domingo, 30 de dezembro de 2007

Tommy Lee e seus homens da lei

Inegavelmente um bom ator, Tommy Lee Jones só tem um problema. Ou melhor, um estigma. Não consegue fugir dos papéis ligados à lei. Quando não é um agente federal em U.S Marshalls – Os federais (1998), é um policial em “Risco Duplo” (1999) ou um militar reformado no caso do ótimo “No vale das sombras”.

Por outro lado, ele também não dá sorte. Quando pegou um papel diferente, como no caso do índio Samuel Jones em “Desaparecidos” (2003), se saiu tão mal num filme tão ruim que ele mesmo deve ter pensado: “Preciso pegar um novo papel de policial”. Foi o que aconteceu no seu filme seguinte, a comédia bobinha “O homem da casa” (2005).

Em “No vale das sombras”, Tommy Lee Jones vive o ex-militar Hank Deerfield que tenta descobrir o paradeiro do filho, um dos muitos jovens jogados no atoleiro do Iraque sem previsão para voltar para casa e nem se voltará em pé como herói ou deitado num caixão.

O que Hank descobrirá é que seu filho sobreviveu fisicamente ao horror da guerra insana, mas psicologicamente ficou marcado até chegar às conseqüências absurdas, mas inegavelmente verídicas num país que só quer saber de mandar seus jovens para o matadouro.

Numa trama bem amarrada pelo roteirista e diretor Paul Haggis, que já ganhou o Oscar pelo roteiro do excelente “Crash” (2004), “No vale das sombras” é um filme que mostra como a América pode destruir uma geração num conflito insensato e sem solução aparente.

Com um desfecho surpreendente para quem está assistindo ao filme, mas perfeitamente plausível nos dias de hoje, “No vale das sombras” é o melhor filme sobre este quase sub-gênero “Guerra no Iraque” que vem sendo produzido nos últimos tempos. É melhor do que “Leões e Cordeiros” para ficar numa comparação mais próxima.

Tudo isso graças não apenas ao excelente trabalho por trás das câmeras, mas também a uma ótima atuação do eterno homem da lei Tommy Lee Jones e sua parceira de cena, a sempre bela e eficiente Charlize Theron.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Uma nova face de Jesse James

Jesse James era um dos mitos do Velho Oeste americano. Apesar de ser um fora-da-lei com alguns assassinatos nas costas, suas histórias – muitas verdadeiras, outras tantas falsas – ganharam ares de lenda e repercutiram no imaginário popular principalmente em músicas e histórias que faziam e ainda fazem parte do folclore americano. Assassinado covardemente por Robert Ford, como deixou bem claro sua mãe em seu epitáfio - “Murdered by a traitor and coward whose name is not worthy to appear here” -, Jesse acabou se tornando um herói de sua época.

É nas contradições, nas dicotomias entre a lenda e o homem que o diretor Andrew Dominik pauta uma nova visão – a 18a em 86 anos, aliás – da vida de um dos maiores ladrões do Velho Oeste em “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”.

Magistralmente interpretado por Brad Pitt, o filme é um faroeste econômico nas ações, mas intenso no drama da vida de Jesse. Longe do bandido carismático e por isso sedutor interpretado por Colin Farrell no filme “Jovens Justiceiros” (2001), a mais recente obra sobre Jesse, Pitt tenta viver o homem por trás do mito. Entender as razões de seus atos e os motivos que o levaram a ser assassinado aos 34 anos por alguém que inicialmente o admirava, posteriormente o temeu e finalmente viu no ato final a chance de se transformar em celebridade.

Para muitos Jesse é uma espécie de Robin Hood americano. Antes um agricultor, começou a assaltar depois da perda de seu rancho para uma companhia ferroviária que queria desbravar o Oeste através de ferrovias intercontinentais, mesmo que tivesse que passar por cima de fazendeiros da região a qualquer custo. Com isso, Jesse emergiu contra as grandes corporações em defesa dos pequenos agricultores. Apesar da “nobreza” de seus atos, ele era essencialmente um bandido. E isso é fato. Mas seu carisma o transformou numa figura palatável para uns e de total admiração para outros.

