sábado, 31 de dezembro de 2016

Best Of 2016 - Cinema

"A Chegada", o melhor filme de 2016
Chegamos ao último dia de 2016. É o momento mais aguardado de Memórias da Alcova, quando entregamos o prêmio Corneta Awards. Como em todos os anos, a regra é clara, Todo e qualquer filme que estreou no Brasil entre os dias 1º de janeiro e 30 de dezembro, também conhecido como ontem, está apto a entrar na lista. Os que passaram no crivo, vão para o top-10. Os que fracassaram na cotação da Corneta, vão para o top-5 do mal. Além disso, temos as premiações individuais com categorias marotas, salientes e malemolentes.

Sem mais delongas, comecemos pelos melhores e piores filmes de 2016. Sempre numa ordem de ranking porque listas e rankings são polêmicos e alimentam discussões de bar e ceias de réveillon.

OS MELHORES FILMES

Chegar ao top-10 nunca é fácil, Neste ano, chegaram na semifinal, mas ficaram de fora da lista final filmes como “Spotlight: segredos revelados” (o injusto ganhador do Oscar), “A garota  dinamarquesa”, “A bruxa”, “A segunda esposa”, “Ave, César!”, “Truman”, “A assassina”, “Café Society”, “13 minutos”, “Snowden”, “Elle” e “Neruda”. “O filho de Saul” e “Doutor Estranho” também eram ótimos, mas ficaram pelo caminho. Chegamos a 12, preciso cortar dois. Acabaram sendo “Jason Bourne” e “A comunidade”, os últimos filmes a receberem a menção honrosa da Corneta.

Feitas as ressalvas, vamos ao top-10.

10º lugar – “As montanhas se separam” – O belíssimo filme de Jia Zhangke é uma espécie de “Boyhood” chinês, mas consegue ser ainda melhor do que o americano. Conta a história de três jovens chineses, cujas vidas se cruzam e se afastam cada vez mais conforme o passar do tempo e as escolhas tomadas. Um excelente trabalho de Zhangke.

Os oito odiados: faroeste teatral
9º lugar – “Os oito odiados” – Usando a sua conhecida estética de exagero e violência, Quentin Tarantino fez um excelente filme que é um faroeste típico, mas também é puro teatro. A força do trabalho está no texto do seu roteiro e na trilha sonora brilhante de Ennio Morricone.

8º lugar – “O abraço da serpente” – O filme colombiano conta a história de tribos indígenas na Amazônia colombiana em diferentes momentos a partir dos diários de dois pesquisadores que visitaram o local em diferentes períodos e acabaram documentando as transformações brutais sofridas pelas tribos locais. O elo de ligação entre ambos e o índio Karamakate. Uma denúncia da opressão do homem branco sobre a cultura indígena.

Melhor filme de quadrinhos
7º lugar – “Capitão América: Guerra Civil” – Um dos melhores filmes já feitos baseado em quadrinhos. O trabalho dos diretores Anthony e Joe Russo funciona perfeitamente em sua história, no trabalho dos atores, na colocação dos personagens na história. Simplesmente brilhante.

6º lugar – “Steve Jobs” – Mais do que uma cinebiografia do criador da Apple, é um ensaio sobre a vida de Steve Jobs que conta com um Michael Fassbender excelente no papel principal, a direção segura de Danny Boyle e o texto brilhante de Aaron Sorkin.

Carrell brilhando
5º lugar – “A grande aposta” – Um filmaço divertidíssimo sobre a crise econômica americana. Contado com humor, ousadia (como a quebra da quarta parede para explicar conceitos econômicos) e algumas atuações marcantes. Em especial, Christian Bale e Steve Carrell.

4º lugar – “O quarto de Jack” – Excelente filme sobre uma mãe sequestrada na adolescência que passa sete anos no cativeiro. Tudo é contado a partir do ponto de vista da criança, o jovem Jack, interpretado de forma tocante por Jacob Tremblay.

