quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Uma homenagem à paixão pelo futebol

Jogador de temperamento irascível, o francês Eric Cantona colecionou em seus 14 anos de carreira tantas polêmicas quanto gols e títulos. Responsável pelo reerguimento do Manchester United, que com ele quebrou um jejum de 26 anos sem conquistar o Campeonato Inglês, Cantona é até hoje idolatrado pela torcida dos Red Devils, que sempre pendura faixas em sua homenagem nas partidas no Old Trafford.

Aos 43 anos, 12 depois de pendurar as chuteiras, Cantona é hoje um sujeito, digamos, mais afável. Jogador de futebol de areia, ele ainda faz campanhas publicitárias que exaltam o futebol arte e agora se arrisca no cinema como ator e produtor executivo. Como ele mesmo diz, sempre tentou “se surpreender” para “poder surpreender seus fãs”.

Em “À procura de Eric”, a surpresa, contudo, não está na atuação de Cantona. Até porque, Cantona não aparece na tela para interpretar qualquer personagem. Está ali apenas para ser ele mesmo. Esta surpresa talvez esteja no fato de Ken Loach, conhecido por fazer filmes um tanto quanto pessimistas como “Ventos da Liberdade” (2006), dirigir um filme “para cima” e que te deixa saindo do cinema satisfeito com aquele sorriso de orelha a orelha que só os filmes despretensiosos causam.

Uma ode ao amor pelo futebol, O filme conta a história do carteiro Eric Bishop, torcedor fanático do Manchester United e que vive um período de depressão depois da separação da segunda mulher e de ainda guardar na cabeça a lembrança de sua covardia por ter abandonado sua primeira mulher, Lilly (Stephanie Bishop), ainda grávida e prestes a se casar com ele.

Depois de uma tentativa frustrada de suicídio, Eric recebe a ajuda dos seus amigos para tentar se reerguer. Pouca coisa dá certo e ele continua a passar seus momentos solitário conversando com o pôster de Cantona. Até que num desses momentos, como num passe de mágica digno de filmes de Walt Disney, o próprio Cantona aparece no seu quarto para conversar com ele.

Mais do que um bate-papo, o ex-craque francês vira conselheiro e psicólogo de Eric e passa o filme soltando seus aforismos, suas frases de efeito dignas de um manual de auto-ajuda, e que eram uma das marcas de Cantona. Uma de suas frases mais famosas foi proferida depois que ele foi suspenso por nove meses por ter aplicado um golpe de kung fu num torcedor do Crystal Palace que o provocara. Para criticar a imprensa, Cantona disse na sua maneira peculiar: “Quando as gaivotas seguem o navio pesqueiro, é porque elas sabem que as sardinhas serão lançadas ao mar”. Em seguida ele agradeceu e encerrou a suposta entrevista coletiva que daria.

Sempre polêmico, Cantona nunca demonstrou arrependimento pelo lance que acabou lhe custando não apenas o gancho, mas a vaga na seleção francesa para a Copa do Mundo de 1998, que terminaria com o título dos Bleus. Seis meses antes, embora estivesse jogando muito bem, o técnico Aimée Jacquet declarou que já havia montado a equipe, formado um grupo capitaneado por outro craque, Zinedine Zidane, e não havia mais espaço para Cantona. Como o ponto fraco daquele time era exatamente o ataque, fico imaginando como seria uma França com Cantona de centroavante. De qualquer maneira, em 2007, ele disse: “Eu tive muitos bons momentos, mas o meu preferido foi quando eu dei um chute naquele hooligan”.

Entre o papo onírico com Cantona e a história de recuperação da vida de Eric Bishop, Ken Loach presenteia os fãs do futebol, principalmente os torcedores do Manchester United, com gols inesquecíveis do craque, que conquistou quatro títulos ingleses em cinco anos de Manchester. Sem contar as Copas da Inglaterra e Copas da Liga Inglesa.

O final, como já disse, é para cima, para exaltar o amor do torcedor pelo futebol, pelo seu ídolo, o prazer de se reunir com os amigos num pub para torcer ou num estádio para cantar, sorrir, chorar, viver todas aquelas emoções que só o futebol proporcionam.

E Cantona é para o torcedor dos Red Devils, o maior de todos. Não é a toa que ele é chamado de “King Cantona”, que a torcida cantava uma paródia do hino francês em sua homenagem (consegue imaginar um inglês cantando a Marselhesa?) e que o craque foi eleito o maior jogador do Manchester United de todos os tempos. E olha que muito craque passou por Old Trafford. Para a torcida do Manchester, ele não é apenas um homem, é Cantona.

Há cinco anos, sete depois de sua aposentadoria, o ex-jogador disse: “Fico muito orgulhoso que os fãs ainda cantem o meu nome, mas eu temo que amanhã eles parem. Eu tenho medo porque eu amo isso. E tudo o que você ama, você teme um dia perder”. Disso Cantona não precisa ter medo. Ele será sempre uma lenda em Old Trafford, eternizado nos seus gols memoráveis e agora na tela do cinema.

Abaixo alguns momentos marcantes da carreira do craque francês.



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