terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Querendo crescer logo

Começo a achar que a ideia de colocar dez películas concorrendo ao Oscar de melhor filme não foi das mais acertadas. Nenhum trabalho que estreou neste ano até agora, por exemplo, conseguiu superar a tríade “Distrito 9”, “Bastardos Inglórios” e “Guerra ao Terror”, nos cinemas desde o ano passado. Bom, dos dez concorrentes ainda faltam estrear “Um homem sério”, dos irmãos Coen, e “Um sonho possível”, o tão falado filme com a Sandra Bullock. Os dois ainda podem se igualar aos três já citados, formando um quinteto que tenha um mínimo de respeito. Os demais, porém, - “Avatar”, “Preciosa”, “Amor sem escalas” e “Up – Altas Aventuras” – não podem ser colocados no mesmo nível.

Assim como “Educação”. O filme da dinamarquesa Lone Scherfig com roteiro do escritor Nicky Hornby é deveras simpático, tem uma jovem atriz, Carey Mulligan, 24 anos, com uma boa atuação, além de personagens falando aquele sotaque britânico, o melhor do mundo, e que junto com as tomadas de Londres e de Paris só me trazem aquela saudade e a vontade de voltar para lá.

Contudo, convenhamos, é um trabalho bonitinho, mas que não justifica as indicações para ele a não ser pela falta de opções, o que me parece ter acontecido dada a safra de filmes que vem estreando por aqui. Mesmo a atuação de Carey não tem a qualidade de uma Meryl Streep em “Julie & Julia”, apenas para ficar nos três dos cinco trabalhos concorrentes que já vi.

“Educação” conta a história de Jenny, uma estudante do segundo grau que vive a estressante rotina de se preparar para os exames para tentar entrar na Universidade de Oxford. Estamos nos anos 60, Jenny é de uma família conservadora, cujos pais Jack (Alfred Molina) e Marjorie (Cara Seymour) querem que a filha estude e por isso a moldam para ser a aluninha perfeita. Na cabeça dos pais, seu futuro é invariavelmente se tornar uma professora como Miss Stubbs (Olívia Williams). Um futuro que Jenny, na sua ebulição adolescente, vê como algo medíocre.

Além disso, ela não vê muito sentido na escola, cheia de sacrifícios e com um currículo enfadonho. Quer do alto dos seus 16 anos crescer logo para fazer somente o que quer. Entenda-se isso como ler Camus e outros dos seus autores favoritos, estudar francês e visitar o país de De Gaulle, que ela tanto admira.

Num belo dia, o destino resolve lhe dar essa chance para acelerar o tempo. É quando ela conhece David (Peter Sarsgaard, numa bela atuação que merece maior atenção), homem bem mais velho, que sabe das coisas, conhece a vida, mas tem um jeitão misterioso com negócios ainda mais misteriosos (e que não serão muito bem esclarecidos na película).

Uns sorrisos, umas cantadas baratas e meia dúzia de jantares e clubes de jazz e Jenny já está enamorada e tendo a vida excitante que sempre sonhou. E tudo sem ter que se preocupar com as famigeradas traduções de latim.

Jenny está sendo educada, portanto, pela escola da vida. Algo bem mais interessante que a pilha de livros sem graça e a rigidez da educação tradicional de sua instituição de ensino. Ela quer entender de arte? Aparece em leilões de peças raras e visita os locais apropriados. Ouvir as melhores músicas? Estão aí os clubes sofisticados com tudo o que a chanson française pode lhe oferecer. Muito melhor do que a boring coletânia que sua escola oferece.

O que ela não sabia é que David é um homem maduro que tenta insistentemente se repetir numa vida com a liberdade e irresponsabilidade da juventude que ele não tem mais, vivendo, em ciclos, mentiras que uma hora se voltam contra ele. E quando este ciclo se encerra para Jenny, logo ela que fora tão longe largando a escola para viver um noivado quase casamento de araque, a jovem que perdera tudo descobre que como diz aquela velha máxima, "não existe almoço grátis".

Assim, Jenny precisa engolir a seco sua arrogância e com o orgulho ferido e muita humildade, buscar ajuda para recomeçar. É hora de parar de brincar de ser adulta e deixar que a vida siga o seu destino natural. Começando por Oxford.


Indicações ao Oscar: Melhor filme, melhor atriz para Carey Mulligan e melhor roteiro adaptado para Nick Hornby

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