Graal. Até onde se sabe (e a gente fica sabendo algumas coisas pelo textão que se esvai pela galáxia), ele tinha montado uma divisão de base de guerreiros Jedis, mas o projeto de La Masia não deu muito certo por causa de uma ovelha negra. Tipo como se o Messi fosse para o Real Madrid. Aí ele ficou desapontadozinho e desapareceu no mundo. Ou melhor, pelos mundos. 

Seguindo uma tendência de acúmulo de cargos e funções após cortes de pessoal nas empresas, Leia (Carrie Fisher) ainda é da realeza, mas também é uma general do exército rebelde. E Han Solo (Harrison Ford), bem, virou um contrabandista trambiqueiro. Mas ele ainda tem um bom coração. E virou o avô que todo mundo queria ter. Revê-los depois de décadas vai balançar o coração dos nerds. 

Mas como se passa no futuro, o novo “Star Wars” urge inserir novos personagens. O momento vivido pela galáxia está um pouco complicado. A tal da Primeira Ordem quer transformar a galáxia num império comandado por Kylo Rein (Adam Driver), o vilão de preto e máscara da vez. Só que para isso precisa esmagar a República e os rebeldes, o exército de Leia e do piloto fodão Poe Dameron (Oscar Isaac). 

No meio dessa bagunça toda, dois jovens losers e meio perdidos na vida entram no  circuito. Um deles é Finn (John Boyega), um Stormtrooper desgarrado que quer apenas fazer o que acha certo e arrasta uma asa para a Rey (Daisy Ridley). Quem é ele? O que come? Qual a sua origem? De onde veio? Perguntas que só serão respondidas no próximo filme. Ou no Globo Repórter.

Rey, por sua vez, é outra mulher, cuja origem ainda é envolta em brumas. Não sabemos sua origem (mas desconfiamos), nem porque ela foi parar num planeta ferro-velho. Rey é a grande heroína do novo filme. Em meio a todo o mix de aventuras, nostalgia, citações, bichos estranhos e batalhas, é a jornada de Rey o foco central do filme de Abrams. E podemos imaginar o quanto ela não vai aprontar até o episódio IX em 2019.

Ainda ouviremos falar muito de Rey. Mas enquanto o futuro não chega, eu só penso em ter uma réplica do BB-8 na minha casa. Contudo, eu já desisti ao ver que ele custa R$ 2,7 mil no site da “Saraiva”. Em homenagem ao BB-8, no entanto, a Corneta dará uma nota 8 para o novo “Star Wars”. É isso, até 2016. E no ano que vem, que a Corneta esteja com você.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Caetano and Gil unplugged

Caetano e Gil só no violão/Marcelo Alves
A corneta resolveu se aventurar numa praia diferente nesta semana. Mesmo abalada pela morte de Scott Weiland (um minuto de silêncio, por favor), era dever de ofício voltar ao Circo Voador para uma análise MALEMOLENTE sobre este Caetano and Gil Unplugged. Mas vamos ao que interessa. Contamos tudo o que aconteceu na primeira das três nights desta dupla de baianos quase tão boa quanto o Bobô e Charles no Bahia campeão brasileiro de 1988.
1. Caetano e Gil têm, juntos, 146 anos de idade. O show compreende 51 anos de música. Desde uma composta em "1963 ou 64", como diz Caetano, até "As Camélias do Quilombo do Leblon", que foi feita praticamente semana passada pela dupla. Viu, Roger Waters? Pelo menos o tour pela Europa, incluindo Tel Aviv, serviu para o trabalho criativo. 

2. Gil estava vestido de pai de santo e totalmente despojado. Até de chinelinho. Caetano tinha uma postura mais rock and roll. Calça jeans, tênis e camisa fashion.

3. Cada um teve direito a uma sambadinha. É claro que eles se saíram melhor do que o Rubinho em toda a sua vida. 

4. É meio estranho estar num show em que a galera não se veste de preto. Povo esquisito esse. 

5. Caetano cantou em português, inglês ("Nine out of team"), espanhol ("Tonada de Luna Llena") e italiano ("Come Prima"). Isso é muita tirada de onda. 

6. Gil é o rei do arpejado na dupla. Bateu fundo no meu coração a vontade de voltar a estudar música. 

7. É sempre um prazer ouvir "Tropicália" ao vivo. Uma grande canção. 

8. O cenário minimalista era também uma aula de geografia. Mas eu duvido que alguém presente conseguisse identificar de onde eram todas as bandeiras no alto do palco. 

9. O momento político conturbado gerou uma ressignificação e um reposicionamento da letra de "Odeio Você" que ganhou um "Cunha" de complemento a cada vez que o refrão era entoado. Caetano curtiu. Nota-se o quanto o marido da Claudia Cruz é querido pelas massas. 

