sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Cotação da corneta: 'O jogo da imitação'

Cumberbatch e seu olhar 43
Da próxima vez que você fizer cara feia nas suas aulas de matemática ou perguntar pra que serve ficar fazendo cálculos de infinito ou raiz quadrada lembre-se de uma coisa: matemática ganha guerras. Pois é basicamente essa a lição que nós recebemos do belo filme (vou logo explanar que o filme é bonzão), "O jogo da imitação". Nele, Benedict Cumberbatch... bem, consigo imaginar gritinhos histéricos de meninas quando escrevo esse nome. Acalmem-se Cumberbitches!

Mas como eu ia dizendo, nele Benedict Cumberbatch, nosso futuro Doutor Estranho e atual melhor Sherlock Holmes do momento, vive o matemático Alan Turing. Este veio a ser um gênio que criou uma máquina capaz de decodificar o sistema Enigma, uma parada muito sinistra usada pelos nazistas para realizar ataques na II Guerra Mundial. Esta máquina sensacional e totalmente excelente poderia ser considerada uma espécie de avó dos computadores. Turing, inclusive, é considerado um dos pais da ciência da computação. Corneta é cultura, meus caros.

Com o seu brinquedinho, Turing ajudou os aliados a vencer a guerra. Sem ele, não haveria a Batalha de Stalingrado, desembarque na Normandia no dia D (pelo menos é o que o filme diz) e a filmografia de Steven Spielberg sofreria baixas consideráveis.

Resumindo, o cara foi um herói de guerra atuando de uma cidadezinha do interior da Inglaterra chamada Bletchley. A questão é que Turing tinha um problema que era considerado grave naqueles tempos ainda mais preconceituosos: era gay.

Naquela época, ser homossexual no Reino Unido era considerado crime com pena de prisão ou um tratamento hormonal violento que prometia reverter o que era chamado de "doença". Sim, o mundo já foi ainda mais idiota. Em um ano, Turing sofreu com as consequências desse tratamento hormonal e acabou vindo a falecer em junho de 1954. O filme de Morten Tyldum encampa a tese de suicídio, o que ainda é contestado. Ele também toma outras liberdades em relação à história real para tornar o filme mais, digamos, hollywoodiano.

Cumberbatch compõe um Turing com todas as características de gênios incompreendidos. Manias, tiques, arrogância, presunção, sensação de não fazer parte daquele mundo e viver num mundo particular, isolamento, dificuldade de se socializar, enfim, um personagem típico de concorrente ao Oscar que ele é. Só não sabemos se vai ganhar, pois neste ano temos outro personagem no estilo gênio com dificuldades e que tudo supera para atingir o seu objetivo, o físico Stephen Hawking, interpretado por Eddie Redmayne, em "A teoria de tudo". o ator ganhou o Globo de Ouro e parece ser favorito ao Oscar. A corneta ainda não teve tempo de conferir se ele é essa última cocada da festa junina mesmo.

Contracenando com Cumberbatch, há um verdadeiro catadão de algumas das principais séries do momento. Temos Charles Dance, o Twyn Lannister, de “Game of Thrones”, que faz o comandante Denniston. Rory Kinnear, o primeiro-ministro inglês de “Black Mirror”, que faz o detetive Robert Nock, policial que prende Turing nos anos 50, e Allen Leech, que faz um dos auxiliares de Turing e ainda manteve algumas das características do Tom Branson de “Downton Abbey”. Quem ver o filme, vai entender o que eu quis dizer.

Junto com essa turma, está Keira Knightley, com aquela mesma atuação que conhecemos. Uma mistura de Anna Karenina sofrida + mocinha de Jane Austen e cuja indicação ao Oscar soou como exagero (mais um, vão computando). É apenas ok. Nada que não tenhamos visto ela fazer igual. No filme, ela faz Joan Clarke, que viria a ser uma importante parceira de Turing e o ajudaria a se enturmar com a equipe de trabalho dele.

"O jogo da imitação" lembra para mim um pouco "Uma mente brilhante" (2001), filme vencedor de quatro Oscar, entre eles o de melhor filme de 2002. Isso porque o trabalho de Ron Howard também falava de um matemático, John Nash, famoso por ter desenvolvido a Teoria dos Jogos. Nash também era genial, antissocial, mas sofria de uma doença real, a esquizofrenia.

