segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Best Of 2013 - Cinema

La vie D'Adèle, o melhor filme de 2013
Depois dos melhores shows do ano (que você pode ver no post abaixo), chegou a hora do grande momento da corneta de Memórias da Alcova: o de eleger os melhores e os piores filmes de 2013.

O top-10 é sempre um duro desafio para este blogueiro (deixa eu valorizar o meu trabalho com um chôrôrô, vai). Após muito tira daqui, coloca dali, pensa, reflete, cheguei a 17 títulos. Cortar sete foi outro duro desafio, mas tive que deixar de fora filmes muito bons como “Lincoln”, que rendeu um Oscar a Daniel Day-Lewis, “Capitão Phillips”, que pode render um Oscar a Tom Hanks no ano que vem, “As sessões”, “Hanna Arendt” e “Guerra Mundial Z”.

Mas só cabiam dez. É a tradição do Best Of. E cheguei à conclusão que os dez filmes abaixo foram os que mais me marcaram de alguma forma em 2013. Então, vamos ao ranking.

10º lugar – “O som ao redor” – Um bairro de classe média pernambucana é o grande personagem do filme dirigido por Kléber Mendonça Filho. O crítico de cinema, que resolveu virar vidraça e realizar o seu primeiro longa, conta uma história de preconceitos, pequenas contravenções, subornos e crimes em geral realizados em Recife. Da complexidade daquele microcosmo cheio de nuances, podemos refletir sobre toda uma realidade brasileira. O filme foi indicado para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro em 2013, mas não foi pré-selecionado. Azar do Oscar.

Cameron Diaz e Penélope Cruz no 'Conselheiro do Crime'
9º lugar – “O conselheiro do crime” – Muitos amam este filme. Outros odeiam. Eu me incluo no primeiro grupo. Primeiro roteiro do escritor Cormac Mccarthy, o trabalho de Ridley Scott é um filmaço sobre a máfia mexicana e as graves consequências que a ganância pode causar a uma pessoa que se envolve com tipos tão perigosos. O filme conta com ótimas atuações do elenco, em especial Michael Fassbender, que vem a ser o personagem principal da história.

8º lugar – “Django Livre” – Não é o melhor filme de Quentin Tarantino, mas é mais uma ótima história de vingança do diretor americano. Dessa vez, Tarantino aborda, ao seu estilo, o racismo e a escravidão americana, sempre ridicularizando os preconceituosos. O filme ainda conta com ótimas atuações de Christoph Waltz, Jamie Foxx e Leonardo di Caprio.

7º lugar – “Dentro de casa” – François Ozon teve dois filmes exibidos no Brasil neste ano. “Jovem e bela”, ainda em cartaz, é um bom trabalho sobre uma jovem que se sente vazia e começa a se prostituir. “Dentro de casa” é ainda melhor. Conta a história de um jovem aluno de uma escola francesa que mostra talento como escritor e envereda o seu melhor amigo, a família dele e o seu professor de literatura numa trama realista criada por ele com ecos na linguagem de reality show. Um trabalho que abre portas para uma série de discussões sobre abuso, invasão de privacidade e conceitos de arte.

6º lugar – “Indomável sonhadora” – Gosto de filmes meio filosóficos e com um pé em um realismo fantástico. É exatamente o que Bem Zeitlin nos dá na história de uma menina de nove anos vivida por Quvenzhané Wallis, que concorreu ao Oscar de melhor atriz. No filme, Hushpuppy vive com um pai alcoólatra em um lixão perto de uma represa. Apesar de uma vida miserável, ela consegue superar as dificuldades com muita imaginação. É um trabalho tocante.

Cartaz de 'Amor Pleno'
5º lugar – “A caça” – Um excelente e perturbador filme dinamarquês dirigido por Thomas Vinterberg. Conta a história de um homem (Mads Mikkelsen) erroneamente acusado de abusar sexualmente de uma menor. Um erro a partir da mentira de uma criança que destruiu a sua vida e marcou profundamente não somente ele e a sua família, como todos os habitantes da cidade que convivem com ele. A ponto de, mesmo depois da verdade ser exposta, as vidas de todos nunca mais serem as mesmas.