10. Uma galera fazia shhhhh e pedia silêncio o tempo todo. Lamentável. Esqueceram que estavam no Circo e achavam que estavam num show do João Gilberto, o mala-mor da música brasileira. 

11. "Expresso 2222", "Nossa gente (avisa lá)", "Coração Vagabundo", "Domingo no parque", "A luz de Tieta" e "Aquele abraço" foram as mais cantadas. Para desespero da galera do shhhhh. 

12. Houve um tempo em que as pessoas tiravam fotos ruins de celulares ruins. Avançamos. Chegamos ao estágio dos vídeos gravados. Avançamos. A nova moda é gravar áudios de WhatsApp de uma música para mandar imediatamente para quem não está no show. É a curtição on line, on time, full time. Aceita que dói menos. 

13. Foram surpreendentes duas horas de show e 30 musicas. Os velhinhos ainda dão muito caldo. 
14. Sempre tive uma implicância gratuita com "Leãozinho". Achava o "Obla-di Obla-dá" do Caetano. Mas achei ela mais simpática neste Caetano and Gil unplugged. 
15. Cotação da Corneta: nota 8.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Nem tão chatô assim

Marco Ricca brilha como Chatô
"Chatô" levou vinte anos para ser feito. Foi mais tempo que o "Chinese Democracy", do Guns N'Roses. Foi mais tempo do que "Boyhood" (2014), de Richard Linklater, que ao contrário dos exemplos anteriores, propositalmente levou 12 anos para ser finalizado. Foi tanto tempo que dois atores do filme morreram e aparecem nos créditos como "in memorian".

Quando "Chatô" começou a ser feito, o presidente era Fernando Henrique Cardoso, o Real era uma moeda novíssima e o Fluminense nunca tinha sido rebaixado. Naquela época, ainda existia a Iugoslávia (ainda que só Sérvia e Montenegro fizessem parte dela), enquanto iniciávamos nossas conversas no ICQ com a pergunta "quer teclar?". Ah, as madrugadas que passávamos em claro para pagar mais barato pela internet. Nenhuma saudade. Era um outro mundo de um filme que começou a ser produzido em um século e terminou em outro. 

Diante disso, a Corneta esperava que este filme fosse uma daquelas bombas históricas. Mas era uma obrigação moral ver. Eu ouvi o resultado final do "Chinese Democracy". Tinha que ver como "Chatô" nasceu. 

Polêmicas e processos à parte, recadinhos diretos no fim também, "Chatô" decepciona mais pelo personagem em si do que propriamente o filme. Vivido de forma LISÉRGICA por Marco Ricca, Assis Chateaubriand parece um jagunço sem limites, que se acha dono do Brasil (quiçá do mundo) extremamente poderoso, desbocado, misógino (em tempos de #meuamigosecreto ele ia apanhar em pau de arara da mulherada), canalha, entre outras possíveis alcunhas que fariam esse texto ter 4.533.745 parágrafos. 

Mas Chatô também era um louco até certo ponto visionário que comandou um jornal importante na história do Hell de Janeiro, o Diários Associados, e fundou a TV Tupi do zero. Tudo teve relativo sucesso, tudo não existe mais. Pois a mesma ousadia e porra-louquíce que fez Chateaubriand levantar o seu império de comunicação, ajudou a fazer tudo definhar em dívidas. Pelo menos é o que o filme passa. 

O filme de Guilherme Fontes por vezes parece um episódio dos “Trapalhões”. Tem momentos de comédia exagerada padrão Zorra Total. Tudo ali é exagero, tudo é expansivo e às vezes caricato. E a Corneta acha que não funcionou muito bem. 

Por outro lado, a ideia de contar a história de Chatô através de um ensaio quase onírico com um julgamento de sua vida e sua figura tão controversa num show de TV semelhante ao do Chacrinha ficou muito interessante. Pode causar estranhamento em alguns. Outros poderiam achar o filme doido. Eu mesmo demorei a aceitar esta versão pouco ortodoxa da cinebiografia, mas ao fim achei uma boa sacada do Guilherme Fontes. Estrelinha para ele. 

Outro ponto positivo de “Chatô” é a atuação de Ricca como o personagem principal. Apesar de todos os excessos do personagem, ele é o que melhor encarna o seu papel em um filme cheio de ótimos e conhecidos atores com performances, por vezes, abaixo do esperado. O Getúlio Vargas de Paulo Betti talvez seja o maior ponto fora da curva. Prefiro muito mais a versão do Tony Ramos em "Getúlio" (2014). 