O filme de Morten Tyldum é igualmente muito bom. Não é à toa que recebeu oito indicações ao careca dourado. Entre elas a de melhor filme. Não sei se vencerá no dia 22 de fevereiro (é provável que não), mas da parte da corneta "O jogo da imitação" ganhará uma nota 8.

Indicações ao Oscar: filme, ator (Benedict Cumberbatch), atriz coadjuvante (Keira Knightley), diretor (Morten Tyldum), roteiro adaptado (Graham Moore), edição, trilha sonora original e design de produção.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Sobre o show do Foo Fighters

Dave Grohl e o Foo Fighters no Maracanã
Algumas considerações malemolentes sobre o show do Foo Fighters.
- Dave Grohl e sua banda foram possuídos pelo espírito Fidel Castro do Dream Theater e fizeram cada música ter pelo menos 18 minutos. Principalmente os hits. Não precisava. Parecia que estavam tocando para eles. O show podia ser meia hora menor ou ter as mesmas 2h30min com mais músicas.
- Nesse ritmo, ainda bem que quando chegou o momento good times do set cover, eles escolheram tocar Kiss, Rush e Queen. Imagina se decidem mandar "Kashmir", do Led Zeppelin. Estavam tocando até agora.
- Dave Grohl foi simpatia quase amor com a galera. O rapaz estava em casa e acho que até deu uma sambadinha estilo Rubinho Barrichello.
- Segundo as estatísticas, o cantor chamou a plateia de motherfuckers 15 vezes. Acho que foi isso. Uma hora eu parei de contar.
- O ex-baterista da Alanis Morissette canta desgraçadamente mal. Mas não dá para esperar uma banda com dois bateristas que cantam. É mais fácil ter um dating com a Scarlett Johansson.
- Não precisava ter cover de "Blackbird" depois de 25 shows do Paul McCartney no Brasil. Até porque o Dave Grohl não ia fazer melhor.
O show dos aplicativos de lanterna
- Eu tenho saudade de quando acendiam isqueiros nas músicas lentas. Celular e luz branca não é o romantismo-arte, o romantismo-moleque. É um romantismo de resultados.
- Com o futebol carioca falido, decadente e praticamente sem ídolos, acho melhor o Maracanã aproveitar a sua boa acústica e investir em shows. Manda os clubes para o Engenhão que está bom demais para o nível atual.
- Ninguém pode reclamar que faltou música. Todos os hits estavam lá e foram tocados com a FEROCIDADE que se espera no rock and roll. Meu ouvido está, inclusive, zumbindo.
- Por fim, nunca imaginaria na minha tenra adolescência ainda chorando a morte de Kurt Cobain que veria o baterista do Nirvana lotar um estádio de futebol duas décadas depois. O mundo dá voltas.
Cotação final da corneta: 6,5.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Cotação da corneta: 'Livre'

Cheryl e sua mochila básica
"Meu nome é Cheryl Strayed. Eu era uma jovem, que tinha uma vida regrada e cursava a mesma faculdade que a minha mãe. Mas um dia mamãe ficou doente e veio a falecer. Eu perdi o meu chão. Me emburaquei nas drogas, dei para todo cara que me pagasse uma bebida. Trai meu marido incontáveis vezes. Fui ao fundo do poço e dei um mergulho na heroína antes de perceber que eu tinha que dar a volta por cima. Precisava me afastar do que me destruía, e até das pessoas que amo. Isolei-me três meses numa trilha. Muitas vezes pensei em desistir, tive medo, sofri com a fome e o frio. Mas essa foi a experiência que eu vou levar para sempre na minha vida. Porque se você quer algo, tem que lutar para conseguir. Eu venci. Eu renasci. Casei, tive filhos. E agora estou aqui para contar minha história. Essa é minha vida, esse é meu...” Bem, vocês sabem como termina a propaganda.

