sábado, 22 de agosto de 2009

Uma máquina de propaganda

Em determinados momentos de “G.I. Joe – A Origem do Cobra”, ora em cartaz, tem-se a impressão de que o filme foi encomendado pelo exército americano. Com todo aquele papo de “tragam nossos Joes para casa” e os clichês militares, o filme funciona melhor como peça de propaganda do que propriamente como blockbuster que venha a divertir o espectador.

Enquanto seus ouvidos escutam as explosões, saltos espetaculares e tiros e seus olhos acompanham briguinhas insossas, desfila-se na tela uma miríade de mensagens publicitárias que devem ter feito o Pentágono sorrir de orelha a orelha. Periga até o exército patrocinar a continuação do filme. Ou você acha que hoje em dia algum blockbuster passa incólume sem que a mãe Hollywood gere irmãozinhos? Ninguém mais é filho único na indústria cinematográfica.

Se como publicidade, "G.I. Joe" se credencia a faturar prêmios, como filme ele é um dos piores do ano. Um dos piores a que a indústria americana já se dispôs a fazer em sua longa história.

O trabalho do irregular Stephen Sommers varia entre o pragmático e o sofrível. Ele é pragmático quando usa de recursos absolutamente batidos para ganhar a platéia. Tem um personagem engraçadinho e bobalhão (Marlon Wayans, que faz o Ripcord), sempre pronto a soltar uma piada para aliviar a tensão e uma vilã (nem tão) gostosa (A Baronesa vivida por Sienna Miller). Usa dos opostos que fazem a torcida escolher um lado, como as brigas entre a Baronesa e Scarlet (Rachel Nichols) e entre os meio-irmãos Storm Shadow (Byung-Hun Lee) e Snake Eyes (Ray Park), cuja história e relação talvez seja o que há de mais profundo e interessante na película.

Nada diferente do que ele fez nas duas seqüências da Múmia. Após um primeiro filme divertido e criativo lançado em 1999, “O Retorno da Múmia” (2001) e “A Múmia: Tumba do Imperador Dragão” (2008) – este apenas como roteirista – são um festival de clichês e esquetes insossas.

Combinando isso com as cenas de ação distribuídas a cada cinco minutos de diálogos rasos, cortesia dos roteiristas Stuart Beattie, David Eliott e Paul Lovett, e vilões que riem daquele jeito maquiavélico ha..ha..ha..ha..ha..ha, tem-se um filme dispensável.

É no roteiro juvenil que se vê o exemplo maior de como a película é sofrível. E ainda nas atuações da profundidade de um filme pornô de quinta categoria. Com o diferencial que não há nem sexo para distrair. Ou seja, nada se salva num filme que pode ser bondosamente qualificado como um equívoco.

O retrato de “G.I. Joe” é Duke, seu protagonista vivido por Channing Tatum. Ator sem expressão, Tatum parece querer encarnar exatamente o espírito da linha de bonecos na qual o filme foi inspirado. Nada de emoção, um olhar...bem, enquanto isso Dennis Quaid (o general Hawk) vibra e grita “vamos trazer nossos meninos para casa”. Os soldados até desejam ir para casa, mas aqueles que assistem a “G.I. Joe” anseiam ainda mais do que eles pela tortura a que passam. E ainda pagaram por isso.

O resumo da ópera bufa de “G.I. Joe – A Origem do Cobra” é que era muito mais divertido e criativo brincar com os bonecos do Comandos em Ação.

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