quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cotação da corneta: 'Clube de compras Dallas'

Leto e McConaughey: dupla do barulho
Como é bom ver que em algum momento da vida Matthew McConaughey resolveu parar de fazer filmes do tipo soro caseiro e mergulhar na tríade sexo, drogas e rock and roll.

Melhor assim. Ele ganha novos fãs e muitos prêmios na prateleira para tirar a poeira quando faz faxina em casa. Só por "Clube de Compras Dallas" foram 13, denuncia o IMDB. Entre eles O Globo de Ouro de melhor ator.

McConaughey ê favorito ao Oscar. Favoritaço. Pelo menos é o que dizem. Não apenas porque sua atuação é muito boa, mas também porque ele cumpre a cota do sacrifício que o careca dourado exige. Foi assim que Nicole Kidman, por exemplo, passou a exibir a sua estatueta e um beijinho no ombro para as amigas invejosas. Ficou feia, fez um ótimo trabalho como Virgínia Wolff em "As Horas" (2003) e foi para casa abraçada ao seu prêmio.

O que fez o ator para viver Ron Woodroff, homem mulherengo, alcoólatra, drogado e homofóbico que um dia descobre que toda vida de excessos tem um preço e o dele foi ter Aids? Hora, emagreceu 20 quilos fazendo o detox do pudim de tapioca. Vejam bem. De um lado, você tem Christian Bale, que engordou 19 quilos para um papel em "Trapaça". Do outro, McConaughey, que emagreceu 20 quilos. Sacrifício, meus amigos. O prêmio vem com sacrifício e o sacrifício está na dieta.

"Clube de compras Dallas" não é apenas Matthew McConaughey. É também Jared Leto. Quem diria que o presepeiro que fez um dos piores shows do Rock in Hell com o 30 seconds to Mars daria um bom ator? Talvez seja melhor investir mais nessa, hein, Leto? Principalmente depois que eu fiz uma breve pesquisa e vi que você fez filmes muito bons como "Réquiem para um sonho" (2000) e "O senhor das armas" (2005). Investe nisso, rapaz! Larga aquela banda ruim.

Seu travesti Rayon é outro ponto alto de um bom filme sobre um sujeito que ouviu dos médicos que tinha 30 dias de vida e só de birra viveu sete anos. Em uma época em que a Aids era ainda muito mais barra pesada do que é hoje, e sem uma saída médica confiável para ao menos conter a doença (o AZT estava começando a ser testado), Woodroff saiu pelo mundo com a única motivação de se manter vivo, pois "nada pode matar Ron Woodroff em 30 dias".

Assim, virou um traficante de medicamentos que ajudava outros doentes a conseguir novas drogas para aplacar as dores da Aids. Tudo sob uma mensalidade nada camarada no clubinho.

Enquanto isso, ao meu lado no cinema, um cidadão resolveu estudar inglês durante o filme.

- Naice réstorant, biuriful uóman / Ei Zi Ti, etc...

Duvido que vocês já tenham passado por uma situação em que pode ver um filme e uma aula de listening and pronunciation ao mesmo tempo.

O colega ao lado era persistente. Como Woodroff, em nenhum momento desistia de tentar. Só ficava possuído com as cenas envolvendo drogas. A cada momento vinha a exclamação:

- Eita, meu Deus! Isso é a droga do capeta!

É, amigo, Eric Clapton já disse que isso não é flor que se cheire. Ainda bem que você não sentou ao meu lado em "O lobo de Wall Street".

Mas o filme é tão bom, que nem o senhor listening atrapalhou. A corneta estava de bom humor e saúda o novo Matthew McConaughey e seu "Clube de compras Dallas" com uma nota 8,5.

Ficha técnica: Clube de compras Dallas (Dallas Buyers Club – 2013 – Estados Unidos) – Matthew McConaughey (Ron Woodroof), Jennifer Garner (Eve), Jared Leto (Rayon), Denis O’Hare (Dr. Sevard), Steve Zahn (Tucker). Escrito por Craig Borten e Melisa Wallack. Dirigido por Jean-Marc Vallé.

Indicações ao Oscar: Melhor filme, ator (Matthew McConaughey), ator coadjuvante (Jared Leto), roteiro original, montagem e maquiagem.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Cotação da corneta: '12 anos de escravidão'

Fassbender mostra a Ejiofor quem manda
A corneta hoje vai brincar de buzzfeed e traçar aqui 12 razões para explicar por que "12 anos de escravidão" é simplesmente excelente.

1 - É o melhor filme que eu já vi sobre o tema. Superior a clássicos como "Django Livre" (qualquer Tarantino nasce clássico) e "Amistad" (qualquer Spielberg que não tenha criancinhas, bichinhos e aliens fofos é um clássico). Tudo bem, talvez eu mude de ideia no dia que assistir à “Tempo de Glória” (1989), mas por enquanto é o melhor.