Di Caprio se esforçou e levou
3º lugar – “O Regresso” – Era o meu favorito do Oscar. Mas o trabalho de Alejandro González Iñarritu acabou ficando apenas com a merecida estatueta de diretor e outra mais do que merecida de ator para Leonardo Di Caprio. Além dele, Tom Hardy está muito bem neste filme que conta uma jornada de superação de um homem  deixado para morrer na selva e no frio após um ataque de um urso e volta para se vingar dos que o abandonaram.

Sônia incrível em "Aquarius"
2º lugar – “Aquarius” – O novo filme de Kléber Mendonça Filho é um primoroso retrato do Brasil a partir de uma realidade de Recife, em Pernambuco. Belíssimo, forte e necessário ser visto por todos, assim como era o seu primeiro trabalho, “O som ao redor”.

1º lugar - "A chegada" – É difícil a Corneta repetir um diretor no prêmio. Afinal, é grande a quantidade de filmes muito bons por aí. Mas o canadense Denis Villeneuve conseguiu isso. Depois de levar o Corneta Awards de melhor filme no ano passado por “Sicário”, ele nos apresenta este excelente “A chegada”, um filme encantador que fala sobre a linguagem, a comunicação e reflete sobre a importância de conviver com as diferenças e a riqueza que é entender os diferentes lados. Ao mesmo tempo que fala sobre o medo do diferente, que provoca ódio. Tudo numa embalagem de ficção científica e uma vibe “Interestelar”. Um belo trabalho, que fatura o prêmio de melhor do ano da Corneta.

PIORES FILMES:

Mas não pensem pela lista acima que foi um ano fácil. A temporada de 2016 também teve muita bomba. Falemos sobre as cinco piores:

5º lugar – “Ben-Hur” – Por que refilmar o que já era bem feito e estava na história? Mas Timur Bekmambetov topou o desafio e nos apesentou uma versão tosca padrão novela da Record do clássico do cinema estrelado por Charlton Heston. Atuações pífias ainda marcam esse trabalho que merece ser esquecido. A única coisa que se salva é a cena da corrida de bigas.

Que roubada, hein Jamie Lannister?
4º lugar – “Deuses do Egito” – Hollywood raramente se dá bem com histórias antes de Cristo. “Deuses do Egito” é tosco do início ao fim. Dá pena ver o Geoffrey Rush metido nesta roubada.

3º lugar – “O Contador” – Ben Affleck vive um cara que cuida das finanças de dezenas de bandidos, mas também é treinado para matar como se fosse um agente secreto fodão, tipo cruzamento de James Bond com Jason Bourne. Aí, ele é um cara que tem problemas para se relacionar por conta de uns problemas de saúde e tudo dá errado. Não tem como isso dar certo.

2º lugar – “Batman vs Superman: a origem da Justiça” – Ben Affleck esteve especialmente em algumas roubadas neste ano. Esse é um dos piores e mais constrangedores filmes sobre quadrinhos já feitos na face da terra. Uma coisa de envergonhar a DC Comics, o Zack Snyder e quem mais participou do projeto. Só a Mulher Maravilha de Gal Gadot se salva, o que nos deixa uma boa perspectiva para o seu filme solo em 2017.

Vem, meteoro!
1º lugar – “Independence Day: O Ressurgimento” – Tem coisas que não precisam ressurgir. O “Independence Day” de Rolland Emmerich é uma delas. Um dos piores filmes já feitos na face da terra, 8.5 na escala “Titanic” de ruindade. Como absolutamente nada se salva no filme, ganhará merecidamente o troféu bomba de 2016.  

MAIS PRÊMIOS DA CORNETA:

Troféu decepção de 2016 – “Esquadrão Suicida” bem que se esforçou, mas nada superou mesmo “Batman vs Superman”, a grande decepção do ano.

Chisolm resolve seus problemas
O herói do ano – Capitão América, Pantera Negra, Jasou Bourne, Doutor Estranho. Tivemos grandes heróis, mas o meu favorito será um herói de faroeste. Chisolm (Denzel Washington) mostrou a coragem, liderança a maestria que esperamos de um grande herói na refilmagem de “Sete homens e um destino”. Fica também como uma homenagem à bela refilmagem comandada por Antoine Fuqua.

