quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Pensamento morto

Sêneca, Euclides, Tales de Mileto
Pitágoras, Homero, 
Compondo com Epiteto
Platão e um diálogo sincero
Heródoto, Confúcio,
Lucrécio e Virgílio
Plutárco, Tácito
Sócrates no exílio 
E a poesia ainda vive

Wilde, Borges, Camões
Poe, Withman, Joyce
Voltaire, e suas ilusões
To be Shakespeare, is a choice?

Tolstoi, Dostoievski,
Bandeira, Machado
Eliot, Maiakovski
Rilke é um achado

E a palavra ainda ecoa

Camus, Rimbaud
Franceses no topo
Sartre e Rousseau
O inferno está no outro

Kant, Hegel, Habermas,
Alemães no entorno
Heidegger nunca mais
Nietzsche e o eterno retorno

E a poesia ainda vive

Locke, Bacon, Maquiavel
Kierkegaard, conflito interno
Aristóteles lá no céu
Dante jogado no inferno

Déscartes, Newton, 
Heródoto, Cervantes, 
Lutero, Calvino
Byron, tristes amantes

E a palavra ainda ecoa

Schopenhauer, Spinoza
Baudrillard, Focault
Galileu, uma raposa
Marx te enganou

Drummond, Pessoa, Neruda 
Vitor Hugo, Borges, Lorca
Que você, rapaz, não se iluda
Esse poema só tem gente morta
E a poesia ainda vive? 

sábado, 26 de setembro de 2015

Corneta Rock in Rio - quarto dia

Slipknot fecha a noite/Marcelo Alves
Foram 29 apresentações in loco. Mas chegou a hora da Corneta se despedir de mais uma edição do Rock in Hell. Não sem antes falar sobre o último dia de shows assistidos na City of Rock.
Moonspell + Derrick Green - O dia começou com uma surpresa. Uma banda portuguesa que não canta Roberto Leal. Até ontem eu não sabia que tinha heavy metal em Portugal. Ai veio o Moonspell a dizer: Tenho umas músicas pesadas a mostrar para vocês. Estamos a fazer um show aqui no Rio de Janeiro pela primeira vez.
Bom, o som do Moonspell parece trilha sonora de filme de terror B. Eles cantam músicas em inglês (correto) e em português (errado, pois não é apropriado para o estilo). E ainda apresentam uma tal de "Vampiria", que é um METAL DECLAMADO. A recepção do show é morna (e eu confesso que achei bem mais ou menos). A coisa só esquenta mesmo quando Derrick Green entra para tocar "Territory" e "Roots Bloody Roots", clássicos do Sepultura.
Nightwish + Tony Kakko - Diz a lenda que na Finlândia banda de metal melódico é igual grupo de samba no Hell de Janeiro. Tem uma em cada esquina. E o Nightwish é um dos expoentes dessa galera. Há uma década sem sua cantora original (Tarja Turunen foi expulsa da banda pelo chefão e guitarrista Tuomas Holopainen), o Nightwish parece ter se acertado com Floor Janssen.
Soprano, como exige o gênero, Floor não canta como Tarja, que fazia você se sentir numa ÓPERA, alcançando notas que saiam da partitura. Mas é muito boa, tem uma alma mais metaleira, é performática, sensualiza, sacode a cabeleira com garra e é holandesa, ou seja, maravilhosa.
Poucos clássicos do Nightwish estiveram no set. "Wishmaster" era um deles. A banda preferiu nos entregar um show com músicas mais recentes e uma vibe taverna de "Senhor dos Anéis".
De la Tierra - Andreas Kisser ganhou o prêmio Arroz de Festa desse Rock in Hell. Simplesmente ele esteve presente em todos os quatro dias que eu fui. Isso porque o Sepultura não tocou no festival. E não duvidem que ele possa entrar no palco com a Rihanna hoje.
O De la Tierra é um projeto paralelo de Kisser com uns parças argentinos e mexicano de outras bandas (o bom baterista Alex Gonzalez, por exemplo, é do Maná). Logo de cara o cantor e guitarrista Andrés Gimenez lembrou que aquela era a única banda latina no festival. Tudo era "increible" para ele, que parecia satisfeito em tocar no palco mundo.
É muito estranho ouvir metal em espanhol (vocês sabem, o estilo deve ser cantado em inglês ou dialetos nórdicos antigos), mas o resultado final foi bom. O cover de "Polícia", dos Titãs, saiu meio descoordenado, e o baixista Sr. Flávio cantou uma música que mais parecia uma versão metaleira de "MACARENA". Mas a canção "O xamã de Manaus" é muito boa. A começar pelo seu nome.
Steve Vai + Camerata de Florianópolis - Steve Vai tem uma relação quase sexual com a sua guitarra. Deve ser por isso que ele terminou o show tocando-a com a LÍNGUA. Nessa grande masturbação sentimental, a orquestra Camerata pareceu um tom abaixo dos demais instrumentos. Mas é sempre legal ver um guitarrista do naipe de Steve Vai tocar. Principalmente se o show acaba com "For the love of God".
Mastodon - Uma banda que se chama MASTODONTE tinha que ter pelo menos um membro com cara de homem das cavernas. Essa cota é cumprida pelo baixista Troy Sanders. O som dos caras, no entanto, está longe de ser milenar. Foi um dos grandes shows deste festival.
Faith no More - Antes do show começar, alguns pingos de chuva surgiram. Certamente foi resultado da falta de comunicação entre o santo de Mike Patton e o cacique Cobra Cobral. Eles se acertaram a tempo e o Faith no More tocou sem tomar água na cabeça.
Patton é uma figura estranha. Com a maior pinta de macumbeiro ali todo vestido de branco junto com o visual clean e florido do resto da banda e do palco fica a impressão de que vai baixar um santo a qualquer momento. Bom, pelo menos ele trouxe fantasmas do passado como "Epic" e "Easy".
O cantor adora falar CARIÔCAS" e outras palavras em português. Parabéns para o professor que o ensinou. Até "Um beijo" o pai de santo do rock mandou.
O povo curtiu o show e numa boa vibe, sem aquela nostalgia de "Ah, como era bom o Rock in Rio de 1991". Faltou só Mike Patton fazer um despacho.
Slipknot - Alheia à reclamação dos cariocas nos últimos dias de que estava muito calor, a banda resolveu ligar o maçarico e dar uma esquentada no clima com muitas labaredas. Quatro anos depois da INCENDIÁRIA apresentação no Rock in Hell, o Slipknot voltou com disco novo e novos integrantes na banda.
A disposição de Corey Taylor para defender o heavy metal é louvável: "Nós vivemos por isso, sangramos por isso, morremos por isso". Discurso de guerra bem "Game of Thrones". E a comunidade Slipknot é unida. A banda é formada por brothers e o público é a família. Teve até espaço para cantar parabéns pelo aniversário do Palhaço.
Como tem NOVE integrantes, volta e meia o Slipknot tem alguém de bobeira agitando a galera ou fazendo uma performance. As músicas do disco novo são boas, mas, como era de se esperar, são as antigas que agitam o povo em animadíssimas rodas de pogo.

