terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Best Of 2014 - Música

Paul McCartney arrebentando
É hora de fazer uma lista dos melhores shows do ano. Foi um ano de poucas apresentações e sem festivais. Tanto que farei apenas uma lista dos três melhores em 2014. E não haverá o pior de 2014. Não vi show ruim (Ainda bem).

3º lugar – Eddie Vedder – Em maio, o cantor do Pearl Jam veio ao Brasil para a turnê do disco “Ukelele Songs”. O resultado foi um ótimo show, empolgante e que agradou aos fãs da banda de Seattle.

2º lugar – Franz Ferdinand - Em outubro, foi a vez dos escoceses do Franz Ferdinand desfilarem a sua conhecida competência no Rio de Janeiro. Eles vieram para a turnê de lançamento do bom álbum “Right thoughts, right words, right action”. Fizeram um show interativo e com a sua conhecida energia.

1º lugar – Paul McCartney – Em novembro, o cantor inglês veio ao Rio mais uma vez para a turnê “Out There!”. Resultado? Três horas de grandes canções novas e antigas e muita animação do ex-Beatle. Um show imperdível.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Cotação da corneta: 'Abutre'

Gyllenhaal louco por uma tragédia
Um dos meus momentos favoritos do irascível francês Eric Cantona foi quando, em 1995, ele abandonou uma coletiva de imprensa dizendo a seguinte frase aos jornalistas: “Quando as gaivotas seguem a traineira, é porque elas pensam que sardinhas serão atiradas ao mar”. Na ocasião, o ex-jogador do Manchester United deveria se explicar sobre a famosa voadora que deu em um torcedor do Crystal Palace durante uma partida do Campeonato Inglês. Bons tempos em que jornalistas eram considerados “gaivotas”. Para o diretor Dan Gilroy, jornalistas agora são como abutres atrás de carne podre que servem de matéria-prima para alimentar seus telejornais diários. Pelo menos os que saem pela noite atrás de tragédias.

Esse espécie de farejador do horror noturno também tem um jeito de psicopata com aquele olhar de quem é filho de Jack Nicholson, em “O Iluminado” (1980) após anos de terapia. Para não falar no visual cabelo boi lambido de Anton Chigurh (Javier Bardem) de “Onde os fracos não têm vez” (2007).

Mas vamos direto ao ponto. “O Abutre” é bom. Bem bom. Conta a história de um zé ninguém, que vive de roubos de tampas de bueiro e cabos de cobre, não consegue emprego em lugar nenhum e aparentemente mal tem dinheiro para comprar uma mariola. Mas um dia tem um insight e vislumbra uma possibilidade de faturamento ao se deparar com uma equipe de TV independente que filma um carro em chamas enquanto a motorista é resgatada pelos bombeiros.

Louis Bloom (Jake Gyllenhaal, muito bem no papel e cotado para o Oscar) desperta neste instante o seu tino empresarial. Compra uma câmera de vídeo e sai pelas ruas para mostrar a vida como ela é nas madrugadas de Los Angeles. Afinal, ele sabe que o povo quer ver sangue. Quanto mais batidas, assassinatos e tripas expostas, mais audiência.

Mas, vocês sabem, com o tempo a vida real vai ficando um tanto enfadonha e Louis sente a necessidade de evoluir, burilar melhor suas notícias. Aumentar sem inventar (muito). Ele acredita estar crescendo no negócio. Logo, quer transformar seus vídeos em verdadeiras obras de arte.

E Louis se esforçará na arte de criar a sua obra-prima televisiva para deleite das massas sedentas por sangue no café da manhã. Nem que para isso tenha que passe por cima de concorrentes e aliados pouco confiáveis.

"O Abutre" pode ser visto como uma crítica de Gilroy ao jornalismo sensacionalista que tanto vemos e consumimos (não me venham com essa história de que vocês só leem Marcel Proust e nunca clicam naquelas chamadas do tipo "Fulana esquece calcinha em casa e mostra demais em festa. Fotos"). É um filme em que um cidadão vai além dos limites éticos e morais para conseguir o seu objetivo.

E adoramos estes personagens malditos. Principalmente quando são bem feitos. Ok, é impossível torcer por Bloom conforme acompanhamos o que ele vai fazendo no filme. Mas é igualmente impossível não querer ver o que ele vai armar no seu próximo vídeo e qual será o seu próximo passo além do limite. É uma boa jogada do diretor, que vai esticando a corda a cada passo e mostrando a audiência da TV para a qual Bloom trabalha só melhorando seus índices. E, consequentemente, Bloom vai faturando cada vez mais.

