quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Os melhores e os piores filmes de 2021

Ao contrário da pandemia, o ano de 2021 acabou. Mas antes da grande despedida, não podemos deixar de divulgar o prêmio Corneta Ballon D´Or Awards 2021 com os 30 melhores filmes do ano.

Este foi um ano de tímida retomada aos cinemas. Muito tímida. Um retorno lento, gradual e TEMEROSO, porque o corona está em todas as partes e com mais variantes do que as que vimos em “Loki”.

A retomada, novos lançamentos, e cada vez mais filmes pululando em streamings, deixou esta lista ainda mais difícil de fazer. Mas nunca ficamos em cima do muro.

Para o Corneta Ballon D’Or, permanecem os critérios estabelecidos pelo júri do prêmio formado por mim mesmo. Estavam elegíveis para o top-30, os filmes que estrearam entre o primeiro e o último dia do ano nos cinemas do Rio de Janeiro e de Lisboa em circuito aberto e disponível para qualquer mortal assistir. Além, é claro, dos filmes formados pelos cinco principais serviços de streaming cujos nomes eu não direi, pois eu não sou pago para fazer propaganda.

Não enrolemos mais. Vamos ao ranking dos filmes que brilharam e sobreviveram ao crivo implacável da Corneta.

1-Ataque dos cães (The power of the dog – ING, CAN, AUS, NZL e EUA). Diretora: Jane Campion.

2-Nomadland (Nomadland – EUA, ALE). Diretora: Chloé Zhao.

3-Quo Vadis, Aida? (Quo Vadis, Aida? – BOS, AUT, ROM, HOL, ALE, POL, FRA, NOR, TUR). Diretora: Jasmila Zbanic

4-Duna (Dune – part 1 – EUA, CAN). Diretor: Dennis Villeneuve.

5-Roda da Fortuna e da Fantasia (Gûzen to sôzô – JAP). Diretor: Ryusuke Yamaguchi.

6-A crônica francesa (The French Dispatch – EUA, ALE). Diretor: Wes Anderson.

7-Homem-Aranha: sem volta para casa (Spider-man: No way home – EUA). Diretor: Jon Watts.

8- A mão de Deus (È stata la mano di Dio – ITA, EUA). Diretor: Paolo Sorrentino.

9-Berlin Alexanderplatz (Berlin Alexanderplatz – ALE, HOL, FRA, CAN). Diretor: Burhan Qurbani.

10-Mães paralelas (Madres Paralelas – ESP, FRA). Diretor: Pedro Almodóvar.

11-Bela Vingança (Promising young woman – ING, EUA). Diretora: Emeral Fennell.

12- Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah – EUA). Diretor: Shaka King.

13- Uma noite em Miami… (One night in Miami… – EUA). Diretora: Regina King.

14-Malcolm & Marie (Malcolm & Marie – EUA). Diretor: Sam Levinson.

15-Vingança e Castigo (The harder they fall – EUA). Diretor: Jeymes Samuel.

16-A noite dos reis (La nuit des rois – FRA, CI, CAN, SEN). Diretor: Philippe Lacôte.

17-Tick, tick…. boom! (Tick, tick…boom! – EUA). Diretor: Lin-Manuel Miranda.

18-Matrix Ressurrections (Matrix Ressurrections – EUA). Diretora: Lana Wachowski.

19-Annette (Annette – FRA, BEL, ALE, EUA, JAP, MEX, SUI). Diretor: Leos Carax.

20-Meu pai (The Father – ING, FRA). Diretor: Florian Zeller.

21- Minari (Minari – EUA). Diretor: Lee Isaac Chung.

22-Ainda há tempo (Falling – ING, CAN, EUA). Diretor: Viggo Mortensen.

23- 7 prisioneiros (7 prisioneiros – BRA). Diretor: Alexandre Moratto.

24-Identidade (Passing – ING, EUA). Diretora: Rebecca Hall

25- O espião inglês (The courier – ING, EUA). Diretor: Dominic Cooke.

26- O Esquadrão Sucida (The Suicide Squad – EUA, CAN, ING). Diretor: James Gunn.

27- Finch (Finch – ING, EUA). Diretor: Miguel Sapochnik.

28- Encounter (Encounter – ING, EUA). Diretor: Michael Pearce.

29–007: Sem tempo para morrer (No time to die – ING, EUA). Diretor: Cary Joji Fukunaga.

30-A noite passada no Soho (Last night in Soho – ING). Diretor: Edgar Wright.

Além dos melhores filmes, não podemos nos despedir sem divulgar o prêmio Titanic de piores filmes do ano. Vamos aos dez torpedos horrorosos largados em 2021:

1-Alerta Vermelho (Red Notice – EUA). Diretor: Rawson Marshall Thurber.

2-A Sentinela (Sentinelle – FRA). Diretor: Julien Leclerq.

3-A mulher na janela (The woman in the window – EUA). Diretor: Joe Wright.

4-Terra de ninguém (No Man´s Land – MEX). Diretor: Conor Allyn.

