sábado, 28 de março de 2009

Cassem o Oscar

Alguém deveria cassar a premiação do Oscar de melhor filme deste ano. Podem me xingar à vontade, mas “Quem quer ser um milionário?” não é melhor do que “Frost/Nixon” nem aqui nem na Índia. É claro que o filme de Danny Boyle tem seus méritos, mas quem tinha que levar para casa a estatueta era Ron Howard.

Por mais paradoxal que seja, o filme de Howard, no entanto, não é superior a “Quem quer ser um milionário?” em diversas categorias que deram o Oscar ao filme de Boyle, como montagem, trilha sonora, canção e até roteiro, pelo qual Frost/Nixon sequer concorreu. A direção de Boyle em relação à de Howard pode ser discutida, mas não dá para dizer que o prêmio é injusto. Porém, apesar disso tudo, “Frost/Nixon” é mais filme do que “Quem quer ser um milionário?”.

E por quê? Porque não há em nenhum momento no filme de Danny Boyle um ator que possa rivalizar, chegar perto da atuação hipnotizante de Frank Langella no papel do ex-presidente Richard Nixon. Langella é o dono do filme. Era para ter sido também o dono do Oscar, que poder ser muito bem dado para Mickey Rourke e foi muito mal dado para Sean Penn.

Sua atuação, que se concentra mais em detalhes de Nixon como o jeito de sorrir, a maneira de falar, o corpo meio curvado, do que numa imitação de Nixon, é a melhor do ano até agora. É uma atuação tão impactante e sedutora que você quase gosta de Nixon, mesmo sabendo de Watergate e todos os crimes cometidos pelo ex-presidente americano (parênteses: Aliás, como tem viúvas de Nixon no YouTube). É como estar em frente a Medusa e ficar petrificado diante da tela do cinema. É seguramente uma atuação melhor que a de Anthony Hopkins em “Nixon” (1995). E olha, que a atuação de sir Hopkins é muito boa.

Mas Langella, ator de personagens pequenos em filmes grandes como “Boa Noite, e Boa Sorte” (2005), “Dragão Vermelho” (2002), “Superman Returns” (2006) ou “Lolita” (1997) ou de personagens marcantes em filmes de qualidade duvidosa - “Mestres do Universo” (1983) – ou muito antigos e pouco vistos, “Dracula” (1979), não é a única qualidade do filme.

Ele é apenas o motor propulsor desta obra marcada por um estilo de falso documentário, que eu achei bastante curioso, embora não seja nenhuma novidade. Mas e daí? Onde estaria o novo em “Quem quer ser um milionário?”?

O filme, como todos já devem saber, conta a história de um apresentador de um programa de TV no estilo talk show, David Frost (Michael Sheen, o Tony Blair de “A Rainha (2006) que resolve entrevistar Nixon como a sua grande empreitada para reconquistar a fama nos Estados Unidos.

Ele conta com a ajuda de dois jovens idealistas que querem dar a Nixon o julgamento que a renúncia e o perdão do presidente Ford o impediu de ter, James Reston (Sam Rockwell, muito bem) e Bob Zelnick (Oliver Platt). Conseguida a entrevista, eles dissecam a vida de Nixon para fazer do encontro histórico.

Como se sabe, depois de muitos vacilos de Frost a entrevista acabou sendo verdadeiramente bombástica com Nixon admitindo os seus erros. Ela representou, acho, a morte política dele, que contava exatamente com este programa para ressuscitar politicamente, recobrar a confiança do povo americano.

Enquanto o filme vai se desenvolvendo, o documentário fake é produzido com opiniões de “quem esteve envolvido”, no caso os próprios atores dando entrevistas como se fossem os verdadeiros protagonistas daquele episódio. Um recurso curioso e feito com maestria para parecer uma outra época. Tanto é que são mudados o corte de cabelo, as roupas, etc. Em cada momento, os atores estão tão diferentes que no início cheguei a pensar que estava vendo depoimentos dos próprios envolvidos naquela "entrevista". Depois a ficha caiu. Era um documentário fake. Perfeitamente fake.

No final, Nixon teve que aceitar a aposentadoria causada pela trágica entrevista. Na tela, o filme de Howard e o roteiro de Peter Morgan não chegaram a criar um filme histórico, mas era digno do Oscar que lamentavelmente não veio. É como eu já disse algumas vezes: o Oscar, sempre foi muito político.
Em função do filme, a real entrevista de David Frost com Richard Nixon foi lançada em DVD. Abaixo, alguns pequenos trechos de vídeos promocionais no YouTube.




segunda-feira, 23 de março de 2009

Sofrendo de felicidade com o Radiohead

Todos os que lêem este blog com alguma freqüência sabem da minha campanha contra o lead, esta medida reducionista do jornalismo contra a boa arte. Mas desta vez e pela primeira vez, subvertendo as leis do blog, darei o lead do que foi o show do Radiohead na sexta-feira na Apoteose. Para isso, tomarei emprestado uma frase dita em bom português pelo guitarrista Ed’Obrien e direi que “foi bom para caralho”.