4º lugar – “Amor pleno” – Mais um filmaço de Terrence Malick. Um tratado sobre o amor com a sua iconografia conhecida, as imagens que falam conosco e a força da trilha sonora como personagem. Tudo mostrando a escalada de amor e dor de um  casal (Ben Affleck e Olga Kurylenko) com o passar dos anos. Do sublime momento da paixão parisiense ao enfado numa casinha de subúrbio americano. Idas e vindas, traições, a busca por um paraíso que jamais chegará.

Cartaz de 'A grande beleza'
3º lugar – “A hora mais escura” – Na minha opinião, o grande injustiçado do Oscar. Merecia ganhar o prêmio de melhor filme (“Argo” venceu), mas ganhou apenas uma estatueta técnica. O filme é mais um excelente trabalho sobre as recentes guerras americanas da diretoria Kathryn Bigelow. Conta a história real de uma agente da CIA, vivida por Jessica Chastain, que dedicou a vida a encontrar o terrorista Osama Bin Laden. Jessica tem uma interpretação estupenda em um filme excelente.

2º lugar – “A grande beleza” – Temos Michelangelo Antonioni, Federico Fellini e uma pitada de David Lynch neste ótimo trabalho de Paolo Sorrentino. Conta ainda com uma atuação soberba de Toni Servillo como o jornalista Jep Gambardella, que vive no meio das grandes celebridades de Roma convivendo e sendo parte daquela vida vazia e sem muitos propósitos a não ser a diversão como cura de uma melancolia que todos fazem de tudo para esconder. No lugar da frustração, música alta. No lugar da dor, a dança. E assim a vida e os acontecimentos vão se sucedendo na capital italiana.

Cartaz de 'La vie D'Adèle'
1º lugar - “La vie D’Adèle” – Só uma coisa é ridícula no filme escrito e dirigido por Abdellatif Kechiche: o título em português “Azul é a cor mais quente”. Fora isso, temos um filmaço com texto excelente e ótimas atuações das atrizes Léa Seydoux e Adèle Exharchopoulos. O foco nesta história de amor está em Adèle. Em três horas, Kechiche mostra a vida da jovem na escola que não se sente bem em um relacionamento convencional, heterossexual, e só encontra o amor quando conhece Emma, artista mais velha do que ela. O filme acompanha a vida de Adèle até a idade adulta. Passa por todas as descobertas dela, as dores, os prazeres, as angústias, enfim, tudo o que o amor provoca em qualquer ser humano e que a faz amadurecer. Esqueça os preconceitos ou as tão faladas cenas de sexo entre as protagonistas. Só o que importa neste belo filme francês é a força da sua história.

Piores filmes – Como nem tudo foram flores em 2013, aí vão as cinco bombas do ano que se encerra.

5º lugar – “Faroeste Caboclo” – A canção da Legião Urbana é muito boa, mas o filme... é bem triste. Pouca coisa ou nada se salva entre roteiro e atuações. Melhor ficarmos com “Somos tão jovens”, esse mais interessante, sobre a vida de Renato Russo, e aguardamos outro filme sobre o “Faroeste Caboclo”.

4º lugar – “Amorosa Soledad” – Esta foi uma grande picaretagem da publicidade nacional. Foi vendido como um filme com Ricardo Darín (que agrega valor em qualquer camarote do planeta), mas o grande ator argentino participa de um minuto da película. Quase uma ponta. É um raro filme fraco da Argentina que chega ao Brasil. Mas duvido que passasse aqui se não fossem aqueles 60 segundos de Darín na tela.

3º lugar – “Jobs” – Prêmio vergonha alheia master de 2013. Um dos filmes mais constrangedores do ano. Ashton Kutcher não é um ator de calibre necessário para interpretar um homem como Steve Jobs. Junte isso a um trabalho tatibitate, pragmático e bobo e temos uma bomba que não conseguiu representar em nenhum momento o que Jobs foi como mau caráter, mas criador e revolucionário em uma indústria de tecnologia de computação.

2º lugar – “A visitante francesa” – Nem a presença de Isabelle Huppert salva esse filme coreano de ser uma das grandes bombas de 2013. Tudo nele é muito fraco. Fuja sempre que puder.

'João e Maria' - o filme-bomba de 2013
1º lugar – “João e Maria – caçadores de bruxas” – No ano passado, o pior filme tinha sido “Branca de neve e o caçador”, mas Hollywood preferiu insistir no erro e continuar a fazer filmes atualizando contos infantis. Qual é o resultado? Temos mais um filme constrangedor. O mito reescrito é um desperdício do talento de Jeremy Renner (por que ele se sujeitou a isso, meu deus?). Rola até uma diabetes no João, coitado, por ter comido muito doce na infância. Só isso já seria suficiente para mandar o filme para a lata do lixo.

