quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Best Of 2009 – Cinema

Finalizando os posts retrospectivos e com listas de melhores abordarei o cinema em 2009. Um ano interessante que teve menos lançamentos (294 contra 302 de 2008) e eu conseguir ver um filme a mais em relação ao ano passado (50 contra 49). Mais uma vez, obviamente, não consegui ver todos os filmes que gostaria, mas é desta lista bastante razoável de 50 que tiro as minhas impressões sobre o cinema em 2009. E começo logo pelo top 10.

Como sempre, claro que foi difícil montar a lista dos 10 mais, pois tivemos muitos bons filmes em 2009. Num primeiro momento selecionei 20 trabalhos que me agradaram muito. Em um novo corte, “Appaloosa” e “Star Trek” dançaram até facilmente e fiquei com 18.

O mais doloroso foi cortar os últimos oito filmes. Mas tiveram que ficar de fora do top 10 “Foi apenas um sonho”, “O Leitor”, “O Lutador”, “Guerra ao Terror”, “Os Falsários”, “Intrigas de Estado”, “Inimigos Públicos” e “Anticristo”. Todos, contudo, altamente recomendáveis.

Foi quando percebi que na lista final só havia um filme que esteve concorrendo no Oscar deste ano. E o que ganhou como melhor filme, “Quem quer ser um milionário?”, sequer foi cogitado para entrar na lista. Um sinal de algo que eu já indicava em fevereiro e março que neste ano não havia nenhum filme espetacular na disputa pelas estatuetas como em anos anteriores. Dito isto, vamos ao top 10 da Alcova.

10º lugar – Katyn – Excelente filme polonês sobre o cruel massacre impetrado por Stálin na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial e a propaganda comunista que negava toda a verdade e colocava a culpa nos alemães. As imagens são fortes, mas o trabalho de Andrzej Wajda é um importante documento histórico.

9º lugar - Desejo, Perigo – Um excelente trabalho de Ang Lee sobre alguns jovens que organizam uma tentativa de vingança numa China ocupada pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial.

8º lugar – Deixa Ela Entrar – O ano foi de filmes de vampiros com nome de turnê do Elymar Santos como outro dia li no twitter (“Crepúsculo”, “Lua Nova”, etc...), mas filme de vampiro bom mesmo foi este sueco dirigido por Tomas Alfredson sobre uma jovem vampira que mais do que de sangue, se alimenta da alma de jovens solitários. É verdadeiramente assustador.

7º lugar – Amantes – Joaquin Phoenix é um porra-louca que resolveu abandonar uma carreira de ator que estava se consolidando para virar rapper. Mas ainda deu tempo de deixar mais um excelente trabalho. De um pessimismo ácido, “Amantes” é feito de uma série de encontros e desencontros, mas a melhor definição eu li em um blog na época do lançamento que lamentavelmente não me lembro agora o nome nem a pessoa que escreveu. Mas ela disse, no que eu concordo muito bem, que é um filme sobre gente de verdade fazendo merda. Ou algo parecido. É um filmaço.

6º lugar – À procura de Eric – Uma homenagem de Ken Loach a um ídolo, ao futebol e ao amor a este esporte. “À procura de Eric” é um excelente filme sobre um loser torcedor do Manchester United que começa a pegar conselhos com seu ídolo maior, o ex-craque Eric Cantona. Imperdível mesmo para quem não aprecia o bom e velho esporte bretão.

5º lugar – Gran Torino – Depois de um ano longe da minha lista, o diretor Clint Eastwood reaparece com este excelente filme em que ele também atua. Na pele de Walter Kowalsky, um preconceituoso veterano da guerra da Coreia, Eastwood tem que aprender a conviver com diferenças culturais enquanto o bairro em que vive vai se transformando num antro de gangues. É quase uma redenção de Dirty Harry, seu mais famoso personagem que não era muito conhecido por ser politicamente correto.

4º lugar – Frost/Nixon – O duelo entre o jornalista David Frost (Michael Sheen) e o ex-presidente Richard Nixon (Frank Langella) é retratado neste excelente filme dirigido por Ron Howard. Destaque para o tom documental, o ótimo trabalho de Langella, que merecia um Oscar, e para as tensas cenas da entrevista.

3º lugar – Distrito 9 – Uma alegoria sobre o preconceito e a intolerância a partir de uma relação entre terráqueos e alienígenas que são obrigados a viver num gueto (quase um campo de concentração) da África do Sul. Neill Blomkamp conseguiu fazer o que parecia impossível: um filme de ficção científica diferente de tudo o que já foi feito. Um filmaço que merece a medalha de bronze de Memórias da Alcova.

2º lugar – Watchmen – Os filmes sobre quadrinhos atingiram um outro status a partir de “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008) e “Watchmen” representa um passo a mais nessa evolução. Uma obra-prima dirigida por Zack Snyder e que tem como destaque a atuação de Jackie Earle Haley como Rorschach. Um filme simplesmente imperdível para quem ama o cinema de muito boa qualidade.

1º lugar – Bastardos Inglórios – Falando em obra-prima, o campeão de 2009 é simplesmente o melhor filme do diretor Quentin Tarantino. Com sua história de vingança dos judeus contra os nazistas, o americano chega ao clímax do seu trabalho e nos premia com personagens que já entraram para a sua história de grandes criações como o tenente Aldo “The Apache” Raine (Brad Pitt) e o coronel Hans Landa (Christoph Waltz). Não é à toa que “Bastardos Inglórios” pode levar Tarantino de volta ao Oscar 15 anos depois de ele ter faturado o prêmio de roteiro por “Pulp Fiction” (1994), seu outro trabalho memorável. “Bastardos Inglórios” é realmente um daqueles filmes para se aplaudir de pé.

Piores filmes – Dei tanto azar neste ano, que consegui até organizar um top 5 das tranqueiras que assisti nos cinemas do Rio de Janeiro. Portanto, passe longe dos seguintes filmes:

5º lugar – Anjos e Demônios – “O Código Da Vinci” (2006) já tinha sido bem meia-boca, mas eu insisti e fui ver “Anjos e Demônios”. Filme no máximo palatável, mas definitivamente é um trabalho de Tom Hanks do qual não precisamos nos lembrar.

4º lugar – A Fronteira da Alvorada – A presença de Louis Garrel em cena e de Philippe Garrel na direção pareciam garantia de qualidade para mim. E eu gosto de filmes franceses. Contudo, “A Fronteira da Alvorada” conseguiu me fazer dormir no cinema.

3º lugar – Matadores de Vampiras Lésbicas – Reconheço que não gosto muito de comédias, mas esta tinha vampiras, tinha lésbicas e tinha...muita ruindade. Quase campeão dos piores, com piadas sem graça e nem tem nada de mais para ver. Péssimo. Passe longe.

2º lugar – G.I. Joe – A Origem do Cobra – Era muito mais divertido e criativo brincar com os bonecos dos Comandos em Ação. Este filme de Stephen Sommers é absolutamente dispensável. Apenas material de propaganda do exército americano.

1º lugar – Austrália – Constrangedoramente ruim e com atuações tenebrosas de Nicole Kidman e Hugh Jackman, o épico romance de Baz Luhrmann foi imbatível em 2009. Tanto é que ninguém lembra mais dele. Assistir à “Austrália” equivale a sofrer o mais duro interrogatório de Jack Bauer.

Decepção – Avatar – Revolucionário, vai mudar a história do cinema, é James Cameron rompendo barreiras. E um filme ruim, muito ruim. Não tanto a ponto de entrar no top 5 dos terríveis, mas “Avatar” é a grande decepção de 2009. Reconheço que o filme é muito bonito e tal, mas como trabalho cinematográfico é clichê, óbvio e sem sal. Bola fora para Cameron.

O herói do ano – Rorschach (Jake Earle Haley) tem seu lugar na galeria de heróis de 2009, assim como dois anti-heróis, John Dillinger (Johnny Depp) e Walter Kowalsky (Clint Eastwood), mas o cara mesmo foi Brad Pitt e seu Aldo “The Apache” Raine. O tenente que comandou a tropa de caçadores de nazistas em “Bastardos Inglórios” é uma das ótimas criações de Tarantino.

O vilão do ano – Se “Avatar” tem alguma coisa de bom é o vilão. O coronel Miles Quaritch (Stephen Lang) ainda deu alguma graça ao filme. Só que aqui não poderei fugir novamente de “Bastardos Inglórios” para dizer que o grande vilão mesmo foi outro coronel, o nazista Hans Landa, vivido por Christoph Waltz. Com suas tiradas impagáveis e crueldade é um insano a ser temido. Ou era, pois Aldo Raine tratou de dar um jeito nele.

