domingo, 4 de setembro de 2011

Capitão Piada

Evans estraga o Capitão América
Há alguns anos o signatário deste blog vem acompanhando com ansiedade quase juvenil os filmes baseados em quadrinhos da Marvel com suas conexões que vão desembocar no ambicioso projeto do primeiro filme dos Vingadores. Quase todos eles variavam entre excelentes películas e razoáveis, mas nenhuma delas até aqui tinha sido patética. Pois bem. Na hora de tirar o 10 e deixar o fã dos quadrinhos com água na boca pela chegada dos Vingadores em 2012, a Marvel faz a patetice chamada “Capitão América – O Primeiro Vingador”.

É difícil saber o que é pior no filme de Joe Johnston. Diretor conhecido pelos seus trabalhos em “Rocketeer” (1991), Jumanji (1995), “Jurassic Park III” (2001) e “O Lobisomen (2010), ou seja, nada de relevante, o próprio Johnston é um dos responsáveis por tudo o que dá errado no filme.

Junte isso ao roteiro mequetrefe escrito por Christopher Markus e Stephen McFeeley, que passa a impressão de ser uma mera colagem de alguns quadrinhos do herói em 2h e temos um desastre.

O que transforma o desastre em tragédia? O elenco como um todo seria uma boa resposta, mas vamos nos concentrar no protagonista. O que faz Chris Evans num filme de super-herói? Ele pode, para começo de conversa, ser considerado no mínimo pé frio. Dos filmes sobre quadrinhos que considero ruins, Evans participa de três.  Para quem não lembra, o ator interpreta o Tocha Humana nos dois e ridículos trabalhos do Quarteto Fantástico lançados em 2005 e 2007 e completamente dispensáveis. Agora é o protagonista deste trabalho do Capitão América que quase me faz sentir saudades do filme de 1990. E olha que aquele lá não era grande coisa. E pensar que Johnston praticamente implorou para Evans vestir o uniforme do Sentinela da Liberdade.

“Capitão América – O Primeiro Vingador” era para ser o último estágio antes dos Vingadores. Era para exibir a origem do jovem franzino Steve Rogers, que sonha em se alistar no exército para derrotar os nazistas na Segunda Guerra Mundial e acaba sendo o único experimento acertado do programa do governo americano para a formação de supersoldados.
Hugo Weaving e seu circense Caveira

Por representar esse início, entramos em contato com personagens conhecidos da história do herói como o eterno parceiro Bucky Burnes (Sebastian Stan) – e não acredite que ele morreu como o filme supostamente mostra –, Peggy Carter (Hayley Atwell) e o arquiinimigo, o Caveira Vermelha (Hugo Weaving, numa atuação, para ser educado, lamentável). Em torno deles, orbitará Rogers, que para defender os Estados Unidos com lealdade, justiça e aquele blablablá cívico aceitará passar por todas as provações possíveis.

É verdade que um filme sobre o Capitão América poderia parecer datado. Esse furor patriótico não convence mais muita gente (ainda bem), mas Johnson e a dupla formada por Markus e McFeeley poderiam ter criado um filme com menos cheiro de naftalina. Sem contar que eles têm zero de talento para a comédia (para não falar da falta de timing de Evans). Os diálogos escritos para serem engraçadinhos são na verdade constrangedores.

Paralelo ao enredo da origem do Capitão América, o filme conta a história de parte da organização americana na Segunda Guerra, inserindo aí uma batalha contra uma organização criminosa alemã chamada Hidra, liderada justamente pelo Caveira Vermelha, ele também um supersoldado criado na Alemanha, mas num experimento que deu errado e o fez ficar com aquela cara de caveira que conhecemos.

Mas no filme a Hidra parece mais uma organização chiliquenta com desejos megalomaníacos de domínio mundial no melhor estilo Dr. Evil, o vilão-trapalhão dos filmes do Austin Powers. O Caveira tem até no doutor Arnin Zola (Toby Jones) uma espécie de mini-mim.

Enquanto isso, Evans segue salvando os fracos e oprimidos e de máquina de propaganda começa a se transformar em máquina de guerra, com direito a sair atirando por ai, o que sinceramente não me lembro de ter visto o Capitão América fazer nos quadrinhos. Sua única arma sempre foi a superforça e o escudo. Mas em meio a tantos erros, esse é o menor dos problemas.

Mas de tudo o que vimos em “Capitão América”, o que sobra? Duas coisas. A primeira é a presença interessante de Howard Stark (Dominic Cooper), que vem a ser o pai de Tony Stark (Robert Downey Jr), o Homem de Ferro, mostrando que ele tinha a quem puxar. Tem até uma cena parecida com a que vemos em “Homem de Ferro 2” (2010), quando ele apresenta uma nova invenção num evento público.

A segunda é a cena extra no final do filme, que na realidade é um trailer do filme dos Vingadores quando pela primeira vez vemos todos os heróis juntos. É empolgante. Só espero que Evans não consiga estragar mais esse filme baseado em quadrinhos. Se bem que para cada mancada do ator, sempre existirá neste caso um Robert Downey Jr. para brilhar em cena. E ainda tem Scarlett Johansson como a Viúva Negra, Jeremy Renner como o Gavião Arqueiro, Mark Ruffalo como Bruce Banner, o Incrível Hulk. Um elenco que deve garantir a qualidade do filme. Espero.