A história e a inscrição no túmulo de Jesse James contam que o fora-da-lei foi traído por Ford e atingido pelas costas depois que aquele que ficou conhecido como um covarde começou a negociar com o governador do Missouri, Thomas T. Crittenden, a prisão ou morte de Jesse. O importante era entregá-lo, uma vez que a prisão dos irmãos Frank e Jesse James era uma plataforma de campanha. Para Ford e seu irmão Charles restariam a recompensa de US$ 10 mil e o perdão pela morte de Wood Hite, que era da gangue de Jesse.

De qualquer forma, o tiro certeiro e tão indesejado por cada espectador que acompanha o drama de Jesse no cinema sai pela culatra no campo das idéias e Ford, também brilhantemente vivido por Casey Affleck (muito mais talentoso que seu irmão Ben) acaba entrando para a história como o covarde que atirou pelas costas em um homem indefeso, uma vez que Jesse não usava o seu cinto com as armas como o próprio Ford descreveu em carta ao governador.

Ford termina assassinado por Ed O’Kelley, que no filme é tratado como um fã de Jesse querendo vingar seu ídolo, mas diz a lenda que ele foi convencido por um membro da gangue de Ford de que ficaria famoso matando o assassino de Jesse James. Seja qual for a versão, o fato é que O’Kelley entrou para a história como “o homem que matou o homem que matou Jesse James”.

“O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford” agrada a todos os fãs de faroeste que não forem xiitas quanto ao gênero, mas também àqueles que curtem um filme humano, focado nos defeitos e nas virtudes, nas minúcias de um homem que parecia uma lenda pelos seus atos e o mundo completamente diferente que vivia, mas que não verdade viveu entre nós logo ali no século XIX.

Suas fraquezas não o diminuem ou o absolvem de seus crimes, mas é inegável sua condição de herói da América tanto no ato de registrar em foto a sua morte, quanto no corpo congelado para permanecer o máximo de tempo possível intacto ou na romaria que se seguiu à sua casa após a notícia que ele havia sido assassinado.

Como Wyatt Earp ou o índio apache Gerônimo, Jesse James e seu bando fazem parte da história dos Estados Unidos. E os americanos são ótimos para criar mitos, lendas e heróis mesmo numa figura que era, no mínimo controversa.

Uma controvérsia tão bem interpretada por Pitt que faz o espectador querer mudar o curso da história e desviar aquela bala que despudoradamente deu cabo do homem para iniciar o mito americano.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Surrealismo fantástico

Júlia era conhecida por ter uma mente fértil. Sonhava com as coisas mais bizarras do mundo e tinha tiques únicos. Costumava dizer que em seus sonhos as pessoas estavam em corpos diferentes do que os que pertenciam a elas. Sem contar os enredos sem pé nem cabeça que eram elaborados pelo seu cérebro. Mas um dia ela percebeu que seu fantástico mundo de Bobby particular era mais real do que imaginava.

“Ai, que vontade de comer uma bala”, disse ela enquanto se arrumava para deixar sua casa no bairro residencial de Icaraí, Niterói.

Mais uma vez naquela noite, Júlia havia sonhado com coisas estranhas. Pouco usuais como gostava de dizer. Mas já estava tão acostumada que não se incomodava mais com sua cabeça que criava histórias tão intrincadas que mais pareciam um filme de David Lynch. Não via mais problema em ver na sua mente javalis rosas ou gatos que tocam bossa nova.

Naquele dia, no entanto, a história era diferente. Ela estava muito bem acordada ao caminhar na estranhamente desértica Rua Moreira César.

“É muito cedo”, ela pensa enquanto caminha pelo meio da rua – tinha também hábitos pouco usuais – o vento no rosto e a sensação de liberdade em seu genuíno, mas enigmático sorriso.

Enquanto pensava nas balas de paçoca da padaria derretendo na sua boca, Júlia canta “Não é proibido” de Marisa Monte. Adorava essa música que fazia sua cabeça ficar ainda mais povoada de balas e doces.

Mas não era o dia de Júlia. A padaria estava fechada naquela manhã que seria sem balas, mas bastante sortida. É com o desapontamento tomando o seu corpo, porém, que ela resolve voltar para casa.

Retornando por uma quase selvagem Moreira César, onde se podia ouvir o deslocar das folhas das árvores pelo vento e o zunir dos pássaros planando pelos galhos, Júlia avista uma bela, estranha e límpida piscina.

