quinta-feira, 10 de abril de 2008

Uma grande noite do Senhor das Trevas

Confesso que temia pelo pior. Embora sempre fosse um sonho ver Ozzy Osbourne tocando ao vivo, suas recentes aparições como um indivíduo sequelado e pau-mandado da mulher Sharon aliadas às décadas de muito “fucking crazy”, drogas e rock and roll me fizeram esperar menos do que se podia por aquele que é conhecido como o Senhor das Trevas.

A voz é a primeira a pedir arrego depois de décadas de loucura e eu não esperava um Ozzy cantando perfeitamente. Mas queria vê-lo assim mesmo. Louco, com sua risada demoníaca e pedindo para a galera: “are you gonna fucking crazy?”.

E no palco o que eu vi foi um Ozzy Osbourne dominando cada alma da apaixonada platéia que enchera a HSBC Arena para vê-lo. Por mais que alguns tivessem tido simpatia pelo Black Label Society e outros tivessem curtido verdadeiramente a porcaria do show do Korn, todos foram lá para vê-lo. E acredito que assim como eu não só não saíram decepcionados, mas de alma lavada.

Em 1h45m no palco, Ozzy mostrou porque é um dos gigantes do metal. Tocando com paixão e muito prazer por estar no Rio de Janeiro pela terceira vez, o cantor de 59 anos mostrou que sabe dominar a platéia com maestria e que ainda canta melhor do que eu esperava e as drogas poderiam ter permitido.

Se ele não come mais morcegos como no passado – apesar da brincadeira com um tosco morcego de plástico jogado pela platéia – Ozzy sabe ser fiel às tradições do metal. Ele sabe que os fãs de rock pesado são tradicionais e não gostam dessas coisas moderninhas como pegada eletrônica e mistura com hip-hop como o nü metal. Metal que é metal envolve os bons e velhos temas medievais e satânicos, crucifixos, muita guitarra, um bom cantor e toda aquela cenografia que os fãs adoram.

Assim, seguindo o modelo muito bem traçado pelos deuses do metal, Ozzy abre o show com “Carmina Burana”, de Carl Orff, um clichê do gênero que eu já vir abrir apresentações do Iron Maiden e do Helloween. Não sem antes, porém, subverter um pouco as regras exibindo um divertido vídeo que surpreendeu a galera com Ozzy participando de cenas de diversos filmes e séries como “Piratas no Caribe”, em que ele aparece impagavelmente trajado de Jack Sparrow, “A Rainha” pagando um boquete inacreditável em Elizabeth, “The Sopranos” e “Entourage”, quando aparece em outra cena hilária segurando um pênis de plástico.

Feita a brincadeira, Ozzy, acompanhado do baterista Mike Bordin, ex-Faith no More, do baixista Rob Blesko Nicholson e do guitarrista-ídolo Zakk Wylde quebra tudo logo na primeira música, “I don’t wanna stop”, e não deixa a platéia respirar com a execução de “Bark at the moon” na sequência.

Ajudado pelos solos de Wylde e por baladas estrategicamente colocadas no set list como “Road to nowhere” e “Mama I’m coming home”, é Ozzy que pára para respirar de vez em quando. Depois de quase seis décadas, ele não é mais o menino de outrora, mas conduz como poucos um show.

Quando invoca “Mr. Crowley”, a platéia já está nas suas mãos e levando baldes d’água do cantor que, talvez animado com a empolgação da galera mostrada em “Crazy Train” e a aceitabilidade para suas músicas novas do disco “Black Rain”, lançado no ano passado, resolve mudar o script: “Ok, vocês querem “No more tears”. Vamos cantar “No more tears”.

É a deixa para o tecladista Alan Wakeman (isso mesmo, filho de Rick Wakeman, ex-Yes), executar a introdução soturna completada pelo show particular de Wylde. A platéia composta por pouco mais de 10 mil pessoas vai ao delírio.

Além de competente, Ozzy sabe agradar aos seus fãs e não esquece de tocar os clássicos do Black Sabbath. O Rio foi presenteado com três músicas: “War Pigs”, “Iron Man” e “Paranoid”. Todas cantadas em coro pela galera.

Claro que “Paranoid” ficou meio capenga. Música que fechou a apresentação de Ozzy, acabou virando uma inédita e não desejada versão sem guitarra devido a um incidente envolvendo a galera do gargarejo e Zakk Wylde.

Talvez por demais excitados pelos pedidos de Ozzy para ficarem “fucking crazy” e também fruto de uma inocência de Wylde, durante a execução da música, o guitarrista jogou seu instrumento para a galera que, obviamente, não devolveu (veja só no último vídeo abaixo). Para desespero de Wylde que pulou em busca da guitarra.

Enquanto se atracava com os fãs, Bordin e Blesko seguravam a cozinha repetindo insistentemente os acordes de “Paranoid” e Ozzy gritava “Come on”. E nada. Até que ele resolveu num momento semi-acústico cantar as duas estrofes que faltavam e encerrar o show. Wylde ficou evidentemente puto ao ver sua guitarra sendo devolvida completamente destruída e a galera ficou com uma “Paranoid” um tanto quanto prejudicada. Fica para a próxima vez, que o próprio Ozzy prometeu que não vai demorar muito para chegar.

Apesar disso e da falta que fez “Perry Mason” (aliás, nenhuma música do “Ozzmosis”, disco de 1995, foi tocada), ver Ozzy cantando valeu cada centavo. Diria até mais. Quem esteve no HSBC Arena saiu é no lucro por ver o que talvez será um dos melhores shows do ano.

Três grandes momentos da apresentação de Ozzy. Primeiro cantando “No more tears”; um momento Black Sabbath com “Iron Man” e no final do show, com “Paranoid”, numa versão inédita, sem guitarra, por causa do incidente com o Zakk Wylde.






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