Não foi um show tão bom quanto o de 2011, mas deu para sair bem satisfeito. E eu continuo desejando ter para mim aquela máscara que parece um porco-espinho.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Corneta Rock in Rio - terceiro dia

System of a Down no Rock in Rio/Marcelo Alves
A Corneta chega ao terceiro dia do Rock in Hell. Apesar do calor senegalês que atingiu a City of Rock, lá estávamos com o nosso pretinho básico para conferir bandas de hard rock, metal e classic rock. Definitivamente foi o melhor dia do festival até aqui.
Halestorm - A banda tem uma vocalista mulher, o que é bem raro no mundo do hard rock. Lzzy Hale tem carisma, toca guitarra, mostra a língua, faz chifrinho (Dio curtiu) e grita "Screaaaamm for me Rio" (Bruce Dickinson curtiu). Ela também fez uma média dizendo que "o Rock in Rio é o melhor festival de todos". Ou Lzzy fala isso para todos ou está cavando um lugar no palco mundo em 2017.
O guitarrista Joe Hottinger tem um anel de caveira estiloso e gosta de fazer um malabarismo com os dedos e trabalhar ali entre a 14ª e a 17ª casas da guitarra só para mostrar que é fodão e me causar uma invejinha. Já o baterista e irmãozinho de Lzzy, Arejay Hale, parece que foi ao show depois de surfar na Prainha. Ele é presepeiro e gosta de ficar em pé igual ao Lars Ulrich.
Mas o Halestorm fez um bom show e tinha seus fãs à frente do Sunset. Entre eles muitas mulheres. Talvez Lzzy seja uma inspiração. Ela só precisa parar de trocar o dia pela noite. Toda hora falava em "tonight" e o relógio ainda nem marcava 17h.
Lamb of God - Embora se chame CORDEIRO DE DEUS, a banda é encapetada. Seu vocalista, Randy Blythe, é especialista em balançar os cabelos e cantar de forma GUTURAL. Também não faltam palavrões a ele. Logo, não se engane. Não é uma banda cristã.
O Lamb of God tem um guitarrista e um baixista cabeludos e com a maior pinta de profetas. Não dá para entender nada que a banda canta, mas o som é maneiro.
CPM 22 - Ainda no palco a banda de "punk-rock" brasileira reconheceu que estava TENSA e com medo de ser o Glória ou o CARLINHOS BROWN desta edição do Rock in Hell e tomar vaias e copos d'água na cabeça. "A gente estava apreensivo", disse o vocalista Badauí. Mas vejam só como é a vida. O CPM 22 chegou logo de cara quebrando tudo, mandou uma sequência de hits acumulados em duas décadas de carreira e quando chegou em "Um minuto para o fim do mundo", Badauí se deu ao luxo de deixar a galera cantar boa parte da canção.
Jogo ganho, o vocalista foi pra galera, disse que estava emocionado, não sabia o que dizer e continuou tocando deixando o povo feliz. Assim, o CPM 22 ganha o Prêmio Pato Fu de banda que conseguiu dobrar uma galera supostamente resistente.
Deftones - O Deftones é outra banda que teve muitos fãs na City of Rock. Muitos mesmo. Eles devem ser bons, mas eu devo ter uma deficiência auditiva, porque eu não conseguia diferenciar uma música da outra. Quase todas têm a mesma pegada na guitarra, quase todas tem aquela bateria tocada do mesmo jeito, em quase todas o vocalista canta como se estivesse se derretendo por dentro. Deve ser um Chitãozinho & Xororó style. Só faltou o Deftones cantar "Evidências" mesmo.
Hollywood Vampires - Os Vampires têm lendas do rock como Alice Cooper, Joe Perry e Duff McKeagan, mas tinha uma galera, uma galera mesmo (mulheres em sua maioria. Esse cara e bom), LOUCA para ver o Johnny Depp. Convenhamos, Depp é um excelente ator, mas como guitarrista ele ainda está no Intermediário 2 do curso. Os que seguram mesmo a peteca são Perry e outro guitarrista que sequer foi apresentado, enquanto Depp joga pra galera e imita o Keith Richards, que parece o Jack Sparrow, que se assemelha ao Johnny Depp, que.....