O Barão Zemo, grande vilão
O vilão do ano – Entre tantos personagens legais de “Capitão América: Guerra Civil”, está o Barão Zemo de Daniel Brühl, o grande arquiteto da briga entre os heróis no aeroporto (uma das grandes cenas do filme) e de todas as vilanias do filme. Zemo ainda dará trabalho ao Capitão América no futuro.

A frase do ano – Aspas para Sônia Braga, cuja personagem Clara diz uma das várias frases marcantes dos diálogos de “Aquarius”: “Toca Maria Bethânia. Mostra que você é intenso”. Dentro do contexto do diálogo com o sobrinho no filme, é uma frase que revela a paixão, o conhecimento e a dedicação de Clara pelas artes.

O retorno do ano – Darth Vader deixou os fãs em calafrios nas cenas finais de “Rogue One”, mas foi pouco tempo. Assim, o prêmio de retorno do ano ficará para o inesquecível Rocky Balboa de Sylvester Stallone. O personagem voltou em “Creed: nascido para lutar”, quando Rocky aceita treinar o filho de Apollo, o Doutrinador, seu velho amigo e contra quem lutou nos dois primeiros filmes da franquia. Stallone está muito bem no papel e recebeu até uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante. Acabou perdendo para Mark Rylance, de “Ponte dos espiões”.

Adriana Ugarte brilhou em "Julieta"
A musa de 2016 – Sempre uma das categorias importantes dos prêmios alternativos do Corneta Awards. Cate Blanchett chegou forte com dois filmes (“Carol” e “Conspiração e poder”), tínhamos Morena Baccarin em “Deadpool” e Alicia Vikander em “Garota Dinamarquesa”. Scarlett Johansson é sempre uma candidata, embora nunca tenha levado o prêmio (mostrando a isenção da Corneta) e Margot Robbie era o que “Esquadrão Suicida” tinha de melhor. Mas no fim, fiquei entre duas espanholas. Dolores Fonzi, de “Truman” e a vencedora, a belíssima Adriana Ugarte, que também faz um belo trabalho em “Julieta”, o filme que Pedro Almodóvar lançou neste ano. E relembrando todas as campeãs até aqui: Sharon Stone (2006), Eva Mendes (2007), Penélope cruz (2008), Kate Winslet (2009), Anna Mouglalis (2010), Cecile de France (2011), Jessica Chastain (2012), Melanie Laurent (2013), Eva Green (2014) e Jessica Chastain (2015).

A melhor cena de sexo – Voltemos a “Julieta” para premiar a cena de sexo no barco entre a Julieta jovem (Adriana Ugarte) e o namorado no filme.

A melhor cena de briga – O ano de 2016 está de parabéns neste quesito. Daria até para fazer um top-5, pois tivemos a briga final entre Di Caprio e Hardy em “O Regresso”, a briga de bar de José Aldo e três playboys em "Mais forte que o mundo: a história de José Aldo", a cena final de “Tarzan”, com direito a invasão de bichos, e toda a épica resistência de Benghazi em “13 horas: os soldados secretos de Benghazi”. Darei uma medalha de bronze para a luta do Capitão América com o Homem de Ferro no aeroporto de Berlim envolvendo todos os heróis em “Guerra Civil” e uma de prata para a batalha final pela cidade em “Sete homens e um destino”. Mas a medalha de ouro vai para a cena cheia de efeitos especiais envolvendo o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), a Anciã (Tilda Swinton) e Kaecillius (Madds Mikkelsen) em “Doutor Estranho".

O filme Sessão da Tarde do ano – Fofo e com uma atuação divina de Maggie Smith, “A senhora da van” é a diversão que pedimos para uma tarde de verão vendo TV e com o ar condicionado ligado.

A cena mais absurda – Se tem uma coisa que “Caçadores de emoção – além do limite” tem é uma coleção de cenas absurdas. Então, pelo conjunto da obra (o paredão de água na cena de surfe na França, a descida de snowboard e o voo de wingsuit), o filme ganhará o prêmio de mais absurdo de 2016.

O filme mais kitsch – Por todos os motivos expostos no top-5 do mal, “Ben-Hur” ganhará o prêmio de filme mais kitsch do ano.

