domingo, 25 de maio de 2014

Scarlett...

Scarlett mostra quase tudo antes de mostrar tudo
A frase está no pôster que Fox Mulder mantinha com ele na sua sala dos nerds excluídos do FBI: "A verdade está lá fora". Eles estão entre nós e adotando métodos cada vez mais sofisticados para exterminar a humanidade. A mais nova arma é baixar na terra com avatares de Scarlett Johansson. Como resistir? Como não ceder se Scarlett vem para você, te chama de lindo e faz um strip-tease? Nunca entrar num buraco negro sem volta foi tão prazeroso.

Quando um filme se vende como o trabalho em que a atriz fulana faz um nu frontal, desconfie. Desconfie muito. É claro que a corneta pisou no cinema achando que se metera numa roubada.

Mas é a Scarlett Johansson. Então lá estavam eu e mais 44 tarados de diferentes idades e sexos (sim, eu contei) para vermos Scarlett se desnudar para o mundo numa produção viajandona e com uma trilha sonora psicodélica tirada de algum filme do Kubrick que, claro, vai me causar uma semana de pesadelos.

No fim, bem, no fim eu julgaria que o filme causou controvérsia.

- Esse filme não acrescenta nada - disse um senhor enquanto deixava a sala.

Amigo, quem quer acrescentar não vai ver filme. Vai estudar matemática, que lida com soma e multiplicação.

A sensação que eu tenho é que algumas pessoas foram levadas ao cinema pelas frases "Vamos ver o filme da Scarlett Johansson" e “Vamos ver a Scarlett Johansson pelada” e não repararam que era uma ficção científica. E para o gênero, "Sob a pele" é bem bom.

A história. Scarlett é um alien que baixa na terra e sai exterminando um monte de seres humanos. Ela começa a missão pela Escócia. Sim, eu também não entendi porque os ETs começam logo pela Escócia. Talvez porque é um lugar tão vazio que dá para abordar uns caras na rua sem ninguém perceber.

O alien tem uma particularidade. Só pega homem solteiro e solitário. É um alien de coração. E só age depois de fazer uma entrevista com as vítimas mais tensa do que entrevista de emprego em multinacional. E quando os caras acham que vão se dar bem, logo percebem que aquela mulher vai é metê-los numa fria. É o que acontece com um torcedor do Celtic, cujo fim deve ter sido comemorado pelos fanáticos pelo Rangers, e o jovem aprendiz de dançarino de Lepo Lepo (que cena constrangedora).

O problema é que quanto mais tempo convive com os seres humanos, Scarlett vai curtindo. Tem uma subtrama por trás que mostra Scarlett descobrindo, tentando entender o que é ser humana. É aí que ela experimenta um bolo de chocolate, uma das melhores maneiras de estrear na culinária terráquea. E é aí também que entra a tão falada cena dela peladona.

Claro que na primeira vez que ela sente um negócio chamado piedade e toma uma atitude diferente do previsto, o chefe não vai gostar. Ao mesmo tempo, o alien também percebe que a humanidade não presta. São coisas da vida. Não importa se você é daqui ou de Urano.

No fim, "Sob a pele" prova que não é só um corpinho bonito (ou melhor, um corpaço de deusa hipnotizante), mas também tem algum conteúdo. A corneta sai do cinema satisfeita e realizada porque em cinco meses já viu Scarlett três vezes na tela grande. Que 2014, amigos! Atento aos sinais das estrelas, a corneta espera que a nota 7 para “Sob a pele” agrade aos alienígenas. Do contrário, espero que Scully me ajude.

Ficha técnica: Sob a pele (Under the skin – Estados Unidos - 2013) – Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams. Escrito por Walter Campbell. Dirigido por Jonathan Glazer.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Trabalhadores do Brasil...

Getúlio em fase pós-Friboi
Filmes históricos são aqueles únicos em que você não se incomoda de ver sabendo de um spoiler. A corneta foi dar uma moral para o cinema brasileiro mesmo sabendo que o protagonista de "Getúlio" morre no final. Mas isso não é problema. Certas obras são como peças de Shakespeare. Não importa qual é o final, e sim como se chega a ele.

O filme de João Jardim tem um jeitão de minissérie da Globo. Um cruzamento de “Agosto” com "Anos Rebeldes”. Tudo com algumas restrições orçamentarias em comparação com o cinema americano. É em cenas como a de Alzira Vargas (Drica Moraes) vendo fotos de manifestações que percebemos que o dinheiro no cinema brasileiro ainda não jorra como no mundo encantado de Hollywood. Se fosse nos Estados Unidos, teríamos um take daqueles sanguinários com explosões e vários figurantes correndo de um lado para o outro.

Mas é uma cena digna. Como todo o filme, aliás. Jardim optou por não contar toda a vida do ex-presidente Getúlio Vargas, como 99% das cinebiografias. Pegou aqueles 20 dias finais que abalaram o Brasil a partir do atentado contra Carlos Lacerda em Copacabana para contar a derrocada de Vargas.