Mérito também de Gyllenhaal, que pode agora ganhar sua segunda indicação ao Oscar. A primeira foi por ator coadjuvante em “O segredo de Brokeback Mountain” (2005). Enquanto os velhinhos do careca dourado não se manifestam (os indicados saem dia 15 de janeiro), a corneta dará a ele e ao seu filme uma nota 7,5.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Cotação da corneta: 'O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos'

Os anões valentes de Tolkien
A minha edição de “O Hobbit” tem exatas 296 páginas. Ou 289, se tirarmos as sete de ilustrações que contam como páginas. A trilogia do “Hobbit” de Peter Jackson tem 474 minutos (ou 7h54m). Com muitos minutos e poucas páginas, é possível imaginar que o diretor neozelandês precisou enrolar bastante para encher três filmes. Uma relação bem diferente da que ele teve com “O Senhor dos Anéis”. A trilogia do filme, tem 558 minutos (ou 9h30m, ou 1h36m a mais do que “O Hobbit”). As minhas edições dos livros de J. R. R. Tolkien tem, juntas, 1.229 páginas. Ou 940 a mais do que o livro que conta a origem dos acontecimentos da Terra Média.

Dito isto, o que a corneta deve dizer quando Peter Jackson pegou 50 páginas de um livro e transformou nas 2h30m de “O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos”? Ora, a saga se tornou uma grande “embromation”.

O que sobrava em “O senhor dos anéis”, falta em "O Hobbit": história para realmente encher três filmes. E nem a adição de personagens que não estão no livro, como o elfo Legolas (Orlando Bloom), ou situações que nele não aparecem como o caso de amor impossível estilo "Romeu e Julieta" entre o anão Kili (Aidan Turner) e a elfa Tauriel (Evangeline Lilly, a sardenta de “Lost”) ajudam. “O Hobbit” poderia ser um ótimo filme de, vá lá, três horas. Virou três filmes apenas razoáveis. Mas, vocês sabem né, em Hollywood o que vale “é a economia, estúpido”.

Ao fim desta trilogia, não teve como não sentir aquele "Star Wars feelings". Sabe aquela sensação de trilogia inferior feita depois para explicar a trilogia feita antes? É isso. E Peter Jackson não esconde a sua intenção ao amarrar as duas histórias no fim de "A batalha dos cinco exércitos" e em dois momentos do filme. É de gelar a espinha ouvir Saruman (Christopher Lee) dizer: "Leave Sauron to me". E olha que ele nem cantou músicas natalinas em ritmo de heavy metal. Bom, a gente sabe muito bem o que vai acontecer daqui para frente.

E o que é o filme que fecha a trilogia que conta a história de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman)? Uma grande batalha de quase três horas sem parar. De fato, "A batalha dos cinco exércitos" são aqueles 15 minutos finais de todo bom filme de guerra. Aquele momento que marca o clímax anterior ao desfecho, quando os heróis vencem a batalha e estão prestes a dar o beijo final na mocinha. Ou seja, “A batalha dos cinco exércitos” é Peter Jackson esfregando na nossa cara que ele está nos enrolando. Mas é preciso admitir que as cenas de luta são muito bem feitas e coreografadas. Parece desfile de escola de samba do Paulo Barros.

Como não comparar “O Hobbit” com um desfile na Apoteose? Veja se não faz sentido. Primeiro vem a bateria dos anões fazendo barulho e provocando uma guerra desnecessária (Thorin, Thorin, sempre um líder contestável). Depois, entra a ala dos elfos, rodando feito baianas para conseguir um punhado da prataria de Erebor. Ai entra a ala dos humanos, querendo um tasco do ouro para reconstruir suas vidas destruídas pelo dragão Smaug (voz de Benedict Cumberbatch), o falante que adora se autoglorificar e se acha a última cocada da festa junina. Em seguida vem outra ala de anões barbudos. Tudo SINCRONIZADO.

E aí, quando o samba ameaçava atravessar, surge a ala dos orcs malvados, que ajudaram a estabelecer uma inédita união entre anões e elfos contra as criaturas do mal. Nunca antes na história da Terra Média, elfos e anões haviam se unido em prol de um bem comum. Depois viraria hábito, não é Frodo?