A frase do ano - “I am not a man, I am Cantona”, dita pelo próprio durante o filme "À procura de Eric", de Ken Loach. Tem frase melhor para representar a personalidade do craque francês?

A musa – Expectativa. Quem seria a sucessora de Penélope Cruz no reinado? A própria atriz espanhola apareceu na minha prévia por “Abraços Partidos”. Seria o primeiro caso de bicampeonato? Não desta vez. Também estiveram perto a bela Cate Blanchett (“O curioso caso de Benjamin Button”) e Gwyneth Paltrow (“Amantes”). Marisa Tomei (“O Lutador”) fez strip-tease e Giovanna Antonelli (“Budapeste”) também se esforçou. Wei Tang (“Desejo, Perigo”) deu tudo de si e Diane Kruger (“Bastardos Inglórios”) quase foi eleita porque eu tenho um certo fraco por alemãs. Mas o prêmio de musa de 2009 não será dado desta vez a uma mulher gostosona. E sim para uma mulher linda e talentosa que brilhou em dois filmes: “Foi apenas um sonho” e “O Leitor”. Kate Winslet é a minha musa inspiradora do ano. Além disso, eu também tenho um certo fraco por inglesas.

A melhor cena de sexo – Pode parecer meio sádico, mas que ficou bonita a cena de Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg transando ao som de Händel e com a filmagem em preto e branco de Lars Von Trier ficou. O problema é que durante o ato, o filho dos dois no filme “Anticristo” morre ao cair do parapeito da janela. Mas se não tivesse algo assim não seria um filme de Von Trier.

A melhor cena de briga – Desde que o homem virou bípede e passou a usar o polegar opositor que sexo e violência fazem parte da nossa história. Natural que neste ano, portanto, eu inclua nas categorias especiais de Memórias da Alcova o prêmio para melhor cena de briga. E o campeão de 2009 é o duelo entre Ozymandias e o Comediante ao som de “Unforgettable” de Nat King Cole. Lindo, lírico e trágico.

Os melhores roteiros – De fora da minha lista de melhores filmes, é preciso ressaltar aqui os bons trabalhos de David Hare (“O Leitor”), Justin Haythe (“Foi apenas um sonho”) e Matthew Michael Carnahan e Tony Gilroy (“Intrigas de Estado”). Também é elogiável a adaptação que David Hayter e Alex Tse fizeram para a Graphic Novel de Alan Moore e Dave Gibbons em “Watchmen” e os trabalhos de Peter Morgan por “Frost/Nixon”, Nick Schenck por “Gran Torino” e James Schamus e Hui-Ling Wang por “Desejo, Perigo”. Já Paul Laverty (“À procura de Eric”) e Quentin Tarantino (“Bastardos Inglórios”) foram absolutamente originais e divertidos em seus filmes.

Mas o melhor roteiro para mim foi de Neill Blomkamp e Terri Tachell por “Distrito 9”. Um filme que renovou a ficção científica depois de muitos trabalhos parecidos ao longo das duas últimas décadas.

Os piores roteiros – “Anjos e Demônios” (David Koepp e Akiva Goldsman) e “Matadores de Vampiras Lésbicas” (Paul Hupfield e Stewart Williams) são sofríveis. Stuart Beattie aparece duas vezes na minha lista. Primeiro ao lado de David Eliott e Paul Lovett pela propaganda do exército americano – aquilo não é um roteiro – de “G.I. Joe” e em seguida ao lado de Baz Luhrmann, Ronald Harwood e Richard Flanagan pelo horroroso “Australia”. Mas ele não conseguiu superar Cameron, James Cameron pelo seu roteirinho óbvio, clichê e sem conteúdo de “Avatar”, o abacaxi de 2009.

O francês do ano – Já foi muito comentado aqui o meu gosto por filmes franceses. E a indicação de 2009 vai para o simpático “Horas de Verão” sobre três irmãos que têm que decidir o que fazer com a herança da mãe após a sua morte. Tocante, interessante. E ainda tem a presença de Juliette Binoche.

O brasileiro – No ano passado vi oito filmes nacionais e neste ano apenas um. Pouco, muito pouco. Mas acho que a produção nacional não fez nada demais que me fizesse pagar o ingresso dos seus filmes. Teve o elogiado “Simonal”, mas confesso que não gosto muito de documentários e não gosto da música de Wilson Simonal, o que me afastou do cinema. Mas o único filme que vi, “Budapeste”, vale a pena. Muito boa adaptação do livro de Chico Buarque com uma ótima interpretação de Leonardo Medeiros no papel principal.

O retorno – Não sou um trekkie, mas não posso deixar de comentar a volta de Leonard Nimoy ao papel de Spock no novo filme sobre Star Trek. É o retorno do ano, sem dúvida.

Melhores diretores – Sam Mendes (“Foi apenas um sonho”), Darren Aronofsky (“O Lutador”), Zack Snyder (“Watchmen”) e Ang Lee (“Desejo, Perigo”) fizeram excelentes trabalhos. Steven Soderbergh lançou muitos filmes em 2009, o melhor deles é “Confissões de uma garota de programa”. O trabalho de Tarantino é brilhante em “Bastardos Inglórios”. O mesmo pode se dizer de Neill Blomkamp em “Distrito 9”. Contudo, os três trabalhos que mais gostei foram o de Katrhyn Bigelow em “Guerra ao Terror”, Lars von Trier em “Anticristo” e Clit Eastwood por “Gran Torino”, para mim o melhor de 2009.

Piores diretores – Ron Howard (“Anjos e Demônios”) e Phil Claydon (“Matadores de Vampiras Lésbicas”) se esforçaram, mas ninguém supera Baz Luhrmann e seu “Australia”. Um trabalho hours concours no quesito ruindade.

Melhores atuações masculinas – Aqui é preciso destacar os trabalhos de John Malkovich (“A Troca”), Leonardo DiCaprio (“Foi apenas um sonho”), Tony Leung (“Desejo, Perigo”), Russel Crowe (“Intrigas de Estado”) e Johnny Depp (“Inimigos Públicos”). Clint Eastwood (“Gran Torino”) e Joaquin Phoenix (“Amantes”) também estão ótimos nos seus filmes. Mas o ano foi de três atores: Jackie Earle Haley, fantástico como Rorschach em “Watchmen”, Mickey Rourke, espetacular como Randy “The Ram” Robinson em “O Lutador” e, para mim o melhor de todos, Frank Langella na pele do presidente Richard Nixon em “Frost/Nixon”. Um injustiçado no Oscar devidamente homenageado por Memórias da Alcova.

Piores atuações masculinas – Billy Crudup foi o ponto de desequilíbrio em “Watchmen” e Ewan McGreggor esteve irreconhecível em “Anjos e Demônios”. Sam Worthington (“Avatar”) e Hugh Jackman (“Australia”) estiveram constrangedores. Mas darei o prêmio lixão do ano para todo o elenco masculino de “G.I. Joe – A Origem do Cobra”, um filme só comparável a pérolas como “Tropas Estelares” (1997).

Melhores atuações femininas – Helen Mirren (“Intrigas de Estado”) é uma atriz admirável. Assim como Meryl Streep que brilhou em “Dúvida” no início do ano e em “Julie & Julia” no final dele. O trabalho da jovem Lina Leandersson (“Deixa Ela Entrar”) também é surpreendente. No entanto, como melhor atuação feminina do ano não vou fugir da indicação do Oscar. Kate Winslet merece encabeçar a minha lista não apenas por “O Leitor”, que lhe valeu a estatueta, mas também por “Foi apenas um sonho”.

Piores atuações femininas – Nicole Kidman (“Australia”) se esforçou, mas na reta final do ano foi atrapalhada por dois elencos femininos que eu “premio” indiscriminadamente: o de “G.I. Joe – A Origem do Cobra” e, disparadamente o pior de todos, o de “Matadores de Vampiras Lésbicas”. Um horror!


E assim termina o Best Of 2009. Em 2010 eu continuarei dando pitacos em tudo como sempre. Até a próxima e um Feliz Ano Novo aos meus nobres leitores.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Best Of 2009 - Música

O ano de 2009 começou muito bem, mas no segundo semestre o número de shows caiu drasticamente. Culpa da falta de artistas de peso, de dinheiro (no meu caso) ou dos responsáveis pelos eventos musicais no Brasil que me deixaram a ver navios enquanto grandes bandas iam se apresentar em outros estados. Este foi um dos motivos por eu ter perdido o AC/DC.