Estamos em 1954 e o Brasil vive uma espécie de “Game of Thrones”. Daenerys Getúlio  Targaryen, The Father of the Poor, é amado pelo povo, mas é seguidamente apunhalado pela oposição e por muitos aliados que o querem ver pelas costas como nos tempos em que o então ditador foi jogado para escanteio.

Raposa velha da política, malandro do Rio Grande do Sul, Vargas vai se equilibrando para se manter como pode no poder. Apesar da carne ruim do Palácio do Catete, muito inferior a de São Borja. Naquele tempo não tinha Friboi, né Tony Ramos?

Só que os milicos Lannisters tramam para derrubar Vargas. Eles já querem iniciar a Era das Trevas que só começaria dez anos depois. Enquanto isso, Carlos Lacerda (Alexandre Borges) dá o seu showzinho particular de oposição. Ele faz pose de Ned Stark, mas não passa de um Theon Greyjoy. Afinal, vocês sabem que o que todos desejam é o poder. Certas coisas nunca mudam. Saudades dos verdadeiros debates políticos na ágora grega.

Mas Khaleesi Vargas avisa que só sai do palácio morto e fim de papo. O cerco se fecha na medida em que as investigações sobre o assassinato do major Vaz vão chegando cada vez mais perto do gabinete do presidente. Vargas manda investigar duela a quem duela e se vê traído pelo assessor e capanga Sor Jorah Fortunato.

As conspirações crescem. Não dá para confiar em mais ninguém. Até que o presidente dá um cavalo de pau e entra para a história como nunca antes na história desse país (sorry, Lula).

"Getúlio" é um bom filme. Tem momentos que parecem novela por causa de determinados planos e enquadramentos, mas não chegar a ser uma coisa “for Teletubbies”. Desculpe se você gosta de novela. Eu também gosto de muita coisa ruim.

Mas o filme se destaca pela qualidade de dois atores em especial: Tony Ramos e Drica Moraes. Com toda a maquiagem e próteses necessárias, Tony está muito bem no papel do presidente. Dizem que Vargas tinha um sotaque forte, mas reclamar disso é coisa de cricri e a corneta é chata, mas não é cricri. Três vezes durante o filme ele solta um "Bah!". Isso para mim já é o atestado necessário de gauchice. E tudo fumando um charuto como estadistas do porte de Churchill e Roosevelt.

Já Drica é a melhor dos coadjuvantes. Sua Alzira Vargas é o perfeito ponto de equilibro entre a conselheira política e a filha amorosa. Cada cena dela, acredite, vale o ingresso. Pelo menos a meia-entrada, vai.

No fim, uma frase de reflexão atribuída ao ex-presidente Juscelino Kubitschek diz que o suicídio de Vargas adiou em dez anos o golpe militar, pois os golpistas de 64 eram os mesmos de 54. É como o filme “Premonição”. Será que era o destino inevitável do Brasil passar por aquele período sombrio? Cartas para os videntes.

A corneta não espera ter o apoio das massas após a divulgação da nota do filme. Mas consciente de que mais do que o petróleo, a corneta é nossa, saio deste post para entrar para a história com um 6,5 para "Getúlio".

Ficha técnica: Getúlio (Getúlio – 2014 – Brasil) – Tony Ramos (Getúlio Vargas), Drica Moraes (Alzira Vargas), Clarisse Abujamra (Clarisse Vargas), Alexandre Borges (Carlos Lacerda), Daniel Dantas (deputado Afonso Arinos), Adriano Garib (General Zenóbio da Costa), Paulo Giardino (Brigadeiro Eduardo Gomes), Thiago Justino (Gregório Fortunato), Fernando Luis (Benjamin Vargas), Leonardo Medeiros (General Caiado), Marcelo Médici (Lutero Vargas), José Raposo (Nero Moura).

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O escalador de paredes brilha

Homem-Aranha e o Faísca, quer dizer, Electro
“Homem-Aranha/Homem-Aranha/Nunca bate/Só apanha”. Toda vez que eu vou ver qualquer filme do amigão da vizinhança, lembro dessa música que alguém criou a partir do tema de um desenho animado antigo do super-herói e que ganhou um sensacional cover punk rock dos Ramones. E como é legal ver que esse tema é exatamente o toque do celular de Peter Parker em “O espetacular Homem-Aranha 2: A ameaça de Electro”. Gênio. Parabéns aos envolvidos.

Quando a corneta vai ao cinema ver um filme do Homem-Aranha tem que lutar contra um sentimento de jogo praticamente ganho. Afinal, o aracnídeo sempre foi um dos meus três heróis favoritos. Fica ali junto com o Batman e o Wolverine (agora vocês sabem porque eu sou tão condescendente com os filmes dele). O Thor entraria nesse grupo, mas o Thor do cinema não é tão legal quanto o dos quadrinhos porque ele não fala em linguagem shakespeariana com legenda com frases na segunda pessoa do plural e  mesóclises. Lamentável. A mesóclise é a melhor coisa da língua portuguesa.

