sábado, 3 de fevereiro de 2024

Filmes, séries e música: destaques e decepções de janeiro

Destaques:

“Vidas Passadas” (Past Lives — EUA, COR — 2023) — Estreia de Celine Song como diretora. É um dos filmes mais bonitos que eu já vi. Se na estreia a diretora já faz isso, quero ver desde já os seus próximos trabalho. “Vidas passadas” fala sobre relacionamentos, escolhas, como as vidas são transformadas por decisões importantes que tomamos e sobre reencontros. Como pano de fundo, o tema da imigração, que é algo bastante recorrente entre diretores que de alguma forma são filhos ou parentes de imigrantes.

É um filme interessantíssimo e lamento que Song não tenha sido indicado ao Oscar de melhor diretora, pois o seu trabalho em “Vidas Passadas” é muito sofisticado na forma como ela conta a sua história e conduz a sua câmera.

“Zona de Interesse” (The Zone of Interest — EUA, ING, POL — 2023) — Dirigido por Jonathan Glazer, o filme foi uma bela surpresa para mim. Conta a história de uma vida quase idílica de uma família que é vizinha do campo de concentração de Auschwitz. Família essa cujo patriarca é o diretor do campo de concentração mais conhecido e um dos mais traiçoeiros e terríveis do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

É terrível e muito incômodo o estado de normalidade em que eles vivem em meio aos tiros e a fumaça do campo imediatamente ao lado daquela casa construída para ser um cenário perfeito para a família que ali vive.

“Os rejeitados” (The Holdovers — EUA — 2023) — Filme delicioso de Alexander Payne e com um trabalho maravilhoso de Paul Giamatti. Conta a história de um professor e de alguns alunos que permanecem na escola durante o recesso das aulas ao fim do ano, para a passagem do Natal e do Ano Novo. Durante aquele convívio, os personagens vão aprender um pouco sobre os outros e criar laços de amizade que ajudarão a transformar as suas vidas.

“20 days in Mariupol” (20 Days in Mariupol — UCR — 2023) — Documentário pesadíssimo e muito gráfico sobre a invasão russa na cidade ucraniana de Mariupol. Um enorme trabalho de um jornalista da AP exibindo os horrores e os crimes de guerra do governo russo.

“Fargo (EUA, FX)” — A quinta temporada talvez seja a melhor de toda uma serie cheia de ótimas temporadas. Juno Temple está bem demais no papel de uma vítima de violência doméstica que precisa fugir de um relacionamento abusivo do personagem vivido por Jon Hamm.

Dead Poetry Society — “Fission” — Segundo álbum do quarteto de Boston. Bom disco. Nada espetacular, mas bem agradável.

Frank Carter and The Rattlesnakes — “Dark Rainbow” — Acho que foi o primeiro lançamento do mês que ouvi e gostei muito. Pelo menos metade do disco foi direto para a playlist 2024. É o quinto álbum dos ingleses de Hertfordshire.

Decepções:

Green Day — “Saviors” — Não é que seja um álbum ruim. Até tem algumas canções interessantes, mas no geral é um disco bem mediano e longe dos melhores trabalhos da banda, como “Dookie” (1994) e “American Idiot” (2004).

“Echo” (EUA — Disney Plus) — Tudo bem que a Marvel está uma bagunça e a série sofreu com regravações e cortes, mas havia um potencial ali especialmente depois do primeiro episódio. Talvez eu tenha ficado muito impactado pela temática envolvendo uma personagem com uma ancestralidade indígena e pelo duelo com o Demolidor. Depois disso, no entanto, a série foi derretendo até um final preguiçoso e até lamentável envolvendo o Rei do Crime.

“Ferrari” (Ferrari — EUA, ING, ITA, CHI — 2023) — O filme do Michael Mann foi uma grande decepção para mim. Focado na traição do Enzo Ferrari (Adam Driver) e sua obsessão por transformar a empresa na marca que é hoje, ele não vai além da superfície e tem atuações no piloto automático. Penso que filmes como “Ford vs Ferrari” (2019) e “Rush — No limite da emoção” (2013) fazem mais pela história do automobilismo e até da Ferrari do que este trabalho.