5- Space Jam – um novo legado (Space Jam: a new legacy – EUA). Diretor: Malcolm D. Lee.

6- Tempo (Old – EUA). Diretor: M. Night Shyamalan.

7-Na mira do perigo (The Marksman – EUA). Diretor: Robert Lorenz.

8-Bliss: Em busca da felicidade (Bliss – EUA). Diretor: Mike Cahill.

9-A guerra do amanhã (The Tomorrow War – EUA). Diretor: Chris McKay

10-Titane (Titane – FRA, BEL). Diretora: Julia Ducournau.

E assim despeço-me deste ano. Que venha a maravilhosa temporada do Oscar.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

As melhores e as piores séries de 2021

O ano de 2021 está acabando, mas não sem antes divulgarmos os vencedores do prêmio Golden Cornetemmy Globe de melhores séries e minisséries de 2021. O novo prêmio do grande conglomerado Corneta Inc. chega a sua segunda edição com uma seleção com tudo o que de melhor (e pior) aconteceu ao longo deste ano.

Sem mais delongas, vamos polemizar com o top-15 das melhores séries e minisséries de 2021:

1- The Underground Railroad: Os caminhos para a liberdade (The Undeground Railroad – EUA – Amazon) – Isso não é uma série. É uma obra de arte de Barry Jenkins.

2- Mare of Easttown (EUA – HBO) – It’s not TV. It’s Kate Winslet.

3- Exterminate all the brutes (EUA – HBO) – O manifesto de Raoul Peck sobre a história de genocídio e escravidão perpetrada pelo ser humano.

4- Ted Lasso (ING, EUA – Apple TV) – Segunda temporada – Por um momento eu quis o Ted Lasso treinando o meu time no lugar do Roger. Aí chegou o Marcão e passou.

5- Succession (EUA – HBO) – Terceira temporada – He fuck won!

6- Cenas de um casamento (Scenes from a marriage – EUA – HBO) – O famoso copia, mas não faz igual da HBO sobre a obra original do gênio Ingmar Bergman. E quem discorda e não acha Bergman um gênio tá errado.

7- Dopesick (EUA – Hulu) – É só um remedinho. E tua vida é destruída pela indústria farmacêutica que não tem o mesmo padrão de fiscalização dos alemães.

8- Handmaid´s Tale – (EUA – Hulu) – quarta temporada – A famosa temporada meu ódio será sua herança.

9- Gomorra (ITA, ALE – Sky Atlantic) – Quinta temporada – A temporada final da saga dos Savastano. Como viveremos agora? Preciso de mais séries de máfia!

10- Invencível (Invincible – EUA. – Amazon) – Ninguém na Marvel conseguiu chegar neste patamar.

11- Your Honor (Showtime – EUA) – Walter White totalmente em apuros. Principalmente quando ele tem os amigos mais eficientes da história.

12- WandaVision (EUA – Disney Plus) – Melhor série da Marvel em 2021.

13- Fundação (Foundation – EUA – Apple TV) – Eu quero mais coisas sobre os Cleons e sobre Asimov.

14- Dom (BRA – Amazon) – A história do “bandido gato” do Hell de Janeiro.

15- Manhãs de Setembro (BRA – Amazon) – Não farei piada. Apenas direi que é bem bom.

Menções honrosas: Halston (Netflix), Eles (Amazon), Modok (Hulu), Katla (Netflix) e Missa da Meia-Noite (Netflix).

E agora vamos ao prêmio “La casa de papel” de piores séries e minisséries de 2021:

1-Eu sei o que vocês fizeram no verão passado (I know what you did las summer – EUA – Amazon) – Eu não sei o que deu na minha cabeça no outono passado para ver um remake de um filme ruim.

2-O legado de Júpiter (The Jupiter´s Legacy – EUA – Netflix) – Meus olhos sangraram com a história e os figurinos desta série.

3-Os Irregulares de Baker Street (The Irregulares – ING – Netflix) – Zillennials diriam que Sherlock Holmes estava se revirando no túmulo com esta série. Pelo menos até descobrirem que Sherlock não existiu.

4-Os segredos de Manscheid (Capitani – LUX – Netflix) – Ninguém mandou eu ter me arriscado pelo audiovisual de Luxemburgo.

5-Nove Desconhecidos (Nine Perfect Strangers – EUA – Hulu) – Pô, Nicole Kidman. Me ajuda a te ajudar.

Por hoje é só. Parabéns aos premiados. Amanhã voltamos com os melhores filmes de 2021.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Lana Wachowski faz de Matrix um manifesto sobre a nostalgia

Matrix ainda tem muito o que dizer
Dezoito anos depois do fim da primeira trilogia de “Matrix” e 22 anos depois da estreia do filme que revolucionou muita coisa entre linguagem e tecnologia dentro do cinema, Lana Wachowski está de volta e mostra que ainda tem muito a dizer sobre o mundo em que vivemos. Dessa vez sem a parceira da trilogia original, a irmã Lilly, Lana usa a retomada ao universo sci-fi criado por ela para produzir uma espécie de manifesto sobre o mundo moderno.

