sábado, 30 de agosto de 2008

Um tiro de canhão em Obama

Um dia depois do apoteótico fim da convenção democrata que formalizou a chapa Barack Obama-Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos, o candidato republicano, John McCain, dá um golpe de mestre que pode representar um tiro de canhão na candidatura de Obama ao anunciar como sua vice a governadora do Alasca, Sarah Palin.

Apresentada como “exatamente o que a América precisa”, Sarah derrubou favoritos como Mitt Romney e Joe Lieberman e pode dinamitar daqui para frente não apenas Obama como também Hillary Clinton.

O que McCain quis dizer com a frase “exatamente o que a América precisa”? Isso significa que Sarah é conservadora, mãe de família – ela tem cinco filhos, sendo um com síndrome de down e outro militar que parte para o Iraque exatamente no dia 11 de setembro -, contrária ao aborto, apaixonada por pesca e caça e integrante da polêmica Associação Nacional do Rifle. Ela é a perfeita republicana.

Como se não bastasse tudo isso, Sarah ainda é bonita (ela é ex-modelo e ficou em segundo lugar no concurso de Miss Alasca em 1984), jovem (tem 44 anos, três a menos do que Obama) e uma governadora bem avaliada.

Sarah é uma típica americana e fez questão de parecer assim quando surgiu ao lado de McCain com um visual bem anos 50, não por acaso uma "era romântica" para os Estados Unidos.

Se Joe Biden, com seus 65 anos e o status de presidir a Comissão de Relações Exteriores do Senado, foi o antídoto arranjado por Obama das acusações de que era muito jovem e inexperiente em assuntos internacionais, o contragolpe de McCain, 72 anos e chamado de velho demais, foi perfeito ao anunciar exatamente uma mulher, jovem, conservadora e ótima mãe de família. Sarah é perfeita para conquistar a classe média, os trabalhadores e o voto das mulheres. Algo, aliás, que ela já demonstrou querer logo na estréia no palanque de McCain ao avisar que “ainda não acabou a missão das mulheres”.

Obama e o Partido Democrata ganharam um problema para a reta final da campanha americana e uma derrota neste pleito pode representar para eles no mínimo mais 12 anos longe da Casa Branca. Isso se McCain não quiser um segundo mandato. Do contrário, ele terá um trunfo bem ao seu lado. Sarah roubaria facilmente o sonho de Hillary de ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.

Para anular este pior cenário, Obama terá que rebolar muito, como se diz aqui no Brasil. É chegada a hora do discurso da mudança colar realmente e de posições mais pragmáticas que conquistem os trabalhadores, o eleitorado latino e as mulheres. Para isso, a ajuda de Hillary será fundamental. Novamente, estúpido, é a economia que pode decidir. Do contrário, não terá adiantado nada ter arrecadado mais dinheiro, feito discursos históricos e lembrar Martin Luther King dizendo que “o sonho americano continua”. Para que ele finalmente vire realidade, é preciso agir.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Dois bons shows nesta semana


Não me lembro da última vez que tivemos um final de semana tão interessante e com dois bons shows como teremos nesta semana. No sábado, os veteraníssimos Scorpions voltam ao Brasil pela, bem, não vou me arriscar a dizer quantas vezes eles tocaram por aqui. Digamos que o Scorpions vem para mais um show em que estão garantidos clássicos como “Rock you like a hurricane”, “Wind of Change”, “No one like you”, “Dust in the wind” e “Still Loving You”.

Serão muitas emoções na HSBC Arena com a banda alemã formada na segunda metade dos anos 60 que atualmente conta no seu line up com o vocalista Klaus Meine, os guitarristas Matthias Jabs e Rudolf Schenker, o baixista Pawel Maciwoda e o baterista James Kottak.

Em turnê com o seu 21º disco, “Humanity: Hour I”, lançado no ano passado, o Scorpions promete um set acústico. Sim, meus amigos, banquinho e violão para as feras alemãs do heavy metal.

Será interessante acompanhar algumas músicas neste novo formato. Pelo que vi dando uma vasculhada no "Youtube", elas ficaram diferentes. Palatáveis, até agradáveis, mas definitivamente diferentes. Como ninguém é de ferro, porém, principalmente o conservador fã do metal, eles também prometem um set list pesado como nos bons tempos.

