quinta-feira, 3 de abril de 2008

É proibido sorrir

Renato Gaúcho era um jogador que gostava de provocar e eu diria até que gostava de ser provocado pelas torcidas adversárias. Não sei se ele inaugurou, mas foi um dos, digamos, principais divulgadores daquele gesto de silêncio feito para as arquibancadas adversárias a cada gol decisivo.

Hoje um futuroso técnico de futebol a comando do Fluminense, Renato provavelmente não se criaria como jogador. Primeiro porque o dito profissionalismo, mais conhecido como comportamento robótico, não permite mais, aparentemente, jogadores de personalidade e que pensem. Esse mesmo profissionalismo religioso e sacal de discursos iguais e pouca criatividade impede a criação de jogadores boêmios e mulherengos e personagens interessantes como Renato foi. Só vale aquela coisa de grupo unido, etc e tal.

Não me entendam mal. Não acho que clubes não tenham que ter hierarquia e nem que os atletas, desculpem, jogadores de futebol, não tenham que respeitar regras, cumprir horários e etc. Mas hoje eles são mais adestrados do que treinados numa cartilha tacanha seguida pelos doutores-professores-treinadores de futebol. Categoria, aliás, que Renato não faz parte.

Mas este não é o assunto deste texto. A questão principal é a seguinte: depois dos treinadores, agora é a Comissão de Arbitragem da CBF que resolve colocar antolhos nos jogadores. Seu presidente, Sério Rezende, resolveu proibir a irreverência no futebol.

Como se não bastasse a arte estar cada vez mais maltratada e a violência estar correndo solta por causa de árbitros frouxos e/ou ruins, agora é proibido sorrir, provocar o rival. É tudo proibido. Fez o gol volta para o seu campo ou faz aqueles ridículos coraçõezinhos com a mão. Também é possível dar um tchauzinho, mas só para a sua torcida. Dancinha não pode. Mandar a torcida se calar é passível de cartão amarelo. Mas dar uma tesoura voadora está tudo bem, acredito eu.

A coisa é tão surreal que até o técnico de Portugal, Luís Felipe Scolari, que não é bem um entusiasta da alegria e da irreverência no futebol, reclamou da censura imposta pela Comissão de Arbitragem. Vamos deixar bem claro. O técnico que já foi flagrado mandando jogadores seus agredirem os adversários, reclamou da orientação que a Comissão deu aos árbitros. Realmente alguma coisa está fora da ordem.

A julgar pelo Sérgio Rezende, jogadores como Viola e Túlio hoje não teriam nenhuma vez. Suas comemorações irreverentes seriam consideradas violação grave passível de punição do “poderoso” Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Ainda bem que o Thierry Henry não joga no Brasil. Suas comemorações com cara de mau dos tempos de Arsenal seriam consideradas crimes inafiançáveis.

A culpa disso tudo é de um jogador do Avaí, que no clássico contra o Figueirense pelo Campeonato Catarinense ao fazer um gol mandou a torcida adversária se calar, virou de costas para ela e mostrou o número da camisa. A torcida não gostou, o time adversário também e iniciou-se uma briga generalizada. Daí a Comissão de Arbitragem proibiu certos tipos de comemoração.

Imagine uma cidade pequena. Agora pense no seu maior banco. Imagine que este banco dessa cidadezinha vem sendo constantemente assaltado e para solucionar o problema o prefeito resolve simplesmente fechar o banco, impedindo que seus correntistas retirem dinheiro e façam suas operações. Foi o que a CBF fez. Ao invés de cobrar segurança e justiça do Estado, exigindo que prendessem os vândalos e bandidos que infestam os estádios, ela resolveu impedir que o futebol tenha uma de suas coisas mais legais: a irreverência.

2 comentários:

Anônimo disse...

A verdade é que tudo hoje em dia anda chato pacas. O futebol não foge à caretice, evidentemente. Com muitos menos neurônios e talento que em outras épocas, e isso é que quebra para quem tem só 24 anos... abs, fábio balassiano

Anônimo disse...

Para quem tem só 26 também...