A corneta nesta semana foi examinar a cota autoajuda do Oscar. Vocês sabem que todo Oscar tem a sua cota autoajuda. Filmes edificantes, histórias de vida que inspiram o povo e atenuam as dores cotidianas. No ano passado era “Philomena” (o filme autoajuda nem sempre é ruim, pode ser ótimo também) No retrasado era “As aventuras de Pi”. Neste ano, a historia edificante poderia ter sido "Invencível". O problema é que o novo filme de Angelina Jolie não é grande coisa. Não dava para concorrer em nada além do que três categorias técnicas, ainda que a história do ex-atleta olímpico Louis Zamperini seja bem mais interessante que a de Cheryl.

Interpretada por uma Reese Whiterspoon que também resolveu renascer depois de algumas bombas na carreira - como não esquecer “Água para elefantes” (2011), um filme horripilante até no título? -, Cheryl é a jovem de "Livre". Em uma história “baseada em fatos reais”, a moça vai além do limite da dor até resolver buscar uma forma de purificação. Sua ideia era se enfurnar por três meses numa trilha que passa pela fronteira do México e vai até o Canadá.

Era a famosa Pacific Crast Trail (PCT), praticamente o Iron Man dos praticantes de trilhas. A PCT oferece enormes desafios e dependendo da época do ano você tem que enfrentar tanto um calor de 38ºC e seca em um deserto, quanto o frio de montanhas cobertas de neve. É chapa quente. Não é para amadores.

Mas Cheryl, então com 26 anos, era amadora. O problema é que ela também precisava cumprir a sua via crúcis particular e não dava para fazer isso subindo a trilha do Morro Dois Irmãos. Também não dava para resolver o problema fazendo o Caminho de Santiago, pois isso era mainstream demais já na época dela (década de 90).

E Cheryl precisava de um certo isolamento. Necessitava da abstinência da vida louca vida que levava para encontrar um sentido para a sua existência. É ou não é um enredo perfeito de autoajuda?

No filme de Jean-Marc Vallée, acompanhamos toda a jornada de Cheryl. As dificuldades enfrentadas, as pequenas conquistas, as amizades que vem e vão ao sabor da trilha. Tudo com frases marcantes de nomes como o poeta Walt Whitman em suas pausas. Afinal, não existe autoajuda sem frases de efeito.

A jornada de Cheryl é contada com competência por Reese, que nos devia algo assim desde que fez June Carter, a esposa de Johnny Cash em "Johnny e June" (2005). Por este papel, ela ganhou um Oscar de atriz coadjuvante. Agora concorre na categoria principal do careca dourado, enquanto Laura Dern, que faz a sua mãe no filme, está na disputa da estatueta de coadjuvante. Algo que soou como um certo exagero.

"Livre" pode inspirar almas em conflito da mesma forma que "Na natureza selvagem" (2007). Com a vantagem de ter um final feliz. Por outro lado, o filme é tão lindinho demais (até os problemas são incríveis), tão fofinho e certinho demais, com aquele clima “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”, que às vezes parece meio boring. São várias situações se repetindo e uma série de personagens desinteressantes durante a trilha de Cheryl. Uma amiga me disse que o livro é bem mais rico. Contudo, isso não se refletiu na película.

Se é preciso reconhecer o bom trabalho de Reese, "Livre" é inferior ao último filme de Vallée, o "Clube de compras Dallas" (2013). Este trabalho, por sinal, rendeu dois carecas dourados para seus principais atores. (Matthew McConaughey e Jared Leto). Será que um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Cientistas dizem que sim. Mas neste caso específico do Oscar, é improvável que aconteça. E no balanço final da corneta, “Livre” ganhará uma nota 5,5.

Indicações ao Oscar: Atriz (Reese Whiterspoon) e atriz coadjuvante (Laura Dern).

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Cotação da corneta: 'Whiplash'

Suando a baqueta
Levante a mão quem nunca teve um professor, digamos, de métodos controversos. Na verdade, eu queria usar um palavrão aqui referente à genitora do dito cujo, mas este é um blog de família. Então, usemos o termo... controverso. Eu tive dois professores do gênero. Ainda que nenhum deles tenha sido como Terence Fletcher, o verdadeiro cão chupando manga com pimenta de "Whiplash: em busca da perfeição".