E por mais que eu diga que Angus Young, Brian Johnson e cia fizeram um showzaço pelo que vi no YouTube, não poderei listá-lo entre os cinco melhores porque a regra aqui no blog só vale para os shows vistos in loco.

Ainda assim, deu para ver alguns shows excelentes. Tanto é que meu tradicional top 5 não incluiu o Iron Maiden. A banda inglesa fez um belo show na Praça da Apoteose em março, mas não inclui o Iron na lista por causa de um problema no som, que não ocorreu com outros concertos na própria Apoteose. Isso prejudicou um pouco a apresentação dos ingleses que vieram com uma turnê só de clássicos. Mas se minha lista tivesse seis shows, o Iron estaria nela.

Sendo assim, vamos aos cinco mais em ordem de importância e o troféu abacaxi de 2009.

5º lugar – Pitty – O último show que eu vi em 2009 garantiu o lugar entre os cinco mais. Pitty abarrotou o Circo Voador para o lançamento do seu novo disco, o bom “Chiaroscuro”. Em quase duas horas de rock and roll, desfilou sua competência e carisma e agradou a plateia. Que volte ao Rio em 2010 para uma nova apresentação.

4º lugar – Alanis Morissette – Em quinto, o último show de 2009. Em quarto, o que abriu os trabalhos do ano. Alanis Morissette esteve na HSBC Arena em fevereiro durante a turnê do seu novo disco “Flavours of Entaglement”. Fez um belo show, mostrou que embora suas letras tenham se suavizado com o tempo - afinal, não dá para ser infeliz e sofrer para sempre -, no palco continua a mesma cantora louca que balança a cabeça quando canta os seus clássicos do “Jagged Little Pill”.

3º lugar – Oasis - Férias em Londres pedia um show na terra da Rainha. Afinal, ir para a Inglaterra e não assistir a um show de rock é como ir a Paris e não ver a Torre Eiffel. O Oasis passava por lá durante a turnê do disco “Dig out your soul” e fez para este que vos tecla um show inesquecível. Claro que o momento que eu passava pesou na avaliação (férias, Londres, show no mítico Wembley e tal), mas mesmo aqui no Brasil, cuja apresentação eu perdi, não acredito que o Oasis tenha feito algo ruim. De quebra acabou sendo até certo ponto um show histórico, pois depois daquele espetáculo em Wembley, o Oasis fez mais uns dois ou três shows e implodiu pela enésima briga entre os irmãos Gallagher.

2º lugar – Kiss – Se tem uma banda que sabe fazer festa é o Kiss. O grupo veio ao Brasil em abril durante a turnê que comemorava os seus 35 anos de carreira e fez um daqueles shows que ficarão para sempre na memória roqueira. Nem o temporal que caiu impediu que o Kiss fizesse tudo o que sabe fazer de melhor com sua boa música (tocaram boa parte dos seus clássicos) e efeitos especiais de primeira. Definitivamente o Kiss é daquelas bandas que sabem fazer um show de rock.

O melhor do ano – Radiohead – Pela primeira vez no Brasil por ocasião da turnê do ótimo álbum “In Rainbows”, o Radiohead também fez um show inesquecível. Valeu a longa espera pela banda. Thom York, Johnny e Colin Greenwood, Ed O’Brian e Phil Selway fizeram mais do que um show. Foi um verdadeiro culto religioso na Praça da Apoteose. Tudo foi perfeito. É um daqueles poucos shows em que se dá nota 10. Um showzaço inesquecível.

O pior – Os problemas de som podem ter atrapalhado o Iron Maiden, mas eles não foram empecilho para este blog dar o troféu abacaxi para Lauren Harris. A filha do baixista do Iron, Steve Harris, veio ao Brasil para abrir os shows da turnê do pai num nepotismo mais comum do que parece no rock and roll, mas sua música é tão ruim, ela é tão ruim, que nem a idolatria dos fãs do Iron por Steve Harris foi suficiente para ao menos respeitar a guria. Foi vaiada e xingada pelos “maindenmaniacos” e agora leva o troféu abacaxi de Memórias da Alcova para casa.

Amanhã, encerrando a retrospectiva/melhores do ano abordarei o cinema em 2009.

Best Of – Recomendações literárias

Um dos livros mais tristes que eu já li é a recomendação literária de 2009. “The Fix”, do jornalista canadense Declan Hill, fala sobre a manipulação de resultados no futebol feita por arranjadores de partida ligados à máfia das apostas associada principalmente ao mercado asiático.

O livro é uma ducha de água fria para os amantes do futebol, mas também fundamental para entendermos um pouco mais sobre um pouco da sujeira que ronda o esporte. Foi lançado no final de 2008 e neste ano eu cheguei a fazer uma entrevista com o autor (clique aqui para ler) em que ele alertava para a possibilidade de haver jogos armados na Copa do Mundo de 2010.

Menos mal que um ano depois do lançamento, a Uefa começou a agir, assim como a polícia e houve diversas prisões pela Europa de criminosos acusados de armar resultados. Dois deles, os irmãos Sapina, inclusive são personagens retratados no fundamental livro de Declan Hill.

Além de “The Fix”, um livro mais antigo e que ainda nem terminei de ler fica como a segunda recomendação literária de 2009. Trata-se de “À Sangue Frio” (1966), do jornalista Truman Capote.

Muito comentado quando foi lançado o filme “Capote” (2005), que rendeu um Oscar ao ator Philip Seymour Hoffman, o livro conta a história de um mal explicado assassinato de uma família em uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos em 1959.

Usando as técnicas do New Journalism, do qual foi um dos expoentes, Capote detalha como teriam ocorridos os crimes, como era a vida daquela família e da própria cidade de Holcomb, no Kansas, assim como a vida dos assassinos que acabaram condenados à morte. Um livraço.


Mais tarde, abordarei os melhores shows do ano.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Best Of 2009 - Esportes

Chegou o grande momento do ano, aquele em que Memórias da Alcova não foge aos clichês jornalísticos e faz a sua retrospectiva e aponta os melhores de 2009. Só não falarei sobre os melhores da década porque não cairei no erro de todas as demais publicações de esquecer que 2010 também faz parte desta década. Como é tradicional aqui no blog, que está na sua terceira edição do Best Of, começaremos pelos destaques no esporte.

Lembrando sempre que tudo o que indicarei aqui e nos próximos dois dias é baseado no que vi. Portanto, é claro que sempre faltará algo. Por mais maluco que eu seja, é impossível ver 100% de tudo. É para me lembrar de eventuais falhas que existe o espaço para comentários lá embaixo. Dito isto, vamos lá.

Melhores jogos – Em ordem cronológica, dez jogos que marcaram o ano de 2009 com uma pequena retrospectiva.

Futebol júnior de gente grande - O ano do futebol foi repleto de grandes partidas. Logo em janeiro a Copa São Paulo de Futebol Júnior nos deu uma partida emocionante. O duelo no dia 20 entre Atlético-PR e Cruzeiro valia uma classificação para as semifinais. O Atlético abriu 3 a 1 e parecia que iria se classificar, mas levou a virada de 4 a 3. Fim de jogo? Nada. O Atlético reagiu, empatou aos 43 do segundo tempo e surpreendentemente virou de novo o jogo com um gol aos 46 minutos. Uma partida sensacional. O Atlético depois chegou na final, mas perdeu o título para o Corinthians.

O futebol da bola oval – Veio fevereiro e com ele a disputa do Superbowl, a grande final do futebol americano, evento esportivo mais visto de todos os anos que não têm Copa do Mundo. A emocionante partida foi decidida nos últimos segundos com um touchdown de Santonio Holmes (que fez duas recepções decisivas, aliás). No final, o Pittsburgh Steelers do quarterback Ben Rothlesberger faturou o título ao vencer por 27 a 23 o surpreendente Arizona Cardinals. Um título histórico, pois o Steelers chegou ao sexto Superbowl ultrapassando o Dallas Cowboys e o San Francisco 49ers, que ficaram para trás com cinco conquistas.

A emoção no tênis – Foi um ano especial para o tênis masculino que não ficou apenas na disputa particular entre o suíço Roger Federer e o espanhol Rafael Nadal. Jogadores como Andy Murray e Novak Djokovic ameaçaram o domínio dos dois e o argentino Juan Martin Del Potro derrubou ambos ao conquistar o título do Aberto dos Estados Unidos.