Os melhores roteiros – O top-5 de 2016: “Steve Jobs”, “A grande aposta”, “Aquarius”, “As montanhas se separam” e “A chegada”.

Os piores roteiros – O top-5 do mal em 2016: “Independence Day: o Ressurgimento”, “Caçadores de emoção”, “Deuses do Egito”, “Ben-Hur” e “O Contador”.

Isabelle Huppert e seu gato
O filme francês do ano – Embora dirigido pelo holandês Paul Verhoeven, “Elle” é uma co-produção francesa e foi para mim o filme mais instigante falado na língua de Godard. “Elle” conta a história de uma mulher que sofre uma violência grande e entra no jogo do seu agressor para lidar com suas questões internas.

O filme argentino do ano – Foi um ano de poucas produções argentinas vistas no cinema. Então, ficarei com “Koblic”, mais recente filme de Ricardo Darín, em que ele vive um piloto de avião que desiste de trabalhar para a ditadura argentina e tem que ter uma vida clandestina.

O filme brasileiro do ano – “Aquarius”, sem dúvida. Não é à toa que entrou no to-10 dos melhores do ano.

O filme de quadrinhos do ano – A Marvel deu uma goleada digna de 7 a 1 na DC Comics em 2016. E o filme de quadrinhos do ano não poderia ser outro que não “Capitão América: Guerra Civil”. Tanto que ele está na lista dos dez melhores do ano.

O filme-pipoca do ano – Mais um prêmio para “Capitão América: Guerra Civil”. Foi um dos mais divertidos de 2016.

O melhor filme ruim – “A lenda de Tarzan”. Tem um jeitinho kitsch, um jeitinho ruim, que acaba sendo uma boa diversão.

Melhores diretores – Danny Boyle (“Steve Jobs”), László Nemez (“O filho de Saul”), Alejandro González Iñarritu (“O Regresso”), Kléber Mendonça Filho (“Aquarius”) e Dennis Villeneuve (“A Chegada”).

Piores diretores – Rolland Emmerich (“Independence Day: O Ressurgimento”), J. Blakeson (“A quinta onda”), Ericson Core (“Caçadores de emoção – além do limite”), Zack Snyder (“Batman vs Superman”) e Timur Bekmambetov (“Ben-Hur”).

Melhores atuações masculinas – Michael Fassbender (“Steve Jobs”), Steve Carrell (“A grande aposta”), Bryan Cranston (“Trumbo”), Leonardo di Caprio (“O Regresso”), Viggo Mortensen (“Capitão Fantástico”).

Piores atuações masculinas – Adam Walker (“A quinta onda”), Edgar Ramirez e Luke Bracey (“Caçadores de emoção – além do limite”), Gerard Butler (“Deuses do Egito”), Liam Hemsworth (“Independence Day: O Ressurgimento”), e Jack Huston (“Ben-Hur”).

Melhores atuações femininas – Isabelle Huppert (“Elle”), Sônia Braga (“Aquarius”), Amy Adams (“A chegada” e “Animais Noturnos”), Brie Larson (“O quarto de Jack”) e Natalie Portman (“De amor e trevas”).

Piores atuações femininas – Chlöe Grace Moretz (“A quinta onda”), Teresa Palmer (“Caçadores de emoção – além do limite”), Sela Ward (“Independence Day: O Ressurgimento”) e Courtney Eaton (“Deuses do Egito”).

Filme de melhor trilha sonora – “Os oito odiados” e a bela trilha de Ennio Morricone. Mas menção honrosa para “Aquarius”.

E assim termina o Best Of 2016. É claro que no ano que vem continuarei cornetando tudo e todos. Um feliz ano novo para os que acompanham este blog e me aturaram neste ano. Em 2017 tem mais.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Best Of 2016 - Música

Mick e Keith: duas lendas/Marcelo Alves
Quando você menos espera, está chegando o fim do ano. E com ele, a tradicional série de listas do Best Of, com os destaques e a bomba de 2016. Foi um ano de poucos shows, mas de muita qualidade, tornando a organização do top-5 desafiadora. Como não vi um show propriamente ruim, 2016 não terá o concerto bomba atômica para espinafrarmos.

Mas vamos a lista dos melhores shows do ano.