Mas como a banda é boa e este é um projeto displicente de amigos que estão se divertindo em meio a bebedeiras, tudo dá certo e Depp age como o Odvan jogando ao lado do Mauro Galvão na antiga zaga do Vasco.
O Hollywood Vampires é uma banda de covers de clássicos do rock (tem "My generation", "Another brick in the wall", "Brown Sugar"...). E com músicos fodas (o baterista Matt Sorum não está inserido neste contexto) e consagrados, não tinha como esse show ser ruim. O que eu não esperava e que o espetáculo comandado por Tia Alice fosse tão excelente e divertido.
Alice tem 67 anos, mas nem parece. Continua ali cantando como um garoto canções como "School's out". Sempre segurando o seu bastão e comandando a festa que em um dado momento teve quatro, eu disse, QUATRO, guitarristas com a entrada do eternamente presente neste Rock in Hell Andreas Kisser, e dois bateristas. E ainda teve uma palhinha de Lzzy, a vocalista do Halestorm, cantando e tocando "Whole Lotta Love". Foi uma grande celebração do rock. Eu quase subi no palco para tocar também. Afinal, eu estou no intermediário 3.
Queens of the Stone Age - Graças aos deuses do rock todos os integrantes estavam vestidos dessa vez. Catorze anos depois, o Queens of the Stone Age é obviamente uma banda melhor e com mais repertório do que naquele Rock in Hell de 2001. O vocalista Josh Homme gosta de cantar numa penumbra. Timidez ou estilo? Não sabemos.
O QOTSA foi a primeira GRANDE banda do dia. Aquela azeitada e com boas canções praticamente do início ao fim. Fodaço.
System of a Down - A cada show do System of a Down eu me sinto numa igreja. Serj Tankian é o meu pastor e nada me faltará. Deve ser porque o vocalista da banda americana segura o microfone com aquele jeito de pastor e levanta o outro braço como se estivesse pregando. Serj ainda tem aquele jeito de cantar meio declamado num ZÉ RAMALHO style alternado com explosões de fúria. O pastor perfeito.
O SOAD é uma banda só com descendentes de armênios. O som é um hard rock que por vezes desemboca no metal e com dancinhas que o faz pensar que está num casamento típico da.... Armênia talvez. Ou uma festa turca, ou indiana, enfim, qualquer celebração que tenha aquela dancinha com pulinhos, os braços pra cima e o corpo girando.
Serj tem a maior vibe "estou curtindo muito isso aqui sem estresse". Mas a voz pareceu falhar em alguns momentos. No caso de Daron Malakian sempre fico impressionado com o domínio que ele tem da guitarra tocando coisas complexas facilmente, sem olhar e emendando as 27 músicas do set list praticamente sem parar. Vai ser confiante assim lá na Armênia.
Confirmando suspeitas que tinha desde cedo, 80% das pessoas estavam lá para ver a banda. E cantar a plenos pulmões como se não houvesse amanhã a maioria das músicas. "Aerials", por exemplo, é o "Fear of the dark" do System e começa com um coro eterno de "Õoooo". É bonito.
A banda também tem uma canção vegana, em que se repete a palavra banana eternamente. E uma canção de "confraternização", em que se repete a palavra pogo, a famosa rodinha dos shows de rock, até o dia seguinte. Para não falar na música de auto-ajuda ("Life is a waterfall/We're one in the river/And one again after the fall") e na letra contra os bonzinhos ("angels deserve to die").
São canções como "BYOB", "Chop Suey", "Hypnotize", "Lonely Day", "Question" e "Toxicity" que soam como canto gregoriano para os fiéis, quer dizer, os fãs. Voltem sempre, viu, que foi lindo. Foi incrível. Foi épico.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Grécia Facts