A decepção do ano – Filmes ruins de diretos consagrados – O que está havendo com esse povo? No ano passado, Clint Eastwood nos apresentou dois filmes fracos, “J. Edgar” e “Curvas da vida”. Neste ano, foi a vez de Woody Allen e Pedro Almodóvar pisarem na bola. Allen fez o pior filme que eu vi dele, “Blue Jasmine”, um trabalho que só não é um desastre completo por causa da atuação de Cate Blanchett. Almodóvar seguiu a mesma tendência e resolveu fazer o pior filme que eu vi dele, “Amantes passageiros”, um trabalho muito longe da sua excelência. Esperemos que isso seja uma fase e os diretores voltem com bons trabalhos no futuro.

Gerry Lane (Brad Pitt) protege a família contra zumbis
O herói do ano – Django (Jamie Foxx, em “Django Livre”) daria um ótimo herói. Ou melhor, um anti-herói. Mas não é fácil ser um homem comum e enfrentar uma grande epidemia mundial de zumbis assassinos. Gerry Lane (Brad Pitt) faz isso e ainda salva a família, como todo bom herói deve fazer, em “Guerra Mundial Z”. Ele é o cara de 2013. E fica também como uma homenagem ao filme de Marc Foster, que é muito bom e, a julgar pelo final, parece que terá uma continuação.

O vilão do ano – Loki (Tom Hiddlestone, em “Thor 2 – o mundo sombrio”) é um dos meus vilões favoritos, mas nem o Deus da Trapaça foi capaz de fazer tantas maldades quanto o adolescente Claude (Ernst Umhauer) em “Dentro de casa” e a chefe do tráfico no México Malkina (Cameron Diaz) em "O conselheiro do crime". O jovem é um manipulador nato com talento para a escrita que me fez lembrar a minha escritora-assassina favorita, Catherine Trammell (Sharon Stone), de "Instinto Selvagem". E provoca uma verdadeira devastação no filme. Malkina manipula todos a sua volta com frieza e não tem dó de ninguém. É a única vencedora na história toda. Uma vilã de primeira. Não tive condições de escolher um. Claude e Malkina são os vilões de 2013.

Mélanie Laurent, a nova musa do blog
A musa do ano – Jessica Chastain (“A hora mais escura”) quase ficou com o bicampeonato da minha categoria favorita que já premiou Sharon Stone (2006), Eva Mendes (2007), Penélope Cruz (2008), Kate Winslet (2009), Anna Mouglalis (2010) e Cecile de France (2011).

Mas esse ano o prêmio voltará para a França. Poderia ser com Julie Delpy, a estrela de “Antes da meia-noite”, mas foi outra francesa que conquistou o coração do signatário do blog.

Mélanie Laurent, de 30 anos, já tinha deixado ótima impressão como a Shoshanna de “Bastardos Inglórios” (2009), mas neste ano ela apareceu duplamente encantadora nas telas do cinema. Primeiro como a investigadora Alma Dray em “Truque de mestre”, um filme divertido sobre mágicos que ajudam um homem a preparar uma vingança. Em seguida como a jovem revolucionária Estefânia em uma Portugal que vivia um regime fascista na história de “Trem noturno para Lisboa”. Mélanie é definitivamente a musa de 2013.

O clima esquenta entre Adèle e Emma
A melhor cena de sexo – Este blog é tão óbvio que eu devia extinguir essa categoria. Mas ela dá audiência para o blogueiro. Meus 17 leitores (é o número da modéstia) devem olhar para esta categoria e dizer: "Safadinho, hein". Bom, aqui não tem discussão. É só vocês verem “Azul é a cor mais quente” que entenderão. O que não invalida o que eu disse lá em cima que o mais importante é a história do filme.

A melhor cena de briga – “Django Livre” e “Duro de matar – um bom dia para morrer” têm algumas boas sequências de luta, mas vou ficar com o Superman (Henry Cavill) quebrando o pau em “O homem de aço”. Se tem algo que o filme de Zack Snyder tem de bom são as cenas de ação.