No domingo, o show que tenho mais curiosidade de assistir. Quase quatro anos depois da sua última apresentação com o Nightwish no mesmo Canecão que a acolherá, a finlandesa Tarja Turunen vem ao Rio para sua primeira turnê como cantora solo.
Tarja deixou o Nightwish em 2005 – a banda, inclusive, já tem vocalista nova, Anette Olzon, e também promete visitar o país em dezembro, mas não foi confirmada ainda uma data carioca – pelas famosas “divergências musicais” e agora dá a largada nesta nova fase da carreira após lançar seu primeiro e bom disco, “My winter storm”.

Além de músicas dos seis álbuns de estúdio do Nightwish, esta apresentação será bastante focada no repertório novo, que tem pelo menos três ótimas canções “Poison”, “I walk alone” e “Die Alive”.

Na primeira vez que eu vi Tarja cantando, durante a turnê do disco “Once” (2004) do Nightwish, fiquei completamente apaixonado por ela. Ela canta demais – além de ser linda nesta mesma proporção - e entra no palco completamente possuída pelos deuses do metal (melódico, evidentemente). E pelo que andei vendo na internet, a cantora de 31 anos continua em grande forma.

Vamos ver como os dois se saem no fim de semana. Como aperitivo, quatro vídeos. O Scorpions cantando “Dust in the wind” e “Still Loving you” em versão acústica em Portugal, e Tarja detonando em duas músicas do novo disco “I walk alone” e “Poison”, em show em Zurique, na Suíça.








sábado, 23 de agosto de 2008

Eu sempre vou acreditar

Ir ao cinema para assistir a “Arquivo X – Eu quero acreditar” foi como rever velhos amigos. Depois de acompanhar por 10 anos a série que eu modestamente considero a melhor de todos os tempos e sofrer com o seu fim, embora reconheça que ele era necessário desde a saída de David Duchovny (Fox Mulder) e a natural falta de criatividade e repetição de roteiros depois de mais de 100 episódios, rever Mulder e Dana Scully (Gillian Anderson) foi como matar a saudade de tempos românticos.

Voltar às tensas quartas-feiras da Fox para saber o que iria acontecer com Mulder e Scully. Acompanhar as descobertas de um e o anteparo cético, filosófico, científico da outra.

A nova aventura no cinema, agora não mais atrelada à série como fora o primeiro filme, de 1998, mantém a qualidade de um dos muitos bons episódios que nós os fãs gostávamos de ver. Marcam presença o suspense, o mistério e um tom de sobrenatural junto a investigação de um crime bizarro. Junto disso, a dúvida.

A dúvida sempre foi o grande “personagem” de Arquivo X. Você nunca sabia se aquele cara que aparece na tela era mocinho ou bandido (às vezes ele era um pouco dos dois). É possível confiar nele ou não? O que ele diz é verdade ou não? Montar o quebra-cabeça e esperar a reviravolta no capítulo era algo delicioso.

Neste novo filme, Mulder e Scully, agora finalmente juntos desde o último capítulo da décima temporada, não são mais agentes do FBI. Ela trabalha em um hospital comandado por padres enquanto Mulder vive recluso para que os federais não o descubram e tentem prendê-lo. Lembremos que no final da série eles são perseguidos e têm que se esconder. Lutar pela verdade tem seu preço.

Mas o sumiço de uma agente e a ligação de um ex-padre pedófilo que parece ter visões com o crime, levam o FBI, disposto a retirar todas as queixas, a procurar Mulder, um especialista nos Arquivos X. Em mais um caso envolvendo fé, ciência, religião e a capacidade de acreditar em forças maiores ou não é que Mulder volta a ativa.

Escrever mais estragaria a história. Só posso dizer que ”Arquivo X – Eu quero acreditar” é um filme honesto com os fãs da série. Tem apenas um defeito. Não conquista novos admiradores.

O filme é como um grande episódio para os fãs. Quem não acompanhava a série não vai entender muitas referências, personagens e todo o clima “Arquivo X”. O pôster de Mulder com o OVNI e a frase “I want to believe”, a história de Samantha, a irmã morta de Mulder, ou as sementes de girassol (que, aliás, são gostosas, devo admitir). Ou talvez a brincadeira do tema do filme e da série sendo tocado num momento em que a câmera foca um foto de George W. Bush.

