quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Eu vou, mas eu volto

O signatário deste blog reconhece que não esteve muito presente nos últimos meses. Culpa da Copa do Mundo, que me afastou das salas de cinema por quase dois meses. Mas aos poucos vou recuperando o tempo perdido. Tenho outras críticas a publicar que, porém, terão que esperar um pouco mais. É que beneficiado pelos ditames da Era Vargas sairei de férias com a promessa de breve retorno no alvorecer do mês seguinte.

Mais uma vez inspirado em Chris McCandless, herói improvável desta natureza selvagem chamada planeta Terra, vou invadir outras plagas, buscar inspiração na respiração de outros ares, no sabor de outras comidas, no deleite de outras paisagens.

Assim, o blog e o Twitter desligar-se-ão por breve tempo (talvez eu apareça de vez em quando, mas é pouco provável). Período suficiente para um novo rol de poesias e para viver novas prosas neste livro chamado vida (bonito isso, parece lição de manual de auto-ajuda).

Quando voltar, tecerei comentários sobre o filme do Tarantino em cartaz e muito mais, é claro.

Enquanto o dia não chega, divido com os nobres leitores duas músicas e dois videoclipes inspiradores e que não me saíram da cabeça nos últimos dias. Até breve.

Van Halen - "Amsterdam"

U2 - "Stay (far away, so close)"

Um Matrix elevado à quarta potência

Quando foi lançado em 1999, “Matrix” foi chamado de revolucionário pelas técnicas de filmagem desenvolvida pelos irmãos Wachowski copiadas em dezenas de filmes e paródias que vieram posteriormente. Em meio a tanta tecnologia, seu roteiro navegando entre o real e o imaginário também era celebrado e gerou de teorias mirabolantes a matérias de capas de revistas científicas. E estar dentro ou fora da Matrix ganhou ares de discussão filosófica.

Onze anos depois, o diretor americano Christopher Nolan chama Freud para entrar nessa conversa e eleva o potencial de Matrix a quarta potência nos presenteado com um dos melhores filmes do ano.

“A Origem”, título em português para “Inception”, é uma viagem pelo subconsciente com a materialização de seus desejos, medos, ideias e o benefício de que o pior que lhe pode acontecer é acordar.

No filme, Leonardo Di Caprio é Cobb, um agente especializado em roubar informações da mente dos indivíduos. Para isso, ele invade os sonhos de quem precisa roubar as informações ou faz a pessoa entrar no seu ou no sonho de outros de sua equipe para viver uma experiência quase real.

O problema é que quanto mais complexa a informação, maior deve ser o seu mergulho no inconsciente. O que pode levá-lo ao limbo e uma conseqüente vida vegetativa no mundo real.

Tudo, porém, começa a complicar quando Cobb e seu parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt) recebem do empresário Saito (Ken Watanabe) uma missão das mais complicadas. Eles não têm que roubar informações, mas inserir uma ideia na mente de Robert Fischer (Cillian Murphy), filho de um magnata que acabara de morrer. É preciso convencer, ou melhor, fazer Fischer ter a ideia natural de que ele deve dividir a fortuna do pai.

Algo aparentemente simples, mas que exige um esforço sobre-humano, pois a ideia precisa nascer naturalmente, não pode ser uma mensagem ou um delírio destacado num sonho. Em inglês, inception significa “o começo de uma organização ou atividade oficial”. O que Cobb aceita fazer, portanto, é criar um mundo paralelo, uma história completa com diversas camadas para fazer Fischer atingir menos do que a luz. É para que ele viva um momento de “pré-eureca”. Que ele sonhe com um estalo que o fará formar uma ideia que parecerá ser sua e não uma encomenda de uma multinacional que compete com a do pai dele.

Cobb, assim, reúne uma nova equipe formada por ele, Arthur, o próprio Saito e mais a arquiteta Ariadne (Ellen Page), Eames (Tom Hardy) e o químico Yusuf (Dileep Rao). O objetivo é plantar a ideia de forma que ela pareça ser do próprio Fischer. Para isso, porém, Cobb e seu time terão que entrar em três camadas de sonhos criando sonhos dentro dos sonhos de Fischer, mergulhando mais profundamente no inconsciente do jovem empresário. Tudo isso com Cobb tendo que lidar com a culpa da morte de sua mulher, Mal (Marion Cotillard), numa relação fundamental para a história criada pelo diretor. O próprio Cobb já foi um perfeito arquiteto de sonhos, mas teve que abrir mão de fazer suas próprias construções para não ter problemas com a mulher que ainda vive em suas lembranças e que ele não deixa partir.

É aqui que Nolan subverte completamente o tempo e o espaço criando uma seqüência de acontecimentos em dobras espaços-temporais oníricas e embaralhando as cartas até o fim para que fiquemos sempre com a pulga atrás da orelha sobre o que é verdadeiro e o que não passa de projeção, lembrança ou criação da mente sonhadora.

