sábado, 28 de março de 2009

Cassem o Oscar

Alguém deveria cassar a premiação do Oscar de melhor filme deste ano. Podem me xingar à vontade, mas “Quem quer ser um milionário?” não é melhor do que “Frost/Nixon” nem aqui nem na Índia. É claro que o filme de Danny Boyle tem seus méritos, mas quem tinha que levar para casa a estatueta era Ron Howard.

Por mais paradoxal que seja, o filme de Howard, no entanto, não é superior a “Quem quer ser um milionário?” em diversas categorias que deram o Oscar ao filme de Boyle, como montagem, trilha sonora, canção e até roteiro, pelo qual Frost/Nixon sequer concorreu. A direção de Boyle em relação à de Howard pode ser discutida, mas não dá para dizer que o prêmio é injusto. Porém, apesar disso tudo, “Frost/Nixon” é mais filme do que “Quem quer ser um milionário?”.

E por quê? Porque não há em nenhum momento no filme de Danny Boyle um ator que possa rivalizar, chegar perto da atuação hipnotizante de Frank Langella no papel do ex-presidente Richard Nixon. Langella é o dono do filme. Era para ter sido também o dono do Oscar, que poder ser muito bem dado para Mickey Rourke e foi muito mal dado para Sean Penn.

Sua atuação, que se concentra mais em detalhes de Nixon como o jeito de sorrir, a maneira de falar, o corpo meio curvado, do que numa imitação de Nixon, é a melhor do ano até agora. É uma atuação tão impactante e sedutora que você quase gosta de Nixon, mesmo sabendo de Watergate e todos os crimes cometidos pelo ex-presidente americano (parênteses: Aliás, como tem viúvas de Nixon no YouTube). É como estar em frente a Medusa e ficar petrificado diante da tela do cinema. É seguramente uma atuação melhor que a de Anthony Hopkins em “Nixon” (1995). E olha, que a atuação de sir Hopkins é muito boa.

Mas Langella, ator de personagens pequenos em filmes grandes como “Boa Noite, e Boa Sorte” (2005), “Dragão Vermelho” (2002), “Superman Returns” (2006) ou “Lolita” (1997) ou de personagens marcantes em filmes de qualidade duvidosa - “Mestres do Universo” (1983) – ou muito antigos e pouco vistos, “Dracula” (1979), não é a única qualidade do filme.

Ele é apenas o motor propulsor desta obra marcada por um estilo de falso documentário, que eu achei bastante curioso, embora não seja nenhuma novidade. Mas e daí? Onde estaria o novo em “Quem quer ser um milionário?”?

O filme, como todos já devem saber, conta a história de um apresentador de um programa de TV no estilo talk show, David Frost (Michael Sheen, o Tony Blair de “A Rainha (2006) que resolve entrevistar Nixon como a sua grande empreitada para reconquistar a fama nos Estados Unidos.

Ele conta com a ajuda de dois jovens idealistas que querem dar a Nixon o julgamento que a renúncia e o perdão do presidente Ford o impediu de ter, James Reston (Sam Rockwell, muito bem) e Bob Zelnick (Oliver Platt). Conseguida a entrevista, eles dissecam a vida de Nixon para fazer do encontro histórico.

Como se sabe, depois de muitos vacilos de Frost a entrevista acabou sendo verdadeiramente bombástica com Nixon admitindo os seus erros. Ela representou, acho, a morte política dele, que contava exatamente com este programa para ressuscitar politicamente, recobrar a confiança do povo americano.

Enquanto o filme vai se desenvolvendo, o documentário fake é produzido com opiniões de “quem esteve envolvido”, no caso os próprios atores dando entrevistas como se fossem os verdadeiros protagonistas daquele episódio. Um recurso curioso e feito com maestria para parecer uma outra época. Tanto é que são mudados o corte de cabelo, as roupas, etc. Em cada momento, os atores estão tão diferentes que no início cheguei a pensar que estava vendo depoimentos dos próprios envolvidos naquela "entrevista". Depois a ficha caiu. Era um documentário fake. Perfeitamente fake.

No final, Nixon teve que aceitar a aposentadoria causada pela trágica entrevista. Na tela, o filme de Howard e o roteiro de Peter Morgan não chegaram a criar um filme histórico, mas era digno do Oscar que lamentavelmente não veio. É como eu já disse algumas vezes: o Oscar, sempre foi muito político.
Em função do filme, a real entrevista de David Frost com Richard Nixon foi lançada em DVD. Abaixo, alguns pequenos trechos de vídeos promocionais no YouTube.




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