Uma outra piada, no entanto, que acontece já no final do filme será entendida pelas novas gerações. Principalmente as que acompanham “Lost” e após assistir à película conseguirão entender por que muitos comparam as duas séries. Foi uma boa sacada dos roteiristas Chris Carter e Frank Spotnitz.

Embora tenha dado entrevistas afirmando que desejava expandir o universo de fãs de “Arquivo X”, Carter, também diretor do filme, infelizmente não conseguiu isso. Não é a toa que o filme não arrecadou o esperado. Paciência. O diretor, aliás, promete continuar fazendo novos filmes. Nós, os fãs, agradecemos.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

O Ameriquinha do mundo

No momento em que escrevo este texto, o Brasil ocupava o 39º lugar no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos de Pequim. Atrás de “potências” como Estônia, Mongólia, Zimbábue, Etiópia e Coréia do Norte com uma única medalha de ouro e cinco de bronze. Um desempenho pífio para um país que tem dimensões continentais.

É claro que até o fim dos Jogos o país vai melhorar sua posição no “ranking” – ainda faltam as medalhas certas do vôlei e futebol feminino, por exemplo -, vai conquistar mais medalhas. Quem sabe até supere o recorde de ouros (cinco em Atenas, há quatro anos) e de total de medalhas (16 em Atlanta-1996). Ainda assim, embora muitos dirigentes – aqueles de sempre, aliás - estejam preparados para alardear que será o melhor desempenho da história do Brasil nas Olimpíadas, a verdade é que o país mais uma vez terá uma participação lamentável nos Jogos.

O Brasil é campeão mundial sim de desperdício de talento. Não preciso viajar pelo país ou mesmo sair daqui da tela do meu computador para saber que diariamente este país perde campeões, os joga no esgoto mesmo. Pela falta de oportunidades, pela falta de políticas públicas, de parcerias sérias com empresas privadas, com escolas, universidades.

Tudo é desperdiçado enquanto o país vive a ilusão dos Jogos Pan-Americanos. Quando a Olimpíada vem no ano seguinte o Brasil conhece a sua verdadeira dimensão que é a de um país pequeno. Do tamanho do Bahrein, Camarões ou Panamá, com quem divide a “honra” de ter uma única medalha dourada.

É muito desperdício de talento em 180 milhões de habitantes e uma área de mais de oito milhões de quilômetros quadrados. É triste notar que a cinco dias do fim das Olimpíadas, 636 medalhas foram distribuídas e o país conquistou apenas seis. Está atrás não apenas de “potências” como Azerbaijão, Geórgia e Quênia, mas de atletas como Michael Phelps, fenômeno da natação que conquistou oito medalhas de ouro em Pequim. Se Phelps fosse um país, diria que certamente terminaria os Jogos na frente do Brasil no quadro de medalhas. Não é difícil imaginar isso, uma vez que o Brasil nunca conquistou mais do que cinco medalhas de ouro em uma Olimpíada.

O Brasil é um gigante que esportivamente nunca acordou. As medalhas de bronze conquistadas por Keitlyn Quadros, Leandro Guilheiro e Tiago Camilo, pelas meninas da vela, e o ouro e o bronze do nadador César Cielo, assim como todas as outras desde o atirador Guilherme Paraense, ouro em Antuérpia (1920), foram vencidas por heróis. É disso que o país vive. De heróis que de quatro em quatro anos surgem para dar uma alegria a um povo que é simpático às demais nações exatamente porque nunca ameaçou a hegemonia esportiva delas.

Por mais que algumas confederações como a de judô e a de vôlei façam um bom trabalho que já atravessa pelo menos seis ciclos olímpicos, são casos isolados, atividades esparsas.

Quando este país deixará de ser uma nação de losers? Pois hoje, o Brasil é o Ameriquinha do mundo. Todo mundo adora. É uma espécie de segunda nação dos países desenvolvidos. Quando ganha uma medalha todos aplaudem e comemoram, assim como fazem as torcidas do Rio quando o América chega a uma decisão ou fica perto dela. Foi assim quando Cielo ganhou o ouro nos 50m livre. Todo mundo riu, chorou, se emocionou. Tudo lindo. É bom ver uma nação loser ganhar de vez em quando. Só que isso é muito pouco para um país gigante como o nosso.