Lá no início do ano não sabíamos, no entanto, que a temporada seria especial para Federer, que finalmente conquistou Roland Garros, recuperou o título de Wimbledon e o posto de número 1 do mundo e ainda ultrapassou o americano Pete Sampras em número de Grand Slams somando 15 dos mais importantes troféus.

Antes disso tudo, vimos o desabafo e o choro do grande campeão na frase “God is killing me”. Isso aconteceu após a espetacular final do Aberto da Austrália quando após 4h22m de um tênis de altíssimo nível Federer perdeu mais uma vez uma decisão para Nadal por 3 sets a 2, parciais de 7/5, 3/6, 7/6, 3/6 e 6/2.

A partir daquela final, histórica também para Nadal, que se tornou o primeiro espanhol a ganhar o Australian Open, tudo mudou para ambos. Federer voltou a ser Federer e Nadal sofreu com contusões que o fizeram ser pela primeira vez derrotado na França (para o sueco Robin Soderling) e o impediram de defender o título na Inglaterra. Para 2010, o desafio de Nadal é voltar a ser Nadal. E o de Federer é finalmente vencê-lo numa decisão de Grand Slam antes que seja tarde demais em função da diferença de idade entre ambos.

Uma vitória inesquecível do Liverpool – Em março, um clássico parou a Inglaterra. Manchester United e Liverpool faziam um duelo importante para a Premier League em Old Trafford. Como os Red Devils estavam sete pontos a frente no campeonato, os Reds precisavam vencer para se manterem vivos na disputa do título. No final, o Liverpool deu uma aula de futebol, fez 4 a 1 e conseguiu a primeira vitória na casa do rival desde 2004. Mas o time de Rafa Benitez acabou como vice-campeão da Inglaterra e o Manchester faturou o tri.

Um jogo digno de Liga dos Campeões – Veio abril e o Liverpool foi protagonista de outra partida memorável, mas pela Liga dos Campeões. O duelo em Stamford Bridge contra o Chelsea valia um vaga nas semifinais da Liga dos Campeões da Europa. O Liverpool precisava vencer e teve a chance no final da partida, mas Essien salvou o time de Londres, garantiu o empate em 4 a 4 e a classificação do Chelsea que na sequência acabaria eliminado pelo campeão Barcelona.

O jogo do ano – Nenhuma partida de futebol foi mais marcante do que o clássico entre Barcelona e Real Madrid em maio. O resultado entrou para a história porque o Barça enfiou 6 a 2 no Real em pleno Santiago Bernabéu. Além do chocolate, na ocasião, o time comandado por Guardiola chegou a marca de 100 gols no Campeonato Espanhol (terminaria com 105 gols e a taça). Veja abaixo os melhores momentos daquela partida.


O antológico gol de Grafite – Barcelona e Real Madrid foi o jogo do ano, mas o gol do ano aconteceu durante o chocolate do Wolfsburg sobre o Bayern de Munique por 5 a 1. A partida na Volkswagen Arena era válida pelo Campeonato Alemão e Grafite fez um lindo gol de calcanhar impossível de ser descrito. Basta você ver no vídeo abaixo. O resultado mais do que consolidou o Wolfsburg na liderança da Bundesliga. A equipe que teria Grafite como artilheiro do campeonato com 28 gols também conquistou seu primeiro título nacional.


Um clássico de sete gols – Mês de agosto, terceira rodada do Campeonato Holandês e a tabela já reservava um duelo entre PSV e Ajax. Com uma grande atuação de Dzsudzsak, que marcou dois gols e ainda deu o passe para um dos dois gols de Bakkal, o PSV vence por 4 a 3. A equipe hoje é vice-líder na Holanda atrás do Twente e ainda não perdeu na temporada 2009-2010. Já o Ajax está em terceiro.

O Campeonato Brasileiro – Todo ano reclamo do nível técnico do Campeonato Brasileiro. Mas 2009 foi um pouco diferente. O nível melhorou e a disputa foi acirrada. No final o Flamengo foi merecidamente campeão e todos clubes cariocas terminaram o ano por cima. Mas não destaco um jogo do Fla e sim uma partida em agosto entre Corinthians e Botafogo. O empate em 3 a 3 foi o resultado de um grande jogo no Pacaembu entre um Corinthians que ainda sonhava com o título e o Botafogo que ainda não se via ameaçado pelo rebaixamento. No final, o Corinthians ficou em 10º e o Botafogo escapou da degola na última rodada terminando em 15º.

O duelo de Manchester – Para terminar a lista dos dez melhores jogos do ano fico com o duelo de Manchester ocorrido em setembro. Estávamos na sexta rodada da Premier League e o derby era aguardadíssimo depois da injeção financeira dos petrodólares que turbinou o Manchester City. Mas como costuma dizer a torcida do Liverpool, dinheiro não compra história. O Manchester United venceu por 4 a 3 e hoje é o mais perto perseguidor do Chelsea na disputa do título inglês. O Manchester City trocou de técnico e ocupa a sexta posição.

O time do ano – Seis títulos em seis disputados. Isso é o suficiente para colocarmos o Barcelona no Olimpo do futebol. Até onde este time vai? Veremos no decorrer da temporada em 2010. Não apenas pelas conquistas, mas pela beleza do seu futebol, o Barcelona é a equipe do ano de 2009.

O craque do ano – Jogador decisivo na conquista da Liga dos Campeões e do Mundial Interclubes, melhor do mundo eleito pela Fifa e melhor da Europa pela France Football. O ano foi indiscutivelmente do argentino Lionel Messi. Seus compatriotas reclamam que ele não joga isso tudo na seleção. E daí? O que importa é que ele encanta o mundo com o seu legítimo futebol-arte.

O retorno – 2009 foi o ano em que Ronaldo, Fred e Adriano retornaram ao Brasil e foram importantes, dentro de seus objetivos, para Corinthians, Fluminense e Flamengo. Mas o grande retorno do ano foi de um meio-campo que parecia acabado para o futebol, mas conduziu o Flamengo ao título brasileiro. Foi um prazer ver Dejan Petkovic jogar o fino no ano.

Outros heróis – Não podemos deixar de destacar que um ano depois da Olimpíada, 2009 continuou sendo o ano de três heróis olímpicos. Usain Bolt, Yelena Isinbayeva e César Cielo continuaram encantando o mundo com vitórias e recordes mundiais. Um registro que precisava ser feito neste desfecho de retrospectiva esportiva.

Amanhã abordarei as recomendações literárias e os melhores shows do ano.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O melhor retrato do atoleiro no Iraque

Corri atrás neste Natal de “Guerra ao Terror”, o famoso filme que aqui no Brasil chegou direito em DVD, está concorrendo a três Globos de Ouro - melhor filme de drama, melhor diretor e melhor roteiro – e é exaltado em diversas premiações menores lá fora. O trabalho realmente é muito bom. Dos filmes que eu vi é o que melhor retrata o buraco em que os Estados Unidos se meteram entre o Afeganistão e o Iraque neste início de século XXI.

Tenso o tempo inteiro, ele acompanha a saga da companhia Bravo, que está a 38 dias de deixar o Iraque, um lugar onde qualquer passo em falso significa a morte e não se deve confiar em ninguém, principalmente se você é americano e, por isso, carrega nas costas o peso das cagadas do governo Bush.

A diretora Katrhyn Bigelow se concentra no trio de especialistas de uma espécie de esquadrão anti-bomba formado pelos sargentos JT Sanborn (Anthony Mackie), Owen Eldridge (Brian Geraghty) e William James (Jeremy Renner), este um outsider porra-louca que aparece nos últimos 32 dias em substituição ao sargento Matt Thompson (Guy Pearce), morto numa tentativa de desarmar uma bomba. Menos uma vida, mais um número na contabilidade do atoleiro do Oriente Médio.

Embora seja um filme de guerra, não espere ver muitas explosões ou confrontos no front. “Guerra ao Terror” é mais sobre a expectativa do que pode vir a acontecer, sobre a morte que está ali à espreita do que sobre heroísmos ou a bandeira americana içada em nome da glória e da vitória. É menos “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), mais “Além da Linha Vermelha” (1998), ou algo entre dupla de Clint Eastwood “A Conquista da Honra” (2006) e “Cartas de Iwo Jima” (2006).

Só que “Guerra ao Terror” é mais seco como o deserto iraquiana ali mostrado e sua tensão claustrofóbica é fantasticamente retratada pela câmera de Kathryn, cujo único trabalho anterior que eu conhecia era o ótimo e divertido “Caçadores de Emoções” (1991).

