sexta-feira, 27 de junho de 2014

Balancê, balancê

Robben e Van Persie, destaques da Holanda
Terminada a primeira fase da Copa e antes do início das oitavas de final neste sábado, já podemos fazer um balanço desta primeira parte do Mundial. A corneta implacável diria o seguinte: 

Melhores times da primeira fase - Colômbia e seu futebol MALEMOLENTE e Holanda e sua ALEGRIA NAS PERNAS

Maior propaganda enganosa - A GERAÇÃO BELGA (fez nove pontos, mas foi se arrastando e jogando um futebol padrão Campeonato Estadual)

MVPs da primeira fase - Robben (Holanda) e James Rodriguez (Colômbia). Messi, Thomas Müller e Van Persie ficam um degrau abaixo. 

Melhor time fode-bolão - Costa Rica

Prêmio Jesus Cristo de ressurreição - Uruguai. De quase eliminado para a glória da classificação 

Jogador com a bunda virada para a Lua - Godín, o zagueiro que fez os gols mais decisivos da temporada

Prêmio Ferries Bueller Curtindo a Vida Adoidado - Holanda. Passeia na praia, leva caldo no mar, joga FRESCOBOL, sai na night no Lebronx. Tudo com as mulheres juntas. E tem 100% de aproveitamento. É a Laranja Moleque. 

Melhor torcida - A da Argentina, também dona da melhor canção da Copa disparada. E nenhuma ARTIFICIALIDADE tira isso dela. 

Comemoração de gol mais diferenciada - O ARMERATION colombiano (ok, dancinhas são ridículas, mas a Colômbia me contagiou)

Prêmio Fashion Week de melhor figurino - As impecáveis camisas da França. Dá para ir a um casamento com elas. 

Momento mais bagaceiro - Neuer e Schweinsteiger vestindo as camisas e cantando o hino do Bahia. Ninguém estava puro naquele vídeo. 

Prêmio vergonha alheia da Copa - Espanha e Costa do Marfim. Cada uma decepcionante dentro do que podiam dar. E a Inglaterra? Ora, fez o que dela se espera. Nada. 

Gol mais espetacular - O Peixinho Atômico de Van Persie que virou até verbo e foi reproduzido em fotos no mundo inteiro. Inclusive pelo avô do atacante. 

Cabelo mais diferenciado - Pogba e seu estilo preto-alourado com faixas simétricas. Uma ode aos cartesianos. 

Técnico mais insano - Jorge Sampaoli, o argentino do Chile que parece um coelho da DURACELL se movendo freneticamente do lado de fora do campo

Prêmio o que eu estou fazendo aqui? - Camarões. Viajou reclamando de prêmios, passou a Copa reclamando dos prêmios, os jogadores brigaram entre si e ainda levaram três traulitadas. Foram embora segurando a lanterna da Copa. 

Prêmio Sérgio Malandro faz um Glu Glu - Akinfeev, o goleiro russo que tomou um frango e falhou bisonhamente em outro gol que custaram a vida da Mãe Rússia na Copa. 

Melhor jogo - Essa foi difícil. A primeira fase teve muitos bons jogos. Mas ficarei com Espanha 1 X 5 Holanda

Seleção da primeira fase - Ochoa (México), Johnson (EUA), Hummels (Alemanha); David Luiz (Brasil) e Rojo (Argentina); Toni Kroos (Alemanha), Thomas Müller (Alemanha), James Rodriguez (Colômbia); Messi (Argentina), Robben (Holanda) e Van Persie (Holanda).

terça-feira, 24 de junho de 2014

James Rodríguez, o enganche

James, um 10 clássico/Reprodução Instagram
A Copa do Mundo ainda nem chegou ao fim da primeira fase, mas eu já tenho os meus dois candidatos à craque. Não por acaso, eles vêm de duas seleções que estão com 100% de aproveitamento e vêm apresentando o melhor futebol do Mundial junto com França e Alemanha. Falo de Holanda e Colômbia. Falo de Robben e James Rodriguez.

O que o Robben tem jogado nesta Copa é brincadeira. Teve atuação de gala contra a Espanha, foi decisivo contra a Austrália e fundamental na vitória sobre o forte time do Chile na rodada que garantiu os holandeses na primeira colocação do grupo B e a vaga nas oitavas de final contra o México.

Mas de Robben eu já falei um pouco e outro dia escrevo mais sobre ele. Este post será dedicado ao meia de raro talento e que tem sido a alma da seleção colombiana.