2 - É o melhor filme com número no título desde "Onze homens e um segredo" (2001).

3 - É o melhor filme com 12 no título desde "Doze homens e uma sentença" (1957).

4- Gente, o filme tem Michael Fassbender. Vocês já viram um filme com Michael Fassbender que seja abaixo de excelente?  (Fechem os olhos para "Prometheus" – 2012).

5- Fassbender, Benedict Cumberbatch, Brad Pitt... Você vai poder dizer para a sua namorada que escolheu um filme cheio de galãs só para para agradá-la porque a ama. Vai ganhar muitos pontos na relação (antes que as feministas atirem pedras em mim, calma! É só uma brincadeira)

6- É simplesmente incrível a atuação de Chiwetel Ejiofor, o melhor ator com nome diferenciado a concorrer ao careca dourado desde Djimon Hounsou por "Diamante de sangue" (2006). Por falar em nomes diferentes, o filme tem Quvenzhané Wallis, isso mesmo, aquela menininha de dez anos que concorreu ao Oscar de melhor atriz do ano passado por “Indomável sonhadora”, e Lupita Nyong’o, outra atriz que brilha no papel de uma escrava explorada cruelmente por um dos fazendeiros.

7- A trilha sonora tem uma canção instrumental belíssima que vai ficar o dia inteiro na sua cabeça.

8- É um filme de Steve McQueen, o cara que fez o espetacular “Shame”, melhor filme de 2012, e é o melhor diretor que existe com nome de ator famoso do passado.

9 - Não conheço aula de história melhor do que essa para entender a escravidão. De qualquer tipo e em qualquer lugar. E olha que eu tive bons professores de História. 

10- É um filme para provocar várias reflexões. Não vou citar todas, nem fazer críticas diretas. E cada um pode ser tocado pelo filme de um jeito diferente. Não vou criar polêmicas, mas reparem em uma cena como não é nada legal (e bastante ultrapassado) alguém apanhar e ser amarrado a um poste. De resto, é como diz o personagem de Brad Pitt: “Laws change. Social systems crumble. Universal truths are constant. It is a fact, it is a plain fact that what is true and right is true and right for all”. Todo o diálogo é bonito, eu garanto.

11- Não tem mimimi e nada romantizado em "12 anos de escravidão". É um filme cru, direto, que expõe em carne viva como a humanidade não presta.

12- É um filme tão tenso, intenso (teve gente chorando na sala) e importante que pela primeira vez em muito tempo não vi ninguém pegando no celular dentro do cinema. E notei algum constrangimento na pipoca, consumida com comedimento e pouco barulho pela plateia. Meus ouvidos agradeceram muito.

Tudo isso é para dizer para você que veja o filme, leia o livro, visite os locais de filmagem (Louisiana, fica a dica), compre souveniers, porque "12 anos de escravidão" tem potencial para ser o grande filme de 2014.  A nota da corneta é 9.

Ficha técnica: 12 anos de escravidão (12 years a slave – 2013 - Inglaterra) – Chiwetel Ejiofor (Solomon Northup), Kelsey Scott (Anne Northup), Quvenzhané Wallis (Margaret Northup), Cameron Zeigler (Alonzo Northup), Paul Giamatti (Freeman), Benedict Cumberbatch (Ford), Paul Dano (Tibeats), Michael Fassbender (Edwin Epps), Sarah Paulson (Mistress Epps), Lupita Nyong’o (Patsey), Brad Pitt (Bass). Escrito por John Ridley a partir do livro de Solomon Northup. Dirigido por Steve McQueen.

Indicações ao Oscar: Melhor filme, diretor (Steve McQueen), ator (Chiwetel Ejiofor), atriz coadjuvante (Lupita Nyong'o), ator coadjuvante (Michael Fassbender), roteiro adaptado, figurino, montagem e direção de arte.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Cotação da corneta: 'Caçadores de obras-primas'

Os caçadores de obras de arte
A corneta gosta de George Clooney. Gosta de vários dos seus trabalhos como ator e alguns como diretor. Em especial, "Boa noite, e boa sorte" (2005).

Exatamente por isso que ela se desviou da dieta do Oscar por duas horas para ver o quinto trabalho de Clooney como diretor.

E quanta decepção. "Caçadores de obras-primas" conta uma história importante sobre um grupo que salvou milhares de obras de arte durante a Segunda Guerra Mundial. Mas como filme é uma picaretagem de valor de uma aquarela feita por crianças em aula de artes na escola.