Em “Whiplash”, Fletcher (J.K. Simmons em uma atuação que a corneta descreveria como VORAZ), é um adepto da filosofia tiro, porrada e bomba de ensino. Fletcher gosta de ser grosso, racista, homofóbico e de humilhar os alunos. É desse jeito “afável” que ele comanda a melhor banda de jazz do Conservatório Schaffer, a melhor escola de música do pedaço ali de Nova York.

É tudo tão surreal que você se questiona sobre os limites daquilo e a eficácia dos métodos de trabalho baseados em terrorismo psicológico. E esta é uma reflexão que também preocupa o diretor Damien Chazelle.

Em um momento do filme, Andrew Neiman (Miles Teller), o aluno mais maltratado por Fletcher e protagonista da história questiona exatamente se há limite para a loucura do professor. Aprendiz de baterista talentoso, Neiman quer se tornar o novo John Bonham e desde o início demonstra ter muito talento para esta função tão importante que é a de ser baterista de uma banda.

O baterista, amigos, é a alma de um conjunto. Não importa se você faz um heavy metal feroz ou um jazz estiloso. Ele não pega ninguém (ou não pega tanta gente quanto o guitarrista e o vocalista), mas sem ele dando o ritmo o seu som sai uma porcaria. E você não consegue o respeito das groupies.


Mas como eu ia dizendo, é quando Neiman faz os seus questionamentos que Fletcher expõe sua filosofia. Para o professor, a pior frase que pode existir para um músico em evolução é "bom trabalho". E Charlie Parker não seria Charlie Parker se não tivesse sido agredido no início da carreira, quando ainda não era ninguém. Por isso, o melhor método que existe é o confronto. E tome bronca por falta de ritmo, tempo errado e leituras equivocadas da partitura.

Fica claro que Neiman tem talento para ser o novo Buddy Rich, sua inspiração. E Fletcher aparentemente vê nele o Charlie Parker que tanto procurou a vida inteira. Exatamente por isso não lhe dá sossego e o faz suar sangue em busca da perfeição (sacou o lance do subtítulo brasileiro?). Neiman tem que soar perfeitamente no ritmo que Fletcher deseja. Nem que tenha que ficar até a madrugada tocando a mesma música. Isso claramente é uma pratica de tortura.


Neiman logo mostrará que pode ser o Neil Peart do jazz. Além de ótimo baterista, ele é muito dedicado e tem uma memória inacreditável. Tanto que sabe tocar de cor canções como “Whiplash", música do Metallica do álbum "Kill'Em All" (1983), ops, espera! Não é isso. O “Whiplash” do filme é uma música de Hank Levy e lançada por Don Ellis na década de 30 do século passado.


Mas o clima de terror ainda assim permanecerá, com o professor sadicamente e frequentemente puxando o tapete do aluno. Que grande filho da... quer dizer, feio, bobo e chato.


“Whiplash” é o filme indie do momento que caiu no gosto do mainstream. Ganhou um Globo de Ouro pela performance de J.K. Simmons e ganhou cinco indicações ao Oscar. Além do bom trabalho da dupla de protagonistas, tem uma ótima trilha sonora. Com destaque para a canção do título e “Caravan”. A corneta curtiu a busca de Neiman para ser o novo Keith Moon. “Whiplash” ganhará uma nota 8.

Indicações ao careca dourado: Filme, ator coadjuvante (J.K. Simmons), roteiro adaptado (Damien Chazelle), edição e mixagem de som.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Best Of 2014 - Cinema

Este blogueiro anda sumido deste espaço, pois desde setembro estou publicando minhas críticas no blog Liquidificador, do site do Globo. O texto abaixo é uma réplica ampliada do que foi publicado no dia 31 de dezembro no blog do tradicional Best Of, que eu fazia aqui desde 2006. Ao fim do post, links de outros posts publicados no Liquidificador desde a estreia da corneta por lá. 

Sim, amigos, chegamos ao último dia do ano. É hora daquele momento que nós jornalistas adoramos, o de fazer a lista dos melhores de 2014. E, claro, dos piores também. É o momento do “Corneta Awards”, a premiação dada a quem se destacou para o bem e para o mal. Portanto, se o seu filme estreou aqui no Brasil entre o dia 1º de janeiro e 30 de dezembro, também conhecido como ontem, veja se ele passou no crivo da corneta, ou foi reprovado pela implacável crítica malemolente e anárquica deste que vos tecla. É a hora de exibir o luxo e o lixo de 2014. 

