quarta-feira, 16 de junho de 2010

A última cena de um grande ator

Parafraseando narradores, jogadores e comentaristas de futebol, Heath Ledger era um ator “diferenciado” (como odeio essa palavra). Mas é preciso dizer que o ator que morreu há dois anos era realmente diferente. Seu incrível trabalho em “Batman, o Cavaleiro das Trevas” (2008) era possivelmente um divisor de águas para a continuidade de uma carreira que poderia ter sido brilhante.

Mas a morte precoce aos 29 anos ceifou qualquer possibilidade de os fãs do seu trabalho e do cinema em geral acompanharem essa ascensão de Ledger.

Restou apenas uma incompleta “saideira”. Último trabalho da carreira de Ledger, “O mundo imaginário do Dr. Parnassus” nos oferece uma mostra de como o ator estava evoluindo cada vez mais. Num filme por vezes confuso de entender, de um realismo fantástico saído da mente do diretor e roteirista Terry Gilliam, Ledger brilha a cada cena que aparece. Cenas essas cuidadosamente colocadas no filme.

Foi durante as filmagens de “Parnassus” que o ator veio a falecer. O trabalho incompleto fez com que Gilliam tivesse que convocar três atores para substituí-lo e o obrigou a reinventar alguns pontos da história numa conclusão que acredito ter ficado bem satisfatória.

Convocados para filmar o que faltava, Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell nos permitem fazer uma comparação que mostra que Ledger estava cada vez mais próximo do primeiro e bem distante do último, disparado um dos pontos fracos do filme e que quase o coloca a perder.

Mas Farrell não chega a estragar uma película que embora seja um tanto quanto louca se revela uma divertida, interessante e despretensiosa história. Desde que, claro, você esteja disposto a mergulhar nesse mundo bizarro em que a razão não é lá muito bem exercitada. Mas é cinema, e cinema não é realidade.


E com tudo isso, em poucas inserções, Ledger mostra o bom ator que já era. Uma pena que “O mundo imaginário do Dr. Parnassus” tivesse que ser a última vez em que o vimos exercitar o seu talento.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Alice cresce e amadurece


Não sou daqueles caras que têm orgasmos múltiplos com novas tecnologias ou a cada lançamento. Embora confesse que com o passar do tempo, acabo me rendendo a algumas facilidades interessantes. Mas ainda assim, não tenho I-Pad, I-pod ou qualquer coisa do gênero - a indústria erótica ainda vai acabar inventando o I-Phode (não podia perder a piada).

Essa introdução é para dizer que embora reconheça que isso seja o futuro, não me empolgo com o chamado cinema 3-D que vai ganhando força a cada blockbuster que surge por aí. Não é que eu lidere uma resistência pelo 2-D ou me recuse a assistir filmes neste novo formato. Só não vejo muita graça em colocar uns óculos no cinema para ver uma borboleta voar na minha cara. Talvez até porque eu viva numa cidade em que ainda é possível que uma borboleta voe na minha cara. Pelo menos até o apocalipse ambiental que muitos desejam.

Então foi por falta de opção que vi “Alice no país das maravilhas” em 3-D. Não queria, pois acredito que um bom filme é bom até em 1/2 D, mas não tive escolha e paguei um pouco a mais para ver o novo filme de Tim Burton.

Menos mal que ao contrário de “Avatar”, a bomba sem graça de James Cameron, “Alice” é até interessante. Sim, Burton e a roteirista Linda Woolverton fizeram algumas alterações na história original de Lewis Carroll, fundiram personagens, mudaram uma coisa aqui e ali, mas na essência os principais personagens estão lá, incluindo o Chapeleiro Louco (Johnny Depp, sempre bem, em mais um personagem esquisito para a sua coleção) e as rainhas vermelha (Helena Bonham Carter) e branca (Anne Hathaway).

Contudo, o mais interessante desta leitura é que embora a película tenha o mesmo nome do livro de Carroll, Burton optou por contar a história do retorno de Alice, vivida pela até então desconhecida australiana Mia Wasikowska, ao País das Maravilhas.

Assim, sai a menina inocente, entra a adolescente quase adulta petulante, com posições firmes e decidida e uma missão nesta história de contornos levemente medievais. Alice agora é trazida de volta a este mundo paralelo e fantástico para cumprir o seu destino e decidir o que deve fazer enquanto no “mundo real” parentes o aguardam para uma resposta diante de um pedido de casamento arranjado.


A jornada de Alice é de reaprendizado, crescimento e reflexão que vão culminar na sua entrada definitiva na idade adulta. Afinal, todos já conhecem a história da pequena Alice. Era preciso, portanto, tomar a liberdade de avançar sobre ela. O resultado pode não ter uma marca tão forte como a que Burton impõe aos seus filmes, mas a conclusão é de um filme que seria divertido em qualquer dimensão.