5º lugar – Black Sabbath – É o fim. Acabou. Quem viu, viu. Quem não viu, agora só em DVD. O Black Sabbath veio ao Brasil para um último show de sua última turnê, “The End”. Ver Toni Iommi pela última vez foi incrível, Ozzy continua o mesmo de sempre, mas pareceu um pouco menos louco do que em outras oportunidades. Nem jogou água na galera. O show de dezembro também foi um pouco mais enxuto em comparação com o de 2013, mas a competência da banda era a mesma.

Garbage no Circo/Marcelo Alves
4º lugar – Garbage – Foi tanto tempo esperando o Garbage tocar no Brasil que parecia impossível que o show fosse ruim. Mas Shirley Manson e sua trupe nos entregaram um show épico no Circo Voador em dezembro. Tocaram os clássicos, tocaram as músicas do disco novo, “Strange little birds”, e receberam em troca uma plateia das mais empolgadas. Foi sensacional. Voltem sempre.

3º lugar – Iron Maiden – Em março, o Iron trouxe ao Brasil a turnê do bom disco “Book of souls” e o resultado foi a competência de sempre do grupo de Bruce Dickinson e Steve Harris. O Iron fez daqueles shows impecáveis no HSBC Arena que será lembrado mesmo pelos fãs que já viram mais de dez shows do grupo inglês.

O Guns em grande forma/Marcelo Alves
2º lugar – Guns N’Roses – O Guns devia ao Brasil um show do nível do Guns que os brasileiros conheceram no Rock in Rio de 1991, No ano em que Axl Rose e Slash se entenderam e se juntaram a Duff McKeagan para uma turnê com a  formação clássica da banda, os fãs encontraram um excelente concerto no Engenhão, palco do show da turnê “Not in this lifetime”, em novembro. Dessa vez, Axl se preparou para não fazer feio diante dos seus colegas e cantou muito bem, despejando todos os clássicos da banda e algumas desnecessárias canções do “Chinese Democracy”. Foi o único ponto fora da curva de um show muito bom.

O melhor do ano – Rolling Stones – ÉPICO, É o único adjetivo que eu consigo pensar quando lembro do show dos Stones no Maracanã em fevereiro. Verdadeiramente, eu não esperava uma banda tão afiada. Afinal, eram setentões. Poderia ser um daqueles espetáculos com o Mick Jagger jogando para a galera e tudo bem. Mas não. Os Stones mandaram um show impecável e de lavar a alma. Enfileiraram clássicos e cantaram até a música mais nova, a ótima “Doom and Gloom”. Foi definitivamente o grande show de 2016.

Amanhã é a vez do Best of Cinema.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Capitão Fantástico

Viggo e seus filhos diferenciados
Eu queria dizer que "Capitão Fantástico" é um filme interessante. Mas Ben (Viggo Mortensen) me chamaria de sem conteúdo e vago. Isso porque na sociedade criada especificamente para ele e seus filhos, "interessante" é algo proibido. Toda obra de arte contemplada precisa de uma análise profunda. De motivos para ela ser boa ou ruim. 

Não é fácil ser filho de Ben. Mas também pode ser bom. É possível que sejam as duas coisas. Afinal, todo tipo de criação tem falhas e acertos. 

"Capitão Fantástico" coloca em choque dois mundos: o tradicional em que crianças vão para a escola, aprendem o que os sistemas escolares querem que você aprenda e vivem uma vida com certas informações sendo liberadas aos poucos e o de Ben, que montou ao lado da esposa um bunker socialista no meio da floresta americana onde seus filhos desde pequeno são treinados a caçar, se exercitar, viver livremente e celebrar o Noam Chomsky Day, dia do aniversário do pensador que é como o Natal deles. 

Mas quando a mãe das crianças morre e todos decidem ir para o funeral estas duas realidades se chocam brutalmente. Um dos filhos começa a questionar aquela educação "diferente", outro quer ir para a universidade e aos poucos o pai vai percebendo que exagerou em criar o seu mundo idílico.

As crianças tinham muito conhecimento, muito mais do que uma criança normal, mas não estavam preparadas para a vida. Não tinham o convívio social com outras da sua idade e se viam diante de situações que para elas eram bizarras, o que no mundo, digamos, socialmente aceito, é coisa de freak. 