Esquecendo-se que vestia uma até então indevassável blusa branca com pesados jeans, Júlia se liberta dos pré-conceitos e, dona de si, pula nas misteriosas águas que ali surgiram sob o concreto e o asfalto de outrora. Águas surgidas de onde jamais estiveram.

Apesar do excesso de roupa para a ocasião, nada com desenvoltura entre estranhos e belos peixes com penas que pareciam papagaios. Estranhíssimas panteras nadavam pela mesma piscina, passando por ela, mergulhando ou até caminhando por sob as águas.

“Isso só pode ser um sonho. Um lindo sonho, porém um sonho. Mas eu me lembro de levantar hoje cedo. Sair, me vestir. Como poderia ser um sonho? – questionava-se em dúvida se vivia algo real ou imaginário, mais uma criação de sua mente ou a personificação da loucura. Ou seria da razão?

Júlia, no entanto, sabe, ou pelo menos acredita que aquilo tudo é real. Um realismo fantástico como se ela tivesse entrado num livro de Gabriel Garcia Márquez ou numa obra de Salvador Dalí.

De repente, ao longe, ela avista uma criança. Parece alguém conhecido. Quem seria?

A menina se aproxima dela e Júlia a encoraja a pular.

“Não tenha medo. A água está uma delícia. Venha brincar”, diz ela, querendo compartilhar com mais pessoas aquele momento único.

A menina toma coragem e pula. Para a surpresa de Júlia, entretanto, ela não sabe nadar. Não demora muito para a jovem garotinha começar a se debater nas águas, tomar caldos da pantera que constantemente passava por perto em alta velocidade e ser vencida pela falta de força dos seus bracinhos.

Desesperada, Júlia nada podia – ou melhor – conseguia fazer. Ela estranhamente como tudo naquela cidade, naquele momento, não tinha forças para chegar até a criança e salvá-la. O fim parecia tragicamente próximo.

Tragada pelas águas agora traiçoeiras, a menina vê a morte começar a tomar seu espírito. Mas antes que o remorso e a dor eterna da responsabilidade pelo fim de uma vida inocente pudesse ocupar o coração de Júlia, um anjo surgia entre as sombras, por detrás das árvores.

Era Josiah quem pulava nas águas da piscina para salvar a jovem criança e entregá-la nos braços de uma aliviada Júlia, feliz pelo desfecho de uma história que ganhava contornos trágicos, que estava prestes a encontrar um ponto terrível num futuro próximo. Observada pela pantera aquática, Júlia envolve a criança em seus braços como se tentasse protegê-la e compensar a culpa que ainda permanecia em sua mente.

O alívio pelo resgate da menina através do desconhecido anjo foi passageiro. Segundos depois do ocorrido, Karen, a irmã da menina, surgia raivosamente para tomar-lhe a menina de seus braços.

Júlia não teve tempo de se explicar. Procurou testemunhas, mas o anjo partira. Panteras e peixes-papagaios obviamente não falavam. O ódio e o ciúme tomavam de assalto o coração da irmã da jovem criança. Karen não entendia nada, mas simplesmente não gostara do que vira.

Sozinha, completamente molhada e sem as balas que tanto desejava, Júlia tenta esquecer o mau entendido e ir para casa. Ainda olha para trás, mas a menina e sua irmã haviam sumido. Para sua surpresa a piscina também havia desaparecido. As roupas molhadas não a deixavam enlouquecer. Nadara numa piscina no meio da Moreira César com certeza. Não podia ter sido uma ilusão.

Duplamente frustrada, Júlia continuou a caminhar. Perto do prédio alvo com arquitetura neocolonial que morava, ela tropeça e cai. Desperta no chão com uma camisa branca e os cabelos desgrenhados. Não lembrava nada além da dor nas costas causada pela queda. Mas quem a trouxera para casa? O anjo? Ou terá sido um sonho? Lá fora, chove torrencialmente. Segundos depois o despertador toca. Esta na hora de ir para o trabalho. Mas o mistério continua.

This story is dedicated to a good friend, whose dreams inspired me.
PS: Na foto, a obra “Galatéa de las esferas” de Salvador Dalí

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Só os dinossauros trazem a felicidade

Quatro dias depois do show do Police, o Led Zeppelin tocava de novo depois de 27 anos na O2 Arena para um público seleto, que pagou muito caro, um preço que faria os ingressos na Maracanã parecerem uma pechincha. Juntos novamente, o vocalista Robert Plant, o guitarrista Jimmy Page e o baixista John Paul Jones tocaram 16 dos seus muitos clássicos do rock. Quem viu, diz que o maior temor neste retorno, que a voz de Plant já não fosse mais a mesma, foi dissipado lá pela terceira música. Algo entre “Dazed and Confused” e “Black Dog”, acho.