O retorno do ano – Aqui eu vou inverter. Se 2013 marcou o retorno do Superman às telas de cinema, eu vou celebrar mesmo é a volta de John McClane. Por mais que “Duro de matar – um bom dia para morrer” não seja um filme top e seja até bem óbvio, é sempre divertido ver John McClane destruindo tudo por onde passa. Vale a pena ter mais um filme. E quantos mais Bruce Willis aguentar fazer.

Os melhores roteiros – Alguns filmes me chamaram muita atenção por bons diálogos (“O quarteto”) ou histórias muito bem contadas (“Guerra Mundial Z”, “A parte dos anjos”, “O que traz boas novas”, “Flores Raras”, “Rush – no limite da emoção”, “O conselheiro do crime”, “Capitão Phillips” e “Trem noturno para Lisboa”). Gosto também de tudo em “Amor Pleno” e “A hora mais escura”. Mas se eu tivesse que fazer um top-3 eu teria, em ordem decrescente, “A grande beleza”, “La vie D’Adèle” e “Dentro de casa”, este um filme que realmente me deixou boquiaberto conforme os acontecimentos.

Os piores roteiros – “Duro de matar – um bom dia para morrer” é óbvio e só entra aqui por esse caráter de obviedade com sua relação de pais e filhos. “Oz, mágico e poderoso” também é irritantemente simples e bobinho. Vacilo, seu Sam Raimi. E o papinho jovem em busca do amor de “Diana” é igualmente irritante. “Em transe” é um filme confuso e “O homem de aço” pouco inspirado, assim como “Red 2 – aposentados e ainda mais perigosos” e “Blue Jasmine”. Mais sorte na próxima, Woody Allen. “Jobs” é vergonha alheia e “Elysium” uma caricatura que Neil Blomkamp quis fazer de si mesmo ao tentar reproduzir a história de “Distrito 9” em Hollywood. Mas o top-3 do constrangimento fica, em ordem decrescente, com “A visitante francesa”, “Salvo, uma história de amor e máfia” (que filme ruim) e, claro, “João e Maria – caçadores de bruxas”.

O filme francês do ano – Foi um 2013 de muitos bons filmes franceses como “Thèrèse D” e os trabalhos de François Ozon: “Jovem e bela” e “Dentro de casa”. Mas é o ano de “La vie D’Adèle”. Então, não tem o que discutir.

O filme argentino do ano – Não vi espetaculares trabalhos argentinos em 2013, mas gostei muito de “O último Elvis”. O filme de Armando Bo conta a história de um cantor cover do rei do rock que praticamente se acha o próprio Elvis. Por trás de uma vida de shows e estrelato fantasiada por ele, vive um homem muito deprimido e amargurado que sofre pela separação da mulher e da filha.

Cartaz de 'O som ao redor'
O filme brasileiro do ano – “Flores raras” foi um trabalho muito bom, mas 2013 era o ano de “O som ao redor”, um dos melhores do ano. Aqui também não tem discussão e os motivos foram expostos no top-10.

O filme baseado em quadrinhos do ano – Só porque eu criei esta categoria no ano passado, este ano não teve nada muito espetacular. “O homem de aço” e “Thor 2 – o mundo sombrio” não eram exatamente empolgantes. “Wolverine – Imortal” foi bonzinho. Entre todos, fico com “Homem de Ferro 3”. Tony Stark  (Robert Downey Jr.) segura o filme que tem como ponto ruim o que fizeram com o Mandarim.

Os melhores diretores – Ken Loach merece crédito por um filme que eu gostei bastante, “A parte dos anjos”, assim como François Ozon já fartamente elogiado aqui pelo seu “Dentro de casa”. Marc Foster fez o que talvez seja o melhor filme-pipoca do ano (talvez uma ideia de nova categoria para 2014), “Guerra Mundial Z”. Abdellatif Kechiche também tem grandes méritos ao contar a história de Adèle em “La vie D’Adèle” e Thomas Vinterberg fez um trabalho perturbador em “A caça”. Gosto de Bem Zeitlin em “Indomável sonhadora” e acho o trabalho de Paul Greengrass quase sempre excelente, caso de “Capitão Phillips”. Mas se eu tivesse que escolher os três melhores, ficaria com Kathryn Bigelow, pois “A hora mais escura” é daqueles filmes quase todo perfeitos. E fico com dois trabalhos bem autorais entre os melhores: Paolo Sorrentino em “A grande beleza” e Terrence Malick em “Amor Pleno”.