Dito isto, vamos ao texto.

Com 17 anos de existência e sete álbuns de estúdio lançados, o Radiohead pisou pela primeira vez no Rio de Janeiro na sexta-feira para a turnê de lançamento de seu mais recente disco, “In Rainbows”. A longa espera se refletia na ansiedade do público presente, nos rostos de felicidade, na sensação de que se estaria diante de algo histórico – uma garota ao meu lado chegou a dizer “Cara, está todo mundo aqui”. Todo mundo, leia-se, são os amigos dela de faculdade (a PUC) – e na preocupação com o que estaria presente no set list.

“Fake Plastic Tree” tem que entrar. “There There” também. Será que eles vão tocar “Creep”? Eles não vêm tocando essa música na turnê, mas disseram que por ser a primeira vez no Brasil, poderia ser incluída. Tomara”, revelou um ansioso rapaz, que acredito que tenha saído satisfeito com o desvendar do set durante as 2h15m de espetáculo.

Esse era o clima da agradável noite de sexta-feira. Entre copos de cerveja e insossos cachorros-quente e hambúrgueres, cujo sabor de isopor faria inveja aos melhores cozinheiros do McDonald’s, os mais de 20 mil espectadores da Apoteose aguardavam olhando no relógio, fazendo contagem regressiva para a entrada do Radiohead no palco.

Mas havia duas atrações no meio do caminho. No meio do caminho havia duas atrações para esquentar a galera enquanto o headliner não entrava no palco. Headliner apenas pela ordem dos shows, pois para muita gente, importante mesmo era o Los Hermanos, que voltavam após um hiato de dois anos em que Marcelo Camelo lançou o elogiado disco “Sou” e Rodrigo Amarante criou o Little Joy com o batera do Strokes, Fabrizio Moretti, ou os homens-robôs alemães do Kraftwerk, que pelo que notei tinham até torcida organizada. Vi várias camisas do grupo.

“Gostei mais do show do Kraftwerk”, disse-me um. “O show do Kraftwerk foi bom demais”, contou-me outro no ônibus de volta a Niterói.

Dois exemplos de que gosto não se discute (para muitos até, se lamenta). Entendo a importância do Kraftwerk para a música, como já escreveram alguns dos críticos que considero os mais importantes, mas, porém, contudo, todavia, aquilo é muito chato. Gosto de música e não consigo ver quatro caras parados em frente a computadores ou seja lá o que estava na mesa deles no palco, fazendo barulhinhos e repetindo palavras em inglês, alemão ou francês enquanto apareciam diversas imagens no telão.

Podem-me chamar de preconceituoso, mas isso para mim não é música. Música tem que ter instrumentos, gente cantando, tocando, interação com o público (e não apenas um “thank you” e “good night”). Me senti numa boate, numa rave, em qualquer lugar menos num show de rock.

Enfim, o Kraftwerk serviu apenas para treinar o ouvido para futuras provas de alemão. Aliás, se minha professora estiver lendo isso, aprendi que Kraftwerk é usina de energia elétrica. Tanta energia e meu deu um sono danado ver aquilo. Serviu apenas de trilha sonora para o lanche de qualidade já descrita.

Mas antes dos alemães, havia os Hermanos. Foi comovente ver muita gente em transe, outros tantos que ainda entravam na Apoteose correndo aos primeiros acordes de “Todo carnaval tem seu fim”. Vi mulheres se acabarem de dançar, marmanjos cantando todas as letras. Acho emocionante ver fãs tão devotados a sua banda. Eu também sou um fã e sei como é isso.

Por causa de tudo isso, acho que o público merecia um tratamento melhor dispensado pela banda. Salvo uns “vocês são do caralho” de Camelo, e uma brincadeirinha de Amarante enquanto afinava sua guitarra, os Hermanos foram frios, distantes, quase como se estivessem ali por obrigação. Sabe banda contratada para festa de empresa? Mais ou menos por aí. Aliás, o resumo da ópera foi Camelo dizendo que “acho que já deu o tempo”, em referência a 1h15m que eles tinham para tocar.

E quem diz não sou só eu, alguém que não trata os Hermanos como religião, mas que gosta da banda. Meu amigo Fábio, presente no espetáculo e fã da banda, disse o mesmo. Outro crítico que respeito e também amigo, Luiz Felipe Reis, escreveu sobre algo semelhante no seu blog, o “Radar Pop”. Foi, portanto, uma volta esquisita. Talvez fosse melhor ter ficado em casa.

Mas estes foram apenas aperitivos para o que haveria de mais importante na noite. O Radiohead entra no palco com a discrição que passeou no Rio de Janeiro nos dias de folga pré-show. A diferença é a ovação do público que foi saudado com “15 Step”, do disco “In Rainbows”.

Dali para frente seriam mais 24 passos e todas as fases da banda repassadas no palco. Não houve disco que não estivesse representado na noite. De “Pablo Honey” (1993), passando por “The Bends” (1995), o clássico “OK Computer” (1997), os complexos “Kid A” (2000) e “Amnesiac” (2001) até “Hail to the Thief” (2003).

