quinta-feira, 17 de abril de 2008

Valeu, peixe!

Por mais doloroso que possa ser, já estava na hora. Ou melhor, já tinha passado da hora. A saída de cena de Romário foi do jeito que ele sempre disse que seria: repentina. Um dia ele chegou e disse: “Parei”.

O dia foi a segunda-feira passada, durante uma festa que reuniu os velhos parceiros, os peixes como ele gosta de dizer, para promover um DVD que será lançado em junho com 913 dos 1.002 gols que ele marcou na carreira.

Assim, aos 42 anos, Romário pendura as chuteiras deixando para os mais jovens um filme com o seu vasto repertório de jogadas que o fizeram o mais fantástico artilheiro que vi jogar. Provavelmente será a aula que os novatos jamais terão em qualquer divisão de base. É para eles verem, reverem e tentarem aprender algo, assimilar uma pequena parcela deste mito que foi Romário. Mas apenas uma parcela, pois alguém como ele nunca mais irá existir como o próprio deixou bem claro: “Pelé só tem um. Maradona só tem um. E acho que Romário também. Não vejo um sucessor”. Modéstia nunca foi o seu forte.

Na minha modesta opinião, Romário foi o maior centroavante da história do futebol. Fez do gol de bico, a sua marca registrada, um gol de placa. A simplicidade e a frieza com que finalizava para o gol o fizeram único. Sua facilidade para marcar e fazer dele o segundo maior artilheiro da história do futebol, atrás apenas de Pelé, que marcou 1.283 gols (parênteses: não estão confirmados os mais de mil gols que o húngaro Puskas teria marcado, muito menos os de Friendrich, que oficialmente marcou pouco mais de 500 tentos), geraram até a expressão que ficou na boca do torcedor a cada vez que o seu “artilheiro” perdia um gol aparentemente feito: “Se fosse o Romário, fazia”.

Vi muitos jogadores terem facilidade para marcar gols. Gente do porte de Careca e chegando até Ronaldo. Os mais antigos dizem, e eu os respeito, que Reinaldo era tão bom quanto Romário. Mas acho que muito poucos tinham o seu talento, a sua versatilidade, sem contar a já citada frieza dentro da área.

Não é à toa que o seu técnico naquela máquina de jogar futebol do Barcelona que ficou conhecida como “Dream Team”, o ex-craque holandês Johan Cruyff, o apelidou de “gênio da grande área”.

Outro gênio, mas das quatro linhas, Tostão não se furtou uma vez em dizer que daria a sua camisa 9, que, aliás, não estava acostumado a usar, para o Baixinho se ele pudesse jogar na quase mítica seleção de 70 com Pelé, Gerson, Rivelino, Jairzinho e tantas feras.

Romário talvez seja o último romântico do futebol. Sei que ele já disse isso do Ronaldinho Gaúcho, mas vejo o jogador do Barcelona mais como o ponto culminante de uma era midiática, do atleta-estrela, com chuteiras coloridas, muito merchandising, outdoors pelo mundo e, se der tempo, jogando um pouco de futebol. Nesse ponto, Ronaldinho deixa o inglês Beckham no chão.

Romário não tinha patrocínio. Suas chuteiras eram completamente pretas. A marca do matador. E o considero o último romântico porque, assim como o francês Zinedine Zidane, que se aposentou há dois anos, ele é o último jogador num tempo de atletas, o último ser humano num tempo de robôs.

Autêntico. Isso é Romário. Um jogador de personalidade e de opinião é cada vez mais raro e também por isso o Baixinho fará falta. Ele não brilhou apenas dentro de campo, mas também soube ser o centro das atenções fora dele com opiniões fortes, contundentes, sem concessões ou meias palavras.

Excelente frasista – são deles pérolas como “O Pelé calado é um poeta”, “Quem é ruim se destrói sozinho” (sobre o técnico Vanderlei Luxemburgo) e “Agora toda a corte está feliz, o rei (Eurico Miranda), o príncipe (ele mesmo) e o bobo (o atacante Edmundo)” – Romário era polêmico sim. Era marrento mesmo. Mas dele saia entrevista e não pílulas de auto-ajuda entremeadas pelo surrado conceito de que “o grupo estava unido”.

O futebol fica mais triste com o fim desse grande artista que dominava como ninguém a arte de botar a bola na rede. É uma pena que os craques, e Romário indubitavelmente foi um craque com “C” maiúsculo, tenham que parar. Mas o tempo é cruel com todos. Mesmo com os gênios.


É muito difícil fazer uma lista com os melhores gols de Romário e nem pretendo me meter nisso. Mas abaixo vocês podem ver três vídeos com alguns dos belos gols que ele fez na carreira. Vai deixar saudades.






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