O Parthenon, em Atenas/Marcelo Alves
Finalizando a série de posts viajantes que começou com Istambul e passou por Bodrum, agora vamos ao Grécia Facts.

1) A Grécia, vocês sabem, é um monte de ruínas de civilizações milenares cercada de pequenas cidades por todos os lados.

2) O mundo devia adotar o Iasas como cumprimento universal. Nenhuma saudação te faz sorrir mais diante de alguém. Basta você testar em casa. Diga, Iasas, olá, Hello, Hallo, Bon Jour na frente do espelho e comprove que a saudação mais simpática, mais sorridente e que mais expõe a ARCADA DENTÁRIA é o cumprimento grego. 

3) Está para nascer povo mais simpático, alegre, gente boa e amável que o grego.

4) E poucos valorizam tanto a sua história. Não falo de Sócrates e Platão, mas a história de suas famílias. É um tal de quinta geração de produtores de azeite, sexta geração de vendedores de sorvete, quarta geração no comando do restaurante. 

4) Tsipras tem muita moral. E mesmo quem não gosta dele reconhece que ele é muito macho. (Não é no sentido sexual, gente. Controlem seus impulsos). 

5) 98,34% da população grega (estudo de pesquisadores britânicos) fala perfeitamente inglês, o esperanto que deu certo. E tudo eles aprendem na escola. Não tem CCAA lá não. Os únicos que não falam inglês são aqueles gregos antigos, que lutaram na guerra do Peloponeso. 

MILOS

As águas cristalinas de Milos/Marcelo Alves

1) Muitos gatos. Muitos deles pretos. Se você for supersticioso será um problema, pois muitos deles vão cruzar o seu caminho. 

2) Milos não tem sinal. As pessoas simplesmente se respeitam. Pedestres, motoristas de carro, motoristas de ônibus e turistas. E é muito raro ver alguém buzinando. 

3) Alegria, restaurantes cheios, turistas circulando e gastando, aqui não tem crise 

4) Milos tem 38 PRAIAS. Tudo isso numa área de 160,1 km quadrados, o que dá uma praia para cada 4,21 km quadrados. Como a população é de 4.977 habitantes, tem uma praia para cada 130,9 deles. E mesmo com os turistas, elas nunca ficam cheias, pois são 38 praias! 

5) Obviamente é impossível visitar todas elas numa breve estadia, mas Klefitkos, que só dá para chegar de barco, e Papafragas, onde é possível nadar por CAVERNAS, são muito especiais. 

6) Água azul cristalina daquelas que se vê o fundo. E o Mediterrâneo é menos salgado que o Egeu. Temperatura perfeita. Pelo visto água gelada só em Mikonos. 

7) Casinhas brancas com detalhes em azul. 

8) Um pôr do sol melhor que o outro.