Quem ainda não tinha escutado o novo álbum, saiu conhecendo o disco inteiro. Sim, enquanto soltava pílulas do passado, o Radiohead executou todas as dez faixas de “In Rainbows”. Todo o álbum é bom, mas gostei mais de “15 Step”, “All I Need”, “Reckoned” e “Weird Fishes/Arpeggi”.

Thom Yorke (voz), Jonny Greenwood (guitarra), Colin Greenwood (baixo), Ed O’Brien (guitarra) e Phil Selway (bateria) são ainda melhores ao vivo do que nos discos. Se nos álbuns, ouve-se a voz melancólica de Yorke de quem está sofrendo de morte, no palco, ela é amplificada, mas ganha as cores, a textura de um vocalista que se mexe quase como um showman. Nem parecia o frontman de uma banda marcada por suas composições tristes.

Os demais membros, porém, fazem jus à postura até certo ponto blasé da banda e são econômicos nos movimentos deixando apenas que a potência do seu som fale por si. E precisa mais do que isso? O repertório do Radiohead é impecável, ainda que a galera tenha começado a se empolgar apenas a partir da quinta música, “Karma Police”.

Mas isso é natural. O Radiohead não é uma banda de refrões grudentos nem de letras fáceis de assimilar. Das canções apresentadas, talvez só “Karma Police” e “Creep” tenham frases que a galera consegue levar.

Não é, portanto, uma banda para a galera fazer coro, mas para apreciar como um grande concerto. Embora em diversos momentos, o povo tenha conseguido suplantar estas “dificuldades”. Um dos momentos mais emocionantes, por exemplo, foi no coro de “Paranoid Android” (cujo vídeo você pode ver abaixo), que até fez Yorke e O’Brien sorrirem. É o tipo de emoção que só a platéia brasileira, principalmente a carioca, consegue passar. Cantam a plenos pulmões e apaixonadamente. Até um casal estrangeiro do meu lado ficou boquiaberto.

E não tinha sido a primeira vez na noite que a banda reagira bem a uma manifestação da platéia. Em “Karma Police”, o refrão a mais cantado por Yorke já no final foi certamente uma reverência ao público.

Do “Ok Computer”, o Radiohead ainda cantou a ótima “No Surprises” e “Airbag”. Foi o segundo disco em número de músicas do set junto com “Kid A”, que veio com “National Anthem”, “Idioteque”, “How to disappear completely” e “Everything in its right place”.

Cada música, aliás, tinha um jogo de luzes específico num palco que contava ainda com um telão que se dividia em quatro mostrando nuances da banda. Detalhes da interpretação de Yorke, os acordes de Jonny e O’Brien, a maneira como Selway toca. Era tanta informação que ficava difícil escolher para onde olhar. A performance da banda como um todo ou os detalhes que os músicos e apaixonados por música gostam de ver? Dúvidas cruéis numa apresentação absolutamente rica e com direito a dois bis.

Foi durante o primeiro bis que O’Brien soltou a frase que eu reproduzi lá em cima. Eles pareciam realmente felizes com o retorno da platéia carioca. Talvez seja por isso – ou já tendo esperado isso – que resolveram incluir no set a mais clássica de suas músicas. “Creep” foi a única canção do “Pablo Honey” na noite, mas era aguardadíssima.

“Toca Creep”, gritou um maluco atrás de mim que quase me deixou surdo. “Eles não vão tocar Creep”, disse outro, resignado, embora feliz com o show, ao ver que a apresentação já caminhava para o fim.

Realmente “Reckoner” parecia ter sido a última canção da noite. Yorke largou a guitarra, fez os agradecimentos. Mas logo depois, Jonny Greenwood puxou os acordes que fizeram o Radiohead mundialmente conhecido. Um presente da banda para o público que a emocionou. Assim, a platéia pôde deixar a Apoteose de alma lavada. E da mesma maneira que entrou no palco, o Radiohead saiu. Discretamente e intensamente aplaudido por um público que acabara de ver um senhor show de rock.

Abaixo o set list completo e mais embaixo, alguns dos melhores momentos do show colhidos no YouTube:

15 Step (In Rainbows)
Airbag – (OK Computer)
There There – (Hail to the Thief)
All I Need – (In Rainbows)
Karma police - (OK Computer)
Nude - (In Rainbows)
Weird Fishes/Arpeggi -(In Rainbows)
National Anthem - Kid A
The Gloaming - (Hail to the Thief)
Faust Arp - (In Rainbows)
No Surprises - (OK Computer)
Jigsaw Falling Into Place - (In Rainbows)
Idioteque – (Kid A)
I might be wrong – (Amnesiac)
Street Spirit – (The Bends)
Bodysnatchers - (In Rainbows)
How to disappear completely – (Kid A)
Videotape - (In Rainbows)
Paranoid Android - (OK Computer)
House of Cards - (In Rainbows)
Just - (The Bends)
Everything In Its Right Place – (Kid A)
You and whose army – (Amnesiac)
Reckoner – (In Rainbows)
Creep – (Pablo Honey)

"Creep"

"Paranoid Android"

"Karma Police"

"Reckoner"

"All I Need"

"No Surprises"

sexta-feira, 20 de março de 2009

A insuperável Donzela de Ferro

Poucas bandas são capazes de fazer um show tão bom quanto o do Iron Maiden. Poucas bandas fazem três turnês com passagens pelo Brasil num espaço de oito anos e conseguem manter o seu público vidrado no palco, hipnotizado, mesmerizado, com um repertório com 70% das músicas completamente diferentes entre uma apresentação e outra.