Seu personagem central é James, um cara atormentado que está tão ligado à adrenalina e à guerra que não consegue mais viver no “mundo real” com suas trivialidades. A passagem pela sua casa, o encontro com sua mulher e filho, é apenas um ínterim entre a última e a próxima batalha, que é só o que lhe interessa.

Na guerra, ele ainda demonstra alguns traços de humanidade, mas é diante do desafio de desarmar as bombas e na tensão daquele momento que ele se sente bem. É um filho daquela guerra que aguarda apenas o momento em que serão mais espertos que ele para que morra numa explosão de uma viela qualquer.

Um cara que tem uma família, mas não consegue mais se envolver com ela enquanto seus colegas contam os dias para sair daquele lugar. Alguns até com planos de constituir família.


No entanto, para William James só o que interessa é a próxima bomba a desarmar. O uniforme militar é a sua roupa e a guerra é a sua casa. Tudo sem heroísmos. Ele é apenas um cara atormentado que também não vê como sair daquela guerra. É um símbolo do resultado da política equivocada que enfiou o exército americano naquele buraco. E anda difícil sair dele.

Um filme saboroso

Se você for ao cinema ver “Julie & Julia” vá comido (no bom sentido). O novo trabalho de Nora Ephron te ganha pelo estômago e, claro, pelos olhos, já que você não pode comer todas aquelas receitas ali mostradas. O Boeuf Bourguignon à moda Julia Child, então, me parece apetitoso.

Vivida com a eterna competência de Meryl Streep, Julia é uma das personagens principais do filme que conta um pouco do livro que teria mudado a história da culinária norte-americana: “Mastering the art of french cooking” (1961). Aceito o argumento, pois não sou expert no tema para questionar. Apenas gosto da fase final dessa história toda que é comer.

Enfim, numa ponta está Julia vivendo em Paris e amando a capital francesa ao lado do seu marido, o embaixador Paul Child (Stanley Tucci), mas buscando novos desafios que desembocaram no curso de culinária e na produção do livro. Quarenta e cinco anos a frente está Julie Powell (Amy Adams), escritora frustrada que trabalha num enfadonho e depressivo emprego público e não tem muito futuro perto de suas amigas que parecem tiradas de uma sobra de estúdio das “Patricinhas de Beverly Hills” (1995).

Uma suposta fracassada que aceita o desafio proposto pelo marido Eric (Chris Messina) de escrever um blog sobre culinária, uma de suas paixões. O objetivo é fazer as 524 receitas do livro de Julia Child em um ano e contar as suas experiências no blog.

Assim, acompanhamos paralelamente a vida e os desafios das duas. E tome receitas gostosas. Tudo com muita gordura e manteiga, um pecado em tempos tão saudáveis. O filme, aliás, é uma ode à manteiga.

Especialista em filmes leves, bobinhos, quase de mulherzinha (que minhas leitoras, se é que eu as tenho, não fiquem bravas com este comentário) como a simpática refilmagem da “Feiticeira” (2005), o terrível e dispensável “Mens@gem para você” (1998) e o apenas razoável “Michael – Anjo e Sedutor” (1996), Nora mantém em “Julie & Julia” seu estilo easy-going, mas constrói um trabalho muito mais saboroso ao ter a ideia de juntar em um único filme dois livros que a inspiraram, “My life in France”, de Julia Child, e “Julie & Julia”, da própria Julie Powell.

O resultado é um filme divertido, bonito e que acredito que vá agradar a todos os paladares.

Espécie de Ana Maria Braga dos anos 50 e 60, Julia Child teve até programa de TV para ensinar as americanas sem-empregada como se deve cozinhar. Depois de “Mastering the art of french cooking”, ela publicou mais 17 livros e morreu em 2004 aos 91 anos. Já Julie Powell, cujo blog “The Julie/Julia Project” ainda pode ser encontrado neste link, se tornou também uma escritora de sucesso e criou outro blog muito visitado e comentado, o “What could happen?”.

Abaixo, alguns vídeos tirados do YouTube só por curiosidade. O primeiro é um trecho do programa da verdadeira Julia Child em que ela ensina a fazer um omelete. No outro, a verdadeira Julie Powell faz um bife que parece muito bom. Bon appétit!


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Uma grande bobagem de Cameron


James Cameron levou 12 anos para fazer um novo filme desde o tenebroso “Titanic” (1997). Tal qual seu último trabalho – sem contar os três documentários que ele dirigiu neste ínterim – “Avatar”, seu mais novo filme, é longo e ruim. Uma grande bobagem feita a partir de muito dinheiro e uma receita de bolo que deu certo em “Titanic” e dará certo agora, não apenas pelo motivo que fez o seu trabalho anterior um recorde de bilheteria, mas pela sabedoria com que ele usou a tecnologia disponível no mercado.

Chamado de revolucionário por alguns críticos, “Avatar” realmente é belíssimo do ponto de vista estético. Ao criar Pandora, o mundo habitado pelos seres azuis de três metros de altura chamados Na’vi (um cruzamento de smurfs com thundercats), Cameron atinge um estágio, até onde eu sei, nunca antes visto na história do cinema (já aviso que não pagarei royalties ao Lula). E imagino que quem assiste ao filme em 3-D, o que não foi o meu caso, deve realmente ficar embasbacado com a beleza daquele planeta desenvolvido por ele e pela indústria de efeitos visuais de Peter Jackson, ele mesmo, o diretor da trilogia do “Senhor dos Anéis”.

Não é apenas a beleza deste mundo que impressiona, mas o cuidado que Cameron teve de criar uma nova raça, fauna, flora, tribos, costumes, religião e até uma linguagem a partir de uma ajuda providencial de alguns lingüistas. Até parece que não apenas o trabalho de Jackson serviu de inspiração, mas o próprio escritor J. R. R. Tolkien, que fez algo semelhante no seu “O Senhor dos Anéis” a ponto de criar mapas para a sua Terra Média.

Portanto um ponto para Cameron nesta árdua tarefa de levar às telas algo que parecia impossível e me arrisco a dizer que até era ao final do século passado. Pelo menos da maneira que ele desejava.

Contudo, se do ponto de vista estético, “Avatar” é impressionante, como cinema é um fracasso retumbante. De todos os US$ 237 milhões usados na película, certamente pouca coisa foi para a composição do roteiro, escrito pelo próprio Cameron. Seu trabalho é de uma profundidade de uma piscina para bebês. Basicamente ele conta a história de um amor que parecia impossível – e obviamente se realizará no final – entre dois opostos num enredo em que encontramos algumas situações-limite. No final das contas, um sacrifício é necessário, mas dentro do possível tudo acaba bem. Falo da história de Jack (Leonardo di Caprio) e Rose (Kate Winslet)? Não. De Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana). Afinal, tire a roupagem e você vê “Titanic” em “Avatar” e vice-versa.

Em meio a isso tudo há um discurso ecologicamente correto bem ao estilo “Uma verdade inconveniente” (2006). Afinal, os humanos querem destruir aquelas florestas para explorar suas riquezas (qualquer semelhança com o petróleo, além de outras preciosidades encontradas na África não é mera coincidência). E eles destroem porque não tem qualquer conexão com a natureza, o que com os Na’vi é algo inclusive carnal, e no planeta deles isso não existe mais. Não esqueçamos que estamos num futuro apocalíptico já tantas vezes explorado por Cameron nos dois primeiros filmes do “Exterminador do Futuro”. O discurso é bonito, mas soa tão risível e pueril que fica difícil levar a sério.

Os trabalhos anteriores de Cameron, aliás, junto com “True Lies” (1994), também estrelado pelo governator Arnold Schwarzenegger, e “Alien” (1986), estrelado por Sigourney Weaver, que retoma sua parceria com o diretor em “Avatar”, são muito mais interessantes do que a badalada e insossa dupla que Cameron criou nos últimos 13 anos. Ou por serem mais criativos ou por apenas se assumirem como mera diversão sem as tintas revolucionárias de maior, melhor e blábláblá.

Analisando o passado, o século passado, é interessante notar que desde “Titanic” Leonardo di Caprio melhorou muito como ator e enfileirou uma série de ótimos filmes e trabalhos – “Foi apenas um sonho” (2008), “Diamante de Sangue” (2006) e “Os Infiltrados” (2006), só para ficar em alguns mais recentes. Kate Winslet ganhou um Oscar de melhor atriz por “O Leitor” (2008) e só confirmou a excelente atriz que é em trabalhos como “Iris” (2001), “Em busca da terra do nunca” (2004), “Pecados Íntimos” (2006) e o próprio “Foi apenas um sonho”. Já Cameron refez “Titanic” em 3-D e com "thundersmurfs". Ops, fez “Avatar”.