Observando os vídeos do youtube (e tem vários no site sobre este concerto histórico), percebi que Plant está melhor do que eu poderia imaginar. É claro que ele não é mais um garoto e nem tem a voz dos tempos que o Zeppelin podia ser chamado de a maior banda do mundo. Mas o agora sexagenário Plant está cantando bem. O que é uma vitória numa banda como o Zeppelin de muitos agudos e desafios vocais.

É muito bom ver Plant, Page e John Paul Jones novamente reunidos sob o velho Zeppelin, uma das minhas bandas favoritas. Eu espero, tenho esperança, desejo profundamente e clamo por uma turnê mundial que passe pelo Brasil, pois seria a realização de um sonho vê-los tocar ao vivo.

Assistir aos três juntos com Jason Bonham, filho do eterno baterista John Bonham, que morreu em 1980 sufocado pelo próprio vômito, tocando novamente é mágico. Me faz refletir que na música só os dinossauros trazem felicidade. Somente eles têm alguma cara num mundinho muito igual e fútil em que a cada esquina surge uma banda dita maior do mundo.

Enquanto uma gravadora tenta lançar a última moda, o Police arrasta milhões. Quando a última febre é aquela banda do interior de Sheffield dita como a melhor, são os Stones que trazem a glória com seus “Satisfaction” e “Jumpin’Jack Flash”.

O mundo do rock é dos dinossauros porque só eles têm musicalidade. É muito fácil ter uma guitarra nos braços. Difícil é ter uma idéia na cabeça. As bandas de hoje em dia, salvo raras exceções, não tem gosto, não tem cara. Enquanto isso, qualquer um reconhece o som dos Stones, dos Beatles, do Pink Floyd, do The Who, dos Doors ou do Led Zeppelin.

Poucos conheceriam os grupos que não saem dos jornais hoje, tidos e havidos como a maior sensação, mas que eu não entendo como até agora não lançaram discos clássicos, álbuns obrigatórios em qualquer discografia roqueira.

Enquanto isso, Plant faz a pose que conhecemos e o ar de desprezo para cantar “Stairway to Heaven” e “Kashmir”. E o mais importante. Solta a voz em “Whole Lotta Love” e “Rock and roll”. Page, com um sobretudo e os cabelos brancos que só reforçam seu ar de mago do guitarra, um dos gigantes a já ter empunhado esse instrumento, sola como um garoto.

The song remains the same e que mais shows do Zeppelin surjam. Que uma turnê mundial venha e que o velho Zeppelin voe até o Brasil para seus fãs ávidos por ver uma megabanda que nunca pisou no país.

Clássicos e mais clássicos, o Zeppelin tocando “Black Dog”, “Stairway to Heaven” e “Rock and roll”:






domingo, 16 de dezembro de 2007

De volta a Seattle

Para muitos o tempo é um detalhe. Por mais distante que o movimento grunge de Seattle tenha sido pulverizado com o tiro na cabeça de Kurt Cobain em 1994 e dos caminhos diferentes que seus principais expoentes tomaram após aquela bala – o Pearl Jam passou a fazer um rock, rock mesmo, digamos assim, o Alice in Chains desapareceu na poeira, mesmo caminho tomando pelo Soundgarden e o Mudhoney sempre foi mais alternativo e tratou a música como bico – ainda é possível em um show aqui e outro acolá que remeta aqueles tempos, ver os velhos tênis all-star e as camisas de flanela.

Reminiscências à parte e a caráter ou não, aqueles que encararam o temporal bíblico que desabou na última quarta-feira, enfrentaram a ressaca pós-Police e o engarrafamento absurdo para chegar ao Citibank Hall não se arrependeram e viram um showzaço do cantor Chris Cornell, a voz dos finados Soundgarden e Audioslave, esta uma banda mais recente formada por Cornell e os integrantes do Rage Against the Machine que lançou três excelentes discos, mas se separaram por “conflitos de personalidade”, segundo atestou o próprio cantor norte-americano. Para mim isso é, junto com as famosas “divergências musicais”, sempre um sinônimo para saíram na porrada.

