segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Uma Alanis melhor a cada show

Por coincidências do destino, facilidades no tempo-espaço, sorte ou apenas questões de contemporaneidade, a cantora Alanis Morissette é a artista que eu mais vi ao vivo. Foram três shows ao todo nesta minha (acho que já posso dizer) vasta carreira de concertos nos últimos 11 anos.

Dez anos separaram a primeira apresentação da cantora no Brasil no dia 29 de novembro de 1999 durante a turnê do disco “Supposed former infatuation junkie” (1998) até o show do último dia 4, quando Alanis desembarcou para mais uma etapa de sua longa turnê nacional (são 11 shows ao todo) para divulgar seu mais recente trabalho, “Flavors of Entanglement” (2008).

Exatamente por poder comparar os dois shows com o de 27 de setembro de 2003, quando ela esteve no país para divulgar “Under Rug Swept” (2002) – realmente seus discos são de torcer a língua para falar, assim como muitas de suas letras – é que posso dizer que Alanis está melhor a cada show.

Se em 99, ela, então uma jovem de 25 anos, veio para cantar com fúria todas as dores causadas por ex-namorados presentes no disco que divulgava e principalmente no clássico “Jagged Little Pill” (1995) e em 2003, já com 30 anos, já era um cantora mais calma, mas que ainda despejava algum peso nas suas interpretações, o show de 2009 foi marcado por um equilíbrio e um domínio da sua voz, do palco e da situação que são marcas de um amadurecimento como cantora.

Aos 34 anos, Alanis canta cada vez melhor e faz um show cada vez melhor. Em 1h40m (podia ter cantado um pouquinho mais hein), ela balança a cabeça e anda pelo palco de costas e cantando quando tem que fazer, principalmente quando manda algumas das músicas de “Jagged Little Pill” como “All I really want” e a sempre ótima “You oughta know”, parece possuída quando deve parecer (“Uninvited”) ou fica quietinha cantando num ritmo mulher satisfeita como em “Hands Clean”. Houve espaço até para um pequeno set banquinho e violão, mas nada acústico, onde se destacou a bela “So Pure”.

Alanis é dona do pedaço e conta, claro, com uma platéia ávida para cantar junto com ela. Coisa que ela não consegue com as canções do novo disco, embora muito boas. “Versions of Violence”, “Underneath” e “Moratorium” (esta espetacular), têm recepção não mais do que burocrática. Em tempos em que não se fabricam mais hits, pois não se vende mais discos nem se divulga (ou “jabaliza”) canções nas rádios, realmente é difícil surgirem novos versos que fiquem na cabeça da platéia. Além da dificuldade natural de cantar uma letra de Alanis Morissette.

Quem conhece, sabe do que estou falando. Escrever simplesmente love, faith ou hate não faz parte do estilo Alanis de ser. Quem é fã do Pearl Jam também entende muito bem o que estou dizendo.

Ainda assim, quando “Jagged Little Pill” “subia ao palco” – e foi sete vezes no total – a galera se soltava. “Head over feet” e “Hand in my pocket” foram dois momentos emocionantes. Não mais, porém, do que em “You Learn” e “Ironic”, já no bis com a galera pedindo mais e mais.

Conta nesta evolução de Alanis no palco o fato de ela no momento estar acompanhada de uma ótima banda. Se nos seus dois shows anteriores, ela era a estrela absoluta, agora, tem músicos que brilham intensamente ao seu lado. Os guitarristas David Levita e Jason Orne, o baixista Cedric Lemoyne e o baterista Victor Indrizzo formam uma cozinha de respeito, o que os torna coadjuvantes de luxo da estrela da noite. E eles dão essa impressão logo no início da noite no HSBC Arena, quando são tocadas “The Couch” e “Uninvited”. Alanis nunca teve nos outros shows uma banda tão boa quanto agora.

Além disso, Alanis hoje tem um repertório maior do que em outras oportunidades. Já são cinco discos de estúdio – além dos já citados, há o So-Called Chaos (2004) – uma coletânea e dois acústicos. Como o tempo do show dela (infelizmente) não aumentou, ela só canta a nata. Embora deixe de fora músicas que eu gostaria de ouvir de novo, como “Joining You”. Na HSBC Arena, ouve quem lamentasse não ouvir “Perfect”. É natural. Sempre vai faltar alguma coisa, mesmo que a apresentação tivesse três horas de duração.

Por causa de tudo isso, portanto, é extremamente prazeroso voltar a ver Alanis no palco. Não são muitas as cantoras tão capazes quanto ela. Só espero que não demore novamente mais cinco anos para voltarmos a recebê-la no Brasil.

Abaixo, alguns dos melhores momentos do show:
"You Learn"

"You Oughta Know"


"Uninvited"


"Head Over Feet"


"All I Really Want"


"Moratorium"

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