“Avatar”, portanto, pode até ser revolucionário para os que gostam de traquinagens eletrônicas, mas para quem gosta de um bom filme é uma bola fora do estádio. Absolutamente dispensável. No entanto, por sua, digamos, “beleza técnica” é pule de 10 para abocanhar a maioria esmagadora dos Oscar técnicos no ano que vem. E só o que ficam são realmente os números para alguém que é especialista neles. Seja a bilheteria de US$ 1,8 bilhão ou as 11 estatuetas de “Titanic”, seja tudo o que “Avatar” conquistará na sua longa carreira nas salas de cinema do mundo inteiro.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Um discaço do Pearl Jam

No mês passado estive aqui comentando o novo e médio disco do U2 lançado em fevereiro. Continuo com a minha mania de falar sobre os novos álbuns séculos depois de lançados com o mais recente trabalho do Pearl Jam, “Backspacer”. Fazer o que? Embora eu já tivesse escutado o disco lançado em setembro umas 15 vezes (fã é assim mesmo), me faltava tempo para teclar algumas palavras sobre o trabalho de Eddie Vedder (vocais e guitarra), Mike McCready (guitarra), Stone Gossard (guitarra), Matt Cameron (bateria) e Jeff Ament (baixo).

Quando saiu, o álbum foi inundado de críticas positivas das mais diferentes publicações, especializadas ou não, como “New York Times”, “Los Angeles Times”, a revista inglesa “Q”, a americana “Rolling Stone”, além do “The Guardian” e da “Spin”. Concordo com todos. “Backspacer” é um discaço nos seus enxutos e bem lapidados 36 minutos e 38 segundos.

Musicalmente é um disco de rock com suas canções mais pesadas alternadas a baladas sem qualquer vestígio do grunge que consagrou o Pearl Jam no seu début em 1991 com “Ten”. Um movimento natural é que já tinha se iniciado há 11 anos com “Yield”.

Suas letras, como os próprios integrantes da banda reconheceram em diversas entrevistas são mais positivas do que nos dois últimos álbuns de estúdio, “Riot Act” (2002) e “Pearl Jam” (2006). Fruto, dizem, da eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos. Eddie Vedder sempre foi um anti-Bush (quem em sã consciência não seria?), a ponto de fazer campanha para os candidatos democratas e declarar na sua visita ao Brasil em 2005 para aquele espetacular concerto na Apoteose que a próxima vez que eles voltassem ao país seria muito melhor porque Bush não seria mais presidente.

“Eu tentei durante anos ser esperançoso nas minhas letras e acho que agora é mais fácil”, disse o cantor ao comentar suas novas composições durante o lançamento do álbum.

Assim, Vedder explica que “Gonna see my friend”, canção que abre com maestria os trabalhos de “Backspacer” é sobre um cara que busca os amigos para se livrar das drogas. Na seqüência, “Got Some”, outro rock inspirado, é sobre um “traficante” que vende, na realidade, grandes músicas, grandes rocks.

Terceira faixa, “The Fixer” é a mais pop do álbum. Tem refrão para grudar na cabeça e aquele “iêiêiêiêiêiê” para levar a plateia a uma esperada interação. É boa canção, mas longe da originalidade - dentro do trabalho do Pearl Jam, que fique bem claro – de “Johnny Guitar”, uma música-narrativa sobre um homem que se apaixona por uma mulher que nunca lhe dará bola.

Após uma parada para respirar com a balada “Just Breathe”, que lembra algumas das boas canções que Vedder compôs em “Into the Wild” (2007), trilha sonora do filmaço “Na Natureza Selvagem” (2007), “Amongst the Waves” surge como uma das mais inspiradas músicas do disco junto com as duas primeiras e “Supersonic”.

“Speed of sound”, “Force of Nature” e a balada “The End”, descrita por Vedder como uma “dolorosa canção de amor”, fecham o álbum com a conhecida competência do Pearl Jam.

Tudo isso faz de “Backspacer” um ótimo disco, que ainda vem com um trabalho multimídia e a possibilidade de baixar um show do grupo pela internet. Não confia em mim por ter dito no início ser fã da banda? Basta procurar as críticas citadas lá no segundo parágrafo ou conferir com seus próprios olhos e ouvidos nos vídeos abaixo tirados de shows da turnê do álbum. Tudo ao vivo, no palco, onde o Pearl Jam é mestre.

"Gonna see my friend"


"Got Some"

"The Fixer"



"Johnny Guitar"

"Amongst the Waves"

"Supersonic"

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Uma escorregada de Almodóvar

Quando um diretor vem numa sequência de bons trabalhos como “Fale com Ela” (2002), “A Má Educação” (2004) e “Volver” (2006), o mínimo que se espera para o seu novo filme é que ele mantenha o mesmo nível. Mas todos estão sujeitos a falhas e é realmente muito difícil manter o nível por quatro filmes consecutivos, ou seis se você entender que “Carne Trêmula” (1997) e “Tudo sobre minha mãe” (1999) também têm seu lugar na história. Eu acho que sim.

Com um passado tão rico, Pedro Almodóvar tinha uma responsabilidade natural a assumir com seu novo filme, “Abraços Partidos”. Mas o que se vê é que dessa vez ele errou um pouco a mão.

“Abraços Partidos” tem tudo o que podemos encontrar numa história típica de Almodóvar, um especialista em melodramas envolvendo desejo, paixão, amor, mas com algum espaço para uma certa dose de irreverência e humor. Outra de suas marcas, o uso das cores fortes, embora feita com mais parcimônia nesta película, também estão ali.

Mas falta inspiração ao roteiro, cujos diálogos parecem até retirados de sobras de outros filmes, como aquelas sobras de estúdio que as bandas lançam no fim da carreira ou como caça níqueis após a morte de alguém. Não têm definitivamente a inspiração de outros trabalhos já citados. São frases e frases de um pragmatismo, digamos, peemedebista.

Também pesa negativamente no trabalho a atuação insípida de Lluís Homar, que vive o diretor de cinema e roteirista Mateo Blanco. Um dos vértices do triângulo amoroso vivido ainda pela secretária e aspirante a atriz Lena (a sempre linda Penélope Cruz, que traz luminosidade a este post com a foto acima) e seu idoso marido, o empresário Ernesto Martel (José Luís Gómez), Homar é constrangedor e transparece uma paixão da mesma forma que alguém aprecia um chuchu, alimento que você come, mas não tem gosto de nada. Isso numa história que foi supostamente vivida com intensidade fugaz e num turbilhão de emoções transgressoras. E como o filme é centrado nele e em suas histórias de amor, fica difícil tirar leite de pedra.

Um pouco mais inspirada (mas só um pouco) está Penélope. A talentosa e, vale sempre repetir, linda (não escondo que ela entra fácil no meu top 10), atriz também vem de três elogiáveis trabalhos - “Fatal” (2006), “Vicky Cristina Barcelona” (2008) e “Volver” -, mas aqui ela também acaba se perdendo ou alternando algumas boas cenas com outras em que é tomada pela irregularidade do trabalho do diretor nesta película.

Na sua quarta parceria com Almodóvar, Penélope, porém, tem estrela para dar ao filme os seus melhores momentos e fica provado que quando ela trabalha com o diretor espanhol, ou na sua língua mãe, atua com mais desenvoltura do que em outros trabalhos como “Vanilla Sky” (2001), dispensável filme em que contracenou com Tom Cruise. Embora o já citado “Fatal”, filmado em inglês, seja uma de suas melhores atuações e aos 35 anos ela seja uma atriz em grande fase que pode, evidentemente, dar suas escorregadas como qualquer mortal.

Fato é que “Abraços Partidos” tem um sabor mais de um amor de verão que vai embora com a chegada do outono do que da picante intensidade que o cinema costuma dar aos seus relatos de triângulos amorosos.

Fica apenas a mensagem de Mateo Blanco, que mesmo das profundezas de uma eterna escuridão, diz que “todo filme precisa ser terminado”, todo trabalho precisa ter um fim (no sentido de finitude e propósito, acrescento) e toda obra merece um ponto final. Mesmo que isto não represente nada além do que um mero ponto final que o jogará no baú da história. É mais ou menos o que pode acontecer com “Abraços Partidos”. Um filme que ficará no currículo de Almodóvar, mas que não deverá ser lembrado como um retrato da possível genialidade do seu cinema.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Comentários e a seleção do Brasileiro

Terminado o Brasileirão é hora de fazer aquele balanço e, claro, a seleção do campeonato. Sabe como é, jornalista não vive sem seleções e listas. É o que ele mais gosta.