Os antigos companheiros acabaram voltando para os braços do vocalista Zack de la Rocha, com quem tiveram “divergências musicais” e também políticas no passado para retomarem o Rage Against.

Em 2h30m, Cornell cantou, para delírio de seus fãs, músicas como “Outshined”, “Fell on black days”, “Rusty Cage”, “Burden in my hand” e “Black Hole Sun” do Soundgarden e “Like a Stone”, “Cochise”, “Show me how to live” e a cantada em coro “Be Yourself”, dos tempos de Audioslave. Além de “Hunger Strike”, do Temple of The Dog, projeto que envolvia o Soundgarden e o Pearl Jam para lançar bandas novas de Seattle. Ela foi igualmente cantada em coro e verdadeiramente emocionou os quase quatro mil presentes.

Sua bela e inconfundível voz, seu jeito meio introspectivo, o estilo um tanto desleixado é contrastado com a energia de uma grande apresentação. Claro que ajuda a boa banda que o acompanha nesta sua empreitada solo depois de dois projetos que fracassaram precocemente. Apesar do erro de um dos guitarristas da banda no solo de “Be Yourself”. Mas é perdoável. Nem todo mundo pode ser Tom Morello.

Ao contrário do Police, no entanto, e sem qualquer crítica à banda de Sting, Cornell tinha algo a mostrar. As mais recentes canções de “Carry On”, seu segundo disco solo (o primeiro é “Euphoria Morning” de 1999), como “No such thing” ainda não estão na boca do povo, mas são boas. Não têm potencial de hits como nos seus melhores momentos, mas agradam aos seus muitos fãs que estiveram na casa de shows da Barra da Tijuca.

A mais conhecida é “You know my name”, a única coisa que presta no filme “Cassino Royale” do fracassado Daniel 007 Craig. Uma música até esperada pela galera e que levou Cornell a obviamente puxar a sardinha para a sua brasa.

O cantor lavou a alma da galera e se permitiu até algumas experimentações como um longo set acústico em que se destacaram uma versão de “Like a Stone” e um pitoresco cover de “Billie Jean” de Michael Jackson, que foi gravado para “Carry On”. Embora goste de todo o disco “Thriller” de Jackson, confesso que achei meio estranho. Mas teve gente que até dançou na platéia.

E o melhor de tudo é que todo o show de Cornell foi feito num som que se não estava impecável, ao menos melhorou consideravelmente em relação à última vez em que estive no Citibank Hall, em abril, para o show do Velvet Revolver.

Não sei o que a nova administração fez, mas a acústica do lugar melhorou bastante. Com um pouco mais de atenção dava para ouvir até o baixo, distinguir o som das duas guitarras tocando juntas e, o mais importante, ouvir Cornell cantando no tom certo, nem muito baixo, nem muito alto em relação aos outros instrumentos. Parece que a casa está aprendendo que o fã de rock gosta de qualidade no som.

No fim, depois de gastar seu repertório com o que tinha de melhor, Cornell ainda colocou mais uma vez a galera no bolso com uma pesadaça versão de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin. Na semana em que a velha banda inglesa voltava para se apresentar na O2 Arena, em Londres, foi um breve consolo de quem vira um belo show e agora sonha em ver Robert Plant e Jimmy Page ao vivo e juntos novamente.

Três dos grandes momentos do show. Chris Cornell canta “Hunger Strike”, “Be Yourself” e “Black Hole Sun”.






segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A magia de uma megabanda

A introdução de “Message in a bottle” é o estopim que marca o fim de 25 anos de espera para muitos dos 74 mil espectadores presentes no Maracanã no sábado. Outros tantos não eram sequer nascidos, mas sonhavam com aquele momento desde que foi feito o anúncio de que o The Police tocaria no Brasil 25 anos depois do show que acontecera no Maracanãzinho.

Se no último show eu tinha apenas um mês de vida, neste piso o sagrado gramado do Maracanã para assistir a um dos maiores espetáculos do ano capitaneados pela guitarra do agora sessentão Andy Summers, pela bateria de Stewart Copeland e pelo baixo e voz de Sting, estes dois na faixa dos 50 anos.

E tudo começa com “Message in a bottle”. Poucas bandas podem iniciar um show com um de seus maiores clássicos e segurar a barra por quase duas horas sem que a apresentação caia de qualidade. O Police é uma delas.