Sem mais delongas, comecemos pelos melhores e piores filmes de 2014. Sempre numa ordem de ranking porque listas e rankings são polêmicas e alimentam discussões de bar e de ceias de réveillon. Um bom ano novo a todos.

OS MELHORES FILMES

Chegar ao top-10 foi um trabalho árduo (deixem eu valorizar com um pouco de melodrama). Muitos bons filmes ficaram de fora. Casos de “Ninfomaníaca”, “Philomena”, “O melhor lance”, “Alabama Monroe” e “Capitão América 2 – o soldado invernal”. “O homem mais procurado” e “O Grande Hotel Budapeste” só não entraram porque a lista não pode ter 12. Todos ganham aqui uma menção honrosa pelos serviços prestados de divertir, emocionar e incomodar as massas. Dito isso, vamos a ranking final.

10º lugar – “Ida” – O filme do polonês Pawel Pawlikowski estreou no apagar das luzes de 2014 e conquistou a corneta com sua história sobre uma jovem noviça que vai em busca das origens antes de decidir se fará os votos de castidade e pobreza em um convento. É em preto e branco, paradão, falado em polonês, mas eu garanto que é bom e você não vai dormir nos pouco mais de 80 minutos de película. É considerado o grande favorito ao Oscar de filme estrangeiro.

9º lugar – “Ela” – Um filme com Scarlett Johansson por si só é bom. Você conhece algum que não seja? (ok, eu já vi alguns). Ainda que a única coisa presente nele seja a sua voz. Mas tudo bem. Eu vi todo o resto em“Sob a Pele”. Brincadeiras à parte, o filme de Spike Jonze merece todos os elogios. “Ela” é sobre um futuro não tão distante onde um cara vivido por Joaquin Phoenix ganha a vida escrevendo belas cartas virtuais para parentes de pessoas que contratam o serviço. Solitário e infeliz, ele se apaixona e tem uma relação intensa com Samantha. Tudo certo. O problema é que Samantha é um programa de computador. Ok, é a Scarlett, mas é um programa de computador.

8º lugar – “Clube de compras Dallas” – O filme que deu um Oscar a Matthew McConaughey (eu nunca consigo escrever esse nome sem colar). O trabalho de Jean-Marc Vallé é sobre um cara que pega AIDS numa época em que o mundo era ainda mais idiota e achava que isso era doença de gay. Ai, ele conta com a ajuda do travesti Rayon (Jared Leto) e começa a traficar e revender os remédios que o mantiveram vivo por mais algum tempo.

7º lugar – “Nebraska” – Eu ia usar o adjetivo “tocante” em “Ela”, mas aí eu não poderia repeti-lo aqui, pois o filme de Alexander Payne também é... tocante. Aqui, a história é sobre uma relação entre pai e filho, vividos por Bruce Dern e Will Forte. Os dois saem numa viagem pelos Estados Unidos depois que Woody Grant, o pai, acha que ganhou US$ 1 milhão na loteria. É o momento em que os dois, e até mesmo toda a família Grant, têm de ter um acerto de contas com o passado. “Nebraska” tem ainda uma das cenas mais hilárias do ano, quando Kate Grant (June Squibb), esposa de Woody, levanta a saia no cemitério para o túmulo de um cara que queria pegá-la quando ela era jovem. Simplesmente impagável.

6º lugar – “Interestelar” – A tentativa insana de Christopher Nolan de ganhar um Nobel de física com seus buracos de verme, buracos negros e viagens no tempo só não conseguiu um lugar no G-4 de 2014 por causa de uma derrapada: o papinho só o amor constrói na reta final do filme. Ainda assim, merece estar no top-10. Mais um filme estrelado pelo Matthew McConaughey, mas eu juro que não sou fã, nem tenho pôster dele na minha casa. 

5º lugar – “Boyhood – da infância a juventude” – Richard Linklater resolveu dar uma pausa nas discussões de relação entre Jesse e Celine para fazer este filme que levou 12 anos para ser finalizado. A ideia era acompanhar o crescimento real de um menino dos seis aos 18 anos e de toda a sua família junto. Isso gerou um ótimo filme sobre as dores e os prazeres do crescimento.