“Matrix Resurrections fala sobre as epidemias que vivemos na cultura e na sociedade. O poder da nostalgia, o retorno ao passado, o reaproveitamento cíclico do que supostamente dá certo. Está tudo lá na nova e atualizada versão da Matrix. A vida em looping, a falta de reflexão, seres humanos pregados em telas apenas fazendo o que estão programados para fazer. O filme e parte de suas ideias pode ser resumido em uma frase que Morpheus (Yahia Abdul-Mateen II) diz se dirigindo a Neo (Keanu Reeves): “Nada conforta mais a ansiedade do que um pouco de nostalgia”.

É uma frase poderosa. Lana sabe que vivemos a era da nostalgia. O desejo de voltar a uma vida não poderosa, mas sim confortável. Algo que a cultura pop tão bem identificou e do qual o cinema vem se alimentando para lucrar. O que mais se vê nas últimas décadas é a reprodução desta nostalgia com o retorno de franquias de cinema, retorno de personagens, retorno de histórias consagradas. Piscadelas em filmes para um público que viveu aquela história e sente o coração confortado quando é chamado a reconhecer o que se convencionou chamar de easter eggs.

E o próprio “Matrix Resurrections” não se vê longe disso. Lana, no entanto, vê o seu passado construído entre o final do século passado e o início do século XXI como uma ironia sobre o tempo presente. Todas as imagens usadas da primeira trilogia, em especial do filme de 1999 são para traçar a teia de ironia que ela usa nos conectar ao passado. No filme, nós somos as pessoas nesta Matrix 2.0 criada pelo Analista (Neil Patrick Harris). Nós vivemos confortáveis nas zonas de nostalgia que ela nos joga enquanto alimentamos a indústria com a nossa força (financeira, consumidora, de trabalho) tal qual os humanos presos e vivendo na irrealidade da Matrix, essa força aparentemente indestrutível que rege os destinos do mundo. Nós servimos à Matrix da indústria que nos devolve com pílulas azuis de nostalgia quando as próprias pílulas não tem lá grande importância. No novo Matrix, elas mais parecem placebos que funcionam de forma psicológica do que propriamente são uma libertação. Ou mesmo criam conexões com o já vivido, retomando a teoria inicial da nostalgia.

Lana usa o próprio filme como metalinguagem para desenvolver sua teoria nostálgica. São deliciosas as referências que ela faz à trilogia original, com direito a piada interna com a tecnologia do bullet time, e referências ao próprio estúdio Warner Bros., quando afirma que o estúdio queria fazer uma sequência da trilogia original do game que Neo criou em sua nova versão depois de ter retornado a Matrix. É neste momento que Smith, um dos personagens mais interessantes do filme vivido pelo excelente ator Jonathan Groff se vira para Neo e diz: “As histórias nunca acabam. Estamos sempre contando as mesmas histórias com nomes e rostos diferentes”.

Mais a frente isso vai se complementar de forma perfeita quando Neo percebe que a história da sua vida foi pasteurizada dentro da própria Matrix, transformada em “algo trivial”, como afirma Bugs.

No novo Matrix, Lana desconstrói o cânone da sua trilogia e rearruma o equilíbrio de forças. Outra frase poderosa do filme é quando Bugs (Jessica Henwick) se dirige a Morpheus para dizer que “a escolha é uma ilusão. Você já sabe o que tem que fazer”. A diretora sabia perfeitamente. Tanto que usou o quarto filme de sua história para fazer uma espécie de manifesto anti-nostalgia em um filme cercado de pílulas de nostalgia. Ao longo de “Matrix Resurrections” vemos rápidas imagens dos filmes anteriores, cenários remontados logo na abertura e no meio da história, retorno de personagens em momentos distintos e a própria história parece uma cópia do primeiro Matrix. Com adaptações aqui e ali para mostrar que você está vendo algo novo com carinha de repetido.

Para além de um belo manifesto, Matrix tenta trazer de volta seus principais personagens, Neo e Trinity (Carrie-Anne Moss) e buscar uma nova origem para eles depois dos acontecimentos em “Reload” e “Revolutions” (ambos de 2003). Aqui temos uma nova história de origem, perguntas que ficaram no trailer sendo respondidas e um desfecho que deixa em aberto para um futuro.

Ao contrário do primeiro filme, Suas cenas de ação não são das mais inspiradas. Há alguns bons momentos, mas nada marcante como o que vimos no Matrix original. Além de uma repetição de ações de Neo que tornam o trecho final do filme um pouco mais pobre.

Mas a ação e mesmo uma fetishização de armas nunca foi o foco do mundo de Matrix. Tanto a ação quanto os combates são vetores intermediários para as ideias que as irmãs Wachowski tinham para seus filmes. E isso se mantém com este trabalho de Lana. Não é por acaso que “Matrix Resurrections” tem incomodado e dividido opiniões. O quanto será que nos vimos presos na espiral de nostalgia da Matrix?