Os piores diretores – Tem alguns filmes que são bem ruins como “Salvo – uma história de amor e máfia”, outros que eu  não consigo engolir, como o jeito carnavalesco em desfile de escola de samba de Baz Lurhmann em “O grande Gatsby”. Sam Raimi é outra decepção em “Oz, mágico e poderoso”, mas o top-3 do mal fica, com a novelinha de Oliver Hirschbiegel em “Diana”, o constrangimento absoluto de Josha Michael Stern em “Jobs” e, claro, o medalha de ouro Tommy Wirkola pelo inacreditável “João e Maria – caçadores de bruxas”.

Toni Servillo brilhou em dois filmes
Melhores atuações masculinas – Está acabando e se você chegou até aqui é porque eu tenho algum prestígio, Ou você está rindo dos meus comentários absurdos e achando que eu não entendo nada disso. Realmente eu não entendo. Só sou apaixonado pelo assunto e dou meus pitacos. Chegou a hora de eleger os atores top de 2013. Antes é preciso dizer alguns nomes que se destacaram na minha modesta opinião. Gente como Philip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix (“O mestre”), Mads Mikkelsen (“A caça”), Gabriel Byrne (“Eu, Anna”, um belo filme), Daniel Brühl (“Rush – no limite da emoção”), Chris Cooper (“Álbum de família”) e Tom Hanks (“Capitão Phillips”). Além de Tom Hiddlestone pelo seu Loki em “Thor 2 – O mundo sombrio” e Jeremy Irons pelo delicioso “Trem noturno para Lisboa”. Mas o meu to-3, em ordem decrescente, ficou com Matthew McConaughey, uma das melhores coisas em “Obsessão”, Daniel Day-Lewis, praticamente a reencarnação de Abraham Lincoln (bom, pelo menos eu imagino o ex-presidente americano daquele jeito), papel que lhe deu o Oscar de melhor ator em “Lincoln” e Toni Servillio, o ator italiano que brilhou em dose dupla como o político Uliano Befardi em “A bela que dorme” e o jornalista bon vivant Jep Gambardella de “A grande beleza’.

Piores atuações masculinas – Também teve coisa muito ruim ou decepcionante por ai. Casos de Ryan Gosling e Josh Brolin, muito canastrões em “Caça aos gângsters”, Henri Cavill no papel de Superman em “O homem de aço” e Zac Efron em “Obsessão”. Além de Alec Baldwin em “Blue Jasmine”. Mas nada supera o trio James Franco (“Oz – mágico e poderoso”), Aaron Taylor Johnsson (o Alexei Vronsky de “Anna Karenina”) e Ashton Kutcher, o pior Steve Jobs que poderia existir, em “Jobs”.

Cate Blanchett é o que salva em 'Blue Jasmine'
Melhores atuações femininas – “Amor” não foi um filme que me conquistou, mas é preciso destacar a atuação de Emmanuelle Riva no filme. Merece aplausos. Helen Hunt também está muito bem como a terapeuta do sexo Cheryl em “As sessões”. Também é preciso destacar Helen Mirren, o que de melhor “Hitchcock” nos oferece, e Maggie Smith, simplesmente maravilhosa em “O quarteto”. Gosto de Audrey Tautou em “Thèrèse D”. Talvez seja o seu melhor trabalho. E também de Charlotte Rampling em “Eu, Anna”. Oprah Winfrey é surpreendente em “O mordomo da Casa Branca”. Está muito bem. Assim como Barbara Sukowa no papel da filósofa Hanna Arendt no filme alemão de mesmo nome. Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos estão ótimas em “La vie D’Adèle”. E Júlia Roberts tem uma atuação muito boa em “Álbum de família”. Mas o meu pódio será ocupado por Jessica Chastain, a agente da CIA Maya em “A hora mais escura”, Glória Pires, simplesmente incrível em “Flores raras”, e Cate Blanchett, o único ponto positivo, e muito positivo, de “Blue Jasmine”. Talvez seja o único acerto de Woody Allen neste filme.