4º lugar – “12 anos de escravidão” – Poucos lembram o que aconteceu em fevereiro, mas "12 anos de escravidão" foi o filme que ganhou o Oscar desse ano. Claro que isso não é critério para estar na lista da corneta. A questão é que a história real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), homem livre que se torna escravo e só consegue se libertar depois de mais de uma década é um ótimo filme com ótimas atuações. Foram três indicações ao careca dourado (Ejiofor, Michael Fassbender e Lupita Nyong’o) e uma vitória na categoria de atriz coadjuvante para Lupita. Enfim, o trabalho de Steve McQueen é um filmaço.

3º lugar – “O lobo de Wall Street” – Poucos filmes de 2014 encarnaram o espírito anárquico da corneta como esta quinta parceria de Martin Scorsese com Leonardo di Caprio. “O lobo de Wall Street” ganha a merecida medalha de bronze porque é ótimo, divertido, tem cenas imperdíveis (como não lembrar de Matthew McConaughey, sempre ele nessa lista, e Di Caprio fazendo cantos tribais em um restaurante?) e o que é pior: quase tudo aquilo aconteceu. É claro que não queremos fazer apologia à pilantras como Jordan Belfort, mas a corneta não tem culpa se Scorsese foi tão competente ao fazer um grande filme. “O lobo de Wall Street” só perde mesmo para “Os Infiltrados” (2006) na lista das melhores parcerias de Scorsese com Di Caprio.
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2º lugar – “Relatos Selvagens” – Num ano com tantos filmes argentinos bons, o trabalho de Damián Szifrón se destacou. É composto de seis histórias, uma delas estrelada por Ricardo Darín, que sozinhas poderiam ser desenvolvidas num filme. Todas têm um ponto em comum: pessoas que ultrapassam o limite quando explodem e acabam descambando para alguma forma de violência. Claro que isso tudo gera alguma consequência. Simplesmente espetacular. “Relatos Selvagens”, consequentemente, também ganha o “Corneta Award” de melhor filme argentino de 2014.

1º lugar – “Garota Exemplar” – Eu nunca pensei que colocaria um filme com Ben Affleck em um top-10 de melhores filmes. Nunca diga nunca, meu caro. É a lição de 2014. Aqui está Ben Affleck vivendo o pão que o diabo amassou no novo filme de David Fincher. Única nota 10 da história da corneta, “Garota Exemplar” conta a história de Nick Dunne, cuja esposa, Amy (Rosamund Pike) desaparece e nas buscas ele acaba virando suspeito de assassinato. A partir daí, o filme tem reviravoltas de cair o queixo e fazer “O Clube da Luta” (1999) parecer brincadeirinha de criança. Inegavelmente foi o filme do ano. 

PIORES FILMES:

A vida é feita de flores, mas também de espinhos. Sendo assim, vamos ao top-5 do horror em 2014.

5º lugar – “As duas faces de janeiro” – Não sei o que levou o eterno Aragorn Viggo Mortensen a se meter neste projeto-bomba. Deve ter sido a oportunidade de passar umas semanas em belas paisagens da Grécia e da Turquia. Como reportagem de viagem funciona que é uma maravilha. Como filme... é um tremendo abacaxi.

4º lugar – “Drácula – a história nunca contada” – Eu resumi num post tudo o que tem de trevas nesta nova versão do Drácula. Realmente, o eterno vampiro tantas vezes encarnado no cinema não merecia isso.

3º lugar – “Hércules” – Existe uma onda de transformar personagens, digamos, mitológicos, em verdadeiros guerreiros do cinema. Estão aí o Noé de Darren Aronofski e Russel Crowe e o Moisés de Ridley Scott e Christian Bale que não me deixam mentir. Aqui, a ideia era o inverso. Humanizar um pouco o semideus, neste filme vivido por Dwayne Johnson. E relativizar alguns mitos. Não existe minotauro, não existe cérbero eHércules não faz nada sozinho. É brincadeira né. A coisa ficou tão feia que eu estou aqui lançando a campanha “americanos, deixem a mitologia grega em paz” porque nunca dá certo quando vocês se metem com ela.