9) À noite os pontos de ônibus são escuros, muito escuros, mas ninguém tem medo e não tem assalto. 

10) O grego fala como um russo com a cadência do italiano. 

11) Por falar em italianos, uma horda deles invadiu as ilhas gregas como nem o exército alemão do III Reich fez. E sempre falando alto e viajando naquele esquema formação de quadrilha: casal, de três a quatro filhos, sogra... E essa invasão não deve ser algo recente, pois muitos gregos falam italiano numa clara tentativa de melhor atender a clientela. Em Santorini, porém, os italianos tiveram a forte concorrência do exército chinês, que brotava da terra como ninjas de "O tigre e o dragão" a cada esquina. 

11) Havaianas é sucesso absoluto. Mais importante que o Neymar entre os produtos brasileiros. Não tente falar em português com alguém que usa havaianas. Possivelmente não é brasileiro. 

12) Por falar em futebol, toda e qualquer menção ao Brasil vem acompanhada de um nome: Ronaldinho. O gaúcho não joga em alto nível há séculos, mas seu sucesso no Barcelona ainda ecoa pelo mundo grego. 

13) Ntákos, tipo uma mega bruschetta. Um espetáculo. 

SANTORINI

O famoso pôr do sol de Oia/Marcelo Alves

14) Santorini são casas no topo da montanha e ruazinhas estreitas em cidades espaçadas. É tipo uma La Paz que deu certo. 

15) Hoje é tudo lindo, bonitinho e com uma arquitetura fantástica e pronta para os noivos realizarem os seus casamentos, mas o que você não sabia é que no passado distante ter as casas no alto das montanhas era algo MILITARMENTE estratégico para a velha Santorini. Quando o povo de ilha não morava em casinhas brancas, mas em CAVERNAS, eles ficavam lá do alto para evitar o ataque de PIRATAS, já que os CORSÁRIOS não dominavam técnicas para escalar montanhas. Além disso, do topo da montanha você pode ver toda a ilha e, consequentemente, a aproximação de navios. 

15) Não tem gordo em Santorini. É preciso ter preparo físico para subir e descer ladeiras e escadinhas. 

16) Se tem uma coisa que Santorini tem para dar e vender são escadas, plantações de uva (deve ser por isso que o vinho é uma instituição local) e piscinas. Aliás, qualquer birosca se diz uma pool view of the sunset. 

17) Há toda uma INDÚSTRIA do pôr do sol em Santorini. Cada bar e restaurante diz ter a melhor vista possível do espetáculo do CREPÚSCULO grego. Aliás, quando vai dando aquela hora todo mundo vai se posicionando para ver o pôr do sol. Sendo que as classes mais abastadas, é claro, ficam em suas piscinas. 

18) A estrada que vai do porto até Fira e na sequência se dirige para Oia CLAMA por uma corrida de Fórmula-1 em que o vencedor é simplesmente quem não despenca do penhasco. 

19) Santorini tem muita mídia. A Santorini press pelo mundo faz o maior merchandising, mas a ilha não é isso tudo não. A Grécia tem lugares muito melhores e com mais cara de Grécia do que essa ilha que tem muito de ostentação e pouco dos verdadeiros prazeres gregos. 

20) O único lugar em que lidei com gente grossa e mal educada. Santorini nem parece Grécia. Parece o Rio. Bom, o símbolo da ilha é um burro. Deve ser por isso que alguns tratam o turista como jumentos. 

21) Barulho intenso de motos e bugres. Parece ser a escolha preferencial na hora de alugar um veículo para se deslocar pelas ilhas.

22) Rola uma máfia dos ônibus no lugar. Acho que é por isso que os cobradores cagam para você. Muitos estão mal humorados e dando respostas ríspidas. Afinal, ou você pega o ônibus deles, ou ficará a pé na ilha. E isso significa gastar bastante de táxi ou andar por pelo menos 2h30min de um lugar para o outro. 

23) Na Ilha impera um intenso espírito romântico. Meia hora num restaurantezinho qualquer para comer um puta gyros, ops, quer dizer, pita gyros (o kebab grego) e você já está se amando. Então tudo gira em torno da suposta magia de Santorini. Piscinas, restaurantes, pôr do sol, aquela EXEGESE vendida para o mundo. Mas convenhamos, um lobo solitário como eu não cai nesse papinho. E, convenhamos parte II, quem está apaixonado se sente feliz até numa aldeia de esfomeados na República Democrática do Congo. Santorini é puro marketing, amigos.  Um marketing bonito, é claro, que impressiona pela beleza, é claro, mas marketing. Santorini é a Grécia gourmetizada, amigos. 