Perto do que se esperava (um filme sem pé nem cabeça com uma história montada de qualquer jeito) até que "Chatô" se saiu melhor do que a encomenda. Mas está longe de ser um filmaço, mesmo sendo lançado numa época cheio de filmes brasileiros meia-boca e comédias blergh. Diante de seus pares, Chatô até se sobressai. Mas na análise da Corneta o filme ganhará uma nota 6.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Pearl Jam - Jogo de volta

Eddie Vedder espalha a palavra/Reprodução
Uma semana depois do show de São Paulo, o Maracanã recebeu o jogo de volta do mata-mata com o Pearl Jam. Que coisa maravilhosa. Acho que dessa vez foi 8 ou 9 a 1. Sete a um seria muito pouco para o que vimos. Só o que nos resta neste momento é uma análise malemolente. 

1- A apresentação do Pearl Jam no Maracanã foi mais uma a comprovar a minha tese de que o último show de uma turnê pelo Brasil é sempre o melhor. Comparando com o de São Paulo, que foi o outro que vi, foi melhor. E olha que o do Morumbi tinha sido ótimo. Mas o do Maracanã se alinha muito perto daqueles inesquecíveis como os de 2005 e 2011. 

2- Num ano em que o futebol carioca fez figuração, teve um time na Série B e tem outro quase tragado para a segunda divisão, não é exagero dizer que o maior espetáculo que o Maracanã viu em 2015 foi o de ontem. 

3- Poucos notaram, mas entre tantos fatos relevantes do show havia um que é um retrato do poder da música e do amor de alguém por uma banda. Entre os milhares de espectadores, havia um cego na pista. Ele não podia ver, mas sentiu o show tanto quanto todos os fãs que estiveram no estádio. Ele cantava e dançava em "Black" ou "Even Flow" com a mesma empolgação de quem podia ver a banda no palco. Não sei quem ele é, mas foi emocionante e esse cara é um exemplo. 

4- O Perl Jam começou com "Oceans", a melhor canção do grupo para cidades de praia como o Rio, com seu clipe da galera pegando onda e numa boa. 

5- Ninguém levou mais toco na noite do que os vendedores de batata frita. Todos saiam oferecendo de todo jeito. Alguns disseram até que era "sem colesterol e fazia parte da dieta", mas o preço salgado (R$ 15) assustou as pessoas, que, em tempos de crise, preferiram jejuar. 

6- Certa vez, alguém virou para um Eddie Vedder impressionado com a histeria dos fãs dos Ramones e questionando se um dia tocaria para tanta gente no Brasil e disse: "O lugar do Pearl Jam no Brasil é em estádios". Depois de dois shows na Apoteose, o dia finalmente chegou e o cantor estava satisfeito: "É uma honra encher o Maracanã".

7- Foi um show ainda sob os efeitos de Paris, principalmente porque a banda descobriu que um dos mortos no Bataclan era fã do Pearl Jam. O grupo aproveitou para fazer um cover do Eagles of Death Metal, que tocava na capital francesa quando aconteceu o atentado. 

8- Foram 34 músicas e 3h de um espetáculo mais nostálgico. O disco novo, "Lightning Bolt", contribuiu com apenas três canções, enquanto tivemos sete do "Ten", quatro do "No Code" e outras quatro do Vitalogy", que neste domingo completava 21 anos de lançamento. 

9- Tivemos ainda seis covers. Entre eles, claro, "Rockin' in the free World", do Neil Young, "Imagine", de John Lennon, e "Comfortably Numb", do Pink Floyd. 

10- Como é dura a vida desde o advento da pista VIP/Premium/Coxinha. Mesmo na grade da pista comum eu me vi tão distante do palco... 

11- Carioca é mais animado que paulista e canta tanto e tão alto que em algumas musicas mal dava para ouvir a banda. 

12- Por outro lado, os paulistas deram um banho de tchururu tchutchururu em "Black". Os cariocas foram mais tímidos, mas compensaram e deram um banho nos paulistas nos GEMIDOS de "Jeremy" e "Alive". 

13- O número de camisas de flanela esteve dentro da média atual de 5% das pessoas usando. Mas Eddie Vedder levou uma para manter a tradição. 

14- O cantor, aliás, realizou o sonho máximo de qualquer fã. Deixou que ele cantasse uma música. Inicialmente Vedder disse que só pagaria uma bebida para o fã que garantia que era seu aniversário. Duas músicas depois, o cidadão subiu no palco, bebeu do vinho do cantor (até eu beberia se o Eddie Vedder tivesse me oferecido) e cantou a primeira estrofe de "Porch" para delírio e INVEJINHA dos demais presentes. 

15- A banda estava em casa e bem bagaceira. Eddie Vedder foi pra galera, brincou, fez piada e tomou cachaça. O baixista Jeff Ament fez uma cara de quem não curtiu muito e achou meio azedo. Já Mike McCready ficou até sem camisa no maior clima churrascão de domingo. 