Não perca a conta. Humanos, anões, elfos, orcs.... Ué, mas não eram cinco exércitos? Então, o quinto batalhão, dos lobos selvagens que lutam ao lado dos orcs, praticamente não existe. Faltou orçamento na tecnologia. Mas no fim chega uma horda de animais para ajudar a virar um jogo aparentemente perdido por elfos, anões e humanos. E como o filme tem estes momentos de gol de mão no último minuto. Pelo menos, dessa vez, não foi o Gandalf (Ian McKellen) o salvador da pátria. Ele no máximo provocou a chegada da tropa surpresa.

Há ainda espaço para brilharem os destaques e os passistas. E acima de todos, está Legolas, com suas lutas coreografadas como se tivessem nascido na fábrica de criação do balé Bolshoi. Tem uma cena em especial dele subindo umas rochas que estão se despedaçando que é tão absurda e impossível que fez o cinema ficar de boca aberta e fazer comentários no melhor estilo #golegolas. O #teamlegolas ganhou muitos adeptos em “O Hobbit”.

Particularmente devo dizer que faço parte dos fãs dos elfos. São criaturas de muita classe, evoluídos, educados. No seu reino tudo é belo e funciona. Devem ser antepassados dos nórdicos. E são perfeitos na nobre arte do arco e flecha, uma paixão minha desde que eu conheci "Robin Hood". Não tem como não torcer por eles.

Já os anões são como aquele seu parente desengonçado, caloroso, desajeitado e que fala alto. Eles andam em bando, mas são amigos, leais, e sempre se ajudam. Acho que o povo anão é tipo a Itália da Terra Média. Tem seu valor. Mas eu gosto mais dos elfos e seus encantamentos. E eles ainda têm a Cate Blanchett. Impossível não ficar ao lado de Cate Blanchett.

Um dos 13 anões dessa aventura tem que lutar contra um demônio interno, a única trama paralela em meio a toda a pancadaria de “A batalhados cinco exércitos”. Trata-se do rei Thorin (Richard Armitage), que resolveu seguir os ensinamentos de Gordon Gekko, que dizia que “Greed is good”, e ficou enlouquecido pelo ouro. A doença do dragão louco é poderosa e fez Thorin ter o seu momento Rei Lear delirando em meio aquele mar amarelo de pura ganância. Mas sem qualquer análise, sem nenhum Freud ou Lacan, Thorin conseguirá resolver seus demônios internos a tempo de desfilar na avenida, ops, ir para a batalha.

Caberá a ele, aliás, protagonizar a briga final contra Azog (Manu Bennett), o orc líder naquele momento que no videogame costumamos dizer que é a hora de enfrentar o mestre final antes de zerar o jogo. Azog é o Master Bison de Thorin e passar por ele em uma luta gelada é o último passo antes da glória.

Azog é o antagonista acidental de um filme cujo protagonista, o hobbit Bilbo, faz apenas participações especiais. Fundamentais, é claro, mas nem de longe é o cara que pega o filme para si. Como nenhum outro personagem. Parece que os atores principais tiveram seus tempos cronometrados para ocuparem o mesmo espaço. Gandalf, Bilbo, Thorin, Azog, Legolas, todos têm o seu momento. Além do mala e desnecessário Alfrid (Ryan Gage), que tenta ser o toque de humor da história para dar uma quebrada em toda a batalha, mas se torna uma figura desagradável. Teria sido melhor que Baird (Luke Evans) tivesse deixado seu povo o matar.

Apesar de alguns inconvenientes, "O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos", tem lá o seu valor e pode se converter numa tarde de diversão descompromissada. Não tem uma história, porque é um fiapo do livro adaptado para o cinema, mas suas batalhas são legais. Não sejamos tão malas. E como a participação do dragão egocêntrico é reduzida a um belo espetáculo no início do filme, nós ganhamos em não ter que ouvi-lo se vangloriando de como ele é bonzão.

Assim, a corneta dará uma nota 6 para o novo filme de Peter Jackson. Agora, com licença que vou ali rever "O senhor dos anéis" sob uma nova perspectiva.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Cotação da corneta: 'Homens, mulheres e crianças'

É duro ser adolescente
Defina "Homens, mulheres e crianças" em uma frase? Duas horas de pessoas paranoicas, solitárias e infelizes conversando pelo WhatsApp. É uma possibilidade. Aqui vai mais uma: Como as redes sociais transformaram os seres humanos em indivíduos freaks e sem alma. Mark Zuckerberg não curtiu. Acho que nem "A rede social" (2010), que conta a história de como ele construiu o Facebook com algumas passagens pouco republicanas de sua biografia, depõe tanto contra ele, quanto o novo filme de Jason Reitman.

