segunda-feira, 1 de março de 2010

Voo de galinha na Apoteose

Que os fãs do Coldplay não me entendam mal (e eles são muitos a julgar pelo bom público da Apoteose no domingo), mas um show da banda inglesa é como um voo de galinha. Tem um início triunfal de um verdadeiro top gun e um desfecho logo ali dois metros a frente. Não que a banda formada por Chris Martin (vocais, teclado, gaita, guitarra, violão e o que mais aparecer), Jonny Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e Will Champion (bateria, guitarra, violão e também o que mais aparecer) não seja competente. Ela é muito competente.

Mas sua apresentação tem buracos que causam dispersão na multidão, pontos fracos naturais de uma banda que tem apenas 13 anos de estrada e não formou ainda um set list que segure as pontas o tempo inteiro – o que me causou a estranheza de eles não terem jogado uma carta do seu baralho chamada “Speed of Sound” – e sofre de um pequeno problema: a quantidade de músicas muito parecidas, o que acaba cansando um pouco aqueles que não são absolutamente vidrados no quarteto. Isso é algo, aliás, muito comum em bandas surgidas entre o final do século passado e o início deste.

Formado naquela cidade maravilhosa chamada Londres em 1997, o Coldplay chegou a ser comparado com o Radiohead no início da carreira, tempo dos lançamentos de “Parachutes” (2000), seu bom álbum de estreia, e “A rush of blood to the head” (2002). Mas hoje, depois de “X&Y” (2005) e “Viva la Vida or death and all his friends” (2008), acho que a banda soa mais como um U2 ainda piorado. Isso porque para se chegar ao nível do U2, o Coldplay precisa primeiro atingir 34 anos de estrada e fazer álbuns absolutamente clássicos e obrigatórios em qualquer discografia roqueira como “War” (1983), “The Joshua Tree” (1987), além do ao vivo “Rattle and Hum” (1988).

Claro que a semelhança com a banda liderada por Bono Vox se deve muito também pela porção engajada de Chris Martin e companhia que já fizeram shows pela Anistia Internacional, Band Aid, Live 8 e gravaram música para ajudar as vítimas do terremoto do Haiti.

No Brasil para a divulgação do seu último álbum de estúdio, o Coldplay invadiu a Apoteose com a potencia de uma megabanda de rock. Após a introdução com Danúbio Azul, música que sempre me faz lembrar “2001 – Uma odisséia no espaço” (1968) de Stanley Kubrick, a banda emendou uma instrumental de “Life in Tecnhicolor” com “Violet Hill” e “Clocks”, sucesso do segundo disco do quarteto e uma das mais conhecidas deles. Ao fundo, a reprodução de um pedaço do quadro “A liberdade guiando o povo” (1830), de Eugene Delacroix, que também é capa do último disco do grupo e foi pintado em comemoração a revolução de julho de 1830. A França, aliás, dá o tom até nas vestimentas do Coldplay.

Uma pequena pausa, e os mais de 30 mil que aguentaram a chuva ainda foram recompensados com a baladinha “In my place” antes de atingir o êxtase com “Yellow” e suas bolas amarelas pululando pela plateia.

Tudo isso com um som perfeito (Por que o Iron Maiden não conseguiu o mesmo no ano passado?), telão de altíssima definição e muitas luzes, cores, fogos de artifício e todos os elementos que costumam compor um megaespetáculo. Até parecia um Kiss com muito menos peso e maquiagem.

No palco, Chris Martin é carismático, sabe levar a galera e é simpático com o público, tentando até umas palavras em português. Champion também é um monstro com suas baquetas socando com vontade quando lhe é necessário e até canta uma música, “Death will never conquer”, enquanto Buckland é um guitarrista muito bom sem fazer firulas.

Se a apresentação da banda tivesse durado aquela meia hora inicial apenas - um pouco menos do que o Vanguart teve para mostrar pouco e o Bat for Lashes de Natasha Kan, a clone inglesa da Bjork, teve para mostrar que é muito bom nos shows de abertura – teria sido um daqueles shows históricos. Mas tinha mais uma hora e pouco de set e a casa, se não caiu, ficou um pouco avariada.

Os problemas começam com uma certa falta de ritmo do show. Muitas paralisações, às vezes até com boas intenções como nos momentos em que a banda se aproxima do seu público mais fiel ultrapassando a intragável barreira vip (até quando teremos que aguentar isso?), deixam o espetáculo com altos e baixos.

Altos e baixos que se refletem no restante do set. Sendo os altos em momentos como “Fix You”, “Viva la Vida”, uma bela canção, ou “Shiver” e os baixos em “Glass of Water”, “Strawberrie Swing” e “Lovers in Japan”, por exemplo.

Ficou a impressão de falta de fôlego ou de muitos cartuchos gastos no início e falta de munição no resto do espetáculo. Enquanto o tempo vai passando e “Singing in the rain” é providencialmente tocada – não parou de chover um minuto sequer durante o concerto - como introdução para um novo “set íntimo com os fãs”, o show ia esfriando e se repetindo. A brisa de novidade esteve em “Don Quixote”, nova música apresentada no Rio. Uma canção típica do Coldplay, sem tirar nem botar.

No bis, o retrato desses dois terços finais do show. Um ponto alto com “The Scientist” e um desfecho mais frio com “Life in Technicolor II”. Chris Martin agradece e o público, apesar de tudo, sai satisfeito carregando seus papéis coloridos em formato de borboleta.

Set list do show no Rio:

Life in technicolor
Violet hill
Clocks
In my place
Yellow
Glass of water
Cemeteries of London
42
Fix you
Strawberrie swing
God put a smile upon your face
Talk
The hardest part
Postcards from far away
Viva la vida
Lost
Shiver
Death will never conquer
Don Quixote
Politik
Lovers in Japan
Death and all his friends
The ScientistLife in technicolor II
Abaixo alguns momentos do show. Cortesia do YouTube:
"Violet Hill"

"Clocks"

"In my place"

"Yellow"

"Viva la vida"

"The Scientist"

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