Mas, salvo raras exceções, sempre vai se esconder a verdade da população. O oba-oba passa por todos, de órgãos oficiais até o povão. Não importa que Guilheiro ou Tiago Camilo tenham uma postura de verdadeiros campeões dizendo que não estão satisfeitos com as medalhas que ganharam e que podiam mais. Não importa que um judoca como Eduardo Santos , com uma história de vida de muito sofrimento (nestes dias vi na ESPN que o judoca Carlos Honorato leiloou um quimono para financiar uma operação no pé de Eduado o que fez com que ele pudesse continuar no esporte), diga com muita tristeza que não foi para Pequim para disputar e sim para ganhar.

O que vale é a babação cívica. É deixar a prova eliminado na primeira fase, mas feliz por estar em Pequim, satisfeito com a melhor colocação de um brasileiro naquela modalidade (normalmente algo entre o oitavo e o 12º), por rever os amigos e, o mais importante, quebrar o insipiente recorde sul-americano.

Não é que não devamos reverenciar os atletas que conquistam medalhas sob a bandeira do país (e não para o país como gostam de dizer os babadores cívicos). Devemos sim porque eles são heróis.

Mas ao mesmo tempo é preciso mostrar o desperdício de talento a que este país se impõe. E cobrar uma postura decente dos dirigentes brasileiros. Antes de gastar milhões como bobagens como uma candidatura às Olimpíadas de 2016, é preciso investir no esporte de base, desenvolver campeões e, obviamente, investir em melhorias para a população no país. Primeiro você oferece serviços de qualidade, depois se candidata a sediar um evento. Não o inverso. O Brasil não mereceu a Copa do Mundo e não merece receber as Olimpíadas.

domingo, 10 de agosto de 2008

Uma tumba de clichês

Em ano de Jogos Olímpicos de Pequim, a indústria cinematográfica não poderia deixar de aproveitar a onda chinesa e usar isso a seu favor. Leia-se faturar alguns milhões de dólares usando o que puder do velho país do outro lado do mundo. Percebendo o filão disponível e a disposição do governo chinês em receber (e investir) em uma mega-produção, a equipe responsável pela franquia da “Múmia” não pensou duas vezes e se mudou de mala e cuia para explorar novos sarcófagos.

“A múmia: tumba do imperador dragão” é um filme absoluta e essencialmente comercial. Um blockbuster nível alfa, digamos assim. Isso não é necessariamente ruim. O filme, agora dirigido por Rob Cohen - os anteriores “A Múmia” (1999) e “O retorno da múmia” (2001) tiveram Stephen Sommers na direção – é uma boa diversão. Funciona perfeitamente para uma tarde de frio e chuva debaixo da coberta. Ou para assistir com toda a família.

Porém, uma coisa me incomoda nesta nova aventura de Rick O’Connell (Brendan Fraser, sempre competente e divertido no papel do herói). São os clichês batidos, os temas já abordados em milhares de filmes em toda a história do cinema. Falo principalmente de dois deles. Primeiro a tal da relação conflituosa/redentora entre pais e filhos com pais lamentando e se perguntando onde erraram na criação das crianças. Em segundo lugar, o velho tema do herói entediado que precisa voltar à ativa para ter um pouco mais de emoção na vida por demais enfadonha. Acho que são dois assuntos que já se esgotaram.

Mas o nobre leitor que me acompanha com alguma freqüência pode lembrar que eu já elogiei os clichês em filmes de faroeste e os considero absolutamente necessários nas aventuras de James Bond. É verdade. Não retiro o que disse. Só acredito que uma aventura tão divertida e leve como a franquia da múmia não precisava disso e podia explorar assuntos mais interessantes.

Nos dois primeiros filmes, a relação entre Rick, sua mulher Evelyn (Rachel Weisz) e o filho do casal, o jovem Alex (Freddie Boath), era de plena união e companheirismo. Por mais que os hormônios da adolescência e do início da fase adulta possam mudar alguma coisa, soou no mínimo como falta de criatividade o aparente conflito entre o agora adulto Alex (Luke Ford) com Rick e Evelyn (no terceiro filme interpretado por Maria Bello).

A trama? A de sempre. Rick ressuscita uma múmia, neste caso a do imperador Han (Jet Li) e seu exército de terracota, e tem que se desdobrar para mandá-la de volta para a tumba antes que ela se engrace e tente dominar o mundo.