O Iron Maiden já seria um espetáculo de alta qualidade se subisse ao palco para ser simplesmente o Iron Maiden. Mas a banda se preocupa em fazer um show que grude na retina dos fãs, que seja sentido no coração do seu público e seja lembrado e passado para gerações e gerações de “maidenmaniacos”.

Referência no metal e, obviamente, no rock and roll, o Iron voltou ao Rio de Janeiro cinco anos depois da turnê do disco “Dance of Death”, que resultou no excelente show num entupidíssimo Citibank Hall (se é que ele tinha esse nome na época).

Dessa vez, a turnê “Somewhere back in time” faz uma referência aos clássicos do Iron na década de 80, tempos da “World Slavery Tour”. Tempo de discos como “The number of the beast” (1982), “Piece of Mind” (1983), “Powerslave” (1985) e “Seventh Son of a Seventh Son” (1988). E em 2 horas de show, é só o que Bruce Dickinson (voz), Steve Harris (baixo), Janick Gears (guitarra), Adrian Smith (guitarra), Dave Murray (guitarra) e Nico McBrain (bateria) fazem. Desfilam clássicos para o deleite dos veteranos de shows do Iron e conhecimento das novas gerações que se fizeram presentes entre as mais de 20 mil pessoas que estiveram no sábado na Apoteose (parênteses: como tinha muita mulher também. Será que as metaleiras estão ressurgindo das tumbas?).

É sensacional poder ouvir músicas que não costumam ser incluídas no set list do Iron como a emocionante “Children of the Damned”, a belíssima “Wasted Years” ou a longa e arrebatadora “Rime of the Ancient Mariner” e seus quase 14 minutos de puro metal. São canções que dificilmente voltarão a figurar no set do Iron, assim como outra música igualmente longa e ótima: “Phanton of the Opera”.

Só por isso já valeria a pena pagar o ingresso para assistir a este show só com clássicos. Mas o Iron é mais do que música: é um espetáculo. O seu palco e suas parafernálias, incluindo aí dois Eddies que aparecem em “Iron Maiden” (esse uma espetacular versão de múmia gigante que solta fogo pelo olhos), e “The Evil that man do” (já no bis em sua versão boneco ameaçador), são o sétimo maiden. E o Iron não economiza nos fogos, nas lufadas de fogo, cujo calor é sentido a uma longa distância, e nos cenários. Havia um tema de fundo para cada uma das 16 músicas tocadas no sábado.

Valeu a pena esperar pelo Iron de novo. Só com a introdução no discurso do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill seguida de “Acces High”, “Wratchild” e “2 minutos to midnight” seria preciso sair, comprar outro ingresso e entrar de novo.

Em “The Trooper”, com o tradicional gesto de Bruce Dickinson cantando segurando e agitando a bandeira da Grã-Bretanha, você quase tem vontade de se alistar no Exército inglês. “Fear of the Dark”, uma das poucas que não são da década de 80 mantidas no set, tem exatamente a mesma e histórica interpretação do Rock in Rio de oito anos atrás.

E ainda teve “Run to the Hills”, uma das mais celebradas pela platéia, que, diga-se de passagem, cantou todas as músicas com devoção religiosa, “Hallowed by the name” e “Powerslave”, com Bruce cantando usando uma máscara.

Na hora do bis, a sensação de que se podia ficar ali mais umas duas horas pulando e cantando músicas do Iron. Só que o público tem que se contentar apenas com “The number of the beast”, “The evil that man do” e Sanctuary”, que fechou o show com direito a promessa de retorno em 2011, quando o Iron estará em turnê divulgando o álbum que será lançado no ano que vem.

Seja onde for que o Iron vá tocar daqui a dois anos eu estarei lá. Um show do Iron é sempre imperdível. O set vai, obviamente, mudar de novo e o Iron permanecerá fazendo o espetáculo no qual é mestre.

Abaixo, alguns dos momentos imperdíveis do espetáculo:

Acces High

2 Minutos to Midnight

The Trooper

Children of the Damned

Fear of the Dark

Iron Maiden

The Evil that Man Do

sábado, 14 de março de 2009

Uma operação meio assim assim...

Desde que se separou da agente Paula Wagner, rompendo com uma parceria em uma produtora de filmes, passou a falar demais da cientologia e subiu em 2005 no sofá da apresentadora Oprah Winfrey para declarar de forma inusitada seu amor a Katie Holmes, Tom Cruise vem se especializando em fazer filmes que variam entre o ruim e o meia-boca.