Piores atuações femininas – Amy Adams talvez seja a minha grande decepção do ano. Sua Louis Lane em “O homem de aço” é insossa. Mas teve gente pior. Falo de Naomie Watts no papel da princesa Diana em “Diana”, de Famke Janssen como a bruxa Muriel em “João e Maria – caçadores de bruxas” e Isis Valverde, meus amigos. Sua Maria Lúcia em “Faroste Caboclo” é beeem fraca. Não convence ninguém. Não teve jeito. Nada deu muito certo neste filme sobre a música da Legião.

E assim termina o Best Of 2013. É claro que no ano que vem eu continuarei cornetando tudo e todos. Um feliz ano novo para os que me aturaram neste ano. Em 2014, tem mais. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Best Of 2013 - Música

Bruce foi o cara em 2013/Reprodução
Fim de ano é sempre a mesma coisa. Todo mundo faz aquele balanço, lista de melhores e piores, e em Memórias da Alcova não poderia ser diferente. Este blog não esteve muito presente neste ano, mas seu signatário não deixou de acompanhar os eventos musicais e cinematográficos por aí.

E agora chegou o momento de apontar os melhores e piores do ano na tradicional cornetada máxima “Best Of”. Hora de prestar homenagens a quem fez bonito e dar aquela esculachada padrão “pá de cal” em quem escorregou em 2013. Comecemos pelos melhores e piores shows do ano.

Foi um ano de vários bons shows. Tanto é que as apresentações do Iron Maiden e do Metallica no Rock in Rio ficaram de fora da minha lista final. Mereciam estar nela, pois as duas bandas mantiveram o nível de excelência mais do que conhecido pelos seus fãs. Memórias da Alcova, no entanto, preferiu premiar o fator surpresa de alguns shows. Algumas bandas pelas quais pouco se esperava e simplesmente fizeram grandes concertos, de qualidade para entrar entre os melhores da temporada. Também privilegiei bandas que vi pela primeira vez.

Assim ficou, portanto, o ranking final dos melhores shows de 2013.

5º lugar – Aerosmith – Steven Tyler, Joe Perry e sua banda vieram ao Rio em outubro para a Global Warming World Tour. Com jeito de tiazonas, poucos acreditariam que a banda, há mais de 40 anos na estrada, faria um show marcante. Há décadas eles não se apresentavam na cidade e Tyler e seus colegas, todos na casa dos 60 anos, se esforçaram para compensar a espera com um showzaço inesquecível. Tocaram músicas novas, não deixaram faltar nenhum clássico (“Dream on”, “Janie’s got a gun”, “Walk this way”, “Cryin” e tantos outros) e entregaram uma apresentação impecável. Tyler parecia um garoto no palco cantando muito bem para um senhor de 65 anos. É uma banda que precisa voltar logo.

O Alice in Chains mandou bem no Rock in Rio/Reprodução
4º lugar – Alice in Chains – O Alice in Chains tinha duas missões complicadas no Rock in Rio em setembro. Fazer um show que chegasse perto do nível do Metallica, que fecharia a noite do dia 19, e tentar fazer com que os seus fãs lembrassem do antigo vocalista Layne Staley, morto em 2002, como uma saudade positiva, abraçando o novo vocalista William Duvall. Duvall cantava pela primeira vez no Rio, mas já estava no seu segundo disco com a banda, “The devil put dinosaurs here”, lançado neste ano. O resultado foi ainda melhor do que o esperado. O Alice in Chains conquistou facilmente a galera com uma apresentação poderosa. A confiança da banda era tanta que eles mandaram “Man in the box”, o grande clássico do grupo, entre as primeiras músicas do show. Duvall saiu do palco colhendo elogios da galera e o Alice in Chains consagrado com um dos shows marcantes do Rock in Rio.

3º lugar – Muse – Os ingleses de Devon fizeram o primeiro grande show do Rock in Rio. Headliners da noite do dia 14 de setembro, o trio formado por Matthew Bellamy (guitarra e vocal), Christopher Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria) mostraram para os que olhavam desconfiados porque mereciam fechar uma das noites do festival. Bellamy mostrou todo o seu talento nas guitarras com distorções e solos e o Muse exibiu o melhor dos seus seis discos de estúdio. Com o Muse, o Rock in Rio finalmente começou.

