sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Uma escorregada de Almodóvar

Quando um diretor vem numa sequência de bons trabalhos como “Fale com Ela” (2002), “A Má Educação” (2004) e “Volver” (2006), o mínimo que se espera para o seu novo filme é que ele mantenha o mesmo nível. Mas todos estão sujeitos a falhas e é realmente muito difícil manter o nível por quatro filmes consecutivos, ou seis se você entender que “Carne Trêmula” (1997) e “Tudo sobre minha mãe” (1999) também têm seu lugar na história. Eu acho que sim.

Com um passado tão rico, Pedro Almodóvar tinha uma responsabilidade natural a assumir com seu novo filme, “Abraços Partidos”. Mas o que se vê é que dessa vez ele errou um pouco a mão.

“Abraços Partidos” tem tudo o que podemos encontrar numa história típica de Almodóvar, um especialista em melodramas envolvendo desejo, paixão, amor, mas com algum espaço para uma certa dose de irreverência e humor. Outra de suas marcas, o uso das cores fortes, embora feita com mais parcimônia nesta película, também estão ali.

Mas falta inspiração ao roteiro, cujos diálogos parecem até retirados de sobras de outros filmes, como aquelas sobras de estúdio que as bandas lançam no fim da carreira ou como caça níqueis após a morte de alguém. Não têm definitivamente a inspiração de outros trabalhos já citados. São frases e frases de um pragmatismo, digamos, peemedebista.

Também pesa negativamente no trabalho a atuação insípida de Lluís Homar, que vive o diretor de cinema e roteirista Mateo Blanco. Um dos vértices do triângulo amoroso vivido ainda pela secretária e aspirante a atriz Lena (a sempre linda Penélope Cruz, que traz luminosidade a este post com a foto acima) e seu idoso marido, o empresário Ernesto Martel (José Luís Gómez), Homar é constrangedor e transparece uma paixão da mesma forma que alguém aprecia um chuchu, alimento que você come, mas não tem gosto de nada. Isso numa história que foi supostamente vivida com intensidade fugaz e num turbilhão de emoções transgressoras. E como o filme é centrado nele e em suas histórias de amor, fica difícil tirar leite de pedra.

Um pouco mais inspirada (mas só um pouco) está Penélope. A talentosa e, vale sempre repetir, linda (não escondo que ela entra fácil no meu top 10), atriz também vem de três elogiáveis trabalhos - “Fatal” (2006), “Vicky Cristina Barcelona” (2008) e “Volver” -, mas aqui ela também acaba se perdendo ou alternando algumas boas cenas com outras em que é tomada pela irregularidade do trabalho do diretor nesta película.

Na sua quarta parceria com Almodóvar, Penélope, porém, tem estrela para dar ao filme os seus melhores momentos e fica provado que quando ela trabalha com o diretor espanhol, ou na sua língua mãe, atua com mais desenvoltura do que em outros trabalhos como “Vanilla Sky” (2001), dispensável filme em que contracenou com Tom Cruise. Embora o já citado “Fatal”, filmado em inglês, seja uma de suas melhores atuações e aos 35 anos ela seja uma atriz em grande fase que pode, evidentemente, dar suas escorregadas como qualquer mortal.

Fato é que “Abraços Partidos” tem um sabor mais de um amor de verão que vai embora com a chegada do outono do que da picante intensidade que o cinema costuma dar aos seus relatos de triângulos amorosos.

Fica apenas a mensagem de Mateo Blanco, que mesmo das profundezas de uma eterna escuridão, diz que “todo filme precisa ser terminado”, todo trabalho precisa ter um fim (no sentido de finitude e propósito, acrescento) e toda obra merece um ponto final. Mesmo que isto não represente nada além do que um mero ponto final que o jogará no baú da história. É mais ou menos o que pode acontecer com “Abraços Partidos”. Um filme que ficará no currículo de Almodóvar, mas que não deverá ser lembrado como um retrato da possível genialidade do seu cinema.

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