“Guerra dos Mundos” (2005) era, com muito boa vontade, um filme bem nota 5,5. “Missão Impossível III” (2006) foi uma decepção total, só salvo da tragédia pelo vilão vivido por Phillip Seymour Hoffman. “Leões e Cordeiros” (2007) é outro trabalho em que ele passa discretamente. Já em “Trovão Tropical” (2008) o ator até consegue brilhar num personagem que o deixa quase irreconhecível.

O último grande filme de Cruise, porém, é “Collateral” (2004), este sim um trabalho em que o ator mereceu muitos elogios no papel de um assassino que tem que matar cinco pessoas e usa o motorista de táxi vivido por Jamie Foxx para conduzí-lo.

“Operação Valquíria”, ora em cartaz, está muito longe de “Collateral”. Ele é mais um filme assim assim de Tom Cruise. Na película, Cruise vive o coronel Claus von Stauffenberg, considerado um dos heróis alemães, que organizou a última tentativa de matar o ditador Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

O trabalho de Bryan Singer, diretor de ótimos filmes baseados em quadrinhos como “X-Men” (2000), “X-Men II” (2003) e Superman Returns (2006), além do clássico “Os Suspeitos” (1995), conta, portanto, como o plano foi desenvolvido até a tentativa fracassada no atentado na Toca do Lobo, como era chamado o esconderijo de Hitler, vivido por David Bamber (para mim, sempre sob a sombra de Bruno Ganz, que vive magistralmente o ditador em “A Queda” – 2004).

Como todos nós sabemos, a tentativa de assassinar Hitler deu errado até o ditador vir a se matar em 1945, quando a Segunda Guerra já caminhava para a vitória dos aliados. Saber o final da história certamente prejudicou o seu desenvolvimento, mas Singer também não mostrou muita disposição em oferecer algo que pudesse surpreender o seu espectador.

A conspiração se desenvolve num ritmo extremamente previsível e sem inspiração de quem deveria comandá-la. Tom Cruise hoje parece ser um ator no piloto automático que faz filmes em que usa as cenas de ação para correr (sempre é preciso correr nos seus filmes). Quando a cena precisa de alguma dramaticidade, ele usa aquela expressão fechada de quem é o herói do filme e sabe que está dizendo as frases mais sábias do roteiro e bola para frente.

Muito pouco para um ator ainda muito jovem, com 46 anos. Ainda mais se pensarmos que o seu contemporâneo, Brad Pitt (tem 45 anos), com quem ele já rivalizou no coração das adolescentes, fez no mesmo período da “queda” de Cruise três bons filmes: “Sr. e Srs. Smith” (2005), “O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford” (2007) e “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008).

Apesar destas críticas, “Operação Valquíria” não é de se jogar fora. Pode ser uma boa diversão se você não se importa em chegar no cinema já sabendo o final do filme.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Um filme a ser assistido


Estados Unidos, década de 80. Richard Nixon (Robert Wisden) está no seu quinto mandato como presidente do país e a relação com a União Soviética em plena Guerra Fria nunca esteve tão próxima de explodir em centenas de milhares de ogivas nucleares que destruiriam o planeta e as bilhões de pessoas que nele vivem. Neste cenário sem esperança em que um relógio mede a tensão entre as nações e faltam apenas quatro minutos para a meia-noite, quando o holocausto nuclear se tornará inevitável, vive um grupo de heróis entre a aposentadoria, a marginalidade e o trabalho de cooperação com o governo federal.

O mundo nunca fora tão niilista. Os super-heróis mascarados, tidos como fundamentais para a segurança e responsáveis, neste, como você já percebeu, fictício Estados Unidos, pela vitória no Vietnã, hoje são vistos como vigilantes criminosos que escondem suas identidades para não serem presos.

A população está cansada de vigilantes e seus poderes. O tempo vai passando ao som de mestre Bob Dylan e sua magistral “The Times – They Are A Changin’”. Com a vitória americana no Vietnã, todo o movimento pacifista acaba em mortes. Os tempos estão mudando, mas o violento assassinato do Comediante (Jeffrey Dean Morgan) joga luz sobre um novo mistério. Estariam os super-heróis sendo alvo de uma cruzada assassina para exterminá-los de vez? É o que Rorschach (um espetacular Jackie Earle Haley) está investigando.

Este é o ponto de partida de “Watchmen”, filme de Zack Snyder baseado na graphic novel de Alan Moore que estreou neste fim de semana em todo o mundo. Um trabalho grandioso não apenas nas suas três maravilhosas horas de duração, mas um filme estupidamente bom neste ano com tanta película boazinha ou mais ou menos.

Quem viu “300” (2006), também de Snyder e também baseado numa graphic novel, mas do papa Frank Miller, reconhecerá a linguagem usada pelo diretor em “Watchmen”. Aquelas cenas em câmera lenta que repentinamente aceleram numa mistura de John Woo com “Matrix” (1999) estão presentes. Assim como a forma crua como são mostradas as lutas onde os socos são amplificadamente pesados e ecoantes e o sangue escorre além do normal.