24) Muitas lojas! Vende-se de tudo de Santorini. 

25) Em compensação, em Santorini tivemos o melhor sorvete da viagem e um dos melhores do mundo. Fica numa gelateria e cafeteria que existe desde o século XIX servindo muito bem à sociedade com grandes sabores, incluindo Baklava e o MARAVILHOSO Vanilla Parfait. Definitivamente é uma gelateria top 5 da minha vida. 

25) Fira - Capital da ilha e centro nervoso com hotéis, restaurantes, lojas e mais lojas, e muitas piscinas e ostentação. 

Kamari - Cidadezinha pequena com uma praia de areia preta e grossa. Uma Arraial do Cabo com grife. 

Perivolos e Perissa - Duas regiões coladas uma na outra e dividindo dois dois quilômetros de areia preta e mar nota 8,5. Mais simpáticas que Kamari e mais jeitosinhas. Cabo Frio melhorada. 

Red Beach - Uma piada de mau gosto. Você passa por desafios, escala a montanha, anda por DESFILADEIROS, e quando chega na praia não vê o paraíso esperado pelo seu esforço, mas uma pequena faixa de areia loteada por bares. 

Oia - Nesta cidade que é um grande encontro vocálico, você vê uma noiva em cada esquina. Sempre ali de branco posando diante das casinhas brancas com o sol e o mar ao fundo. Parece ser a reserva moral grega de Santorini. É famosa pelo seu pôr do sol. Diariamente dezenas, talvez centenas de pessoas se reúnem desde cedo num ponto da cidade para contemplar o sol se pondo e a luminosidade amarelo-alaranjada batendo nas casinhas brancas. Fica a maior muvuca e, enfim, não é exatamente um prazer, mas é belo, muito belo. 

CRETA

As ruínas do Palácio de Knossos/Marcelo Alves

26) Creta já foi dos turcos, romanos, bizantinos, venezianos, mas tem também uma pitadinha de França com aqueles bares e restaurantes com suas cadeiras voltadas para a rua no modus parisiense.

27) Aqui, amigos, é um lugar sério. Foi nessa ilha que, segundo a mitologia grega, ou seja a verdadeira história humana, nasceu ninguém menos do que Zeus. Não é à toa que Heraklion vem de Heracles, ou Hércules, o semideus filho de Zeus. 

28) Mas hoje o que impera na cidade de Heráclio, capital da ilha, é o barulho das motos acelerando e da intensa NIGHT cretense. 

29) Creta tem brownie de Oreo. Vou repetir: BROWNIE DE OREO. E em porções generosas.

30) Não existe mulher feia na Grécia. Se você vir uma, aposto que é imigrante (o preconceito bateu na porta e mandou lembranças nesta frase). As gregas são filhas de Apolo com Atena. Estão entre as mais belas da Europa com a sua combinação de guerreira espartana com modelo da Givenchy. E têm um olhar eternamente misterioso e ENIGMÁTICO como o velho Tirésias proferindo alegorias.

31) No tempo em que se amarrava cachorro com linguiça (se é que tinha linguiça pois foi há muito tempo mesmo), Creta era o lar da civilização MNOICA. Estes pequenos grandes homens eram extremamente avançados para o seu tempo, tinham uma escrita própria e ainda não totalmente decifrada, mas viviam em casinhas simples de um cômodo, produziam vinho e faziam comida em PANELÕES inimagináveis. Como viveram numa era pré-deuses do Olimpo, cultuavam outras divindades. Entre eles a DEUSA DAS COBRAS. 

32) A deusa das cobras é a primeira (e talvez única) divindade que faz TOPLESS na história das religiões. Uma de suas duas  imagens encontrada por arqueólogos e exposta no fantástico Museu Arqueológico de Creta consiste em uma mulher com os peitos de fora e segurando uma cobra em cada uma das mãos (sem piadinhas de adolescentes de 12 anos, por favor). Óbvio que tive que comprar um souvenir desses para mim. 

33) Os Mnoicos também tinham um pequeno disco com 45 imagens pictóricas que arqueólogos ainda não conseguiram decifrar. Ele seria uma espécie de hino, ou, e talvez o mais importante, um texto mágico. Ou seja, isso pode ser o CÓDIGO DA VINCI dos mnoicos. E decifrá-lo pode trazer consequências imprevisíveis para a humanidade. 