Se a comparação com “Matrix” é a mais próxima da nossa realidade, não é a primeira vez, no entanto, que Nolan joga com projeções de real e imaginário na tela. Ele fez o mesmo em “O Grande Truque” (2006), em que dois mágicos vividos por Hugh Jackman e Christian Bale duelavam em apresentações marcadas por truques supostamente simples, mas que flertavam com a magia num enredo que ia se descortinando aos poucos.

Um descortino em camadas como foi o próprio mergulho de Batman (Christian Bale) na sua transformação de herói em vilão de Gotham em “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008), que, aliás, terá uma nova continuação, a terceira dirigida por Nolan. Ou mesmo Leonard (Guy Pearce), o personagem principal de “Amnésia” (2000) que tenta resolver um crime ao mesmo tempo em que lida com a doença de sofrer a perda de memória recente.

Experiências que Nolan levou para “A Origem” e com mais verba no bolso criou cenários fantásticos como a Paris que se dobra até os prédios se encaixarem com perfeição num retângulo em três dimensões para contar uma história em que tempo, espaço ou gravidade são absolutamente relativos. E da suposta realidade ao limbo, tudo depende da perspectiva de quem vive e de como e da intensidade em que se vive.

sábado, 7 de agosto de 2010

Jogos de poder em Buckingham

Nada como sair de casa e ver um filme do qual não se tem expectativas e ser positivamente surpreendido. Esta foi a sensação que experimentei após assistir à “A jovem rainha Vitória”, ainda em cartaz em pouquíssimos cinemas. O filme que concorreu a três Oscars em categorias técnicas e ganhou apenas o de figurino tem mais do que roupas e belas paisagens da Inglaterra na Era Vitoriana.

Ele pode ser encarado primeiro como uma bonita história de amor, que foi se construído entre a rainha Vitória (Emily Blunt), coroada aos 18 anos, e o príncipe Albert (Rupert Friend) com o passar dos anos e a espera dele por um casamento que sonhava desde que começou a conhecê-la. Vitória e Albert parecem ter vivido felizes até a morte dele aos 42 anos de febre tifóide.

Mas o trabalho de Jean-Marc Vallée também pode ser encarado como um interessante filme sobre os jogos e manipulações políticas. Podemos notar como até a rainha, uma inexperiente soberana, ficou a mercê daquela disputa de poder entre os partidos ingleses.

Uma disputa que começa bem antes de Vitória completar 18 anos, quando a sua mãe, manipulada por Sir John Conroy (Mark Strong), tenta fazer a vontade deste de instituir uma corregência por mais sete anos até que ela completasse 25. Tudo para que Conroy pudesse mandar. Não deu certo, abrindo espaço para a chegada ao poder de Lorde Melbourne (Paul Bettany), primeiro-ministro bastante influente junto à jovem a ponto de conseguir indicar e aprovar todos os “cargos” no Palácio de Buckingham. Nada perto de diretorias de estatais que estamos acostumados a ver loteadas por aqui, mas damas de companhia e outras acompanhantes que estão sempre perto da rainha e por isso são boas fontes de informação e de influência sobre a soberana.

Sua confiança em Melbourne é tão grande, que Vitória, num erro grave de sua reinado, chega a rejeitar a indicação do primeiro-ministro do partido rival eleito pelo povo. Uma medida que é protocolar, já que a soberana jamais deve rejeitar o desejo do seu povo. As conseqüências são graves. Protestos e um atentado que quase mata Albert em uma bala que tinha a direção certa de Vitória.

Assim, os jogos de poder e de influência envolvendo de políticos a parentes próximos da rainha num país que já vivia uma monarquia parlamentarista são o que há de mais interessante em “A jovem rainha Vitória”. O filme se ocupa em mostrar não apenas a sua história de amor, mas o seu amadurecimento num reinado que foi marcado por ser o mais longo da história (63 anos, de junho de 1837 a janeiro de 1901), período em que a Inglaterra passou por grande crescimento populacional, mudanças econômicas, culturais, sociais e a Revolução Industrial. A partir do seu reinado, nascia uma nova Inglaterra.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A decadência de Tom Cruise

No post abaixo, falei sobre as escolhas equivocadas de Angelina Jolie. Mas ela ainda é uma estrela que pode cobrar fácil US$ 20 milhões por filme que pagam e dá retorno. Mas o que dizer de Tom Cruise? Astro da série de filmes “Missão Impossível” (que, aliás, ganhará o quarto filme e espero que seja melhor do que o último), o ator de 48 anos se perdeu na vida cinematográfica desde que subiu no sofá de Oprah Winfrey para declarar o seu amor a então nova namorada Katie Holmes.

Nos últimos anos, o ator que foi o queridinho das mulheres da minha geração (ao lado do Brad Pitt) raramente emplacou um grande filme ou uma atuação digna de elogio. E em “Encontro Explosivo”, filme que o fez vir ao Brasil para fazer a divulgação, ele é simplesmente constrangedor.