Aos 22 anos, James Rodriguez assumiu para si a liderança de um time que há seis meses sofreu um duro golpe. A lesão no joelho esquerdo de Falcao García deixou a Colômbia sem o seu artilheiro e um dos principais craques. A equipe parecia ter murchado, embora as chances de classificação ainda fossem muito boas em um grupo que tinha Grécia, Costa do Marfim e Japão. Foi quando James Rodriguez resolveu mostrar que a seleção ainda tinha muita força e futebol para brilhar nesta Copa.

James é um meia clássico. O tipo de jogador que os argentinos chamam de enganche. Aquele camisa 10 que organiza e distribui o jogo e também aparece na área para fazer gols. Golaços como o quarto da goleada de 4 a 1 sobre o Japão nesta terça-feira.

A Copa do Mundo tem sido muito boa. Talvez a melhor que eu vi desde a de 1998, na França, mas não tem sido pródiga em camisas 10. O enganche é um tipo de jogador que raras seleções têm neste torneio. Rakitic, da já eliminada Croácia, é um deles. Messi é um gênio e camisa 10, mas não é um enganche. James Rodriguez proporciona esse prazer de ver um meia clássico comandar uma equipe no meio-campo, o setor de criação, a região pensante que determina a vitória ou a derrota de um time de futebol.

A Copa do meia do Monaco tem sido espetacular. Com passes precisos e belos gols, James é responsável por 66,6% dos gols da Colômbia no torneio. Além dos três gols marcados, deu três assistências que foram fundamentais para a boa campanha da seleção. Ou seja, ele é responsável por seis dos nove gols da seleção.

James começou no Envigado, da Colômbia, onde se profissionalizou em 2007. Após dois anos, se transferiu para um centro maior e foi jogar no Banfield, da Argentina. Naquele mesmo período já frequentava as seleções colombianas sub-17 e sub-20.

A estreia na equipe principal foi em 2011, quando o meia já brilhava no futebol europeu com a camisa do Porto, de Portugal. Em setembro daquele ano, ele entrou em campo pela primeira vez para uma partida contra a Bolívia e foi escolhido o melhor em campo após dar o passe para o gol da vitória pro 2 a 1 marcado por Falcao García.

James não saiu mais do time de José Pekerman e só viu o seu prestígio crescer na Europa. Em maio de 2013, o meia foi contratado pelo Monaco, da França, por 45 milhões de euros. Foi para o mesmo time do compatriota Falcao em uma das 20 transferências mais caras da história do futebol. Fez uma boa primeira temporada, embora o Monaco não tenha conseguido superar o PSG na disputa pelo título francês. Em compensação, garantiu a vaga na Liga dos Campeões.

Na próxima temporada, James Rodríguez estará de volta à elite do futebol mundial com o Monaco. Enquanto isso, o acompanhamos brilhando em gramados brasileiros. Nesta terça-feira, além do golaço que marcou, foi dele o passe para um dos dois gols de Jackson Martinez na partida. O meia já tinha sido decisivo na sofrida vitória sobre a Costa do Marfim por 2 a 1, o jogo mais difícil da Colômbia na primeira fase, ao fazer o cruzamento para o gol de Quintero e marcar outro gol. Contra a Grécia, brilhou numa tranquila vitória de 3 a 0.

Agora James Rodriguez terá pela frente o mais duro adversário desta Copa. O Uruguai do técnico Oscar Tabárez, do zagueiro Godín e dos atacantes Luís Suárez e Cavani. A Celeste renasceu após a derrota para a Costa Rica na primeira rodada. Derrotou Inglaterra e Itália e entrou no caminho dos colombianos. Se passar pelo Uruguai, a Colômbia depois terá pela frente Brasil ou Chile. Uma mini-Copa América para James Rodríguez confirmar o seu status de um dos craques do Mundial.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O relógio parou

Iniesta e Torres no fracasso espanhol
Daqui a 13 dias fará dois anos da última atuação de gala da Espanha. Não é que a seleção não tenha feito bons jogos depois disso. Mas a última atuação daquelas memoráveis que serão lembradas como um dos pontos altos de uma geração que fez história conquistando duas Eurocopas e uma Copa do Mundo foi naquela noite do dia 1º de julho de 2012, em Kiev.

Na ocasião, a Espanha atropelou a Itália numa humilhante goleada de 4 a 0 na decisão da Euro. O time de Vicente del Bosque vinha sendo criticado por apresentar um futebol abaixo do esperado dois anos após o título mundial. Já tinha se classificado para a decisão no sufoco passando por Portugal nos pênaltis enquanto Cristiano Ronaldo olhava para o telão e repetia a palavra “injustiça” com uma carinha de garoto mimado.