Nos dois trabalhos, parece que a história em quadrinhos salta aos seus olhos no melhor 3-D já feito sem que fosse necessário qualquer óculos especial. A fidelidade é impressionante, embora sempre possa haver fãs mais xiitas contrariados com determinadas e sempre inevitáveis licenças poéticas. Mas assim como é complicado transpor para a tela um livro, é igualmente complexo, embora os desafios sejam completamente diferentes, levar uma história em quadrinhos para o cinema.

E Snyder com seu estilo singular foi muito bem sucedido até aqui. Se “300” é um bom filme, mas que causa certa estranheza, até porque era o segundo filme do diretor – o primeiro fora a refilmagem de “Madrugada dos Mortos” clássico do terror de 1978 lançado em 2004 – e poucos conheciam seu trabalho, “Watchmen” é um degrau acima em beleza, competência e dedicação a uma história que parecia “infilmável”.

Bem diferente da maioria dos heróis mais tradicionais da Marvel e da DC, os super-heróis de “Watchmen” vivem com a humanidade em, digamos, “harmonia”. Não se escondem nas sombras e surgem de tempos em tempos para salvar o mundo. São mais humanos e, como tais, cometem erros e até brocham. Mas ainda assim são vigilantes que mantém o equilíbrio do mundo para que ele não seja ainda pior.

Alguns como Rorschach e o Coruja (Patrick Wilson) trabalham na noite, prendendo bandidos e salvando vidas. Outros como o Dr. Manhattan (Billy Crudup, que achou personagem perfeito para suas limitações) ou Spector (Malin Akerman), colaboram de alguma forma para o governo e realizam pesquisas. Há ainda os que resolveram lucrar com a própria imagem num tempo em que a sociedade está dividida sobre o que acha dos vigilantes. É o caso de Ozymandias (Matthew Goode), tido como o homem mais inteligente do mundo, mais rápido do que uma bala, que resolve revelar sua verdadeira identidade e passa a lucrar com isso.

Mas os caminhos de todos eles vão se cruzar novamente na medida em que esta desconhecida ameaça, o misterioso assassino, estaria à espreita. O Comediante foi o primeiro. Quem seria o próximo? Por ter a identidade mundialmente conhecida, Ozymandias seria uma potencial vítima. Senhor de si, ele não demonstra muita preocupação.

Enquanto isso, o aviso de Rorschach não seduz o Dr. Manhattan, mais preocupado em encontrar um meio de evitar um holocausto nuclear enquanto questiona a sua humanidade (ou o que resta dela) e tenta entender a humanidade, mais complexa, aparentemente, que seus cálculos de físico e seu frio racionalismo possam imaginar.

O mundo de “Watchmen” não é de santos. O próprio Comediante não foi propriamente um coroinha. Matou crianças e uma mulher que ele engravidou no Vietnã, inocentes nos Estados Unidos, tentou estuprar a primeira Spector (Carla Gugino). Não é alguém que você chamaria de herói e que você nem sente pena ao saber que ele foi assassinado - numa das melhores cenas de luta que já vi ao som de “Unforgettable”, de Nat King Cole - depois de tudo isso. Mas lá fora a coisa está tão feia, a cidade é tão fétida, que o Comediante não chega a ser uma piada de mau gosto.

O mundo de “Watchmen” é hipócrita, cínico, pessimista, niilista, degradado. Moldado a feição de um presidente corrupto que permanece por duas décadas no poder. É um mundo, portanto, à feição do Comediante e não do onipresente e quase onisciente Dr. Manhattan, que tenta não ser um Deus, embora tenha poder para tal, ou do idealista pessimista Rorschach, para quem os humanos mais parecem vermes se reproduzindo na sarjeta, ou mesmo do quase inocente Coruja, que acredita naqueles valores mais nobres que a capa de herói poderia lhe oferecer. Cada um a seu modo, no entanto, entende a necessidade de proteger os humanos por mais que eles os odeiem.

Assim é “Watchmen”. Uma obra luxuosa garimpada do mundo dos quadrinhos que me fez até refletir sobre qual seria a melhor de todas as adaptações já feitas até agora. Criei até uma pequena enquete ali do lado com algumas opções para os que quiserem se manifestar. Caso não concordem com nenhuma delas, o espaço para os comentários está aberto a novas sugestões e ao debate.

O filme de Snyder é também belíssimo por sua trilha sonora. Abaixo, três craques: Bob Dylan, Jimi Hendrix e Nat King Cole num dueto espírita com a filha Natalie Cole.