Na pele do agente secreto Roy Miller, Cruise é aquele herói da nação que tanto os americanos gostam de criar, que abre mão da vida com a família e é absolutamente dedicado à profissão, mas que num dado momento o destino lhe reserva um surpresa, uma paixão – no caso personificada em June Havens (Cameron Diaz) – e ele vai fazer toda uma reavaliação da sua existência e ver se vale a pena levar a vida que leva.

Ah, tudo isso acontece em meio a cenas de ação e de lutas fraquinhas, alguns tiros e explosões e momentos para Cruise e Cameron exibirem seus corpos dentro do que é permitido na censura de 12 anos.

Absolutamente mergulhado num oceano de clichês e formado por um roteiro que é uma verdadeira colagem de situações bastante repetitivas na história do cinema, “Encontro explosivo” é uma comédia romântica com distrações para os homens não ficarem tão entediados. Atende à mulher romântica média com um agente secreto forte, educado, sensível e que “pensa nas pequenas coisas que fazem a diferença”, com diz a personagem de Cameron, e atende ao homem médio com suas ceninhas de luta mirabolantes tentando puxar um pouco do talento de Ethan Hunt, o outro agente secreto que Cruise já interpretou. Mas nada disso funciona. O filme na realidade é formado por uma série de esquetes sonolentas da dupla que tentam ser engraçadinhas. Só tentam.

É muito pouco para um diretor que já fez trabalhos bem mais interessantes. Das mãos de James Mangold vieram, por exemplo, “Garota, Interrompida” (1999), filme que deu um Oscar para Angelina Jolie, “Johnny & June” (2005), muito boa cinebiografia do cantor Johnny Cash, que deu um Oscar de atriz para Reese Whiterspoon, e “Os Indomáveis” (2007), um bom western com suas pitadas de humor e excelente atuação de Russel Crowe.

Nada de bom destes três filmes podem ser encontrados em “Encontro Explosivo”. E quase nada de interessante pode ser visto no filme. Para Cruise, é mais um fracasso que se soma a “Operação Valquíria” (2008), “Leões e Cordeiros” (2007), muito bom filme, mas não por sua causa, “Missão Impossível III” (2006) e “Guerra dos Mundos” (2005). Seu último trabalho com algum destaque digno de nota foi “Collateral” (2004). Desde então, tirando a pequena e hilária participação em “Trovão Tropical” (2008), Cruise só fez películas dispensáveis.

domingo, 1 de agosto de 2010

Falta tudo em “Salt”

Antes de assistir “Salt”, li a crítica do filme no Globo. Era negativa e num jogo de palavras português-inglês dizia que faltava “salt” ao filme. O Bonequinho foi bastante bonzinho com o novo trabalho de Angelina Jolie, pois falta não apenas sal à película. Falta o tempero todo e a comida ainda azedou.

Tentativa de ser uma espécie de Jason Bourne de saias, “Salt” é um equívoco daqueles que você se pergunta por que pagou para ver. Tudo bem, eu tinha como motivo bastante nobre ver a Angelina Jolie, mas o excesso de roupas da moça desanima os seus fãs. Afinal, com meia hora de filme não tinha mais nada de interessante para fazer do que apreciar a beleza da atriz.

Se isso, porém, fosse o único problema de “Salt” estaria ótimo. A questão é que o trabalho do diretor Phillip Noyce – de bons filmes como “Jogos Patrióticos” (1992) e “O Colecionador de Ossos” (1999) – é extremamente ruim, sem pé nem cabeça, um desastre como poucas vezes vi nos últimos anos.

No filme, Jolie vive Evelyn Salt, uma agente da CIA, mas que está apenas usando um disfarce. Na realidade, ela é uma agente russa que faz parte de um programa do extinto serviço secreto soviético de infiltrar agentes em órgãos do governo americano em preparação para um tal de dia X, quando começam uma série de ataques dentro dos Estados Unidos para derrubar o “império”. A transição da mocinha para a suposta bandida que é mocinha, aliás, é lamentável.

Mas lendo assim o enredo até parece interessante. Só que na prática não funciona porque o roteiro desenvolvido por Kurt Wimmer é fraco, muito fraco. Da maneira como Salt tem a identidade desvendada até os eventos que vão se desenvolvendo culminando num final que não tem final como quem está dando uma deixa para uma seqüência (afinal, não existe mais blockbuster que não pense em seqüência).

E nesse meio tempo Salt vem e vai, há as reviravoltas que não funcionam e você fica ali vendo aquilo sem entender muito bem como se chegou naquele ponto. E tome seqüências de lutas, tiros e explosões que culminam em interpretações canastronas numa embalagem de enlatado americano que já nos acostumamos a engolir aqui em Pindorama.


E assim Angelina Jolie mais uma vez desperdiça seu talento (tá, eu sou fã, me perdoa) e beleza (indiscutível, por favor) com mais um filme inútil. Foi assim com “Bewoulf” (2007) e “Procurado” (2008), numa sequência de bombas só quebrada por “A Troca” (2009), filme de Clint Eastwood que a levou a concorrer ao Oscar. A musa definitivamente precisa inverter essa equação.