Sting e seus dois parceiros envelheceram bem e parecem ter voltado melhores do que no passado para a nova turnê que marca o reencontro do grupo. Sem um novo álbum para apresentar, o show é uma compilação de clássicos emendados a cada cinco minutos – ou um pouco mais do que isso quando é permitido a Summers voar alto em solos tão espetaculares quanto inesquecíveis.

Nada de novo. O Police é mais e melhor do mesmo. Com um baixo gasto, arranhado, riscado e velho, esta pequena rima mostra que a saudade que Sting sentia por voltar a tocar com os antigos companheiros aparentemente era maior ainda do que a que ele dizia sentir pelo Brasil. Nem parece que se passaram mais de 20 anos desde o último show do trio. A sintonia é fina, cada um tem o seu espaço para brilhar num equilíbrio, uma harmonia própria das megabandas.

E com apenas os cinco discos lançados nas décadas de 70 e 80 – “Regatta De Blanc” (1979), “Outlandos D´Amour” (1979), “Zenyatta Mondatta” (1980), “Ghost in the Machine” (1981) e “Synchronicity” (1983) – o Police volta a ser uma megabanda. Conceito presente tanto na qualidade dos seus três músicos quanto na superestrutura do show que compensa, com o perdão do trocadilho infame, “every little cent spent for the ticket” porque “every little thing they do seems to be magic”.

Não há musica ruim no repertório que a banda apresenta. De clássicos como “De do do do De da da da” e “Don´t stand so close to me” a outras músicas menos cantadas, mas igualmente apreciadas como “Walking on the moon”, “Driven to tears”, “Wrapped around your fingers”, “When the world is running down” e “Invisible Sun”, cada canção é como se fosse um clássico do rock.

Sim, rock, essa palavra é absolutamente presente no show do Police. Apesar do aquecimento com “Get up, stand up” de Bob Marley, o tom “reggaezístico” aparece pouco. É Summers com seus solos incrivelmente apreciados nos telões de altíssima definição, um paraíso para os estudantes de música, em especial guitarra, quem dá o tom do espetáculo.

Para apreciar tudo isso um som limpíssimo, no volume certo que no Rio aparentemente só conseguimos ter em shows ao ar livre, apesar do elogiável esforço de casas como o Vivo Rio e o Canecão. O Citibank Hall continua uma tragédia.

Inebriante é uma definição bastante apropriada para o espetáculo do Police que quando toca “Roxanne” comprova novamente sua popularidade no país empurrando o Maracanã inteiro a cantar pelo amor da prostituta que “don´t have to put on the red light”.

“Roxanne” termina a primeira parte do show. Quando o Police retorna é para cantar o contraste da extrema felicidade de seu público – o de verdade, aliás, não o vip que só atrapalhou os verdadeiros fãs da banda como aconteceu no show dos Stones – com “King of pain”.

“So Lonely” e “Every breath you take” encerram um fantástico espetáculo, mas Summers faz graça. Pede mais uma. Não sei se estava no roteiro, se a banda estava realmente emocionada, ou as duas coisas. De qualquer maneira, Sting, que canta soberbamente na 1h50m de show, e Copeland retornam para encerrar de vez o espetáculo com a ótima “Next to you”.

Uma apresentação mágica, histórica e inesquecível em uma noite que já fora iniciada com um excelente show do Paralamas do Sucesso acompanhado pelo eterno guitarrista do Sepultura Andreas Kisser. Um show de peso só com clássicos da banda de Herbert Viana.

Há algumas semanas eu disse que o ingresso do Police era um assalto de tão caro. Mantenho a minha opinião, mas foi um delicioso assalto. Uma noite daquelas de guardar lembranças do show e do Maracanã para contar aos netos como relíquias da memória, pois pode não haver oportunidade semelhante.

Dois momentos especiais: “Message in a bottle” e “Every breath you take”:




sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A riqueza é dourada

Ser louro deve significar status ou mais dinheiro no bolso. É a única explicação que encontro para ver tantas louras na Barra da Tijuca. A Barra é a maior concentração de louras por metro quadrado. É aparentemente um bairro onde a “louritude” é condição sine qua non para ser aceito. Deve ser o paraíso do Fausto Fawcett.