Bob Dylan - "The Times They Are A Changin'"



Jimi Hendrix - "All Along the Watchtower"



Nat King Cole e Natalie Cole - "Unforgettable"

quinta-feira, 5 de março de 2009

Rock direto das Ilhas Faroe

Que coisa engraçada. Estava eu escrevendo um texto para um outro blog falando sobre um time de futebol das Ilhas Faroe e esbarrei com uma ótima e desconhecida banda. Vale a pena dar uma olhada no Boys in a Band. A banda faz um rock bem parecido com o destes grupos aí do momento como Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Kaiser Chiefs, The Fratellis e mais outras tantas bandas que vocês podiam pensar que tem o som muito igual (o que não quer dizer que seja ruim).

No Wikipedia, eles são descritos como um grupo que faz um som indie, a palavra da moda para indicar um estilo alternativo, mas antenado, sacou?

Enfim, apesar das minhas inevitáveis ironias debochadas, o Boys in a Band é uma boa banda. Formado pelo vocalista e guitarrista Paetur Zachariasson, o guitarrista Heini, o baixista Símun, o baterista Rógvi e Heri Schwartz, que toca órgão, o grupo foi formado em setembro de 2006 em Gota, uma vila de Eysturoy, segunda maior ilha do arquipélago das Ilhas Faroe.

Os integrantes da banda se definem como “Um Bob Dylan com anfetamina”, pois, segundo eles, sua música é uma mistura do novo rock and roll com tradicional folk e blues americano. Ouvindo o grupo até faz algum sentido.

Em 2007, eles conquistaram o Global Battle of the Bands (GBOB), competição que contou com mais de 3.000 bandas de 25 diferentes países. A vitória lhes valeu US$ 100 mil dólares e uma turnê mundial. Assim, eles tocaram em festivais como Roskilde e Spot, na Dinamarca, G! Festival, nas próprias Ilhas Faroe, e o Iceland Airwaves, na Islândia, onde, aliás, eles voltarão a tocar em outubro. Portanto, se você estiver em Reykjavik nesta época, me conte como foi.

O relativo sucesso levou o Boys in a Band para Londres, onde, com a ajuda de Ken Thomas, conhecido por seus trabalhos com Sigur Rós e Dave Gahan, vocalista do Depeche Mode, eles gravaram seu primeiro disco, “Black Diamond Train”, lançado em julho do ano passado.

Acho que por eles ainda não terem gravadora, não consegui encontrar o disco em loja nenhuma. Nem na Amazon. Mas no MySpace da banda (que você pode conferir clicando aqui), é possível ouvir quatro músicas. A melhor delas é “Secrets to Conceal”.

Uma curiosidade. O Boys in a Band bateu no ano passado o recorde mundial de maior número de shows em um dia. Foram 24 apresentações nas Ilhas Faroe. Disposição, portanto, eles têm. Resta saber se eles chegarão ao estrelato do rock and roll.

Abaixo dois vídeos da banda. O primeiro é um clipe de “Beyound Communication” e o segundo o grupo interpretando “Secrets to Conceal” durante a final do Global Battle of the Bands”.



domingo, 1 de março de 2009

Reflexões sobre o Oscar

Se o Oscar de melhor filme pode servir de parâmetro da qualidade da produção cinematográfica – não que eu ache que seja, mas vou usar este critério apenas para este meu exercício retórico – acho que posso dizer que a qualidade dos filmes vem caindo gradativamente nos últimos anos.

Neste ano, pela primeira vez em muito tempo não vejo um filme excelente entre os que concorreram ao Oscar de melhor filme. Minha esperança é “Frost/Nixon”, que deve estrear por aqui neste mês. Os outros quatro trabalhos são ruins? Não, longe disse. Todos eles são bons filmes. O problema é que... são bons filmes e nada mais.

Até gostei bastante de “O Leitor” e “O Curioso Caso de Benjamin Button”, como já escrevi aqui, mas as duas películas não são aquelas que você compraria um DVD para guardar ou colocaria na sua lista de 500 melhores filmes de todos os tempos. São filmes 7,5 como é “Quem quer ser um milionário?”.

O trabalho de Danny Boyle não tem nada de genial, revolucionário ou qualquer coisa que o faça ser tão incensado pela mídia e pela própria Academia que lhe concedeu oito estatuetas. Isso significa que não merecia os prêmios? Claro que não. Mas se eles tivessem ido para outro filme (com exceção do prêmio de canção, que inegavelmente “Quem quer ser um milionário?” é melhor) também não teria sido injusto. Eu se tivesse poder de voto, teria dado para “O Leitor” (por enquanto, diga-se de passagem).

O filme de Boyle é uma fábula simpática sobre um jovem morador de uma favela de Bombaim que consegue 20 milhões de rúpias num programa de perguntas e respostas. Por ser um “slumdog”, um garoto da favela, alguns o consideram uma fraude, inclusive a polícia, que resolve aplicar o melhor método Capitão Nascimento nele para “arrancar a verdade”.

Não consegue. Jamal é extremamente sincero e consegue provar que as respostas para todas as perguntas do programa poderiam ser encontradas na sua vida sofrida, no que resume muito bem, aliás, porque o filme ganhou o Oscar de montagem e de roteiro adaptado.