Não que eu tivesse grandes expectativas. Esperava mais uma ação entre amigos que se divertem como nos filmes "Onze homens e um segredo", "Doze homens e outro segredo" e "Treze homens e um novo segredo" (quando vão lançar o "14 homens e já não dá mais para segurar o segredo"?)

Mas a caçada de Frank Stokes não chega nem perto da diversão de Danny Ocean e seus colegas ladrões.

A premissa é a mesma destes e de muitos filmes na história da humanidade. Um líder recruta uma equipe de pessoas bem diferentes e com diferentes habilidades para executar uma missão. É isso. Ponto final.

Poderia ser legal. Mas não é. Aí temos George Clooney interpretando George Clooney, Matt Damon interpretando Matt Damon, a participação pequena, mas interessante de Lord Grantham, ou melhor Hugh Bonneville (#DowntownAbbeyfeelings), e uma Cate Blanchett que se salva sem precisar fazer muito esforço. Cate realmente é uma atriz diferenciada.

Mas nada representa a maior encarnação da picaretagem no filme do que Jean Dujardin. Desde que ganhou o Oscar pelo astro de cinema mudo George Valentin em "O Artista" (2011), Dujardin faz o mesmo papel em todos os filmes que o vi aparecer.

Não importa se é na pele de Valentin, na do banqueiro suíço Jean Jacques Saurel em "O lobo de Wall Street" ou na do oficial francês de agora lá está o mesmo cidadão de sorriso de cinema mudo e trejeitos iguais em todos os filmes. Começo a desconfiar que esse vinho Bordeaux é Fanta Uva.

É, dessa vez não deu, meu caro Clooney. "Caçadores de obras-primas" me deixou desapontado e vai receber uma nota 4,5 da corneta implacável.


Ficha técnica: Caçadores de obras-primas (The Monuments Men – 2014 – Estados Unidos) – George Clooney (Frank Stokes), Matt Damon (James Granger), Bill Murray (Richard Campbell), Cate Blanchett (Claire Simone), John Goodman (Walter Garfield), Jean Dujardin (Jean Claude Clermont), Hugh Bonneville (Donald Jeffries), Bob Balaban (Preston Savitz), Dimitri Leonidas (Sam Epstein). Escrito por George Clooney, Grant Hestov. Dirigido por George Clooney.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cotação da corneta: 'Ela'

Theodore e seu sistema operacional
Imagina a situação. Você é um ator e recebe um convite para um filme em que vai fazer um par romântico com ELA. A Scarlett Johansson. Você diz:

- Legal, sempre quis trabalhar com ela.

Tudo bem, eu sou bobinho. Reconheço que não deve ter sido isso que você pensaria.

Mas este é um filme de Spike "um parafuso a menos na cabeça" Jonze. Spike é o cara de "Quero ser John Malkovitch" (1999). É o cara do ótimo "Adaptação" (2002), um filme daquela época que podíamos levar o Nicolas Cage a sério. Ou seja, um rapaz de algum pedigree é que não é chegado a filmes do tipo papai-mamãe.

Sorry, Joaquin Phoenix. Não foi dessa vez. Phoenix é Theodore, o protagonista de "Ela" e nos dá a chance de ver mais um bom trabalho. Um trabalho tocante, meigo, eu diria até fofo. Nada mal para um porto-riquenho com aspirações de ser rapper (esperamos que ele tenha abandonado este projeto paralelo).

"Ela" Um filme muito interessante. E duro também. É sobre as dores da solidão, sobre como no futuro vamos nos tornar cada vez mais apegados aos nossos smartphones, cada vez mais totalmente excelentes e perfeitos, que nem vamos reparar em quem está ao lado. Um futuro onde é possível comprar... emoções. Sad.

E angustiante. Angustiante como Spike Jonze usa os arranha-céus de Los Angeles (ou pelo menos é onde o filme se passa) para nos passar a sensação de frieza, distanciamento e desolamento dos personagens, que parecem só ter alguma satisfação com seus amiguinhos virtuais.

Mas nem tudo é ruim neste futuro. Os celulares são muito melhores que os Iphones de hoje e duram que é uma beleza o dia inteiro gastando bastante bateria sem precisar recarregar. #evolução.

E se você precisar de um novo amor, compre-o através de um sistema operacional altamente sofisticado e com a voz de Scarlett Johansson. Ele é tão perfeito e real que até discute a relação. 

Mas como é angustiante passar o filme inteiro ouvindo a Scarlett, quer dizer, "Samantha", sem vê-la. Imagine como é para Theodore não poder tocá-la, abraçá-la. Deve ter sido frustrante ser um par romântico de Scarlett nestas condições. Não há sacrifício maior para ganhar um Oscar. Isso é pior que perder peso, Matthew McConaughey! Mas... sorry, Joaquin. Não foi dessa vez que você ganhou uma indicação.