Não que Zuck se preocupe com isso. Afinal, além de ser um dos criadores da rede pela qual você vai compartilhar esse texto para ajudar a tornar a corneta popular, ele já comprou para o seu império de valorização do próprio ego dos anônimos o Instagram e o WhatsApp. E Twitter e Tumblr que se cuidem. Zuck também tem uma fortuna estimada em US$ 33,1 bilhões e fala mandarim. Deve ser muita onda falar mandarim.

Enfim, eu estou fugindo do assunto. Mas nem tanto, pois para Jason Reitman os brinquedinhos de Zuckerberg  e seus concorrentes, aliados aos nossos maravilhosos smartphones, são objetos de transformação de seres humanos em vegetais. Sem querer ofender o brócolis.

 A intenção era até boa. Em entrevista recente, Reitman explicou que o objetivo era uma reflexão sobre o que toda essa nova tecnologia está fazendo conosco, além de acabar com as nossas colunas.

"Julgar a internet é um pouco como fazer um julgamento de nós mesmos. É uma criação humana construída a cada microssegundo por qualquer um que tenha um telefone, uma conta de e-mail ou de Facebook. Para ser sincero, é um lugar onde nos tornamos honestos e explica de uma forma assustadora o que vemos e o que procuramos. Mas é um momento de referência para nós para decidir quem você quer ser" disse o diretor ao jornal inglês “Guardian”.

A premissa soa interessante não é? Porém.... não funciona. Isso porque "Homens, mulheres e crianças" nos exibe uma coletânea de personagens vazios sim, insignificantes sim, mas que surfam a onda da caricatura. E como não é uma comédia, fica difícil acreditar naquela galera que está "forçada" demais. No filme, nós temos:

1- A mãe extremamente paranoica que checa diariamente cada mensagem da filha nas redes sociais e gasta pilhas de papel para ler tudo com atenção. Ou seja, além de achar equivocadamente que está protegendo a cria ao colocá-la numa bolha, ela não tem nem consciência ambiental. O único refúgio da filha é no Tumblr.

2- Tem ainda uma outra mãe que é o extremo oposto e faz da filha cheerleader uma verdadeira mercadoria, sendo vendida pela internet e onde mais aparecer para se tornar uma estrela. Claramente ela deposita na jovem as suas frustrações da juventude.

3- Filha essa que faz de tudo para ser a nova celebridade do mundo moderno. Desde inventar experiências sexuais que nunca teve até manter um website sexy e fazer de tudo para participar de programas de TV estilo "Big Brother" e "A Fazenda".

4- E não podemos esquecer do jovem tarado de internet que, no entanto, não consegue seguir adiante na hora do “quem sabe, faz ao vivo”.

Poderiam ser personagens interessantes se o comportamento deles não fosse tão surreal até para as mais altas escalas de viciados em pornografia na internet ou mães superprotetoras. Tudo é um tom e meio exagerado. Parece um daqueles filmes dos irmãos Coen com personagens esquisitões.

A corneta pode estar sendo preconceituosa. Pode não ter entendido direito a proposta, mas não consegue achar que funciona. Afinal, o filme não tem aquele humor para personagens tão exagerados. Lembrem-se, eles são todos, eu disse TODOS, desolados, infelizes e solitários. O que é outro problema. Não tem ninguém que tenha um comportamento mais positivo em toda essa cidade. Deve ser horrível viver num lugar assim.

Além de mostrar que a internet é um lugar perigoso, “Homens, mulheres e crianças” dá uma viajada pelo espaço com direito a teorias de Carl Sagan. Eu realmente não consegui captar a intenção de Reitman nesse caso. Acho que perdi todos os meus neurônios na batalha tentando entender “Interestelar”.

Reitman é um cara de filmes legais que não encontrariam censura naquele horário da “Sessão da Tarde”. Ele fez “Juno” (2007), aquele filme fofinho sobre uma adolescente grávida que entrega a criança para uma outra família, que ganhou um Oscar pelo roteiro escrito por Diablo Cody, e “Amor sem escalas” (2009), aquele filme em que o George Clooney sai pelos Estados Unidos demitindo pessoas com um sorriso no rosto de quem está tomando um café daquelas maquininhas, que concorreu a seis Oscar.

São dois filmes que têm fãs e detratores. Eu gosto de ambos (um gosto sem muita empolgação, sem exibir um sorriso cheio de dentes, mas gosto). Contudo, “Homens, mulheres e crianças” não é do mesmo nível. E toda aquela superexposição de redes sociais na tela, toda aquela conversa de WhatsApp durante duas horas em algum momento cansa e torna o filme um tanto enfadonho, ainda que ele não seja necessariamente pavoroso. E a mensagem que se tenta passar definitivamente não convenceu a corneta. Assim, o filme ganhará uma nota 5.