34) Além de simpático, gente boa, educado e sorridente, o cretense é extremamente generoso. Fui comprar uma mala e ganhei de graça um cadeado como "cortesia da loja" no mercado de Creta. Fui almoçar num restaurante e ganhei de graça uma sobremesa com um doce típico da ilha e mais uvas e kiwi. Eu já estava para lá de satisfeito quando logo depois de comer, a mulher volta com OUTRA SOBREMESA: um petit gateau de chocolate e uma bola de sorvete de baunilha também DE GRAÇA. Como não amar Creta? Como não amar a Grécia?

35) Creta é muita história e tradição. Há comerciantes que comandam negócios tradicionais da família há gerações e gerações. E há uma loja de música especializada em artistas só de Creta. 

36) Por falar na música grega, ela é muito rica em melodia. Os instrumentos típicos usados nela são o bandolim, o bouzouki e um outro negócio que parece uma gaita de fole. 

37) Heraklion tem uma grande orla sem praia, ou quase isso. Ali, descendo do centro  nervoso da cidade até o porto vemos o mar lindo, lépido e fagueiro. A partir daí à esquerda temos um grande Aterro do Flamengo com áreas com diversas atividades, mas ninguém se arrisca no mar, que é limpo. No meio do caminho há museus, uma praia de pedra e outra de areia que, infelizmente, são sujas. Ainda que o mar seja limpo. 

38) Em Heraklion também encontrei o estádio mais bem localizado do mundo. Ele fica literalmente de frente para a praia. Trata-se do Pankritio, onde joga o Ergotelis, atualmente na segunda divisão grega. O estádio tem capacidade para 26 mil pessoas e é bem bonitinho, além de ficar grudado na praia e presenciar um belo pôr do sol. Em volta, porém, temos uma comunidade mais pobre da cidade, com direito a casas que criam galinhas e BODES!

39) As ilhas gregas são cigarras, muitas cigarras, incontáveis cigarras numa sinfonia de um único tom. O Palácio de Knossos é uma loucura. 

40) Heraklion - Simpática e calma. Não necessariamente bela, mas jeitosinha. 


Chania - Parece uma cidadezinha italiana encravada na Grécia. É onde a influência veneziana permanece bem forte. A Old Town tem uma orla bonita com um farol antigo para você tirar fotos e ganhar likes no Face.

Conclusão:

Voltaria para a Grécia? Com certeza!

Moraria na Grécia? Com certeza!