Então naquela noite a Espanha atuou com raiva. Itália e Alemanha tinham o melhor futebol da Euro. Os italianos haviam eliminado os alemães na semifinal e chegavam à decisão confiantes no título. Só que a Espanha, como eu disse, estava furiosa e atropelou com um futebol belo, envolvente e que não deixou a equipe de Cesare Prandelli jogar. Foi 4 a 0 (gols de David Silva, Jordi Alba, Fernando Torres e Mata) e poderia ter sido mais. Foi o canto do cisne da maior geração do futebol espanhol.

O tempo é cruel. Dois anos podem não ser muita coisa. Mas quatro são uma eternidade. Enquanto a Espanha vivia aquela noite mágica, um mês antes o Barcelona colocava um ponto final na sua era mais vitoriosa. O técnico Pep Guardiola deixava o clube após a conquista de 14 títulos em três temporadas em um time que fez história e virou base da seleção com nomes como Puyol, Xavi e Iniesta.

O sucesso do Barcelona e seu estilo de jogo comumente chamado de tik-taka, de toque de bola, manutenção da posse de bola e que vai estrangulando o rival lentamente até o golpe fatal que no clube quase sempre era dado por Lionel Messi significou o sucesso da seleção. Assim como o ocaso do clube catalão, que viveu um de suas temporadas mais pobres, também representam o ponto final da geração de ouro da Espanha.

Embora tenha chegado na final da Copa das Confederações, o futebol apresentado pela Espanha no ano passado nunca foi de primeira linha como naquela decisão contra a Itália. Mais uma vez chegou à final após uma disputa de pênaltis, desta vez contra os italianos. Na decisão, veio o tão sonhado confronto dessa geração contra o Brasil. Talvez o único desafio que faltava para o time que bateu todas as grandes seleções do mundo em torneios importantes.

Mas o momento era outro. O duelo chegou tarde demais para Xavi, Iniesta, Casillas, Sérgio Ramos e todos os grandes nomes que construíram a bela história da seleção espanhola. A derrota por 3 a 0 foi amarga e um sinal para Del Bosque. Um sinal que o treinador preferiu não ouvir.

O modelo se apresentava desgastado pela falta de nomes de reposição da mesma qualidade. Principalmente de um novo Xavi, um craque que ditava o ritmo do tik-taka espanhol. Um jogador que é difícil encontrar em qualquer lugar e que poucas seleções têm. Talvez só a Itália com Pirlo e a Alemanha com Schweinsteiger tenham jogador semelhante.

Ao mesmo tempo em que a Espanha se enganava com uma classificação relativamente tranquila nas eliminatórias em um grupo cuja única ameaça real era uma França em reconstrução e que ainda pode surpreender nesta Copa, um novo velho modelo de jogar futebol surgia gritando nos ouvidos de Del Bosque. Era o futebol aguerrido, solidário e de pura entrega do Atlético de Madrid de Diego Simeone. Entrega semelhante podemos encontrar no Chile de Jorge Sampaoli, embora ele também guarde semelhanças com o “futebol total sudaca” da Universidad de Chile treinada pelo mesmo Sampaoli entre 2011 e 2012.

Ou mesmo um modelo de jogar mais vertical apresentado pelos alemães do Bayern de Munique e do Borussia Dortmund. Algo que vem sendo uma tendência dessa Copa. Ou o meio termo exibido pelo Real Madrid campeão europeu.

Mas Del Bosque morreu abraçado ao modelo de um relógio que já começava a emperrar. Um relógio que agora parou de vez.

A eliminação precoce da Copa do Mundo representa o fim da linha para Casillas (33 anos), Xavi (34), Xabi Alonso (32), David Villa (32) e Fernando Torres (30). Só para ficar com alguns nomes consagrados.

Agora, uma nova Espanha precisa surgir. Com 30 anos, Iniesta ainda tem gás e bola para conduzir a equipe para um novo momento. O país ainda tem jogadores jovens talentosos. Agora precisa encontrar um modelo de jogo em que estes novos atletas se sintam bem para executar.

Chile 2 x 0 Espanha

Local: Maracanã, no Rio de Janeiro

Árbitro: Mark Geiger (EUA), auxiliado por Mark Sean Hurd (EUA) e Joe Fletcher (Canadá)

Gols: Vargas e Aránguiz, para o Chile

Chile: Bravo, Isla, Medel, Jara e Mena; Díaz, Aránguiz (Felipe Gutierrez), Francisco Silva, Vidal (Carmona) e Vargas (Valdívia); Alexis Sanchez. Técnico: Jorge Sampaoli.

