domingo, 13 de abril de 2008

Um show dos Stones

Lá pelo meio de “Shine a light” acompanhamos uma entrevista antiga com Mick Jagger em que o repórter o pergunta: “Você se vê fazendo o que faz aos 60 anos?”. Em contraste com o que dissera nos anos 60, quando imaginava que sua banda duraria no máximo três anos, o cantor responde em bom inglês e sem titubear: “Easily”.

A câmera de Martin Scorsese então salta algumas décadas a frente. Mais precisamente o Beacon Theater, em Nova York, no ano de 2006, quando Jagger exibe para a lente do cineasta todas as marcas do tempo e os estragos que as drogas podem causar numa pessoa numa espetacular performance dos Rolling Stones.

Depois de 46 anos de carreira e alguns shows marcantes – sejam eles antológicos ou trágicos – os Stones ganham do amigo “Marty” uma homenagem à sua altura num impressionante registro de um show que nem de dentro do palco se poderia captar tantos detalhes.

Isso é “Shine a light”. Se o filme não entra em temas polêmicos nem faz qualquer acerto de contas com o passado, como “No Direction Home” (2005), outro grande trabalho musical de Scorsese, mas este sobre Bob Dylan, ele tem o mérito de mostrar como os Stones chegaram a mais de quatro décadas de carreira como a maior banda de rock de todos os tempos.

Pode-se falar o que quiser de Mick Jagger, Keith Richards (guitarra), Charlie Watts (bateria) e Ronnie Wood (guitarra), mas no palco eles são insuperáveis. Além disso, quando se chega à casa dos 60 anos fazendo um disco tão bom quanto “A Bigger Bang” (2005), é um sinal de que está banda é especial apesar dos altos e baixos e da perda de dois importantes membros: o guitarrista Brian Jones, que cometeu suicídio, e o baixista Bill Wyman.

Talvez investigar o passado, cutucar feridas, nem fosse a idéia de Scorsese, e sim mostrar o espírito rolling stone, que vai além do fator primordial que é a música. Talvez fosse mostrar o que são os Stones numa forma “jamais vista”, como repetiram nove entre dez críticos que viram o filme.

E neste quesito Scorsese pode ser aplaudido de pé. Ele consegue mostrar não apenas o peso da idade, que existe nas bufadas de um elétrico Mick Jagger após duas intensas canções, especialmente “Sympathy for the devil”, e de Charlie Watts, quando uma música exigiu mais energia do que o seu estilo blasé lhe permite, mas também o estilo sarcástico de Keith Richards, que quase tenta socorrer Watts naquela cena e caçoa do ex-presidente Bill Clinton ao dizer “Hey, Clinton. I’m bushed”, numa alusão ao nome do atual presidente norte-americano George W. Bush.

Apesar do eterno jeito de drogado e o visual de múmia egípcia, Keith revela o seu lado, digamos, doce, ao falar da amizade com Ronnie (“Ele sabe que não tocamos nada (modesto), mas juntos somos melhores do que dez outros guitarristas”) e do prazer de tocar, comum a todos eles, aliás. Chama a atenção o final do show, após a execução de "Satisfaction", em que Keith se ajoelha e parece falar com sua guitarra, agradecer a ela por mais esta (grande) noite. Scorsese não perde a oportunidade de registrar esta cena que é emblemática.

Aliás, o que se pode depreender de “Shine a light” é primordialmente isso. O prazer que os Stones têm de estar no palco e levar a sua música a diferentes gerações. É uma paixão verdadeira e que perpassa toda a apresentação. De “Jumping Jack Flash” a clássica “Satisfaction”. Eles dão tudo o que podem para que show seja inesquecível. O que torna ainda mais fácil com os músicos de quilate que os acompanham, em especial a backing vocal Lisa Fischer, que merecia um daqueles duetos de “Gimme Shelter” no filme no lugar da insossa Christina Aguilera, que canta (mal) “Live with me”.

Por outro lado, Scorsese compensa essa falha com uma parceria espetacular entre os Stones e o bluesman Buddy Guy em “Champagne and reefer”, de Muddy Waters. Um momento de estremecer o planeta. Um show de guitarras e Buddy Guy é um espetáculo a parte. Um momento especial num filme que ainda contou com a participação de Jack White, que, apesar do bom desempenho, merecia cantar com eles uma música mais pesada e com uma guitarra em suas mãos e não um violão como acontece em “Loving Cup”. Teria sido mágico, pois Jack parecia curtir aquele momento como se fosse um menino tocando com seus ídolos.

Apesar dos altos e baixos “Shine a light” é um grande show dos Stones. Pode não ser o melhor filme sobre a banda – há quem diga que “Gimme Shelter” (1970) é superior – mas é um dos melhores registros sobre qualquer banda que eu já vi. Uma grande pedida para qualquer stonemaníaco que entende que, como diria a velha canção de Muddy Waters que deu nome à banda, “pedras que rolam não criam musgo”.

Abaixo um trecho do filme com os Stones cantando “Shattered” e uma performance inesquecível de “Brown Sugar” na Praia de Copacabana, em 2006.




2 comentários:

Anônimo disse...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Notebook, I hope you enjoy. The address is http://notebooks-brasil.blogspot.com. A hug.

Anônimo disse...

Well, thanks. If you can understand portuguese, I think I don't need to answer to you in English. Portanto, obrigado pelos elogios e volte e comente sempre. Um abraço para você também.
marcelo