Cotação da Corneta: nota 8.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

"Sem volta para casa", o melhor filme do Homem-Aranha

Peter sofre neste filme
Três é o número mágico como diz a canção de Bob Dorough no fim de “Homem-Aranha: sem volta para casa” (Spider-Man: no way home, no original). E a Marvel realmente acreditou nessa premissa para realizar não apenas o melhor filme do Homem-Aranha como um dos melhores já feitos sobre personagens baseados em seus quadrinhos.

“Sem volta para casa” é um caso raro nos quase 30 filmes da Marvel. Ele consegue fazer dar certo a combinação entre o desejo dos fãs e a construção da história do universo (ou multiverso) da Marvel. Neste ponto, ele se alia a dobradinha “Guerra Infinita” — “Ultimato” tornando-se um dos grandes filmes do universo e trazendo a sensação de satisfação plena que os lançamentos recentes do estúdio não davam.

Se em “Viúva Negra”, no bom “Shang-Chi” ou em “Eternos” havia mais expectativa sobre as cenas extras e para onde elas apontariam no futuro do universo do que propriamente sobre o filme, aqui as duas cenas finais são apenas o que eles deviam ser: extras divertidos, interessantes e que, claro, apontam para o futuro sem gerar uma ansiedade sobre ele.

E por que elas são assim? Porque “Sem volta para casa” é um filme bem conduzido em sua mistura de aventura, suspense, drama, emoção e fan service. Tem uma história bem contada e bom trabalho dos atores envolvidos no projeto.

Mas nada acontece por acaso. Tudo está a serviço da história envolvendo uma implosão do multiverso a partir dos atos envolvendo Peter Parker (Tom Holland) e os problemas que ele passou a enfrentar depois de ter sua identidade revelada pelo famigerado jornalista J.Jonah Jameson (J.K. Simmons) e a tentativa de consertar tudo por um perigoso feitiço lançado pelo Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch).

Holland está no seu melhor trabalho no papel de Parker. O filme também ganha muito tendo Willem Defoe de volta no papel do Duende Verde. Sua interpretação de Norman Osbourne é ainda melhor do que sua aparição inicial no “Homem-Aranha” de Sam Raimi. Alfred Molina é outro ator de peso que volta como Doutor Octopus e entrega um bom trabalho. Juntando eles com Cumberbatch e Zendaya (MJ) o filme tem um grupo de atores que entregam algumas de suas melhores interpretações para seus respectivos personagens.

“Sem volta para casa” é ainda bem sucedido por funcionar perfeitamente como um filme único. Ou, vá lá, como o tomo final da primeira trilogia de Holland como “Homem-Aranha”. Ainda que você não tenha visto os outros filmes da Marvel ou mesmo outros filmes da Sony envolvendo o Homem-Aranha a experiência do filme continua sendo boa.

É claro que as piscadelas são muitas. Algumas mais permanentes, outras sutis. Fãs podem se empolgar com uma ou mais situações. Mas ainda que nada tenha sido visto, “Sem volta para casa” funciona muito bem como uma aventura do Homem-Aranha como não viamos desde os dois primeiros filmes do herói, quando sequer havia a atual febre de super-heróis.

O cabeça de teia merecia um filme assim depois de ser quase um coadjuvante de luxo dos filmes da Marvel na fase 3. E as perspectivas são muito boas para o futuro, quando, aparentemente, veremos um Parker entrando numa fase mais madura e lidando com os problemas e idiossincrasias da vida adulta.

É claro que “Sem volta para casa” tem seus problemas. Um pedaço da trama pareceu bem aleatório envolvendo um soro. Mas no mais complicado, que era lidar com o conceito de multiverso, o filme vai bem. E sabemos que isso vem atravessando todos os projetos da Marvel desde a aparição de Kang em “Loki”, que pode vir a ser o grande vilão da atual fase da Marvel.

Resumindo, “Homem-Aranha: sem volta para casa” entregou tudo o que prometeu. É um filme para fãs e haters encontrarem um caminho do meio em busca da paz.

Cotação da Corneta: nota 9.

(ATENÇÃO QUE A PARTIR DAQUI PEQUENOS COMENTÁRIOS COM SPOILERS)

1- Impossível não ter sentido uma pontinha de emoção ao rever Tobey Maguire e até Andrew Garfield de volta em seus papéis. Nem fui muito fã da fase de Garfield, mas este filme representou para mim uma redenção do seu personagem. Deu até vontade de rever seus dois filmes.

2- Estou curioso para saber, inclusive, se ambos voltarão um dia. Com o multiverso, é possível haver diferentes Homens-Aranha cada um no seu universo e tudo bem.

3- O filme também foi uma reabilitação do Parker de Garfield, que aqui consegue salvar a garota.

4- Inclusive, será inevitável a chegada de Miles Morales com a menção de que deve haver um Aranha negro em algum universo.

5- Ainda bem que o Multiverso trouxe de volta os vilões que morreram em filmes anteriores. Com isso a porta está aberta para que a Marvel possa fazer o que quiser. Desde trazer de volta o Capitão América e o Homem de Ferro se a coisa ficar feia, até trazer personagens de volta a vida como é bem frequente nos quadrinhos. A Marvel transformou o cinema em quadrinhos e nele tudo cabe.