É inegável que este foi um dos campeonatos mais emocionantes de todos os tempos que culminou com uma nervosíssima e cardíaca rodada derradeira com quatro clubes brigando pelo título e quatro brigando para não serem rebaixados. Sem contar a disputa pelas vagas na Libertadores e na Sul-Americana. O campeonato também foi tecnicamente bem melhor do que os últimos. Espero que seja um bom sinal e não uma fato isolado.

O título do Flamengo, obviamente, foi merecido. O time foi consistente, levou a melhor contra seus principais adversários na disputa pelo título e contou com o talento de jogadores como Petkovic e Adriano para garantir a taça e quebrar um jejum de 17 anos.

Mais emocionante que a arrancada rubro-negra, por mais dramática, só a tricolor, que saiu de uma situação de rebaixamento iminente no final de setembro para uma seqüência de 12 jogos de invencibilidade que deixou o Fluminense longe da segunda divisão.

Uma arrancada, aliás, que ganhou tons ainda mais heróicos graças a emocionante e devotada paixão da torcida do Fluminense, que fez o impossível para fazer esse time lutar até o fim, festas lindíssimas de emocionar qualquer amante do futebol. Confesso ter deixado algumas lágrimas escorrerem quando a torcida cercou o ônibus do time para “levá-lo” ao Maracanã na decisão da Sul-Americana contra a LDU que qualquer ser racional sabia que era praticamente impossível de ganhar.

Se fosse preciso apontar algum destaque nas arquibancadas, a torcida do Fluminense mereceria um prêmio especial da CBF, do país, o que não pode é deixar passar em branco esse amor sem limites do tricolor pelo seu clube.

O futebol carioca, aliás, se saiu por cima nesta reta final. Nem Flu, nem Botafogo foram rebaixados, o Fla foi campeão e o Rio voltará a ter quatro representantes na Série A com o título do Vasco na Série B. Apesar do retorno do Guarani, os paulistas baixaram um pouco a bola com o rebaixamento do Santo André, os fracassos de São Paulo e Palmeiras, que não souberam vencer na hora H, o desinteresse do Corinthians e o papelão do Santos, só fazendo figuração em toda a competição.

Papelão que tem a ver com a queda dos técnicos-professores Vanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho. Não foi definitivamente o ano deles. Não se encontraram e hoje não disputariam a próxima Libertadores da América. A menos que assumam o Flamengo (improvável, que deve manter Andrade), o Internacional (a procura de técnico), o São Paulo (improvável com Ricardo Gomes lá) ou o Cruzeiro e o Corinthians (impossível com Adilson Baptista, que renovou contrato, e Mano Menezes). Ou seja, a rigor, só tem vaga no Inter.

Com Sport e Náutico rebaixados, o futebol pernambucano fica sem representante e o paranaense fica reduzido ao Atlético-PR com a queda do Coritiba. Já o futebol cearense retorna com o Ceará depois de muito tempo e o goiano passa a ter dois representantes com a subida do Atlético-GO. E em 2010 teremos uma inflação de Atléticos: três.

O ano de 2010 promete e que o Brasileiro seja ainda mais emocionante do que o inesquecível deste ano. Agora vamos a minha seleção do campeonato.

Goleiro: Bruno (Flamengo) - Foi um campeonato em que nenhum goleiro brilhou intensamente e constantemente. Muitos cometeram falhas e fizeram partidas incríveis. Foi a competição em que na minha seleção passaram Victor (Grêmio), Marcos (Palmeiras) e Harley (Goiás). A escolha pelo Bruno, que esteve na média dos outros três, acabou sendo feita por causa de atuações fundamentais na reta final.

Zagueiros: Miranda (São Paulo) e Ronaldo Angelim (Flamengo) – Antes de ter feito o gol do título, Angelim já estava na minha seleção do campeonato por suas sempre constantes e seguras atuações. O mesmo vale para Miranda, que fez um campeonato muito correto, tendo sido ameaçado por Álvaro (Flamengo), que na reta final ajudou a acertar a defesa rubro-negra. Mas preferi manter o são-paulino. Coincidentemente esta é a mesma dupla que estava na minha seleção do ano passado. Dois anos jogando o fino.

Laterais: Vítor (Goiás) e Júlio César (Goiás) – Não é só o Dunga que tem problemas para escolher laterais. Eu também tenho. Apesar da queda livre do Goiás no campeonato, mantive a dupla da equipe de Hélio dos Anjos pelas suas boas atuações no primeiro turno e em parte do segundo turno e pela queda de produção do lateral-esquerdo Júnior César (São Paulo), que vinha fazendo um bom campeonato até a virada do turno. Na direita, Leonardo Moura, que esteve na seleção de 2008, acabou batendo na trave e ficando no time reserva. Suas atuações na reta final foram corretas, mas longe das brilhantes partidas do ano passado.

Volantes – Guiñazu (Internacional) e Diego Souza (Palmeiras) – Sim, eu sei que Diego Souza jogou mais de meia do que de volante, sua posição original, neste campeonato, mas esta foi a única vaga que eu encontrei para encaixá-lo no time. Apesar da titubeante reta final do Palmeiras, ele merece a vaga na seleção por tudo o que fez na maior parte do campeonato (até a metade do segundo turno poderia ser apontado o craque da competição) e pelo golaço que marcou contra o Atlético-MG, num chute de primeira do meio-campo. Foi o mais bonito do campeonato. Guiñazu ficou com a segunda vaga por ser um incansável guerreiro no meio-campo do Inter.

Meias – Conca (Fluminense) e Petkovic (Flamengo) – Souza (Grêmio) fez um campeonato muito bom e Fernandinho (Barueri) foi uma revelação, mas eu fico com a dupla gringa fundamental nas arrancadas de Flu e Fla no Brasileiro. Quando o tricolor estava no bagaço, Conca era frequentemente o melhor jogador do time. E o argentino só cresceu quando o tricolor começou a jogar bola. Pet era um desacreditado até por muita gente na Gávea e conduziu o time ao hexa com brilhantismo e paixão. O sérvio, para mim, é o craque do Brasileirão.

Atacantes – Adriano (Flamengo) e Diego Tardelli (Atlético-MG) – Não teria sido um absurdo colocar o Fred (Fluminense) neste time. Ao lado de Conca, ele foi um dos principais responsáveis pela reação tricolor. Mas acabei preferindo manter Diego Tardelli não apenas porque ele foi um dos artilheiros da competição ao lado de Adriano, indiscutível neste time, com 19 gols, mas porque ele fez mais partidas boas do que Fred, que foi herói na reta final, mas ficou muitos jogos fora por causa de contusões.

Técnico: Andrade (Flamengo) – Aqui também não teria sido absurdo colocar Silas, que fez um grande trabalho pelo Avaí, colocando a equipe catarinense numa incrível sexta colocação, mas pesou na escolha de Andrade o seu também excelente trabalho e o título que encerrou o jejum rubro-negro.

Concluindo: A seleção do campeonato então fica assim - Bruno (Flamengo), Vítor (Goiás), Miranda (São Paulo), Ronaldo Angelim (Flamengo) e Júlio César (Goiás); Guiñazu (Internacional), Diego Souza (Palmeiras), Conca (Fluminense) e Petkovic (Flamengo); Adriano (Flamengo) e Diego Tardelli (Atlético-MG). Técnico: Andrade (Flamengo).

Curiosidade: Em relação a seleção do ano passado só a dupla de zaga se manteve. Lembrando o time de 2008: Marcos (Palmeiras), Leonardo Moura (Flamengo), Miranda (São Paulo), Ronaldo Angelim (Flamengo) e Leandro (Palmeiras, hoje no Vitória); Ramires (Cruzeiro, hoje no Benfica), Hernanes (São Paulo), Wagner (Cruzeiro, hoje no Lokomotiv Moscou) e Alex (Internacional, hoje no Spartak Moscou); Guilherme (Cruzeiro, hoje no CSKA Moscou) e Alex Mineiro (Palmeiras, hoje no Atlético-PR). Técnico: Muricy Ramalho, então no São Paulo, hoje no Palmeiras.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Por que o Flamengo será campeão?