2º lugar – “Godzilla” – O filme não é ruim. É constrangedor. Uma tentativa de fazer o Godzilla ser legal. Aí surgiram outros monstros vilões. E aí o Walter White aparece. E aí... fuja dessa bomba atômica, amigo.

1º lugar – “Era uma vez em Nova York” – Um filme com Marion Cotillard, Joaquin Phoenix e Jeremy Renner pode ser ruim? Claro que não só pode ser ruim, como pode ser pavoroso. Se você tem problemas de insônia, assista. Eu só não dormi porque estava com uma amiga e ia pegar mal se eu começasse a roncar do lado dela no cinema. 

MAIS PRÊMIOS DA CORNETA: 

Categorias diferenciadas que você nunca verá no Oscar:

Troféu decepção de 2014 – Todos aguardávamos com ansiedade o terceiro filme de Katniss Everdeen(Jennifer Lawrence), mas ela só soube chorar pelo Peeta e nada mais. Shame on you. “Jogos Vorazes: a esperança – parte 1” prometia muito, mas não entregou o que devia. Aguardemos o quarto e último filme. 

O herói do ano – Homem-Aranha, o amigão da vizinhança, enfrentou três vilões e sofreu com a morte de Gwen Stacy em “Homem-Aranha 2: a ameaça de Electro”. Mas ainda assim continua inspirando criancinhas e vendendo bonecos.

O vilão do ano – Donald Sutherland se esforçou para deixar Geoffrey Rush no fundo do poço em “O melhor lance”, mas depois que vi "Garota Exemplar" (ATENÇÃO, SPOILER. Se você não viu, passe para o próximo tópico). Como eu dizia, depois que vi "Garota Exemplar", o Corneta Award só pode ir para uma vilã. Amy Dunne (Rosamund Pike) me fez ficar umas três semanas com medo de mulheres. Mas já passou.

O retorno do ano - Com o cinema hoje em dia tão marcado por reboots, refilmagens e quaisquer outras expressões que usem o prefixo “re” como sinal de começar de novo, é natural que a corneta tenha o prêmio “Comeback of the year”. E neste ano quem levou foi "Robocop". O policial voltou dos mortos dos anos 90 repaginado por José Padilha todo de preto e ainda mais eficaz. Um filme bem legal e eu diria até melhor que os originais. Me julguem.

A musa de 2014 – É uma categoria muito importante porque a musa é o que inspira os poetas, os músicos e as cornetas. Depois de Sharon Stone (2006), Eva Mendes (2007), Penélope Cruz (2008), Kate Winslet (2009), Anna Mouglalis (2010), Cecile de France (2011), Jessica Chastain (2012) e Melanie Laurent (2013), a França mais uma vez fica com o prêmio. A francesa Eva Green com seus belos olhos verdes (e outros tantos atributos. E que atributos!), levou o troféu. Em 2014, Eva nos encantou em “300: a ascensão do império”, onde fez Artemisia, e “Sin City: a dama fatal”, com a personagem Ava.

A melhor cena de sexo – Rosamund Pike e Neil Patrick Harris em “Garota Exemplar”. Foi de matar. É só o que eu tenho a dizer. 

A melhor cena de briga – Apesar do esforço de “O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos” para agradar nesta categoria, e eu destaco uma briga envolvendo o Legolas que foi marcante, “O Grande Mestre” tem kung fu. Mais do que kung fu, o filme de Wong Kar Wai tem kung fu na chuva. Imbatível, amigos.
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O filme francês do ano – Eu gosto de filmes franceses. Sim, sou eu que vou naquelas salas vazias. Portanto, o Corneta Award tem uma categoria específica para franceses e outra para argentinos, de quem eu também sou fã. “Por uma mulher”, “Grandes amigos” e “Saint Laurent” deram a sua contribuição para manter a qualidade do que chega por aqui, mas nada mais francês do que um filme de Philippe Garrel. Nada mais francês do que um filme que se discute a relação e se faz questionamentos existenciais. Logo, “O Ciúme”ganha o “Clairon Prix” (Corneta Award em francês).

O filme argentino do ano – Por todos os motivos expostos lá em cima, “Relatos Selvagens” é o melhor.