E Scarlett é tão perfeita, que você se apaixona só por ouvir a sua voz. Provavelmente é a melhor atuação da carreira da moça, mesmo sem aparecer em cena. Tá, eu gosto de "Moça com brinco de pérola (2003), gosto de "Vicky Cristina Barcelona" (2008), mas "Ela" é diferente. Samantha é também o melhor ser interpretado por um ator que não aparece em cena desde o Gollum.

"Ela" é uma espécie de "Mulher nota 1.000" (1985) melhorado. Muito melhorado. Samantha é um Hal, o computador de "2001 - uma odisseia no espaço", ainda mais inteligente e muito mais agradável. Tudo sem ser traíra. Ok, deu para entender por que Theodore pira por uma mulher que nem existe?

No fim temos uma mensagem edificante para aquecer o espírito e dar esperança aos nossos corações.  Obrigado, Spike. Foi bonito. A corneta vai dar a "Ela" uma nota 8.

Ficha técnica: Ela (Her – 2013 – Estados Unidos) – Joaquin Phoenix (Theodore), Scarlett Johansson (Samantha), Chris Pratt (Paul), Rooney Mara (Catherine), Amy Adams (Amy), Matt Letscher (Charles). Escrito e dirigido por Spike Jonze.

Indicações ao Oscar: Melhor filme, roteiro original, canção original (the moon song), direção de arte e trilha sonora.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Cotação da corneta: 'Trapaça'

Amy e Christian, os trambiqueiros do filme
A corneta está de volta com olhos de águia e ainda mais anárquica. De olho nos filmes do careca dourado, não vou trapacear ninguém e contar umas verdades.

"Trapaça" é um filme sobre como eram bons os anos 70, quando as pessoas ouviam boas músicas no rádio e as mulheres usavam decotes até o umbigo. O que mais um homem de uma sociedade judaico-cristã ocidental poderia desejar naqueles tempos?

Era uma vida idílica. Mas também tinham alguns homens maus, outros cruéis e alguns trambiqueiros. Nada diferente desde que a humanidade começou a se comunicar por algo além de grunhidos. É aí que entra David O. Russell para contar a nossa história. Usando figurinhas carimbadas de seus dois filmes anteriores - Christian Bale, Amy Adams (Meu Deus, Amy Adams!), Jennifer “Live and let die” Lawrence, Bradley Cooper -, o cineasta vagueia entre o ótimo "O Vencedor" e o meia-boca "O lado bom da vida" neste novo trabalho.

Se Amy e Jennifer já atingiram status de musa no "Marcelômetro", também não deixam a desejar no ofício delas, que é o que realmente importa. Ambas dando show nos seus papéis, assim como Bale, o eterno melhor Batman de todos os tempos.

“Trapaça” tem ainda uma outra característica. É mais uma tentativa de Bradley Cooper de se aproximar dos recordes de John Travolta e Shirley Temple de maior número de filmes em que aparece dançando. Depois de ter aulas com Jennifer Lawrence em “O lado bom da vida”, o cara foi testar o que aprendeu em uma discoteca acompanhado de Amy Adams. Enfim, ele sabe escolher suas companhias (Inveja!). Usou uns passinhos de Tony Manero quase como uma mensagem subliminar a John Travolta: “Eu ainda te pego”. Mas pelas minhas contas (baseado em filmes que eu vi), ainda está 5 a 2 para o veterano ator. Corre atrás, Bradley! Faz um musical.

"Trapaça" é um filme inegavelmente divertido, mas é claramente a cota "Sessão da Tarde" do Oscar desse ano. Legal, cool, nice, supimpa e nada além disso. Daqui a 10 anos será exibido na mesma semana entre "Os Goonies" e "De volta para o futuro". Sendo assim, pesando os prós e contras, a nota final da corneta é 7,5.

Ficha técnica: Trapaça (American Hustle – 2013 – Estados Unidos) – Christian Bale (Irving Rosenfeld), Bradley Cooper (Richie DiMasio), Amy Adams (Sidney Prosser), Jeremy Renner (prefeito Carmine Polito), Jennifer Lawrence (Rosalyn Rosenfeld), Louis C.K. (Stoddard Thorsen), Robert de Niro (Victor Tellegio). Escrito por Eric Warren Singer e David O.Russell. Dirigido por David O.Russell.

Indicações ao Oscar: melhor filme, diretor (David O. Russell), atriz (Amy Adams), ator (Christian Bale), ator coadjuvante (Bradley Cooper), atriz coadjuvante (Jennifer Lawrence), roteiro original, figurino, montagem e direção de arte.