Estamos chegando na última rodada de um dos Campeonatos Brasileiros mais emocionantes de todos os tempos (sorry patrulha do mata-mata) com quatro times com chance de ser campeão: Flamengo, Internacional, Palmeiras e São Paulo, separados por dois pontos de diferença. Se a matemática fria da tabela aponta essa disputa acirrada, dentro do campo o time rubro-negro está com a mão no hexacampeonato (sorry torcida do Sport, mas vocês ganharam uma Série B disfarçada em 1987).

Mas por que o Flamengo é o franco favorito a finalmente encerrar um jejum de 17 anos sem conquistar o principal título nacional? Abaixo eu respondo à pergunta com fatos, números e alguma gaiatice.

* Porque o Flamengo precisa de uma vitória simples contra um Grêmio desinteressado, que não quer dar o título ao maior rival Internacional e jogará sem cinco titulares pelo menos até o fechamento deste post (Fábio Rochemback, Maxi Lopez, Tcheco, Réver e Souza).

* Porque mesmo que tivesse algum interesse na partida, o Grêmio tem a pior campanha do Campeonato Brasileiro fora de casa. Venceu apenas um jogo contra o rebaixado Náutico.

* Porque o jogo é no Maracanã, onde o Flamengo só perdeu uma partida no segundo turno.

* Porque no campeonato que ninguém quis ganhar ninguém foi competente para se manter muito tempo na liderança ou teve poder de decisão na hora H. O Fla só precisará de duas rodadas na frente para levar a taça.

* Porque o Fla tem um dos poucos jogadores do futebol brasileiro que tem um olho na terra de cegos: Adriano. Longe de mostrar o futebol apresentado na Europa, o rei, ou melhor, o Imperador é sem muito esforço e algumas confusões artilheiro do campeonato com 19 gols.

* Porque o Flamengo tem no banco um especialista em ganhar brasileiros. Andrade é pentacampeão como o Fla e pode ser hexa com ele. Ele faturou como jogador os títulos de 1980, 1982, 1983 e 1987 pelo Flamengo e 1989 pelo Vasco.

* Porque Andrade soube armar um time seguro na defesa e bom no ataque e ainda recuperou jogadores desacreditados como Zé Roberto.

* Porque o Flamengo mudou o seu jogo já manjado antes apenas focado em explorar os avanços dos laterais atuando como alas (Leonardo Moura e Juan). Diversificou, criou mais opções e ficou menos previsível, graças, principalmente, aos talentos de Petkovic e de Adriano.

* Porque o clube pela primeira vez soube contratar (e, claro, deu um pouco de sorte). Álvaro e Maldonado foram os principais responsáveis pela defesa do Flamengo ter se tornado mais sólida ficando 12 dos 18 jogos do segundo turno sem tomar gol.

* Porque Petkovic insistiu e praticamente impôs a sua contratação enquanto muita gente na Gávea achava que aos 37 anos ele estava velho para jogar pelo clube e não daria caldo. Rendeu uma feijoada.

* Porque é no meio-campo que se ganha uma partida de futebol e dos times que disputam o campeonato só o Fluminense tem um meioa da qualidade do Pet para armar um jogo e decidir uma partida (no caso Conca).

* Porque fora de casa, o Flamengo ganhou 18 dos 30 pontos disputados no segundo turno, mais do que o Internacional (12 pontos), o São Paulo (10) e o Palmeiras (sete). E num campeonato de pontos corridos é fora de casa que se faz a diferença.

* Porque o Flamengo tem a segunda melhor defesa do Brasileiro com 43 gols sofridos ao lado de Palmeiras e Internacional e com apenas um gol a mais do que o São Paulo. E a tônica dos últimos campeões tem sido esta, ter a melhor defesa.

* Porque o Fla levou a melhor no que eu chamo de “finais invisíveis”, pois perdeu apenas um jogo contra os principais postulantes ao título (2 a 1 para o Palmeiras no primeiro turno). De resto, fez quatro pontos contra o Inter (4 a 0 e 0 a 0), quatro contra o São Paulo (2 a 2 e 2 a 1) e três contra o Palmeiras (2 a 0). Isso foi mais do que suficiente para garantir a vantagem de dois pontos que o time tem agora para os rivais.

* Porque o Márcio Braga está calado e, parafraseando o Romário, o Márcio Braga calado é um poeta.

* Porque provavelmente Galvão Bueno não vai narrar a partida de domingo.

* Porque o Flamengo está há 17 anos sem ganhar o Brasileiro e não há mal que sempre dure. Aliás, este já é o 17º motivo do meu post. Fim de papo no Maraca.

Mas e se o Flamengo não for campeão domingo? Bom, além de ser a maior tragédia da história do Maracanã (nem a Copa de 1950 esteve tão na mão), o blogueiro ficará desmoralizado diante dos seus leitores. Mas nesse campeonato maluco em que eu dei como certo o rebaixamento do Fluminense no final de setembro, já estou acostumado a ser derrubado a cada rodada. Não fui o primeiro, nem serei o último. É por isso que o futebol, para usar um velho clichê, é o esporte mais emocionante e imprevisível do mundo.

sábado, 28 de novembro de 2009

Os bastidores de Woodstock

Depois do excelente documentário “Woodstock” (1970), ficou difícil encontrar o que mais se podia fazer para retratar o mítico festival ocorrido há 40 anos. Se o filme registrava quase tudo o que acontecia no palco e nas suas longas imediações naqueles três dias de paz, amor e música, o cineasta taiwanês Ang Lee precisava buscar um outro olhar sobre o festival que mudou o mundo (da música).

Escolheu os bastidores e contar a história do jovem Elliot Tiber (Demetri Martin), que presidia a Câmara do Comércio de Bethel e resolveu mesmo meio que sem querer realizar o festival na fazenda de Max Yasgur (Eugene Levy) naquele ano de 1969.

Filme mais leve e cômico de Ang Lee, “Aconteceu em Woodstock” não se concentra no óbvio da história do concerto que reuniu craques como The Who, Janis Joplin, Crosby, Stills, Nash e Young e Jimi Hendrix. A música aqui é um eco longínquo que reverbera de um ponto para onde a pequena revolução hippie aconteceu naqueles dias mágicos que quase que por milagre deram certo. Ang Lee, aliás, não lança mão na trilha sonora de nenhuma música conhecida de qualquer artista que tenha brilhado no festival, deixando claro que pretende mergulhar em como aquilo tudo foi feito, nas minúcias daquela loucura.

O seu ponto de partida é exatamente Tiber, um jovem gay que não consegue se assumir diante da ditatorial mãe, Sonia Teichberg (Imelda Staunton), e que numa canetada oferece a Michael Lang (Jonathan Groff) a oportunidade de fazer na sua cidade o tão sonhado concerto depois das rejeições de Woodstock e Walk Line.

A partir deste contato Woodstock é viabilizado e os próximos momentos se ocupam em mostrar em como tudo foi feito. Usando a técnica de dividir a câmera exatamente como Michael Wadleigh fez no seu documentário, Lee mostra a maneira quase improvisada, mas bastante organizada de como tudo foi feito ao mesmo tempo em que expunha o contraponto entre a cultura hippie e a conservadora dos americanos, principalmente de Bethel, que tentaram impedir a realização do evento, mas foram engolidos pela invasão de meio milhão de hippies.

A reconstituição de Lee é bastante fiel ao que é mostrado no documentário. Está tudo lá, mas numa visão bastante idealizada, que é a imagem que Lee já reconheceu que tinha do festival quando tinha 15 anos em 1969. Assim vemos sem preconceito as drogas, as pessoas tomando banho pelada nos lagos, os banhos de lama, os problemas causados pela chuva, que atrasou alguns shows e eletrificou tudo o que fosse feito de metal por perto, os protestos contra a Guerra do Vietnã, a liberdade, o sexo e a diversidade de grupos e estilos que reunia de freiras a motoqueiros naquele estilo Hell’s Angels.

É uma visão um tanto romântica de Woodstock? Sim. Mas os relatos de quem esteve lá nunca foram muito diferentes. Afinal aquele foi um momento único na história da música e da cultura mesmo. E para enfatizar isso, Lee coloca perto do encerramento do seu filme um diálogo bastante pragmático. Quando Tiber já resolvido a se emancipar duplamente da família pergunta a Lang "e agora?", Lang, um dos mentores da ideia de Woodstock, responde: "Agora vem o dinheiro. Todo mundo precisa ganhar dinheiro. Provavelmente vamos processar uns aos outros".

Nada mais correto para um festival que virou uma marca, perdeu aqueles ideais de 1969 e pode até ganhar uma edição brasileira no futuro. O sonho de um mundo de total desprendimento material e muita paz e amor durara apenas três inesquecíveis dias.