terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Uma grande bobagem de Cameron


James Cameron levou 12 anos para fazer um novo filme desde o tenebroso “Titanic” (1997). Tal qual seu último trabalho – sem contar os três documentários que ele dirigiu neste ínterim – “Avatar”, seu mais novo filme, é longo e ruim. Uma grande bobagem feita a partir de muito dinheiro e uma receita de bolo que deu certo em “Titanic” e dará certo agora, não apenas pelo motivo que fez o seu trabalho anterior um recorde de bilheteria, mas pela sabedoria com que ele usou a tecnologia disponível no mercado.

Chamado de revolucionário por alguns críticos, “Avatar” realmente é belíssimo do ponto de vista estético. Ao criar Pandora, o mundo habitado pelos seres azuis de três metros de altura chamados Na’vi (um cruzamento de smurfs com thundercats), Cameron atinge um estágio, até onde eu sei, nunca antes visto na história do cinema (já aviso que não pagarei royalties ao Lula). E imagino que quem assiste ao filme em 3-D, o que não foi o meu caso, deve realmente ficar embasbacado com a beleza daquele planeta desenvolvido por ele e pela indústria de efeitos visuais de Peter Jackson, ele mesmo, o diretor da trilogia do “Senhor dos Anéis”.

Não é apenas a beleza deste mundo que impressiona, mas o cuidado que Cameron teve de criar uma nova raça, fauna, flora, tribos, costumes, religião e até uma linguagem a partir de uma ajuda providencial de alguns lingüistas. Até parece que não apenas o trabalho de Jackson serviu de inspiração, mas o próprio escritor J. R. R. Tolkien, que fez algo semelhante no seu “O Senhor dos Anéis” a ponto de criar mapas para a sua Terra Média.

Portanto um ponto para Cameron nesta árdua tarefa de levar às telas algo que parecia impossível e me arrisco a dizer que até era ao final do século passado. Pelo menos da maneira que ele desejava.

Contudo, se do ponto de vista estético, “Avatar” é impressionante, como cinema é um fracasso retumbante. De todos os US$ 237 milhões usados na película, certamente pouca coisa foi para a composição do roteiro, escrito pelo próprio Cameron. Seu trabalho é de uma profundidade de uma piscina para bebês. Basicamente ele conta a história de um amor que parecia impossível – e obviamente se realizará no final – entre dois opostos num enredo em que encontramos algumas situações-limite. No final das contas, um sacrifício é necessário, mas dentro do possível tudo acaba bem. Falo da história de Jack (Leonardo di Caprio) e Rose (Kate Winslet)? Não. De Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana). Afinal, tire a roupagem e você vê “Titanic” em “Avatar” e vice-versa.

Em meio a isso tudo há um discurso ecologicamente correto bem ao estilo “Uma verdade inconveniente” (2006). Afinal, os humanos querem destruir aquelas florestas para explorar suas riquezas (qualquer semelhança com o petróleo, além de outras preciosidades encontradas na África não é mera coincidência). E eles destroem porque não tem qualquer conexão com a natureza, o que com os Na’vi é algo inclusive carnal, e no planeta deles isso não existe mais. Não esqueçamos que estamos num futuro apocalíptico já tantas vezes explorado por Cameron nos dois primeiros filmes do “Exterminador do Futuro”. O discurso é bonito, mas soa tão risível e pueril que fica difícil levar a sério.

Os trabalhos anteriores de Cameron, aliás, junto com “True Lies” (1994), também estrelado pelo governator Arnold Schwarzenegger, e “Alien” (1986), estrelado por Sigourney Weaver, que retoma sua parceria com o diretor em “Avatar”, são muito mais interessantes do que a badalada e insossa dupla que Cameron criou nos últimos 13 anos. Ou por serem mais criativos ou por apenas se assumirem como mera diversão sem as tintas revolucionárias de maior, melhor e blábláblá.

Analisando o passado, o século passado, é interessante notar que desde “Titanic” Leonardo di Caprio melhorou muito como ator e enfileirou uma série de ótimos filmes e trabalhos – “Foi apenas um sonho” (2008), “Diamante de Sangue” (2006) e “Os Infiltrados” (2006), só para ficar em alguns mais recentes. Kate Winslet ganhou um Oscar de melhor atriz por “O Leitor” (2008) e só confirmou a excelente atriz que é em trabalhos como “Iris” (2001), “Em busca da terra do nunca” (2004), “Pecados Íntimos” (2006) e o próprio “Foi apenas um sonho”. Já Cameron refez “Titanic” em 3-D e com "thundersmurfs". Ops, fez “Avatar”.

“Avatar”, portanto, pode até ser revolucionário para os que gostam de traquinagens eletrônicas, mas para quem gosta de um bom filme é uma bola fora do estádio. Absolutamente dispensável. No entanto, por sua, digamos, “beleza técnica” é pule de 10 para abocanhar a maioria esmagadora dos Oscar técnicos no ano que vem. E só o que ficam são realmente os números para alguém que é especialista neles. Seja a bilheteria de US$ 1,8 bilhão ou as 11 estatuetas de “Titanic”, seja tudo o que “Avatar” conquistará na sua longa carreira nas salas de cinema do mundo inteiro.

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