Ozzy e Tony Iommi com o Black Sabbath/Reprodução
2º lugar – Black Sabbath – Depois do último show do Ozzy Osbourne em 2011, durante a turnê do disco “Scream”, confesso que temia pelo pior. Ozzy estava visivelmente cantando pior do que no show de 2008 e com a idade a tendência não é melhorar. Mas o cantor de 65 anos tem pacto com o “Coisa-ruim”. Ozzy chegou na Apoteozzy (sim, ela foi rebatizada) em outubro acompanhado de seus velhos amigos Tony Iommi (guitarra) e Geezer Butler (baixo) para a reencarnação do Black Sabbath em turnê do novo álbum, “13”. O que vimos foi um Iommi simplesmente bestial na guitarra e um Ozzy de volta à melhor forma que a sua mente sequelada pode produzir. Um grande show e o segundo melhor do ano, sem dúvida.

O melhor do ano – Bruce Springsteen e The E-Street Band – Não foi apenas o melhor show do Rock in Rio. Nem somente o melhor show do ano. Foi simplesmente um dos maiores concertos de rock que o Rio de Janeiro já viu em sua história. Tocando pela primeira vez na cidade, Bruce fez um show que eu poderia chamar de histórico e antológico sem que estas duas palavras pareçam tão desgastadas pelo tempo e excesso de uso para qualquer bundice que acontece por ai. O show de Bruce foi realmente tudo isso. Foi daqueles que serão lembrados para sempre na história do festival e por quem esteve presente naquele dia 21 de setembro. E se alguém foi embora depois da insossa apresentação de John Mayer deveria se arrepender amargamente. Bruce foi o cara em 2013.

O pior show do ano – O ano não foi apenas de alegrias. Algumas bombas passaram por aqui. Gostaria de eleger o Nickelback (ou seria Nickel don’t come back?) como o pior, mas as leis de Memórias da Alcova indicam que é preciso estar presente no evento para eleger os melhores e os piores do ano. Se tivesse um prêmio “vergonha alheia” por aqui, o comportamento de adolescente de 14 anos do Dinho no show do Capital Inicial no Rock in Rio seria o escolhido. E o show em si também foi bem fraco. Do mesmo festival também vieram shows desastrosos como Sebastian Bach, Phillip Phillips e Ghost B.C. Além de John Mayer, cujas canções têm tanto açúcar e “uiuiui” que mais parece filme baseado em livro de Jane Austin. Acho que muita gente saiu diabética de lá se não ficou para o Bruce Springsteen até o fim.

Mas é preciso eleger o pior, a bomba máxima e ai nenhum dos citados acima superou o conjunto da obra do 30 seconds to Mars. A banda do ator Jared Leto não fez apenas um show ruim, foi muito ruim. E como se não bastasse o show muito ruim, Leto foi o campeão das piores presepadas da história do Rock in Rio. Vestiu camisa da seleção brasileira, disse que amava o país, fez aquela média pavorosa com o seu público... E não é só isso. O cantor ainda andou de tirolesa no meio da galera. Olha, muito frufru, pouca música e muita presepada. Parabéns, Jared Leto, você se esforçou e merece receber o troféu abacaxi de 2013 do blog. E se é tão rápido assim para chegar, vocês podiam se mudar de vez para Marte.

Amanhã, os melhores (e os piores) no cinema.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Torcedor de verdade

Torcida do Rangers: 'Nosso clube nunca morrerá'/Reprodução
Há dois anos o Glasgow Rangers não subiu, mas caiu no "tapetão". Dono de mais títulos nacionais do que qualquer clube grande brasileiro - e estaduais também, antes que alguém venha com piadinha desmerecendo a Escócia e o seu campeonato – com 54 conquistas, o time terminou a temporada 2011-12 com vice-campeonato escocês, mas não tinha o que comemorar.

Não porque tinha perdido mais um título para o grande rival Celtic com 20 pontos de diferença, mas porque estava falido, quebrado, tinha perdido tudo por causa de uma administração desastrosa que não pagou os impostos que devia. O Glasgow Rangers estava acabado e um novo clube precisava ser criado. Nascia o Rangers FC.

Era o velho Rangers, com a mesma torcida fanática que lotava o Ibrox Stadium e nutria um ódio pelo Celtic maior do que qualquer Barcelona x Real Madrid ou Manchester United x Liverpool, garantem os seus torcedores, mas com uma nova roupagem. Na letra fria da lei era um novo clube, com novo nome e outra administração tentando limpar tudo o que de deplorável foi feito pelos antigos donos do velho clube.

