quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Um faroeste clássico

Nunca escondi aqui neste espaço minha paixão por faroestes. De John Wayne a Clint Eastwood, passando por produções recentes que revisitam o gênero - até certo ponto “Onde os fracos não têm vez” (2008), dos irmãos Coen, e “Os Imperdoáveis” (1992), de Eastwood -, vão além ou criam quase um “faroeste-pipoca”, caso do recente “Os Indomáveis” (2007), de James Mangold, estrelado por Russel Crowe, eu gosto do bom e velho filme com mocinhos e bandidos, duelos, cavalos, pradarias, índios, paisagens poeirentas, cidadezinhas de uma rua só, sotaque texano, saloon, o silêncio e bolas de feno rolando ao som daquele inconfundível assobio.

Devido ao que credito falta de interesse do público em geral, muito mais afeito a velocidade videoclípica do que a uma, digamos, ação mais estática, e ao estilo único dos westerns, que não se colocam nem entre os blockbusters explosivos, nem entre os filmes mais reflexivos, basicamente como se dividem os filmes hoje em dia, confesso que nunca imaginei que veria um faroeste mais clássico novamente.

Aí veio o ator Ed Harris, que no seu segundo filme como diretor – o primeiro fora “Pollock” (2000) –, “Appaloosa – Uma cidade seu lei” -, resolve apostar num resgate dos velhos westerns e faz um ótimo faroeste, daqueles para se deliciar. Talvez até percebendo que assistiriam a isso, vi tantos idosos no cinema. Afinal, o faroeste é um gênero que despertava a paixão dos mais antigos. Eu mesmo aprendi a gostar deles com o meu avô.

“Appaloosa” conta a história de dois solitários justiceiros, Virgil Cole (Ed Harris) e Everett Hitch (Viggo Mortensen, sempre ótimo), que percorrem cidades do Velho Oeste levando a lei e a ordem. Mais western que isso impossível.

Na cidade que dá nome ao filme, impera a lei do mais forte comandada pelo fazendeiro Randal Bragg (um ótimo Jeremy Irons), responsável pela morte do último xerife do local e que achincalha seus moradores roubando comida, bebendo de graça, estuprando as mulheres e praticando todo o tipo de terrorismo possível.

Assim, Cole e Hitch, os gatilhos mais rápidos da região (claro), são contratados pelo prefeito local para dar um jeito nisso e levar Bragg às garras da Justiça. Claro, que em meio a isso tudo tem os duelos, os personagens característicos, o olho no olho quando é necessário e o olhar desviado que ignora aquele com quem se conversa estão sempre presentes.

E uma mulher frágil, evidentemente. Cabe a Allison French (Renée Zelwegger) viver esse papel. No entanto, ela é o único ponto de diferença entre o filme de Harris e os faroestes tradicionais. Digamos que French não é muito devotada ao seu amor, e está mais para uma “maria-coldre”, versão século XIX das marias-chuteiras, do que por um sentimento legítimo. Como diz Cole, ela “parece dar para qualquer um que não seja um eunuco”. Estar com quem detém o poder é sua única ambição e forma de sobreviver no mundo masculino do Velho Oeste. French é, portanto, o toque de humor no filme de Harris.

O desfecho do filme? Embora seja possível desconfiar, prefiro não dizer. O importante é que “Appaloosa” é diversão garantida para aqueles que apreciam um bom faroeste. Ele certamente não é o melhor filme que qualquer um já viu. Nem o melhor western. Mas é um presente e tanto que Ed Harris deu para os amantes do gênero.

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