Espanha: Casillas, Azpilicueta, Sérgio Ramos, Javi Martinez e Jordi Alba; Busquets, Xabi Alonso (Koke), Iniesta e David Silva; Pedro (Cazorla) e Diego Costa (Fernando Torres). Técnico: Vicente del Bosque.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Anotaram a placa?

Robben e Van Persie arrebentaram
Quando na véspera da estreia na Copa o meia Xavi disse que a Espanha deveria morrer com o seu estilo eu achei uma convicção radical que não combinava nem com o jeito de ser do jogador do Barcelona. Afinal, a Espanha era um time inegavelmente vencedor (são duas Eurocopas e um Mundial no meio disso tudo), mas era uma equipe quatro anos envelhecida em relação ao título da África do Sul. O retrato da decadência desse time – e não do modelo de jogo centrado na posse de bola, que fique claro – era a temporada ruim do Barcelona.

Sim, o Barcelona disputou o título espanhol até o final da temporada, mas fracassou na Liga dos Campeões e nunca apresentou um futebol como de outros tempos nos oito meses em que jogou a temporada. Isso tinha a ver as lesões de Messi, claro, mas também com o envelhecimento do time, que perdeu Victor Valdés, Puyol e viu Xavi ter sua pior temporada em anos.

O mesmo Xavi da coletiva que começou a partida desta sexta-feira como titular e viu a Holanda passear num acachapante 5 a 1 na Fonte Nova.

Vicente del Bosque apostou nesta Copa em que lhe deu dois títulos. Tanto é que trouxe 16 jogadores campeões do mundo em 2010. Mas me parece claro que havia alguns jogadores do atual elenco e, além disso, um modelo de jogar futebol pedindo passagem. Atletas como Koke e David Silva, que encerraram a temporada em alta. E o modelo do Atlético de Madrid de Simeone, o grande vencedor da temporada, apesar daquela derrota dolorosa para o Real Madrid na decisão da Liga dos Campeões.

Esse é um problema com o qual Del Bosque terá que lidar para a partida desde já decisiva contra o Chile, na semana que vem, no Maracanã. Mudar é preciso, sob pena de a Espanha repetir a Itália na Copa passada e cair na primeira fase. O grupo não é fácil como mostrou a partida que veio logo depois entre Chile e Austrália (3 a 1 para os chilenos). De um lado um time sul-americano que sabe jogar e tem um ímpeto ofensivo quase insano, um Sampaoli style. Do outro, uma equipe pesada, que joga na defesa e busca contra-ataques em velocidade, comandado pelo atacante Tim Cahill.

Para a Holanda, a Copa não poderia ter começado melhor. Digamos que os holandeses fizeram com os espanhóis o que Oberyn Martell deveria ter feito com a Montanha em “Game of Thrones”. Acabou com o rival de forma devastadora quando teve a oportunidade em uma disputa que começou perdendo e jogando menos que a adversária. 

Embora tenha sido a seleção de melhor campanha das Eliminatórias, ao lado da Alemanha, com 28 pontos conquistados, os holandeses chegaram ao Mundial sendo contestados por não ter uma geração tão talentosa quanto outras do passado. E se falava até que o Chile poderia roubar a vaga destinada aos holandeses no grupo B.

A tática do técnico Louis Van Gaal estava definida há tanto tempo que todos puderam passear na praia de Ipanema e sair na night carioca sem problemas. O treinador montou uma equipe jovem que corresse para os três craques trintões da frente, Sneijder, Robben e Van Persie, decidirem. A média de idade da Holanda na Copa é de 25,9 anos. O time que entrou em campo hoje tinha média de 25,1 sem contar com os três craques. Com eles, todos com 30 anos, a média sobe para 26,4.

E em campo, eles corresponderam. Principalmente Robben e Van Persie. O jogador do Bayern de Munique estava endiabrado e marcou dois gols. O centroavante do Manchester United e capitão da seleção holandesa fez o mesmo. Sendo que um deles foi um golaço de peixinho. De Vrij completou o placar. Xabi Alonso fez o gol espanhol num pênalti inexistente. Mais um erro de arbitragem numa Copa que começa marcado por eles.

