
Hoje um futuroso técnico de futebol a comando do Fluminense, Renato provavelmente não se criaria como jogador. Primeiro porque o dito profissionalismo, mais conhecido como comportamento robótico, não permite mais, aparentemente, jogadores de personalidade e que pensem. Esse mesmo profissionalismo religioso e sacal de discursos iguais e pouca criatividade impede a criação de jogadores boêmios e mulherengos e personagens interessantes como Renato foi. Só vale aquela coisa de grupo unido, etc e tal.
Não me entendam mal. Não acho que clubes não tenham que ter hierarquia e nem que os atletas, desculpem, jogadores de futebol, não tenham que respeitar regras, cumprir horários e etc. Mas hoje eles são mais adestrados do que treinados numa cartilha tacanha seguida pelos doutores-professores-treinadores de futebol. Categoria, aliás, que Renato não faz parte.
Mas este não é o assunto deste texto. A questão principal é a seguinte: depois dos treinadores, agora é a Comissão de Arbitragem da CBF que resolve colocar antolhos nos jogadores. Seu presidente, Sério Rezende, resolveu proibir a irreverência no futebol.
Como se não bastasse a arte estar cada vez mais maltratada e a violência estar correndo solta por causa de árbitros frouxos e/ou ruins, agora é proibido sorrir, provocar o rival. É tudo proibido. Fez o gol volta para o seu campo ou faz aqueles ridículos coraçõezinhos com a mão. Também é possível dar um tchauzinho, mas só para a sua torcida. Dancinha não pode. Mandar a torcida se calar é passível de cartão amarelo. Mas dar uma tesoura voadora está tudo bem, acredito eu.
A coisa é tão surreal que até o técnico de Portugal, Luís Felipe Scolari, que não é bem um entusiasta da alegria e da irreverência no futebol, reclamou da censura imposta pela Comissão de Arbitragem. Vamos deixar bem claro. O técnico que já foi flagrado mandando jogadores seus agredirem os adversários, reclamou da orientação que a Comissão deu aos árbitros. Realmente alguma coisa está fora da ordem.
A julgar pelo Sérgio Rezende, jogadores como Viola e Túlio hoje não teriam nenhuma vez. Suas comemorações irreverentes seriam consideradas violação grave passível de punição do “poderoso” Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Ainda bem que o Thierry Henry não joga no Brasil. Suas comemorações com cara de mau dos tempos de Arsenal seriam consideradas crimes inafiançáveis.
A culpa disso tudo é de um jogador do Avaí, que no clássico contra o Figueirense pelo Campeonato Catarinense ao fazer um gol mandou a torcida adversária se calar, virou de costas para ela e mostrou o número da camisa. A torcida não gostou, o time adversário também e iniciou-se uma briga generalizada. Daí a Comissão de Arbitragem proibiu certos tipos de comemoração.
Imagine uma cidade pequena. Agora pense no seu maior banco. Imagine que este banco dessa cidadezinha vem sendo constantemente assaltado e para solucionar o problema o prefeito resolve simplesmente fechar o banco, impedindo que seus correntistas retirem dinheiro e façam suas operações. Foi o que a CBF fez. Ao invés de cobrar segurança e justiça do Estado, exigindo que prendessem os vândalos e bandidos que infestam os estádios, ela resolveu impedir que o futebol tenha uma de suas coisas mais legais: a irreverência.
2 comentários:
A verdade é que tudo hoje em dia anda chato pacas. O futebol não foge à caretice, evidentemente. Com muitos menos neurônios e talento que em outras épocas, e isso é que quebra para quem tem só 24 anos... abs, fábio balassiano
Para quem tem só 26 também...
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