Seria exagero dizer que a Barra é o ideal nazista sendo aplicado, apesar de volta e meia algum pitboy morador daquelas bandas se meter em confusões e/ou maracutaias. Não dá para dizer que exista uma raça pura na Barra porque quando estive lá essa semana ainda encontrei algumas poucas morenas. Negras? É artigo de luxo na Barra.

No bairro que até mendigo é louro (sim, eu vi) seria possível se sentir na Suécia não fosse pelo calor e pela falta de educação de um ou outro. Coisa típica de brasileiro, mas ainda assim as ruas da Barra são mais limpas do que boa parte da cidade.

Não importa se outros cabelos confirmam ou não a louritude. Vale o que se vê e ser loura é a última moda no bairro. Mas não são só os cabelos que fazem do local um mundo fora da realidade. Não existe mulher feia na Barra. Pode ter umas mais ou menos, outras mais ajeitadinhas. Pode ter até uma que não se nutra alguma simpatia, mas baranga não tem. O mercado de academias deve ser efervescente na Barra.

Um mercado pulsante para atender a todas as louras As que saem da loja de biquínis com seus celulares rosas, as que comem comidas saudáveis no restaurante da rua, as que caminham de um lado para o outro. E até as que jogam água em você para limpar o vidro do carro. Definitivamente, a riqueza é dourada. Do corpo a cabeça.

Claro que isso tudo é fruto de dois dias de observação de um bairro que nunca freqüento. Mas entrando na Barra com seus prédios jeitosinhos, seus jardins arrumadinhos e um manancial de louras eu me senti no mundo da Barbie. Ainda bem que voltei para Niterói.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Ser pai

Ter uma das minhas amigas mais próximas grávida me fez pensar em coisas diferentes do que apenas querer derrubar o Lula (embora eu continue desejando isso). Como seria o pai Marcelo? Como seria um filho meu no mundo? Como seria o mundo com um filho meu?

Claro que isso está muito longe de acontecer. O FBI, a CIA e os espólios da KGB ainda não precisam se preocupar. Até porque sequer namorada eu tenho. Mas é de estremecer o planeta a possibilidade de um dia eu vir a ter um herdeiro. Ele daria continuidade à minha parca obra? Tornaria-se um revolucionário ou um mero pagodeiro?

Dúvidas, muitas dúvidas. Se ele me puxasse certamente seria muito chato. Há quem diga que os filhos superam os pais. Ou seja, ele seria extremamente chato, por vezes pedante e muito, mas muito crítico. Tenho pena de atores e diretores de um futuro que tivesse o meu filho como personagem. Enfim, ele seria insuportável, mas por causa dessas, digamos, qualidades, poderia até se tornar um gênio. Se puxasse a mãe, bem, essa resposta prometo dar daqui a alguns anos.

Mas a pergunta que você deve estar questionando é: Esse louco preferiria menino ou menina? Bem, nunca neguei que adoro estar perto de mulheres, cercado por elas. A proporção de três ou quatro para um é a que mais me agrada. Não é à toa que a minha agenda tem mais números de mulheres do que de homens (sem conotações sexuais, por favor, sou um cavalheiro).

Portanto, não seria nada mal ter uma menina geniosa para abrilhantar esta família hipotética. É quando presencio o seguinte diálogo envolvendo três adolescentes no McDonalds do Rio Sul enquanto espero um excelente filme sobre o qual falarei no próximo texto.

“O Kevin é lindo, mas é muito galinha. Ele trocou a mulher dele pela psiquiatra. Vocês podem acreditar?”

“Vocês já viram as fotos do casamento do Nick? E as imagens? Elas estão no Youtube. São lindas, a noiva com aquele vestido”.

“Pois é, e a gente quase não vê fotos do casamento do Brian. Eu só vi duas, iguais, com a noiva com aquele vestido que mais parece a cortina lá de casa”.

“Gente, o AJ é muito esquentado. Eu adoro ele, mas ele é muito bravo. Mas no vídeo ele faz aquela carinha... Eu acho que ele chega a chorar”.

Definitivamente ter uma filha adolescente fazendo fofoca dentro de uma lanchonete que vende fast food sobre a vida pessoal de integrantes de boys bands seria de causar um tremendo desgosto para qualquer pai. Talvez, quando (e se) a hora chegar, seja melhor eu aceitar ser maioria uma vez na vida.