O único problema dessa tática de Van Gaal é você ficar sem um dos três da frente. E Van Persie já recebeu um cartão amarelo em uma competição em que dois amarelos te deixa suspenso. Huntelaar é um bom centroavante, mas não se compara ao atacante do United. Assim como Kuyt ou Wijnaldum não estão no mesmo nível de Robben ou Sneijder.

Para começo de torneio e como injeção de ânimo foi bom para a Holanda, que pode garantir a classificação na quarta-feira, contra a Austrália. Mas pode faltar estofo para os holandeses chegarem longe na competição. Quanto a Espanha, a partir de agora é mata-mata até o fim.

Espanha 1 x 5 Holanda

Local: Fonte Nova, em Salvador, na Bahia

Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)

Gols: Xabi Alonso aos 27 minutos do primeiro tempo para a Holanda e Van Persie aos 44 minutos do primeiro tempo e aos 27 do segundo tempo, Robben aos 8 e aos 35 e De Vrij aos 19 minutos do segundo tempo para a Holanda.

Espanha: Casillas, Azpillicueta, Sérgio Ramos, Piqué e Jordi Alba; Busquets, Xabi Alonso (Pedro), Xavi, Iniesta e David Silva (Fábregas); Diego Costa (Fernando Torres). Técnico: Vicente del Bosque.

Holanda: Cillessen, Vlaar, De Vrij (Veltman) e Martins Indi; Janmaat, De Guzman, De Jong (Wijnaldum) e Blind; Sneijder, Van Persie (Lens) e Robben. Técnico: Louis Van Gaal.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Olho na Croácia

Olic, um dos destaques da boa Croácia/Vipcomm
A Copa tem algumas obviedades. Todo torneio de tiro curto tem. Quando o sorteio saiu em dezembro do ano passado e mostrou quem estaria no grupo A (Brasil, Croácia, México e Camarões) e no B (Espanha, Holanda, Chile e Austrália), o comentário geral foi que espanhóis e holandeses jogariam para não pegarem o Brasil nas oitavas de final e correrem o risco de sair do Mundial mais cedo. Pois bem. A Croácia tratou de embaralhar um pouco isso tudo.

O time dirigido pelo ex-jogador Niko Kovac mostrou que tem bola para ir longe nessa Copa. Se vai repetir o feito da geração de ouro de Boban, Suker e Prosinecki e terminar em terceiro lugar como na França, em 1998, só o futuro dirá. Mas a equipe croata é promissora. E dará trabalho para quem enfrentar nas oitavas de final. Não acredito que México e Camarões poderão fazer muita coisa nessa chave.

Os croatas têm um time técnico, que joga bem e com a bola no chão. Comandados pelo meio-campo formado por Modric, Rakitic e Kovacic, o time procura tocar bem e manter a posse de bola. É, digamos, um tik-taka dos Bálcãs. Aliás, os croatas, assim como os bósnios, são os representantes nesta Copa de uma escola muito técnica, a da antiga Iugoslávia.

Quando se defende é com segurança e sem dar muito espaço para os adversários. Tanto é que o sistema defensivo só cometeu um erro em 90 minutos da partida contra o Brasil, quando deu muito espaço para Neymar empatar a partida aos 29 minutos. Um lance em que eu achei que o goleiro Pletikosa também falhou porque caiu um pouco atrasado na bola.

Naquele momento, brasileiros e croatas empatavam por 1 a 1 (Marcelo, contra, fez o primeiro da partida), e faziam uma partida equilibrada. A Croácia começou melhor, controlando a partida no meio-campo e com Olic passeando nas costas de Daniel Alves, enquanto o Brasil se mostrava um pouco nervoso. Mas no final do primeiro tempo e no início da etapa final, a seleção jogou bem e poderia até ter virado a partida se tivesse caprichado mais nas poucas finalizações que teve (no total foram 14 chutes a gol dos brasileiros e dez dos croatas).

O domínio territorial do Brasil principalmente a partir da segunda etapa pode ser resumido pela posse de bola: 58% contra 42% dos croatas. Luiz Gustavo fazia uma grande partida na proteção à zaga, onde David Luiz também era um dos destaques. Na frente, apesar do gol, o grande nome era o do até então criticado Oscar, talvez o melhor jogador da partida.

Mas com vontade a Croácia conseguia se manter firme e segurando o placar. Até que o árbitro japonês Yuichi Nishimura marcou um pênalti inexistente em cima de Fred aos 26 minutos da etapa final. Neymar converteu e decidiu o jogo.

- Se isso é um pênalti, então podemos parar de jogar futebol agora – reclamou, com razão, Kovac após a partida.