No caso de Peter Parker, ele é ótimo porque é gente como a gente. Um nerd que tem uma vida complicada em que nada dá certo. Que tem um chefe histérico, histriônico e maluco. Que tem problemas com as garotas, mas está sempre com um sorriso no rosto e contando uma piada. Enfim, Parker é um espelho de todos nós losers, mas nos dá uma esperança de dias melhores quando o vemos balançando pelos arranha-céus de Nova York. Deve ser por isso que ele é tão amado.

Lá se vão cinco filmes desde a primeira vez que Tobey Maguire vestiu o collant azul e vermelho do Aranha. Após dois trabalhos com Andrew Garfield já podemos fazer algumas comparações e considerações. Vamos a elas:

1) Não sou fã de reboots e era viúva de Maguire mesmo que o terceiro filme tivesse sido muito ruim. Mas é preciso reconhecer que "O espetacular homem-aranha 2: a ameaça de Electro" é tão bom quanto "Homem-Aranha", o primeiro filme lá de 2002.

2) Ok, eu me rendo. Andrew Garfield ganhou a minha simpatia com esse filme. Já o vejo perfeitamente na pele do herói. Ele ganhou pontos com sua atuação e parece mais à vontade no papel em um filme que é infinitamente melhor que o primeiro. Talvez por superar aquela fase de contar a origem. Ninguém aguenta mais filme de origem.

3) Se Garfield (o ator e não o gato preguiçoso dos quadrinhos) está quase do mesmo nível de Maguire, os filmes de Marc Webb tem uma vantagem em relação aos do Sam Raimi: o humor. Aquele humor do Homem-Aranha dos quadrinhos, o herói que faz uma piada em qualquer situação e debocha dos vilões é muito presente nesta nova fase e proporciona momentos únicos. É muito agradável o equilíbrio entre drama, comédia e aventura. Nesse ponto, o trabalho de Webb se aproxima de "Os Vingadores", de Joss Whedon.

4) Webb e seus amigos nerds responsáveis pelos efeitos especiais levaram a sério a frase do Tio Ben que acompanha Parker em todas a sua vida: "Grandes poderes trazem grandes responsabilidades". Isso significa que eu vou dizer uma coisa inédita. Finalmente temos um filme que vale a pena ver em 3D. Até então o 3D era uma picaretagem para tirar mais dinheiro do espectador honesto e trabalhador, mas "O espetacular Homem-Aranha 2" acaba com isso. O 3D é realmente uma atração a parte nas cenas de ação e nas diversas vezes que o herói transita pelos prédios de Nova York. São imagens realmente incríveis. Ultrapassa os melhores momentos do aracnídeo se balançando por aí.

E a história? Dessa vez o Aranha tem que enfrentar três vilões. Seu arqui-inimigo Duende Verde (Dane Dehaan), cidadão que tem uma obsessão patológica pelo herói, o Electro (Jamie Foxx) e sua carência irritante, e o malucão do Rino (Paul Giamatti). Fato que os três precisam de um psicanalista. Ao mesmo tempo tem que administrar um namoro vai não vai com Gwen Stacy (a fofinha da Emma Stone, maior celebridade com língua presa desde Cazuza e Romário, e namorada de Garfield na vida real). Os jovens vão se identificar com os momentos meigos dos dois.

É claro que vai dar merda. Afinal, estamos falando de Peter Parker. Algo sempre dá errado. E quem leu os quadrinhos sabe que neste filme estaremos diante de um momento importante na vida do herói. Não posso falar mais sob pena de revelar spoilers. E estou fazendo análise para tratar desse problema de língua solta cinematográfica. Só posso dizer uma coisa: que coragem de Marc Webb, meus amigos. Que coragem. Ainda me faz tudo com requintes de crueldade, quase tudo igual aos quadrinhos e logo no segundo filme!

"O espetacular Homem-Aranha 2: a ameaça de Electro" é divertido, bem feito, engraçado, tem atores de calibre em papéis importantes (Sally Field é perfeita como Tia May), um protagonista carismático e um herói no melhor da sua forma. A corneta se rende completamente, sai do cinema de alma lavada e desejando um terceiro filme o quanto antes. E quem prestou atenção em alguns detalhes, sabe que o Doutor Octopus, a Gata Negra e Mary Jane vêm aí.

Diante desse Homem-Aranha ousadia e alegria de Marc Webb, a corneta se dá por satisfeita. A nota não pode ser nada diferente de
9,5. E fiquemos com os Ramones para alegrar o nosso dia. “Homem-Aranha/Homem-Aranha/Nunca bate/Só apanha”.

Ficha técnica: O espetacular Homem-Aranha 2: a ameaça de Electro (The Amazing Spider-Man 2 – 2014) – Andrew Garfield (Peter Parker/Homem-Aranha), Emma Stone (Gwen Stacy), Jamie Foxx (Electro/Max Dillon), Dane Dehaan (Harry Osborne/Duende Verde), Colm Feore (Donald Menken), Felicity Jones (Felicia), Paul Giamatti (Aleksei Sytsevich/Rino), Sally Field (Tia May), Marton Csokas (Doutor Kafka), Chris Cooper (Norman Osborne). Escrito por Alex Kurtzman, Roberto Oci e Jeff Pinkner. Dirigido por Mar Webb.