16- Mas nada superou o quesito nonsense do que a pessoa que jogou uma SUNGA VERMELHA no palco num efeito Wando às avessas. Eddie Vedder olhou, riu, foi zoado pelo guitarrista Stone Gossard, esqueceu que tinha que cantar, a colocou na cabeça e, no fim, a vestiu por cima da bermuda, pois se o Superman pode, ele também pode. 

17- "Corduroy", "Do the evolution", "Amongst the waves", "Given to fly", "Jeremy", "Better Man" e "Alive". Foi lindo e puro amor. Se tivesse rolado "I am mine", "Animal" e "State of love and trust" teria sido ainda mais. 

18- O saldo final da minha loucura é 6h de show, 67 músicas e um sentimento: se tivesse outro show amanhã eu iria de novo. 

Cotação final da corneta: 9,5.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A derrapada de Jogos Vorazes

Katniss sabe onde atirar
Imagina a situação. Você passa quatro anos acompanhando uma série e no momento derradeiro, na hora daquele fim apoteótico, ela desvela-se uma novela de Manoel Carlos. Eu poderia estar falando de "Lost", mas na verdade estou é falando de "Jogos Vorazes"

O último filme finalmente chegou até nós após a picaretagem de dividir o último livro em dois filmes. Rolou toda aquela expectativa. O que Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) faria além gritar PEEEEEETAAAA, chorar, as sentir culpada até pela morte das formigas que ela pisa e não se decidir sobre com quem realmente quer dividir o status de relacionamento sério no Facebook e procriar? 

Todas essas questões ainda estão presentes no filme, pois afinal ela é uma jovenzinha em formação cheia de inseguranças e questões e que desde cedo tem a responsabilidade de salvar o mundo em uma guerra. Tudo apenas com o seu arco e flecha de qualidade bem inferior ao do Gavião Arqueiro. 

Mas Katniss estava menos Robin Hood agora e mais com um jeitão da Noiva de Uma Thurman em "Kill Bill" (2003). Ela vira para as câmeras de TV faz cara de conteúdo e diz: "I wanna kill Snow" (o presidente de Panem vivido por Donald Sutherland, não o Jon Snow que torcemos para ressuscitar). 

Com essa missão, ela junta um esquadrão de elite e propaganda para invadir a Capital e executar o seu objetivo. Katniss tem sede de sangue. Ela não quer fazer campanha política com a equipe do Nizan Guanaes que a acompanha. 

Aqui o filme se divide em dois. De um lado e com muito mais foco, temos a saga de Katniss passando de fase neste videogame até o sonhado confronto final com o mestre. Ela enfrenta fogo, tiros, petróleo assassino, pequenas traições, soldados... enfim é preciso ser completa para chegar na fase final. 

Do outro lado a política ferve. Afinal, ninguém quer derrubar um governo para deixar a cadeira vazia, não é presidente Coen (Julianne Moore e seus cabelos grisalho-escorridos). 

Parece óbvio que em algum momento a guerra e a política vão se cruzar. Mas antes disso teremos beijinho no moreninho, beijinho no lourinho, chantagem emocional (você não gosta de mim, você gosta dele, você não me ama mais, verdadeiro ou falso? blá-blá-blá), uma mulher indecisa, algumas mortes e muito chororô. 

Mas ainda assim, o terço final do filme se encaminha de uma forma gloriosa. Reviravoltas, discussões sobre como o poder pode corromper as pessoas, sobre como a propaganda pode ser uma arma assassina, e até visão pessimista da humanidade, sempre disposta a se destruir para conseguir o seu objetivo. "Jogos Vorazes" está muito longe de ser um conto de fadas. 

O problema é que o filme parece ter o fim daquele personagem da “Escolinha do Professor Rainundo”. Na hora de tirar o 10, refuga feito um Baloubet e põe tudo a perder. É quando os distritos viram um Leblon e Manoel Carlos assume o roteiro. Por que, Brasil? Por que Panem? Por que Katniss? Por que Suzanne Collins?

Fui apurar com um especialista em "Jogos Vorazes", dar voz a um fã antes da nota final da Corneta. E descobri que o último filme tem modificações cruciais em relação ao livro e que fazem aquele beirar o ridículo e este me dar até vontade de ler o livro. E aí eu pergunto: por que Suzane Collins? Por que deixar isso acontecer? Estragou a sua obra no cinema. 

"Jogos Vorazes" teve um início muito bom, um segundo filme excelente, mas faltou ousadia e alegria nos capítulos finais. A revolução anunciada levou a uma guinada conservadora de fazer a Branca de Neve puxar um lencinho branco para enxugar as lágrimas. Diante disso, a Corneta terá que dar uma nota 5,5.