"Capitão Fantástico" tem um quê de "Pequena Miss Sunshine" na forma como é feito e por contar uma história de gente de certa forma desajustada.

No fim, fica a lição de que qualquer radicalismo é ruim para todos. Nem tanto a vida artificial e plastificada que vivemos nestes bunkers burgueses, nem tanto o exagero de viver isolado num modelo puramente natural como se fossemos quase homens das cavernas que leem Chomsky. É claro que ao final, a mensagem de amor e de que o importante é a família estar unida prevalece.

E quem diria que no meio de tantos pensadores, escritores e compositores de música clássica daquela família, a música favorita da mãe deles seria "Sweet Child O'Mine"? Guns N'Roses é pura erudição.

"Capitão Fantástico" tem um elenco jovem bem entrosado entre si e com Viggo Mortensen, um ator que sempre gostei em boa parte dos filmes (e das escolhas de projetos que fez). Tem um final fofo e pode ser uma diversão despretensiosa. Ganhará da Corneta uma nota 6,5. 


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

'A chegada', ou 'Interestelar' com miçangas

Amy é a dona do filme
Se você pudesse prever o futuro, você o faria diferente? Essa é uma das questões que surgem bem nos minutos finais de "A chegada", o novo trabalho do diretor Dennis Villeneuve (de bons serviços prestados em "Incêndios", de 2010, e "Sicário", de 2015). 

"A chegada" é um filme de ficção científica com uma vibe "Interestelar". Mas enquanto o trabalho de Christopher Nolan aposta em algo grandioso, belo e intensamente científico a ponto de você explodir os neurônios (escorregadas no amor à parte), o filme de Villeneuve é mais clássico e aposta no que temos de mais primitivo e fundamental: a linguagem. Resumindo, "Interestelar" é para a turma de Exatas que faz prova para o Instituto Militar de Engenharia (IME). "A chegada" é para a turma de Humanas que faz miçangas. 

Tudo começa com o desembarque de 12 naves espaciais em diferentes pontos do planeta. Diante delas, a humanidade reage como sempre reagiu em sua história: com medo ante o desconhecido e pronta para a guerra. 

As maiores nações do planeta, no entanto, resolvem trabalhar em conjunto para descobrir o que os alienígenas querem. Afinal, ninguém estaciona o carro por aí de graça. Para isso contratam a linguista Louise Banks (Amy Adams, a dona do filme) e o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner) para, cada um na sua área, decifrarem o que significam aqueles grunhidos que os aliens pronunciam. 

Louise é dona de um talento único em linguística. Sabe línguas complexas e estuda muito mais do que o léxico, mas o significado de cada palavra dentro do contexto cultural de cada povo. O governo hesita, mas sabe que precisa dela para saber se iniciará uma GUERRA NAS ESTRELAS ou pode convidar os aliens para o chá das 17h. 

Só que a ignorância é um mal que a humanidade exercita como quem bebe um copo d'água. Enquanto Louise tenta decifrar e, mais do que isso, entrar em contato com aqueles seres estranhos, que parecem lulas gigantes de sete patas, autoridades só pensam em batalhas. Os humanos comuns acham estar diante do apocalipse e descambam para a violência sem fim alimentada pelo desespero. 

Em tempos tão sombrios como o que vivemos, com o avanço de um protecionismo econômico, político e cultural e um retorno à uma espécie de tribalismo da sociedade, Villeneuve dá o seu recado. Só juntos caminharemos. Só unidos evoluiremos. 

É o que Louise tenta explicar na interpretação de Amy Adams. É o que os alienígenas tentam dizer. É preciso unir as 12 peças do quebra-cabeças para entender a mensagem. E só trabalhando juntos isso é possível.

"A chegada" tem muito de científico e de linguística, mas também tem um lado místico, sobrenatural e sensitivo, que mostram que a humanidade sempre se equilibrará entre estes dois polos. Entre estas duas crenças. 

