domingo, 1 de fevereiro de 2009

Um palco para Jolie (tentar) brilhar

Ainda uma atriz relativamente contestada, embora já tenha um Oscar de coadjuvante na prateleira por "Garota...Interrompida" (1999), Angelina Jolie foi recrutada – e obviamente aceitou sem o menor esforço - por Clint Eastwood para viver em “A Troca” um papel talhado para lhe dar uma nova estatueta. A de mãe sofrida, viúva, que faz de tudo para cuidar do filho e protegê-lo. Acredito que tirando a parte do sofrimento, deve ser mais ou menos o que ela tem em casa ao lado de Brad Pitt e sua ninhada.

Christine Collins trabalhava numa empresa de telefone durante os anos 20 quando seu filho, Walter Collins (Gattlin Griffith) desapareceu num final de semana em que ela teve que fazer uma hora extra. Após meses de aflição e esperança, a polícia de Los Angeles, então com uma péssima imagem pública e acusada pelo reverendo local, Gustav Briegleb (Um ótimo John Malkovich), de ser a mais violenta dos Estados Unidos e de utilizar, digamos, uma tática meio Jack Bauer – atira primeiro e pergunta depois -, encontra um garoto que supostamente seria o seu filho.

Esperançosa, Christine vai até a estação de trem e encontra uma criança completamente diferente. Mas disposta a recuperar a imagem, a polícia faz Christine praticamente engolir a criança. A partir daí começa a dor de Christine, e Angelina Jolie se esforça para mostrá-la, para provar que aquela criança não é seu filho, o que irrita profundamente o departamento de polícia local.

Ao desafiar os policiais, Christine é humilhada, jogada num manicômio, mas insiste em provar que seu filho não era aquela criança e poderia estar vivo em algum lugar.

Walter Collins nunca foi encontrado. Talvez ele tivesse sido assassinado junto com outras 19 crianças durante os crimes praticados por Gordon Northcott (Jason Butler Harner), talvez tenha escapado das mãos dele e desaparecido. Nunca se soube, mas até o fim da vida Christine alimentou a esperança de reencontrar o seu filho.

Essa história real que Clint Eastwood escolheu para a sua aposta da vez no Oscar deste ano não chega ao nível dos seus últimos filmes que disputaram ou ganharam alguma estatueta nos últimos tempos como “Sobre Meninos e Lobos” (2003), “Menina de Ouro” (2004), “A Conquista da Honra” (2006) ou “Cartas de Iwo Jima” (2006), mas guarda alguma semelhança na medida em que todos estes filmes falam sobre dores. E Clint busca dissecar esta dor, sem, evidentemente, parecer piegas, forçação de barra ou coisa do tipo.

Assim como seus últimos filmes, “A Troca” é muito bem dirigido, tem um roteiro elogiável e uma trilha sonora, composta também pelo diretor, excelente. O diferencial, porém, está no elenco.

As escolhas do diretor desta vez não foram muito felizes. Personagens chaves como o detetive Ybarra (Michael Kelly) e o capitão J.J. Jones (Jeffrey Donovan) são canastrões demais. E como John Malkovich pouco aparece, recai sobre as costas de Jolie a tarefa de segurar o filme sozinho.

É possível dizer que ela é bem sucedida em sua árdua tarefa? Até certo ponto sim. Sua atuação pode até ser digna de uma indicação ao Oscar, mas está longe de ser um desempenho de encher os olhos. Embora se esforce, talvez Angelina não seja a pessoa certa para o papel. Ou talvez eu não a veja como uma mãe trabalhadora dos anos 20 e só pense “naquilo” ao ver seus lábios carnudos e o esforço dela para esconder os peitos (afinal, a verdadeira Christine não devia ser um tamanho GG).

Preconceito? Pré-conceito? Talvez. Todavia gosto de Angelina. Acho que ela tem excelentes desempenhos, como em “Gia – Fama e Destruição” (1998), bons trabalhos como em “O Colecionador de Ossos” (1999) ou sabe divertir a plateia como em “60 Segundos” (2000) e “Sr. e Sra. Smith” (2005).

Mas peca pela irregularidade. Não dá para dizer que suas atuações são marcantes em “O Bom Pastor” (2006), “Bewoulf” (2007) ou “O Procurado” (2008).

Por outro lado, talvez ela apenas não seja a pessoa certa para o papel. Assim como em “Alexandre” (2004) não dava para vê-la como mãe de Colin Farrell, não dá para imaginar Angelina Jolie como aquela mãezinha dedicada ao filho naquelas roupas sem graça dos anos 20. É difícil imaginar dada a sua imagem pública. Talvez o papel ficasse melhor nas mãos de uma Nicole Kidman, talhada para este tipo de mulher.

Independentemente destas reflexões, “A Troca” é um bom filme (assim, sem encher muito a boca) e Angelina até consegue segurar a onda. Mas não me parece uma atuação com fôlego de Oscar. E a premiação do Globo de Ouro para Kate Winslet por “Foi Apenas um Sonho”, pode significar que a estante da atriz vai ficar mais uma vez com um espaço vazio.

Indicações ao Oscar: Melhor Atriz para Angelina Jolie, Direção de Arte para James J. Murakami e Fotografia para Tom Stern.

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