domingo, 20 de setembro de 2015

Corneta Rock in Rio - segundo dia

O Metallica fechou a segunda noite/Marcelo Alves
Segundo dia de Rock in Hell, a Corneta vestiu o pretinho básico para acompanhar o primeiro dia de metaaaaaaalll (ler com voz gutural). Vejam como foi numa visão malemolente:
Noturnall + Michael Kiske - Os metaleiros fazem pose de mau e adoradores do diabo, mas por trás dessa atitude bate o coração de um filho que ama a mamãe. Foi para provar isso que Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall, levou para o palco a grande atração do Rock in Hell (para ele), dona MARIA ODETE. E juntos, mãe e filho CHOCARAM os headbangers cantando a fofa "Woman in Chains", dos Tears for Fears, também conhecidos como Tias Fofinhas.
Mas o show não teve só momentos meigos. Tivemos também mulheres-zumbis possuídas pelo capeta fazendo POLE DANCE, muito Power Metal e a participação mais do que especial de Michael Kiske. Agora careca (aparentemente por opção), o ex-cabeludo e ex-vocalista do Helloween emocionou a galera alcançando agudos dignos da MARIAH CAREY dos bons tempos. E tudo acabou com a maravilhosa "I want out/To liiiiiiiiive my life alone/I want out..."
Angra + Dee Snider + Doro Pesch - Metal melódico exige alcance vocal, enfim, exige muito do GOGÓ. Foi por isso que o Angra resolveu contratar um cantor lírico italiano para substituir Edu Falaschi, o Fabio Lione.
Foi um show bem mais ou menos, mas paradoxalmente, cheio de momentos emocionantes. Era um dos últimos de Kiko Loureiro com a guitarra permanente do grupo. Kiko foi contratado pelo heavy metal americano e vai tocar no Megadeth a partir da próxima temporada "representando o Brasil e a família Angra". Teve ainda a presença de Doro Pesch, a Wanderléa do hevy metal, e de Dee Fuck It Snider, que entrou no palco a 250km/h e fez a alegria de todos nós cantando as únicas duas músicas que existem do Twisted Sisters: "I wanna rock" e (cantem comigo!) "We're not gonna take it/No we ain't gonna take it/Wer're not goona take it/anymoooooooore..
Ministry + Burton C. Bell - Se fosse para definir o Ministry em quatro palavras seria: Uma massa sonora disforme. A banda veio soltando muitos grunhidos, vômitos sonoros e gritos que ninguém entendia nada proferidos por um vocalista que tinha um monte de pregos na cara. E ainda tinha uma letra pornô que desejava um colar de pérolas para todo mundo. Foram agressivos e não conquistaram muito a galera com o seu aaarghgrghgfrhfdhgdaAaa a cada música.
Gojira - Até ontem eu não sabia que existia heavy metal na França. Cachecol e biquinho não combinam muito com o som, não é verdade? Mas o Gojira é da França, ainda que seu nome seja Godzila em japonês. Os franceses cantam em inglês porque, como eu já disse aqui, heavy metal é para ser cantado em inglês ou dialetos nórdicos antigos. O vocalista Joe Duplantier também sabe falar "Muito obrigado" perfeitamente. Deve ter aprendido quando foi baixista do Cavalera Conspiracy. Não empolgou muito, pois todas as músicas pareciam iguais.
Korn - O Korn consiste em músicas muito parecidas sendo cantadas pelo vocalista quase sempre na mesma postura: meio curvado e balançando os cabelos loucamente. Ganhou o prêmio Sepultura de escalação equivocada no Sunset. Pela quantidade de gente que estava lá (e não estava no fim do Gojira) deveriam ter tocado no palco mundo. A galera curtiu muito. Eu nem tanto.
Royal Blood - Rompendo preconceitos no Rock in Hell - parte II. Antes do show: Não dá para respeitar uma banda sem guitarra. Durante o show: Como esse cara tira esse som FEROZ com um baixo?!?!
O Sangue Real já vai para a lista dos melhores shows desse festival. A banda inglesa tem apenas um disco e consiste apenas em um duo de baixo e bateria, mas o que Mike Kerr faz com o baixo envenenado dele não existe. Parece que ele pegou tudo o que um guitarrista faz, olhou para o seu baixo e disse: por que não fazer? Até o riff de "Iron Man" do Black Sabbath teve. Showzaço.
Mötley Crüe - A banda está em sua última turnê como a lápide no fundo do palco indicava: 1981-2015. Foram mais de 30 anos de sexo, drogas e rock n'roll em doses cavalares. O grupo é um EXPOENTE do rock-farofa. E na sua última turnê faz de tudo para não perder o título. Abusa das presepadas, incendeia o palco, solta fogo da guitarra e ainda traz uma dupla de backing vocals para sensualizar rebolando e requebrando a cabeleira. Elas são tipo a Scheilla Carvalho e a Scheilla Mello desse É o tchan do rock.
Todos os "clássicos" estavam lá. A começar por "Girls, girls, girls". No fim, Vince Neil voltou ao palco para um momento fofo cantando "Home, sweet home". R.I.P. Mötley Crüe. O farofismo nunca mais será o mesmo.
Metallica - Depois de três Rock in Hell seguidos, a gente já conhece até as piadas e os trejeitos de James Hetfield. Sabemos que lá pelo meio do show ele vai fazer graça dizendo que vai embora. E sabemos que vai ter a brincadeirinha de mostrar a paleta em "Nothing Else Matters".
O que teve de novo? Bom, um estagiário fã do Dave Mustaine (sempre se coloca a culpa neles) tentou derrubar a banda desligando a tomada do som. Assim, por uns 45 tensos segundos, o Metallica ficou fazendo mímica no palco. Até então o show estava EXPLOSIVO. E assim continuou depois com a banda RASGANDO os tímpanos da plateia com o som pra lá de estourado. Novidades no set list? "King Nothing", do "Load", "Turn the page" e "Whiskey in the jar", música que devia tocar em toda festa. De resto algumas mudanças na ordem das músicas de sempre e a conhecida competência da banda, que sabe fazer um show espetacular. Poucos nesse festival têm capacidade para igualar o nível do Metallica.
É como alguém definiu no Twitter. Metallica e Iron Maiden são bandas que você pode ver 97568457537985 vezes com o mesmo set list que nunca vai enjoar. Portanto, só nos resta esperar o Medina confirmar os dois no Rock in Hell 2017.