6- É claro que Maguire e Garfield monopolizaram as atenções, mas o que mais me empolgou foi a breve aparição de Charlie Cox como Matt Murdock. Estou bem feliz que a Marvel está aproveitando os personagens que estavam aparecendo na Netflix. Já tínhamos visto o Rei do Crime de Vincent D’Onofrio na série do Gavião Arqueiro e agora vemos o desembarque do Demolidor no Universo Marvel.

7- Será interessante ver o que será dos vilões do Aranha daqui para frente e como o multiverso funcionará. Será que voltam? Será que o Aranha vai cruzar com o Venom? Será o Aranha do Holland? Muitas questões ficam.

8- Com um pedaço de simbionte perdido no universo do Holland a próxima trilogia promete envolver algum Venom e não necessariamente o Venom que vimos no cinema.

9- Muito triste pela morte da Tia May (Marisa Tomei).

10- Será muito interessante ver Parker lidar com todo o conhecimento que tem sem que todo o universo saiba que ele também estava lá nos acontecimentos. E lidando agora com a falta de dinheiro, a solidão de não ter mais amigos e precisando trabalhar, estudar e salvar a cidade dos vilões e bandidos.

11- Interessante ver como o Capitão América virou o símbolo do heroísmo após os eventos de Ultimato. Tão marcado agora com o escudo na estátua da liberdade.

sábado, 27 de novembro de 2021

“Spencer” e a vida sufocante da princesa Diana

Stewart não conseguiu se amalgamar a Diana

Cinco anos depois de fazer um estudo sobre um duplo luto do marido e do poder em “Jackie”, o chileno Pablo Larraín resolveu buscar outra mulher icônica do poder para um novo exercício dramático. “Spencer” joga uma lupa sobre a falecida princesa Diana e sua relação com a família real britânica num dos momentos finais de sua relação com o príncipe Charles.

Assim como “Jackie”, o filme foca quase que 100% sobre sua personagem principal fazendo com que todos as demais figuras orbitem em torno dela, reajam a ela ou sejam empáticas ou não a ela.

“Spencer”, porém, não é tão bem sucedido quanto “Jackie”. Tem altos e baixos. Como reflexão sobre uma vida sufocante e suas consequências sobre alguém completamente deslocada daquela realidade cheia de padrões, horários rígidos e tradições ele vai bem. Mas o que falta a “Spencer” é o que “Jackie” tinha de sobra: uma atriz que segurasse firme o protagonismo do filme.

É claro que Natalie Portman é mais atriz que Kristen Stewart. Mas Stewart pareceu não ser a melhor escolha, ainda mais com uma comparação tão próxima a ela. A Diana de Emma Corrin, em “The Crown”, é mais rica ao mesmo tempo em que passa os mesmos dramas que o filme tenta colocar. É claro que uma série tem mais espaço de desenvolvimento, mas Corrin pareceu captar melhor a essência da princesa de Gales a ponto de vermos mais a Diana do que propriamente Corrin, o que não acontece em “Spencer”. O que vemos no filme de Larraín é mais Stewart tentando imitar e dar sua visão para Diana, mas sem conseguir se amalgamar com a personagem.

Também são discutíveis os maneirismos que Stewart impôs à personagem. Aquela fala travada, quase sufocante o tempo inteiro cansa um pouco. Por outro lado, se o objetivo era exatamente este, mostrar como aquela família sugava a alma de Diana a ponto de ela mal conseguir respirar pareceu uma saída interessante.

No entanto, “Spencer” se sai melhor mostrando isso com atos e imagens. O controle absoluto sobre a vida dela, as constantes observações, a sensação de prisão (a cena das cortinas costuradas é terrível e ao mesmo tempo muito emblemática), a necessidade de estar sempre seguindo protocolos burocráticos de uma realidade hipócrita enquanto a realidade estava desmoronando em meio a uma conhecida traição de Charles e seus problemas de bulimia. Tudo isso é muito bem feito no filme de Larraín.

“Spencer” é uma reflexão sobre a falta de ar e uma vida sufocante. Sobre como um ambiente é nocivo para alguém que não se enquadra na rigidez da família real. A primeira tomada dele já é brilhante em mostrar os contrastes entre Diana e o seu universo. Ela livre, perdida, sozinha tentando encontrar o caminho para o fim de semana de Natal em família. Do outro lado, exércitos seguindo rígidos protocolos. Do exército que entrega a comida ao exército de cozinheiros do castelo.

Gosto de como Larraín usa as dualidades do filme. De como ele faz Diana querer fugir e ser livre o tempo todo enquanto todo o universo da família real precisa seguir uma rotina de relógio suíço e até a diversão é controlada. Tudo o que Diana busca é um Natal e, consequentemente, uma vida normal. Mas é tudo o que ela não pode ter. Presa que está naquela hierarquia feudal e com um marido que o mundo inteiro sabe que a trai.