Villeneuve conseguiu um resultado brilhante e ao mesmo tempo tocante. Por isso, "A chegada" ganhará da Corneta uma nota 9,5.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Feliz feito pinto no Garbage

Shirley Manson, que mulher!/Marcelo Alves
Alguns comentários MALEMOLENTES sobre o belo show do Garbage

1. Pink is the new ruivo, visto que agora Shirley Manson tem o cabelo rosa.

2. Foi maneira a participação da galera. O Garbage nunca esteve no Rio e o povo fez questão de dar uma recepção de lavar a alma de todos.

3. A banda pareceu curtir demais o público. Shirley estava tão feliz que nem os problemas técnicos do início do show a abalaram.

4. Choveu. É claro. A moça só fica feliz quando chove.

5. Na paleta de cores do show, o destaque sempre fica com o púrpura, praticamente a cor assinatura da apresentação.

6. O Garbage entregou um show empolgante em que mesclou muito bem os sucessos com as novas canções.

7. A empolgação da galera era tanta que mal deu para ouvir a cantora em "I think, I'm paranoid", "Stupid Girl" e, claro, "Only happy when it rains".

8. Mas a energia foi lá no topo, tipo quando um Cavaleiro do Zodíaco atinge o seu maior e mais puro COSMO, em "Push it". 

9. Apesar da chuva, estava um calor enorme. Escocesa como ela, coitada, Shirley usou váaaaarias vezes a toalhinha preta para se enxugar. 

10. A moça ainda bebeu bastante água, como pedem os nutricionistas, e tomou um copo de whisky, como pede a tradição escocesa. E bateu longos papos com a plateia.

11. Além das musicas citadas acima, também foram lindos os momentos de "Queer", "Why do you love me", "Sex is not the enemy", "Special", "Magnetized" e "Cherry Lips".

12. Foram cinco músicas do primeiro álbum, Garbage (1995), e cinco do mais recente, "Strange little birds" (2016). As demais vieram dos outros discos de estúdio da banda. 

13. No total, foram 22 canções muito bem conduzidas por 1h50min de shows.

14.  Gente, é fato que Shirley Manson é a maior escocesa viva. 

Foi lindo encerrar o ano com o Garbage. Primeira vez que vi a banda ao vivo. Voltem sempre. A Corneta vai dar uma nota 8.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

'Animais fantásticos' e de freio de mão puxado

Redmayne e sua mala de criaturinhas
Dinheiro compra felicidade sim, mas também traz muito problema. Por exemplo, a ambição de querer fazer muito dinheiro com uma sequência infindável de histórias traz problemas de narrativa. E o maior problema de "Animais fantásticos e onde habitam" foi ele ter sido planejado como uma franquia de cinco filmes.

Concebido como um "spin-off" de "Harry Potter", a famosa franquia que resultou em oito filmes de muito sucesso a partir da obra infanto-juvenil de J.K.Rowling, "Animais fantásticos" poderia ser um filme muito mais legal do que é se o carro não saísse da segunda marcha. Afinal, a agora roteirista Rowling sabia que o sucesso de sua nova empreitada seria inevitável e tratou de esticar a corda o máximo que pode. 

Mas isso não significa que o filme não tenha os seus méritos. O primeiro é a escalação de Eddie Redmayne como o mágico Newt Scamander, o autor dos livros sobre monstros e animais da terra que as crianças estudam em Hogwarts. Excelente ator, ele carrega a história com o seu habitual brilhantismo e uma mistura de timidez e jeito sibilante com o imbatível sotaque britânico.

O segundo ponto está nas criaturas mágicas. Realmente criativas e diferentes que fazem o público se divertir. O Pelúcio certamente vai conquistar uma legião de fãs. E há os efeitos especiais muito bem feitos.

Referências aqui é ali de Harry Potter (os feitiços, nome de personagens) e uma jogada de mestre de Rowling em criar todo um universo mágico dos Estados Unidos - lá também tem uma escola de magia e os humanos são chamados de não-maj ao invés de trouxas - também farão os fãs da velha saga saírem encantados.

Mas, infelizmente, não é o suficiente para segurar um filme por 2h10min. Basicamente, temos dois enredos no roteiro de Rowling filmado por David Yates, diretor de todos os filmes de Harry Potter a partir de "Harry Potter e a ordem de Fênix" (2007). 

