domingo, 30 de agosto de 2009

Além de gritos e gemidos

Sasha Grey não é a primeira atriz a atravessar a fronteira dos filmes pornográficos para os filmes, vá lá, sérios. Mas ninguém foi tão longe quanto ela. Aos 21 anos, a jovem atriz mais conhecida por suas, digamos, atuações realistas, ganhou uma chance de ouro do diretor Steven Soderbergh e soube agarrá-la (sem duplo sentido). Ela é a curiosidade que motiva uma conferida no novo filme do diretor americano, “Confissões de uma garota de programa”.

Com nenhuma cena de sexo (só um nuzinho frontal encoberto por um quarto escuro) e muitos diálogos, o filme é completamente diferente do que Grey – nascida Marinna Ann Hantzis e cujo “nome de guerra” é uma combinação do vocalista do KMFDM, Sascha Konietzko, com Dorian Gray, personagem principal de “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde – está acostumada em filmes como o "Sasha Grey's Anatomy", cujo pôster você vê aí embaixo. Mas nem por isso ela se sente intimidada.

Sasha atua com desenvoltura no filme que conta a história de Chelsea, uma garota que faz programas de luxo e vive um relacionamento aberto com o namorado, o personal trainer Chris (Chris Santos).

Em tom documental, Soderbergh coloca sua câmera a disposição de Chelsea, que mostra como administra o seu negócio de forma extremamente profissional e revela suas frustrações e até uma certa solidão com a vida que leva. Algo que fica ainda mais latente quando ao mínimo sinal de algum carinho, ela quase larga tudo em busca de um sonho que talvez seja largar aquela vida. Até porque ela mesma já está começando a ser substituída pelas novas carnes que vão chegando ao açougue.

Suas confissões são reveladas a partir do momento em que o jornalista Phillip (Phillip Eytan) começa a expô-las para uma reportagem que está escrevendo justamente sobre o mundo das garotas de programa de luxo. Algo que Chelsea conhece muito bem na altura dos seus US$ 10 mil por programa, que incluí mais do que sexo, mas um dia de companhia para se fazer o que se quer fazer.

É através dele e para ele que Chelsea lamenta o quão dispendiosa e monocromática é a sua vida, ou melhor, suas muitas vidas. Ao descrever as suas vestimentas e o perfume que ela usa a cada encontro, Chelsea se olha no espelho e percebe a farsa que vive. Mesmo em casa, ela nunca pode ser ela mesma. Chelsea é a mulher que os homens querem que ela seja, pois eles pagam para isso. E até afirma que se ela fosse ela mesma, os homens não pagariam para ficar com ela.

Questionada sobre o porquê disso, pois afinal ela é uma mulher bonita e atraente, Chelsea responde que simplesmente sabe disso. É como se viajasse para dentro de si e soubesse que não passa de uma bonequinha de luxo. Um brinquedo para os homens aliviarem a tensão da crise financeira nos primeiros meses da era Obama.

A interpretação de Sasha tem todas essas nuances sem que seja preciso fazer caras e bocas. É apenas um olhar perdido, uma maneira de falar. Ela usa o mínimo para expor tudo o que sua personagem sente. Bem diferente das sempre "expansivas" atrizes pornôs. Em “Confissões de uma garota de programa”, portanto, ela mostra que pode ir muito além dos gritos e gemidos da indústria da qual veio. E o trabalho acabou sendo bom para a sua própria carreira de filmes adultos, que passaram a vender ainda mais. Nada mal para uma atriz iniciante.

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