A mudança de cenário do Egito para a China não chega a ser problemática na história e o roteiro abre bons espaços para umas tiradas divertidas. Dispensável apenas é o duelo entre filho e pai expondo o lado moderninho de um e tradicional de outro. Como se vê, eu estava de má vontade no cinema.

Outro problema do filme foi a equivocada escolha de Maria Bello para substituir Rachel Weisz, que não quis (pelo menos é o que se diz oficialmente) prosseguir na franquia porque as filmagens desta película seriam longas e em dois continentes, no papel de Evelyn. Maria não convence, não tem o carisma (e nem a beleza) de Rachel, necessários num personagem tão forte e que nunca é uma estepe de Rick na história. Evelyn tem vida própria graças a Rachel e ao destaque que ganhou nos primeiros filmes. Em “Tumba do imperador dragão”, Evelyn é opaca e sem graça. Como a própria Maria Bello.

É lamentável que uma franquia tão divertida tenha cometido tantos equívocos. Quando “A Múmia” foi lançado choveram comparações com os filmes de Indiana Jones. Algo que era merecido e verdadeiro. Rick lembra muito o velho Indy e Frasier parecia ter assumido a vaga de Harrison Ford como herói dos filmes de aventura. No ano em que o sessentão ator retomou as aventuras de Indy em grande estilo, Frasier perdeu espaço. Pelo menos até ele ressuscitar a próxima múmia. Estaria ela no Peru?

sábado, 2 de agosto de 2008

Terapia em família

Já virou chavão dizer que Philip Seymour Hoffman é um grande ator. Embora sua consagração midiática só tenha vindo em 2006, ano em que ganhou o Oscar de melhor ator por “Capote” (2005), Seymour Hoffman sempre fez grandes trabalhos invariavelmente em papéis em que não era o centro das atenções, mas as roubava pelo talento. Falo de produções como “Boggie Nights” (1997), “Magnólia” (1999) e “Quase Famosos” (2000). O ator, de 40 anos, também salva filmes fracos, como “Missão Impossível III” (2006), e meias-bocas, como “Jogos de Poder” (2007), da tragédia completa.

Com um enorme talento e a capacidade de transitar incólume entre filmes “de arte” e produções pipoca, Seymour Hoffman realiza mais um grande trabalho em “A família Savage”.

Ao lado de outra excelente atriz, Laura Linney, ele vive um dos irmãos Savage que diante da triste doença do pai, que sofre de demência, tem que decidir o que fazer com ele. Acontece que Lenny Savage (Phillip Bosco) não foi o exemplo de pai ideal e todos esses conflitos do passado retornam quando Jon e Wendy se reencontram para juntos buscarem a melhor e menos culposa saída para o pai.

Uma decisão difícil pela qual muitos passam, mas que todos, se pudessem, gostariam de evitar. Ao colocar alguém que você ama numa casa de repouso ou asilo há sempre a sensação de estar abandonando alguém, se livrando de um peso, e de ser alguém horrível. O que não é verdade. É apenas o atestado da incapacidade de cuidar de uma pessoa que já não é mais tão independente numa vida que exige demais de você. Contudo, não deixa de ser uma decisão psiquicamente dispendiosa.

Enquanto passam por esse drama, Jon e Wendy reavaliam suas próprias vidas. Jon tem medo de se casar, mesmo já estando na casa dos 40, o que o faz abandonar a namorada polonesa, Kasia (Cara Seymour), obrigada a retornar à Europa por causa de um visto vencido. Wendy vive um caso com um dramaturgo casado e a vida dupla acaba a levando a consumir os mais variados tipos de remédios, de analgésicos a antidepressivos.

Mas todas as difíceis situações são retratadas com um fino humor que arranca gargalhadas de uma platéia que certamente se identifica com eles em diversas situações. Mérito, claro, da excelente química entre os dois atores, que dominam a película e a colocam em seus bolsos sem muito esforço nem caras e bocas. Apenas sendo gente como a gente.

“A família Savage” tinha tudo para ser um filme triste, melancólico mesmo, sobre este difícil momento na vida e os problemas causados por uma escolha. Mas no fim acaba sendo um filme interessante pelo tom natural com que trata estas situações e sem qualquer mão pesada da diretora e roteirista Tamara Jenkins na condução da história. Acaba se tornando uma mensagem para olharmos para nós mesmos e buscarmos soluções mais práticas para as nossas questões.