O filme brasileiro do ano – Momento dando aquela moral para o cinema nacional. “Praia do Futuro” causou tanta auê por causa das cenas de sexo gay do Wagner Moura com Clemens Schick que esqueceram de que o filme de Karim Ainouz é muito bom. Dos que eu vi (os outros foram "Getúlio", "Tim Maia", "Trinta", "Trash" e "Boa Sorte") foi o melhor.

O filme baseado em quadrinhos do ano – O retorno em grande estilo do Capitão América em “Capitão América 2 – o soldado invernal” faturou o "Comics Corneta Award".

O filme-pipoca do ano – Filme-pipoca é o que diverte. Não é o que levanta questões. Neste quesito,“Guardiões da Galáxia”, com sua trilha sonora maneira e um guaxinim como protagonista tinha que faturar o "Popcorn Corneta Award".

O filme DR do ano – Na ausência de produções de Richard Linklater, quem melhor discutiu a relação em 2014? Os amigos cheios de revelações bombásticas em “Grandes Amigos” deram sua contribuição, mas a corneta ficará com “O casamento de May”.

Melhor filme “Sessão da Tarde”  “Trapaça”, porque a gente não podia deixar um filme tão divertido sem pelo menos um prêmio de consolação.



O melhor filme ruim – Sabe aquele filme que de tão ruim você acaba gostando? Então, o campeão de 2014 é“Êxodo: deuses e reis”. Realmente é inacreditável o que aconteceu com Ridley Scott para fazer essa bomba, mas embarque no Deus mimado e nas pragas do Egito. Se deixe guiar pelo Moisés guerrilheiro de Christian Bale e caminhe com os hebreus para a grande jornada em que o Mar Vermelho será separado por providência divina. Que maravilha.

Os melhores roteiros – Top-5 de 2014, os mais surpreendentes e engenhosos: “O Grande Hotel Budapeste”, “O melhor lance”, “O homem mais procurado”, “Relatos Selvagens” e “Garota Exemplar”.

Os piores roteiros – O top-5 do mal: “As duas faces de janeiro”, a picaretagem de “Caçadores de obras-primas”, “Drácula – a história nunca contada”, “Godzilla” e “Era uma vez em Nova York”.

Melhores diretores – Martin Scorsese (“O lobo de Wall Street”), Steve McQueen (“12 anos de escravidão”), Richard Linklater (“Boyhood – da infância a juventude”), Christopher Nolan (“Interestelar”) e, claro, David Fincher (“Garota Exemplar”).

Os piores diretores – Ridley Scott (“Êxodo: deuses e reis”), Gary Shore (“Drácula: a história nunca contada”), Hossein Amini (“As duas faces de janeiro”), Gareth Edwards (“Godzilla” ) e James Gray (“Era uma vez em Nova York”).

Melhores atuações masculinas – Leonardo di Caprio (“O lobo de Wall Street”), Christian Bale (“Trapaça” e “Tudo por justiça”), Matthew McConaughey (“Clube de Compras Dallas”), Jake Gyllenhaal (“Abutre”), Chiwetel Ejiofor (“12 anos de escravidão”) e Ralph Fiennes (“O Grande Hotel Budapeste”).

Piores atuações masculinas – Jean Dujardin (“Caçadores de obras-primas”), Anthony Hopkins (“Noé”), Jamie Foxx (“O espetacular Homem-Aranha: a ameaça de Electro”), Aaron Taylor-Johnson (“Godzilla”) e Colin Firth (“Magia ao luar”).

Melhores atuações femininas – Amy Adams (“Trapaça”), Jennifer Lawrence (“Trapaça”), Judi Dench (“Philomena”), Scarlett Johansson (“Ela” e “Sob a Pele”), Rosamund Pike (maravilhosa em “Garota Exemplar”).


Piores atuações femininas – Juliette Binoche (“Godzilla”), Emma Stone (“Magia ao luar”), Marion Cotillard (“Era uma vez em Nova York”), Sarah Gordon (“Drácula – a história nunca contada”) e a constrangedora participação de Sigourney Weaver em “Êxodo: deuses e reis”).

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Cornetas publicadas no Liquidificador:

Garota Exemplar - primeira nota 10 da história da corneta