Os únicos momentos que não são de martírio dela são com os filhos. Larraín vê William e Harry como o ponto de alívio e amor que Diana tinha no inferno que sofria. O diretor também faz questão de reafirmar o título de princesa do povo ao mostrar que os empregados têm simpatia por ela. Ao contrário dos olhares atravessados, opacos, distantes da família, que parece querer se livrar dela tanto quanto ela deles.

“Spencer” mostra um momento sufocante pré-ruptura. Dali para frente, tudo seria diferente para todos até a trágica morte da princesa. E a escolha de Larraín em mostrar isso justamente num momento de Natal, que devia ser de celebração e união, foi certeira.

O filme, porém, só reforça os entendimentos que se criaram sobre todos estes personagens tão fartamente retratados no cinema e na TV. Neste ponto, portanto, “The Crown” e “A Rainha” são mais interessantes por discutirem e tentarem se aprofundar um pouco mais sobre eles. “Spencer”, por outro lado, tem seu lugar. E não deixa de ser um exercício interessante de Larraín sobre uma mulher com uma vida tão fascinante quanto trágica.

Cotação da Corneta: Nota 6,5.



sábado, 13 de novembro de 2021

"Eternos" ficou devendo, mas ainda assim é divertido

Eternos e suas belas fantasias de carnaval
Levar para o cinema os personagens cósmicos da Marvel era um grande desafio. Primeiro, eles nunca foram realmente incríveis nos quadrinhos. E ainda assim era preciso torná-los interessantes e palatáveis para o grande público que não consome e desconhece completamente estas histórias numa narrativa que se enquadrasse no universo cinematográfico do estúdio e pudesse criar uma nova mitologia neste mesmo universo.

“Eternos” (“Eternals”, no original) não consegue atingir todos os ambiciosos objetivos. De fato, se o filme for visto apenas como uma aventura de uma gama de heróis da Marvel, ele até vai bem. Tem uma história tradicional, plot twists, batalhas interessantes e um final em que o bem vence o mal e, entre ganhos e perdas, a vida segue rumo a próxima aventura.

O filme, porém, não é bem sucedido quando vai para além desta camada primeva. Quando tenta discutir o papel dos Eterno na humanidade e sua função durante sete mil anos, quando levanta as capas de uma suposta hipocrisia e de um jogo de peões interplanetário em um xadrez muito maior do universo ele não passa de uma camada um pouco pálida.

É perceptível o esforço do filme em trazer uma camada de importância e construir um filme que se distancia vagamente da chamada fórmula Marvel, trazendo algumas discussões, digamos, sociológicas. E é muito válido que isso seja feito de alguma forma. Mas era preciso fazer tanta coisa neste filme: apresentar e mostrar quem são os Eternos, explicar o que são os Celestiais e os Deviantes, apresentar Dan Whitman, que deve vir a ter um papel importante na futura formação dos Vingadores, explicar por que os Eternos não interferiram na batalha contra Thanos e os demais conflitos da humanidade. Enfim, era muita coisa a fazer em 2h37min. Portanto, essa tentativa de dar um corpo acadêmico ao filme fica em quinto plano e não passa de flashes numa história que precisa seguir em frente nas batalhas e na construção daquele universo. Creio que “Pantera Negra” (2018) tenha sido mais bem sucedido em tentar ir para além de uma trama tradicional de quadrinhos.

Mas dito isso, “Eternos” é bem legal. Nos apresenta uma gama de personagens que no cinema ficaram interessantes em uma trama tradicional que envolve o dilema entre seguir o seu destino ou cuidar da sua família. Mas essa é muito uma perspectiva de um leitor de quadrinhos.

Para alguém mais leigo, “Eternos” parece um filme bastante frio e distante. Confuso com todos aqueles saltos temporários e um pouco vazio, com pouco aprofundamento da maioria dos seus personagens. Ao mesmo tempo em que talvez seja didático demais. Por outro lado, talvez seja fundamental que ele seja didático para o grande público se ver inserido no contexto daquela mitologia.

Falta a “Eternos” também uma assinatura mais forte de sua diretora. Num ano em que Chloe Zhao ganhou um Oscar por um filme tão autoral e excelente como “Nomadland”, esperava-se que “Eternos” tivesse mais da diretora, por mais que Kevin Feige fosse quem comanda a roda da Marvel. O filme não parece muito diferente do que seria sob o comando de outra cabeça. Mas creio que Zhao pelo menos consegue fazer um feijão com arroz satisfatório na construção desta aventura e, eventualmente, implantar as suas ideias em pontos específicos da história.

Narrativamente, porém, o filme falha na trama de Ikaris (Richard Madden). A virada que o personagem ganha soa artificial uma vez que é abordado de forma muito rápida os conflitos entre a fé e a razão entre os Eternos. E depois disso, quando Ikaris hesita não fica muito claro os seus motivos ou soa um tanto quanto um “momento Martha” por ser simplesmente por amor enquanto até ali ele foi intransigente no seu plano a ponto de ter tomado decisões tão drásticas.

O que fica de positivo em “Eternos” é sua aventura, a participação de Angelina Jolie, os personagens interessantes, as boas cenas de luta e a perspectiva de um segundo filme que aprofunde mais suas histórias e desenvolva as consequências dos atos dos personagens neste filme, uma vez que o universo já está estabelecido.

