segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um sobrevivente

Scott Weiland é daqueles cantores de rock que foram até o fundo do poço e voltaram algumas vezes. É certamente um sobrevivente dada a quantidade de drogas que ingeriu nos seus 43 anos de vida. No início deste século, ele resolveu tentar dar um jeito na vida e largar as drogas, embora por vezes tivesse recaídas. Mas foi um Weiland aparentemente limpo que aportou no Citibank Hall há três anos para um show como vocalista do Velvet Revolver dos ex-Guns 'N’Roses Slash, Duff e Matt Sorum.

De 2007 para cá, porém, Weiland perdeu um irmão por overdose, se separou da mulher e ainda foi diagnosticado com transtorno bipolar. Com tanta crise praticamente junto, era natural que desabasse mais uma vez. Há três meses o Stone Temple Pilots anunciou que estava reagendando alguns shows nos Estados Unidos e que a banda faria uma breve pausa. Isso aconteceu poucos dias depois de Weiland declarar que tinha voltado a beber.

“Eu comecei a beber de novo. Meu irmão morreu, eu me divorciei da minha mulher e todo o meu mundo basicamente girava em torno disso. Então quer saber? Vou tomar conta de mim porque é o que eu preciso fazer. Ao invés de fazer uns poucos shows, eu quero fazer toda a turnê com todos os shows”, disse na época.

Sabendo disso, fica fácil entender porque após as quase duas horas de uma comedida performance do cantor (embora, por mais paradoxal que seja, a apresentação da banda como um todo foi incendiária), agora novamente de volta ao Stone Temple Pilots, no sábado, no Circo Voador, ele fez o sinal da cruz e apontou para cima como um ferrenho devoto de Cristo.

Não, Weiland não virou um cristão, mas aquilo foi quase um desabafo. Um “eu consegui!” para si mesmo numa batalha interna que o cara vem tendo há alguns anos e que já o fizeram colher algumas derrotas. Dizem que ele foi expulso do Velvet por ter voltado a usar drogas. Embora outros boatos digam que os outros integrantes é que voltaram a usar drogas.

Fofoca ou não, fato é que Weiland voltou a se reunir com os irmãos Robert DeLeo (baixo) e Dean DeLeo (guitarra) e o baterista Eric Kretz para relembrar os velhos tempos e, claro, lançar um disco novo. “Stone Temple Pilots”, o álbum, é o motivo que fez a banda aportar na América do Sul neste mês e pela primeira vez no Brasil para um show daqueles incríveis que o Rio sempre precisa.

Aparentando estar um pouco mais gordo do que em 2007 e certamente menos performático do que o usual, Weiland ainda assim é um frontman de respeito e que magnetiza a platéia. Quando ele pega o megafone para anunciar que o bonde do STP está no palco com “Crackerman”, a galera está junta dele e não sairá mais nas próximas duas horas em que a banda atacou de clássicos como “Interstate Love Song”, “Sex Type Thing”, “Dead & Bloated”, “Trippin’ on a hole in a paper heart”, e, acima de todas, “Plush” e mostrou canções do disco novo, caso das boas “Between the lines”, “Cinnamon” e “Huckleberry Crumb”.

Teve espaço até para um festejado cover do Led Zeppelin (“Dancing Days”), influência da banda que pode ser vista até, como bem observou uma amiga minha que também acompanhava o show, nos trejeitos de Dean, guitarrista que bebia direto na fonte de Jimmy Page.

No palco, Weiland e banda não fazem muita questão de falar português (foi apenas um único obrigado no show), mas fazem o jogo de cena de nove entre dez grupos ao estender uma bandeira do Brasil e conquistam a galera quando o baixista resolve, ao violão, antes do bis, tocar “Garota de Ipanema” para uma platéia que responde cantando a letra imediatamente. Uma atitude simpática, mas nesse momento todos já estavam no bolso do STP.

Ficou apenas a sensação de que o Circo Voador, embora um bom lugar para shows, era pequeno para a platéia ávida por ouvir o Stone Temple Pilots pela primeira vez. Com a mesma fé que Weiland demonstrou ao apontar para o céu quase duas da manhã, os fãs só rezam para que não demore tanto para eles retornarem ao Rio.

Abaixo o set list e alguns bons momentos do show de sábado.

Crackerman
Wicked Garden
Vasoline
Heaven and hot Rods
Between the lines
Hickory Dichotomy
Still Remains
Cinnamon
Big Empty
Dancing Days (cover do Led Zeppelin)
Silvergun Superman
Plush
Interstate Love Song
Hucleberry Crumble
Down
Sex Type Thing
Dead & Bloated

Trippin’ on a hole in a paper heart

Crackerman

Plush

Sex Type Thing

Interstate Love Song

Trippin' on a hole in a paper heart

Wicked Garden

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