O pênalti mal marcado prejudicou demais os croatas. E o terceiro gol, já no fim, foi consequência de uma equipe que estava no ataque em busca do empate. Ainda assim os croatas nunca estiveram desorganizados em campo e em nenhum momento deixaram de jogar dentro do seu estilo. A Croácia perdeu, mas pode se dar bem nessa Copa. Fiquemos de olho nela.

Brasil 3 x 1 Croácia

Local: Itaquerão, em São Paulo

Árbitro: Yuichi Nishimura (JAP)

Gols: Marcelo, contra, aos 11 minutos para a Croácia e Neymar aos 29 e aos 26 minutos do primeiro tempo e Oscar aos 46 minutos do segundo tempo para a Croácia.

Brasil: Júlio César, Daniel Alves, David Luiz, Thiago Silva e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho (Hernanes) e Oscar; Hulk (Bernard), Neymar (Ramires) e Fred. Técnico: Luiz Felipe Scolari.

Croácia: Pletikosa, Srna, Corluka, Lovren e Vrsalijko; Rakitic, Modric, Perisic e Kovacic (Brozovic); Olic e Jelavic (Rebic). Técnico: Niko Kovac.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Godzilla, uma bomba atômica

O lagartão solta o bafo atômico
Poucas vezes a corneta esteve tão constrangida diante de uma tela do cinema quanto vendo "Godzilla". Sim, fui conferir o enésimo filme do monstro que é um cruzamento de um tiranossauro com um iguanodonte e um estegossauro (eu estudei essas coisas vendo o Ross, em “Friends”).

Godzilla é um produto tipicamente japonês como o Jaspion, o Ninja Jiraya e o Nacional Kid, mas nos últimos anos Hollywood é quem tem ressuscitado o bicho para fazer versões cada vez mais, digamos, estranhas, desse dinossauro que tem como armas a superforça, um gritinho de contrabaixo e um poderoso vômito azul sabor urânio (tipo molho de restaurante chinês).

Só que não é com o Godzilla que a humanidade precisa tomar cuidado. Nesse filme, o animal é bonzinho, fofo, meigo... Deve ser para vender brinquedos. Os vilões são os Mutos, espécie de baratas gigantes que lançam pulsos eletromagnéticos e buscam um devastador acasalamento que acabará com a humanidade. Amigo, nem a dança do acasalamento da "Família Dinossauro" era tão constrangedora quanto o beijinho de bomba atômica desses baratões.

Mas o fato do Godzilla não ser o protagonista do seu próprio filme não é pior do que o suposto herói do filme, vivido por Aaron Taylor-Johnson.

Esse papel caberia ao tenente Brody (não aquele de “Homeland”, que já está morto e enterrado. Sorry pelo spoiler). Mas o cara não tem UMA cena em que faça algo minimamente heróico. Zero, nothing. Ele é praticamente um nada. Também, ser filho do Walther White deve causar danos irreversíveis.

E não é só isso! "Godzilla" é o maior desperdício de talentos por metro quadrado. O que faz musa Juliette Binoche no filme? Nada. Deve estar precisando da grana para o aluguel. E Ken Watanabe? O que é o discurso Greenpeace dele? "Nós humanos achamos que dominamos a natureza, mas isso é arrogante e blablablá".

Para não falar de Bryan Cranston chorando pela esposa como um Rocky Balboa gritando pela Adrian e Sally Hawkins, que até outro dia fazia um trabalho digno com Woody Allen.

Nada se salva em "Godzilla". Talvez alguns efeitos especiais. Eles garantiriam alguns pontos. Mas aí eu lembrei que vi duas cenas de famílias correndo rumo ao reencontro. Não deu. Só faltava a trilha de "Carruagens de fogo".

A corneta entrou numa fria, mas alerta-los-á que Godzilla é uma bomba atômica. O lagartão precisa evoluir muito ainda para ganhar uma boa cotação. Esse filme aqui vai ficar com uma nota 1,5.

Ficha técnica: Godzilla (Godzilla – 2014 – Estados Unidos) – Aaron Taylor-Johnson (Ford Brody), Ken Watanabe (Dr. Ishiro Serizawa), Bryan Cranston (Joe Brody), Elizabeth Olsen (Elle Brody), Carson Bolde (Sam Brody), Sally Hanwkins (Vivienne Graham), Juliette Binoche (Sandra Brody), David Strathairn (William Steinz). Escrito por Max Borenstein. Dirigido por Gareth Edwards.