O futuro parece promissor. O presente, porém, ficou entre o morno e o divertido. E com umas boas piscadelas da Marvel para a DC, talvez uma das boas sacadas do filme em seus momentos mais cômicos.

Cotação da Corneta: Nota 7.



"Duna" é um filme grandioso

Paul nunca abandona a mãe
Originalmente um longo romance de ficção científica de Frank Herbert, “Duna” parecia infilmável. Afinal, como jogar para a tela um livro de mais de 600 páginas com uma gama relativamente grande de personagens importantes e várias tramas relevantes? Foi um desafio que o diretor canadense Dennis Villeneuve pegou para si. E tal qual um fremen cavalgando nas costas de um verme de areia, Villeneuve dominou muito bem o desafio.

“Duna” (“Dune: part 1”, no original) é um filme grandioso, solene, irresistivelmente belo e uma adaptação respeitosa e cirúrgica do livro de Herbert. Será preciso ser muito chato e cri-cri para que o fandom de “Duna” torça a cara para este filme. Estão ali todo os elementos do livro explorados com a minúcia que 2h35min de uma adaptação de aproximadamente metade do livro permitem. As casas são destacadas, os conflitos políticos, a questão envolvendo o meio ambiente, a luta pela especiaria, os interesses particulares das Bene Gesserit. a jornada do herói Paul Atreides (Thimothée Chalamet).

É claro que “Duna” não é um filme perfeito. E nem o melhor filme de Villeneuve. Mas isso diz mais sobre as qualidades de um diretor que já realizou trabalhos como “Blade Runner 2049” (2017), “A Chegada” (2016), “Sicário: Terra de Ninguém” (2015) e “Incêndios” (2010) do que depõe contra o seu trabalho em construir o mundo e os conflitos imaginados por Herbert.

Entre os acertos de “Duna” estão as escolhas de Villeneuve. Primeiro focar sua adaptação em uma parte do livro e não em sua totalidade. Assim, “Duna” pôde ter um ritmo mais lento, trabalhar mais a construção de seu universo e copiar até diálogos inteiros do livro. Segundo, escolher no meio de tudo focar na jornada do jovem Paul Atreides, filho do Duque Leto (Oscar Isaac) e, para os habitantes de Arrakis, o escolhido. Tudo gira em torno de Paul enquanto a trama política e ecológica fica como pano de fundo. Com destaque também, mas num patamar um pouco abaixo. Talvez isso não fosse o mais interessante para quem gosta mais das tramas políticas de “Duna”. Mas era preciso fazer escolhas e Villeneuve fez as dele.

Esteticamente é preciso destacar a trilha sonora inspirada de Hans Zimmer, que soube dar corpo à grandiosidade visual do filme. Também vejo como pontos positivos, detalhes das escolhas de Villeneuve como o uso da Voz, espécie de poder mental exibido pelas Bene Gesserit. O tom meio aterrorizante pareceu ser correto. Também foi boa escolha a sutileza que se exibem as especiarias, quase invisíveis para olhos mais distraídos, mas sempre ali relativamente brilhando em sua cor alaranjada e misturada a areia do deserto. Assim como o conceito dos escudos dos personagens.

Outro acerto foi a estética dos vermes do deserto, assustadores, meio escuros, sem um rosto aparente e raramente aparecendo em sua plenitude. Villeneuve soube ainda emular muito bem a forma como o deserto se movimenta como se fosse um mar de areia tão bem descrito no livro de Herbert.

Por outro lado, muito do que torna “Duna” grandioso pode incomodar o espectador comum. Por vezes, o filme de Villeneuve parece frio e sem alma. Crítica que “Blade Runner 2049” também já sofrera. Eu discordo. Acho que ele tem a força em sua beleza e os personagens carregam muito desta alma do filme desde as menores participações até Chalamet. E como estão bem Isaacs, Rebecca Ferguson, Stellan Skarsgaard, Javier Barden, Josh Brolin, Jason Momoa, Charlotte Rampling e outros. Cada ator entrega bem o que seu personagem pede.

É questionável também o modo como o filme termina. Me parece que só não causará incômodo e estranhamento em quem leu o livro, pois este grupo já conhece o que está por vir. Mas quem nunca pegou na obra de Herbert e vai conhecer o universo pela primeira vez pode ficar frustrado, mesmo que tenha sido enredado pela beleza do filme.

Haveria outro momento melhor para encerrar esta primeira parte? Talvez. Faltou um clímax ao filme? Provavelmente. Contudo, não foi exatamente ruim que a primeira parte terminasse com o amadurecimento de Paul, a sua necessária morte metafórica, enquanto a segunda deve se ocupar mais com a ascensão de Muad’Dib.

“Duna” correspondeu a muitas das expectativas. Sua grandiosidade, porém, só terá um atestado definitivo quando a parte 2 ganhar a luz do dia. Até lá, no entanto, nos contentemos com uma primeira parte cheia de predicados.