E como tal, não poderia permanecer na elite. Assim, em julho do ano passado os demais clubes escoceses se reuniram na sede da Liga Escocesa de Futebol (SFL, na sigla em inglês) para decidir para onde o Rangers iria. Seus dirigentes tinham a expectativa de que o time conseguisse uma vaga na segunda divisão. Na pior das hipóteses, a mais sombria de todas, seria condenado a jogar a quarta divisão, a última do país. Os diretores argumentavam que isso poderia ser uma tragédia financeira não apenas para o clube, mas para o futebol escocês, que vive basicamente da rivalidade Rangers x Celtic.

Acabei de ver um pequeno documentário da ESPN Brasil sobre o calvário do Rangers. E um detalhe me chamou a atenção. Antes da votação decisiva sobre o futuro do clube, torcedores do Rangers pediram ao presidente David Somers para fazer uma votação sobre o que desejavam para o time. Um dia antes da reunião decisiva na SFL, a maioria esmagadora, 80% dos detentores dos carnês de ingressos para a temporada, votaram para que o clube fosse para a quarta divisão.

Foi quando um torcedor apareceu na reportagem dizendo que não queria que o Rangers fosse ajudado por ninguém e que a história do clube fosse limpa.

Naquele mesmo instante comecei a refletir sobre as cenas patéticas de torcedores do Fluminense comemorando o não rebaixamento do clube na porta do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio. Celebrando uma volta pela janela usando o argumento de que a lei devia ser cumprida.

Ora, a lei deve sempre ser cumprida, mas também interpretada. E é para isso que existe um julgamento. Fazer um clube perder quatro pontos e ser rebaixado por causa da escalação irregular de um jogador em 13 minutos de uma partida que, mesmo que o time tivesse perdido, estaria garantido na elite do Campeonato Brasileiro, é um pouco demais. A Portuguesa errou sim e por isso merecia ser punida. Mas jamais rebaixada. Porque no campo não mereceu isso e nem o Héverton, o tal atleta irregular, foi decisivo no jogo contra o Grêmio, na última rodada.

Havia uma série de punições a serem aplicadas que não mudariam o que aconteceu no campeonato dentro do campo. Uma delas é a que me parecia a mais correta. É baseada na lei da Fifa que dá uma brecha para que o clube pague a pena no campeonato seguinte. Assim, a Portuguesa seria punida e começaria o próximo Brasileiro com quatro pontos a menos. É uma punição semelhante às que acontecem na Itália. Dura, exemplar, que prejudicaria o desempenho do time no campeonato (poderia condenar ao rebaixamento ou acarretar em perda de vaga na Copa Libertadores), mas manteria o resultado do campo em 2013. Contudo optou-se por mudar drasticamente o resultado do torneio. E o imbróglio agora está só no início.

Mas o que me incomoda mais não é a decisão do tribunal, a troca de acusações, as insinuações de que o Fluminense é sempre beneficiado pelo tapetão, as teorias da conspiração, as bobagens de “pagar a Série B” ou as “trocas de gentilezas” (algumas excessivamente raivosas) entre torcedores que só têm olhos para o seu clube e para o que é bom para o seu clube e nada mais. O que me incomoda mesmo é ver uma parte da torcida do Fluminense (e eu espero que seja pequena) comemorando a vitória no tribunal e a manutenção do clube em um lugar que não é dele de direito. É a personificação da ética maleável brasileira e uma imagem mais forte do que qualquer estouro de champagne de dirigente. O pior é que tenho a certeza que se a mesma coisa tivesse acontecido com qualquer outro clube grande do país, estas cenas lamentáveis teriam se repetido.

Por isso que torcida por torcida eu hoje prefiro a do Rangers. No encontro da SFL, 25 dos 30 clubes que votaram jogaram o Rangers para a quarta divisão, onde o time estreou dias depois. Cogitou-se uma reestruturação do futebol escocês para a temporada seguinte, quase uma virada de mesa no estilo Copa João Havelange. A torcida mais uma vez disse não.

O Rangers venceu a quarta divisão com a torcida ocupando quase que 100% dos 49 mil lugares do Ibrox Stadium em todo jogo. Hoje lidera a terceira divisão com folga, com 13 pontos de vantagem sobre o Dunfermline Athletic. Seguramente estará na segunda divisão na próxima temporada. E em pouco tempo, o “Old Firm”, como é conhecido o velho clássico Rangers x Celtic, voltará a ser realizado na Escócia.