1. Scamander se envolve em uma confusão, deixa animais que andou coletando em expedições (ele é uma espécie de Darwin do mundo mágico) escaparem de sua mala e precisa recuperá-los para que os mágicos não sejam descobertos pelos humanos. 

2. Uma grande ameaça se abate sobre Nova York, ao mesmo tempo em que paira sobre o mundo a ameaça do retorno de Grünewald (qualquer semelhança com Voldemort não é mera coincidência).

Isso é algo que se resolveria em meia hora, e o filme poderia avançar mais na história em busca de outros problemas, momentos de clímax... Mas, é preciso segurar a história para avançar no segundo filme, terceiro e assim por diante.

Fica então, a expectativa sobre o que esperar de Johnny Depp no filme 2. Pois ele vem que vem feroz....

Contudo, "Animais fantásticos e onde habitam" pode ser uma boa diversão. E um momento de nostalgia para os órfãos de Harry Potter, que agora podem estar se perguntando quando as duas tramas vão se encontrar.

Até lá, porém, será um longo caminho. Enquanto isso, o filme ganhará da Corneta uma nota 6,5. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Guns para lavar a alma

Slash de volta para casa/Marcelo Alves
Falem mal, mas falem do Axl. O gordinho deu a volta por cima como um Renato Gaúcho chegando no Fluminense em 1995 para fazer o gol de barriga e voltar a ser ídolo nacional. E aqui você tem os comentários mais malemolentes desse show ÉPICO:

Para começo de conversa, o show atrasou apenas VINTE minutos. Nada mal. Parabéns, Axl. Melhor do que isso só se fosse pontual.

Axl está acima do peso. Não julgo. Afinal, quem sou eu para falar isso se eu também estou? Mas essa condição fez o cantor trocar o passinho da lombriga, aquele que desliza os joelhos e os calcanhares lateralmente, por uma coisa mais balançando a pancinha para frente e para trás.

Seus colegas estão obviamente mais em forma. Slash deve fazer cinco horas de musculação por dia. É quase um halterofilista. Já o Duff não mudou nada. Pelo menos de longe.

- Chega de falar de físico que isso aqui não é ACADEMIA. O show foi foda. O melhor disparado dos cinco que eu vi.

- Mas por que foi bom? Bom, ninguém duvidava da capacidade de Duff e Slash com seus instrumentos. A dúvida estava obviamente em Axl, que fora constrangedor no Rock in Rio. Pois o cantor se preparou e fez bonito. Cantou muito, mas muito bem. É claro que não foi o Axl dos anos 90, mas foi alguém que cuida do seu legado.

- Os fãs que me perdoem, mas o atual baterista é melhor do que Steven Adler. Se for falar do Matt Sorum então... nem devia citar os dois nomes na mesma frase.

- Abriu com "It's so easy". Excelente canção abre-alas

- Teve "Nightrain", "Don't cry", "Sweet Child O'Mine", "Yesterday" e as ÉPICAS "November Rain" e "Estranged".

- Para não falar na canção-homenagem ao Rio: "Welcome to the jungle"

-  O que faltou? Ora, o esperado dueto entre Axl e sua best friend, Alcione, The Brown. Seria lindo vê-los cantando "Sweet Child O'Mine". E ela ainda estava no Engenhão. Perdemos a chance.

O que não era necessário? Músicas do "Chinese Democracy". Imagina o Axl virando pro Slash antes da turnê e dizendo: "Ok, a gente vai fazer show. Mas você tem que aprender a tocar essas musicas aqui". Aí ele: "Não fode. A gente fez coisa muito melhor junto". Mas não conseguiu dobrar o Axl porque ninguém dobra o Axl.

"Coma", grande canção. Mas pareceu não empolgar muito a galera.

- De todos os clichês que tanto aguardamos, faltou o Slash subir no piano em "November Rain". Mas teve "Poderoso Chefão".

Como é bom quando a banda está na sua verdadeira formação. Soou claramente como o Guns N'Roses e não como uma banda cover.

- - Cotação da Corneta: muito bom show, pura nostalgia. Nota 8.