domingo, 13 de setembro de 2009

Um amor matemático

“Amantes” é de um pessimismo cortante e de um pragmatismo de destroçar qualquer coração esperançoso que se delicia com açucaradas comédias românticas. Muito distante de uma linguagem palatável, o filme do diretor James Gray aborda histórias que mais se esbarram nos desencontros do que convergem para uma linha plana, linear e segura de roteiro. Retrato de uma vida falsa, de linguagem puramente cinematográfica ou mesmo da literatura fast food, que enche, satisfaz, mas não provoca.

Não é o caso de Leonard Kraditor, prometido último trabalho de Joaquin Phoenix, que chegou a dizer que viraria rapper, mas ainda não nos “agraciou” com suas composições. Leonard é um jovem que sonhou em se casar e ter filhos como qualquer um até que um maldito teste genético feito por ele e sua então noiva acusam que eles não poderão ter filhos. Se o fizerem, a morte destes é inevitável.

O resultado do exame leva os pais da moça e forçarem-na a darem o bilhete azul a Leonard, que reage da pior maneira possível: tentando o suicídio. Nada disso, porém é mostrado. São explicações dadas durante o filme para entendermos a confusa personalidade e o estranho comportamento de um homem adulto que ainda vive com e sob o domínio dos pais.

Mas aos poucos ele vai tentando se reerguer. É quando entram em cena Sandra Cohen (Vinessa Shaw) e a sedutora Michelle Rausch (Gwyneth Paltrow). Aquela uma jovem de família judia pronta para casar e ter uma vida de classe média feliz com ele tocando um negócio de uma lavanderia que vai crescer com a fusão das empresas das duas famílias. Esta, uma assistente de uma firma de advocacia carismática, linda e louca. Duas mulheres perfeitas para casar. Depende do gosto de cada um.

A escolha dos pais de Leonard é clara. Já idosos, eles querem garantir o futuro do filho para quando eles não puderem mais cuidar dele. O problema é que aquela loura tão errada parece ser a mulher certa, o furacão necessário a sacudir uma existência ainda em ponto morto e com o carro por vezes afogando.

Entre a segurança e a aventura, Leonard sabe o caminho que deve trilhar. O problema é que por mais que exerça o seu direito ao livre-arbítrio, depende de outras variáveis nesta equação.

Ao misturar letras e números, Leonard renasce em si como se brincasse de Deus. Algo que, todavia, pode ter um preço a pagar. O risco pode ser muito grande e a tentação do abismo deveras pode voltar.

Nesta equação da desesperança, o cálculo do amor só lhe permite reunir velhas variáveis a novos elementos numa adição simples e prática. Ainda a enxugar as lágrimas de sentimentos eqüidistantes, Leonard toma a fria decisão de dizer sim ao não, mergulhando com sua alma devastada no óbvio aconchego da segurança.

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