OBS: Enquanto esse texto era produzido, eu chequei o Facebook três vezes, abri o Twitter duas vezes, o Instagram uma vez e travei 15 conversas pelo WhatsApp. Meu Deus! Será que Reitman está certo? Eu estou virando um vegetal? Um brócolis com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cotação da corneta: 'O ´Sétimo'

Darín ligando para você
Deve ter umas cinco pessoas no mundo que eu gostaria de ser. Eddie Vedder é uma delas. Outro é Ricardo Darín. Que homem não gostaria de ser Ricardo Darín? Sete em cada dez mulheres morrem de amores por ele (segundo estudo de pesquisadores britânicos). E o argentino não é apenas um rostinho bonito na telinha do cinema, mas também um ótimo ator que só faz filmes bons.

Quer dizer. Mais ou menos. Darín atingiu um status de celebridade tão grande que até os seus filmes ruins estreiam no Brasil. Sabe aqueles em que ele faz uma pequena participação, quase um favor para o diretor, mas se vende por aqui como um filme dele na maior picaretagem? Vocês sabem do que eu estou falando. Eu cai no conto nada chinês de “Amorosa Soledad”, um filme ruim de doer em que o ator faz uma participação tão insignificante que se você tirar um cochilo durante o filme acaba perdendo a participação dele.

Mas este não é o caso de seus dois filmes em cartaz no momento. "Relatos Selvagens" é simplesmente espetacular e um dos melhores de 2014 (aguardem o top 10 da corneta). E "O Sétimo" é também muito bom. Eu gostaria muito de dizer com qual filme totalmente excelente a trama de “O Sétimo” se parece, mas não posso para não estragar a história para vocês.

O curioso é que “O Sétimo” não tem nada de original para quem já viu dezenas de filmes sobre tema semelhante. É um trabalho do gênero "Quem matou Odete Roitman?". Só que ao invés do assassino temos que descobrir quem sequestrou duas crianças em um prédio de Buenos Aires.

Tudo começa quando Sebastián (Ricardo Darín), pai de Luna (Charo Dolz Doval) e Luca (Abel Dolz Doval), faz o que deve ser feito para que um filme desses dê certo. Desobedece uma ordem. No caso a da mãe das crianças, Délia (Belén Rueda), de não deixá-las correr pelas escadas do prédio. Pronto, Sebastián obviamente deixa os meninos fazerem o que quiserem e quando chega no térreo as crianças desapareceram.

Sebastián fica desesperado e começa a procurar pelo prédio inteiro. Nessa busca somos apresentados a uma gama de suspeitos. O policial supostamente corrupto, o cara estranho com jeito de pedófilo, o porteiro manco, o cara que odeia crianças, a mulher obsessiva pelos filhos alheios, todos, todos suspeitos e não há um Sherlock Holmes para cuidar do caso. Benedict Cumberbatch resolveria rapidamente este caso.

Até a polícia é suspeita, pois Sebastián é um advogado sem escrúpulos e lida frequentemente com policiais corruptos para obter vantagens. Deve ser difícil viver numa cidade com tanta corrupção como Buenos Aires.

Para piorar, o crime acontece no dia em que este pai desesperado tem um caso milionário e importante para resolver no tribunal. Realmente Sebastián vive um inferno astral.

Então passamos o filme inteiro pensando primeiro o que aconteceu com os chicos, depois sobre quem teria sequestrado eles. E o desfecho, ah o desfecho! Eu confesso que jamais imaginaria que aconteceria o que aconteceu. É só o que posso dizer.

“O Sétimo” é mais um bom filme estrelado por Darín a chegar por aqui. E para comprovar que o ator de “Nove Rainhas” (2000) só tem acertado, aqui vai a minha lista-dica só com filmes recentes dele para vocês se divertirem nas festas de fim de ano.

- “Relatos Selvagens” (2014)

- “Tese sobre um homicídio” (2013)

- “O que os homens falam” (2012)

- “Elefante Branco” (2012)

- “Um conto chinês” (2011)

- “A dançarina e o ladrão” (2009)

- “O segredo dos seus olhos” (2009)

Sobre “O Sétimo”, diria que é um filme que mantém Ricardo Darín em alta conta com a corneta, que sai do cinema satisfeita. Darei um 7,5 para combinar um pouco com o andar onde a família da história mora.