A única motivação de Jamal é finalmente encontrar o seu grande amor de infância, Latika (Freida Pinto), e, novidade, viver feliz para sempre. Nada diferente de uma história de amor convencional. O que é peculiar é apenas o cenário: uma das favelas mais miseráveis do mundo, na Índia.

“Quem quer ser um milionário?” foi comparado em alguns momentos a “Cidade de Deus” (2002). Mas, sinceramente, tirando o fato de ele ser passado numa favela, haver traficantes e uma corrida de uma galinha logo no início da película - que pode ser uma citação ao trabalho de Fernando Meirelles – não vejo qualquer tipo de relação com o filme brasileiro. Não dá para ficar comparando todo filme que se passa na favela com “Cidade de Deus”.

O trabalho de Meirelles fala sobre o crescimento do tráfico em uma favela com o passar das décadas e o aumento da violência no Rio de Janeiro. Em “Quem quer ser um milionário?”, essa questão apenas permeia a história principal de encontros e desencontros de Jamal e Latika até o desfecho previsível e tomado de esperança. É brega? Talvez, mas funciona. Duvido que alguém saia do cinema dizendo que o filme é ruim.

Mas como eu ia dizendo, o Oscar vem mostrando a queda de produção dos filmes. Numa rápida comparação de 2005 para cá, podemos notar essa diferença. No Oscar de 2005, conquistado pelo ótimo “Menina de Ouro” (2004), havia outro filme excelente no páreo: “Em busca da Terra do Nunca” (2004), mais dois filmes muito bons, “Ray” (2004) e “O Aviador” (2004) e um quinto que eu não vi, mas foi muito elogiado na época, “Sideways – Entre umas e outras” (2004). Em 2006, o surpreendente e ótimo “Crash – No Limite” (2004) bateu adversários do peso de “Boa Noite, e Boa Sorte” (2005), “Capote” (2005) e “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), além de “Munique” (2005), bom filme de Spielberg.

Em 2007, dois filmes muito acima da média. “Os Infiltrados” (2006), o vencedor da noite, e “A Rainha” (2006), concorriam com outros dois ótimos filmes, “Pequena Miss Sunshine” (2006) e “Cartas de Iwo Jima” (2006) e um quinto filme apenas médio, “Babel” (2006). E no ano passado, a obra-prima “Sangue Negro” (2007) perdeu o Oscar para “Onde os fracos não têm vez” (2007), ótimo trabalho dos irmãos Coen, numa disputa que teve ainda “Juno” (2007), “Desejo e Reparação” (2007) e “Conduta de Risco” (2007).

Só para ficar na comparação com a premiação do ano passado, nenhum dos quatro filmes que vi até agora é melhor do que os cinco que disputaram a estatueta de 2008.

“Milk”, por exemplo, também já em cartaz, é o pior de todos os trabalhos que vi de um diretor que gosto muito, Gus Van Sant. Citar “Elefante” (2003), “Last Days” (2005) e “Paranoid Park” (2007) seria covardia, pois “Milk” não é superior sequer aos filmes mais convencionais de Van Sant como “Encontrando Forrester” (2000) e “Gênio Indomável” (1997).

Ao reviver a trajetória do político Harvey Milk, o primeiro gay a conquistar um cargo público em São Francisco, Van Sant, que optou por um filme mais linear e talvez por isso concorreu a oito estatuetas no Oscar, acabou fazendo um filme comum. Ele tem suas qualidades, mas não entra como um trabalho obrigatório na filmografia de Van Sant, bem mais rica do que “Milk” pode sugerir.

O trabalho acabou faturando as estatuetas de roteiro original e ator, para Sean Penn, este o grande pecado da noite. Penn é um ótimo ator, mas esta está longe de ser sua melhor atuação. Principalmente se lembrarmos que a sua primeira estatueta foi por “Sobre meninos e lobos” (2004), este sim um trabalho maiúsculo.

Ficou provado mais uma vez que o Oscar é uma premiação política e que concede suas estatuetas para tipos específicos de filmes. Penn, o ator machão que conseguiu fazer uma bichona que beijava muito o namorado Scott Smith (James Franco, este sim uma surpresa positiva no filme), deu a sua dose de sacrifício digna de Oscar, como já fizera Nicole Kidman ao “ficar feia” para viver Virgínia Woolf em “As Horas” (2002). Levou a estatueta. Em que pese a excelente atuação de Mickey Rourke em “O Lutador”. Mas Rourke é um bad boy que maltratou muita gente em Hollywood. E a vingança é um prato que se come frio, já dizia o ditado. É a política, estúpido. Uma pena. Embora Rourke não precise de uma estatueta de Oscar para que seu trabalho seja reconhecido como grande, ele foi um injustiçado na noite.


De resto, diante da concorrência, o Oscar deste ano me deixou a impressão de que “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, que faturou apenas os prêmios de edição de som e ator coadjuvante para o finado Heath Ledger, e não concorreu às principais láureas, merecia melhor sorte. O filme de Christopher Nolan é melhor do que os quatro que vi até agora, mas a Academia preferiu deixá-lo caminhando (e faturando alto) nas trevas.