domingo, 12 de dezembro de 2010

Um assassino em crise

Melhores são aqueles filmes que você vai ver despretensiosamente e de repente deixa o cinema muito satisfeito. Recentemente vi uma dessas películas pelas quais não dava nada, que estava aí passando em um cinema meio poeira perto de você e, what a surprise!, que belo filme.

Segunda aventura cinematográfica de Anton Corbijn - a primeira foi “Control”, de 2007, sobre a vida do vocalista do Joy Divison, Ian Curtis, trabalho que ainda preciso ver – “Um homem misterioso”, título em português horroroso para “The American”, conta a história do assassino solitário Jack (George Clooney) que basicamente deseja mudar de vida.

Quer largar essa coisa de matar pessoas e intermediar venda de armas para construir uma família, quem saber ter filhos, essas coisas de gente normal. Refletindo agora, ele é quase um “Comer, Rezar, Amar” para machos alfa. Tá, desconsiderem a afirmação, pois vão acabar sentindo rejeição pela película sem nem vê-la.

Mas é mais ou menos isso o que acontece. Desolado e com a vida sem sentido e em busca de um amor verdadeiro, o já velho e quase ultrapassado Jack se vê perto desse eldorado particular numa casinha isolada no meio do nada e envolta em muita neve. Lá dentro a lareira e o amor a aquecer o seu gélido e romper o seu rochoso coração. Só que ele não contava com uma máfia sueca que o fez revelar sua real identidade e posteriormente o forçou a matar a moça.

Com o patrão cobrando a entrega de uma encomenda e os suecos na cola, ele parte para a Itália onde encontra no interior, no meio de montanhas, uma cidadezinha que tem a sua cara. Um vilarejo com tanta culpa quanto a necessidade de redenção que ele e todos ali desejam e onde não há santos. Nem o padre Benedetto (Paolo Bonacelli) que serve de amigo e confidente informal.

Jack sente-se em casa e se permite até a dar uma nova chance a si mesmo com a prostituta Clara (a maravilhosa Violante Placido), outra desajustada carente que anseia pela oportunidade de mudar de vida. Jack, Clara e o vilarejo se completam num quase conto de fadas do purgatório.

Mas no meio de tudo isso havia o chefão Pavel (Johan Leysen), a assassina contratada Ingrid (Irina Bjorklund) e suas dificuldades serão maiores ao passo que a felicidade fica muito distante para pecadores como ele.

Diretor mais conhecido por trabalhos musicais com U2, Depeche Mode e Metallica, Corbijn utiliza por mais paradoxal que seja o silêncio como arma estilística do seu trabalho. A praticamente ausente trilha sonora em “Um homem misterioso” mostra muitas coisas. Desde a sensação de deslocamento até a dor de Jack. Denota o suspense de algumas cenas e transpira a culpa e o peso de uma cidade supostamente cercada de fé, mas mergulhada em muitos pecados.

E é claro que o fim cortante desse drama teria que ser do mesmo jeito. O silêncio é arma que amplifica a dor de quem não tem esperança porque é tarde demais para recomeçar.

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