Cotação da Corneta: Nota 8,5.



sábado, 16 de outubro de 2021

007 apela ao sentimentalismo em despedida de Daniel Craig

Um filme imperfeito, mas um final perfeito para Craig
O que menos se espera de um filme de James Bond é um apelo a emoção e a sentimentos tão humanos. Mas o que os 15 anos de Daniel Craig no papel do mais famoso agente secreto no cinema nos ensinou é que a sua versão para 007 pode ser considerada a mais humana de todas. Em cinco filmes, o James Bond de Craig amou, sofreu, sentiu raiva, entregou-se a um alcoolismo, sentiu-se traído, chorou, errou…Tudo isso, claro, enquanto não falhava em apenas uma coisa: salvar o mundo dos grandes vilões que querem destruí-lo, dominá-lo ou qualquer coisa semelhante a isso. Não seria por acaso, portanto, que “Sem tempo para morrer” (“No time to die”, no original), o filme que marca a sua despedida do papel surgisse como uma revisão do seu legado e uma homenagem ao seu Bond humano.

“Sem tempo para morrer” tem uma série de defeitos. É quebradiço, tem um roteiro que tenta ser complexo e com reviravoltas, mas na maioria das vezes não funciona e é muito mais problemático e confuso. E tem um vilão que prometia mais do que cumpriu. A falta de uma boa história faz com que o filme pareça muito longo em suas 2h43min.

Por outro lado, o filme ganha força quando se coloca expondo o legado de Craig no papel. E apela a um sentimentalismo que talvez arranque algumas lágrima dos fãs de 007. E arrancar lágrimas de um espectador num filme de James Bond é algo que por si só seria raro.

Ao tentar se equilibrar em muitas frentes, porém, “Sem tempo para morrer” fica no meio do caminho de todas elas e entrega justamente um filme longe de ser perfeito. Para começo de conversa, a trama é confusa. Gira em torno de uma tentativa do vilão principal, Lyutsifer Safin (Rami Malek), de adquirir um vírus tecnológico poderoso que o permitirá matar milhões de pessoas ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, a trama lida com a aposentadoria de Bond, agora vivendo recluso na Jamaica, enquanto há uma nova 007 no MI6, Nomi (Lashana Lynch). Ao mesmo tempo, a organização terrorista Spectre continua ativa e misteriosamente comandada da cadeia pelo arqui-inimigo de Bond, Blofeld (Christoph Waltz).

Alguns passos da história, porém, não ficam muito claros. Por exemplo, por que Safin tem interesse em fazer o que fez com a Spectre? Além disso, não entendemos muito bem quais foram as motivações dele para reproduzir um vírus mortal em larga escala para destruir milhões de pessoas se, supostamente, a morte da família dele está vingada. Falta, assim, mais esclarecimento para a trama da ameaça global.

Por outro lado, a história da vida miserável que Blofeld armou pra Bond no início do filme foi pouco explorada. Vimos o ato, o sentimento de traição que ele sentiu de Madeleine (Léa Seydoux) e pulamos imediatamente para a consequência: um Bond sozinho, isolado numa ilha e bebendo cada vez mais, e, por fim, no turbilhão de outros acontecimentos, a resolução desta subtrama no reencontro de 007 com Blofeld na prisão em Londres.

Havia um potencial maior nesta subtrama a ser explorado e faltou uma conexão maior com a história principal que envolvia Safin e suas motivações. Também faltou ao filme explorar um pouco mais do potencial de Paloma, personagem de Ana de Armas que tem uma pequena e interessante participação na parte da história que se passa em Cuba. É igualmente pouco explorado o potencial do vilão vivido por Malek, ainda que o ator esteja defendendo como pode o seu personagem em meio ao roteiro irregular.

O mesmo não acontece com Nomi, que ganha bom destaque na tela e tem boas interações com Bond. Esta é uma personagem que poderia voltar nos futuros filmes, quando for escolhido um novo ator para o papel principal.

Não necessariamente estes problemas ou defeitos atrapalham a experiência de “Sem tempo para morrer”. O filme tem boas cenas de ação, a melhor delas a primeira, na Itália, antes dos créditos de abertura com a música de Billie Eilish. E tem um final emocionante, quando Bond precisa enfrentar Safin e impedir a morte de milhões de pessoas na Europa em meio a uma potencial crise internacional entre Inglaterra, Japão e Rússia. Emocionante e até inesperado para os filmes de 007.

Ao longo de toda a trama, Bond está tentando se reconciliar com o seu passado após as escolhas equivocadas que fez no início do filme. E é nos minutos finais que ele encontra a paz no ponto alto do sentimentalismo que a trama vinha nos conduzindo. Ainda que a missão de Bond nunca esteja concluída, afinal, sempre haverá um vilão megalomaníaco querendo dominar o mundo, a missão de Craig ali se concluiu. E ele soube entregar um grande James Bond. Um grande e humano James Bond que aprendemos a gostar ao longo de uma década e meia. Eu não queria estar na pele de quem terá que substituí-lo.

Cotação da Corneta: nota 7.